Aniversário do blog


Venho contando:
agora são cinco!
Um mundo
dentro do meu mundo,
espaço sagrado
dos meus
“não ditos”.
Cúmplice
das insônias
e das sutilezas
intraduzíveis.
intérprete
do meu olhar
e do meu coração.
Obrigada.

Natal


Em volta de uma criança, que é inocência; que é inspiração de ternura, amor, tolerância, nos quedamos emudecidos, contemplativos, emocionados e cheios de expectativas, de alegrias inexplicáveis. Uma criança agrega. Diante dela nos desvestimos e aparecemos como somos; conectamos com o que temos de melhor, de mais bonito e verdadeiro dentro de nós e do outro e assim temos a chance de escolher: seguir como somos e estamos ou... mudar! Diante de uma criança nos “apequenamos”, descendo do salto, dos cargos e títulos; sentamos no chão e se quisermos, nos tornamos grandes na humildade, na simplicidade, na ética e na solidariedade. Pastores, reis e sábios, um dia, num estábulo, quedaram assim, diante de um menino recém nascido, um pequenino que era GRANDE! A criança externa está sempre nos lembrando da nossa essência e, assim, como ela, nossa essência demanda cuidados, atenção, acolhimento, espaço, escuta e respeito.

Desapego

A mãe entrou na sala onde eu estava, apreensiva. Uma jovem mãe. Estava preocupada porque sua filhinha, de 1 ano e 7 meses, iria fazer seu primeiro passeio de topic com os colegas de escola. Um passeio curtinho; mas o primeiro da pequena sem a presença do pai e da mãe ou de um dos avós, que comumente ajudam, na lidança com ela, no cotidiano. Observei o quanto ela era bela e o quanto mais bela era nesta condição de mãe, esquecida de si e focada na filha! Os olhos brilhavam numa mistura de inquietude, orgulho, insegurança e expectativa que singulariza, aproxima e unifica todas as mães do mundo diante do  filho, a partir do momento em que ele descobre e avança no mundo, desligando-se dela e começa caminhar com suas próprias pernas, rumo a um desconhecido, rival e apaixonante! Ela queria e autorizara que a filha fosse ao passeio; mas temia que fosse. Temia o que todas nós, tememos: o inusitado desconhecido e nossa impotência diante do seu humor instável e planos. Ela pediu-me, olhos suplicantes e brilhantes:
- “Olha pra mim! Veja se ela senta direitinho na cadeirinha; se o cinto está bem  colocado... se ela tomou água e se está tudo bem, antes da topic sair...”.
Eu via a fragilidade e a força, ali juntas: a mãe titubeante, oscilando entre a mãe que teme e a mãe que encaminha; a mãe que entrega e a mãe que prende....  a mãe insegura e a mãe confiante. Desejei abraçá-la para confortar e garantir, plenamente, que tudo sairia bem. Tenho desejado, inúmeras vezes nesta vida, este poder de garantir, além de desejar. Mas não tenho. Aquela mãe querida não era somente uma mãe de aluno. Era minha filha. E cada um destes meus papéis, ali: professora, mãe e avó ficaram muito distintos e em nenhum deles eu estava confortável; no momento. Mas eu precisava dar uma resposta. E ali, naquele contexto, respondi como professora, como profissional que sou e que acredita no seu trabalho: que tudo estava bem organizado, ficasse tranquila. E estava e, como sempre,  correu tudo bem! E amadurecemos mais um pouco, as  três: eu, a vó; ela, a mãe e a pequena, que se encanta cada vez mais  com o mundo e nos convoca a tantas perguntas e respostas, desafios, aprendizados e redescobertas.

Senta aqui, vovó!

         



Ela esperava por mim. Uma senhora desconhecida, tímida, um pouco ansiosa. Enquanto me estendia a mão, também entregava um bilhete. Nele, uma ex-colega apresentava esta senhora e solicitava que eu a escutasse. Fiquei um pouco tensa, tentando adivinhar o que ela queria, o que esperava de mim. Sentamos para conversar...
Ela era mãe. Também era empregada doméstica, analfabeta; sozinha, com uma porção de filhos para criar. Estava pedindo socorro, desesperada com a situação de um destes filhos, pequeno ainda, que não se ajusta mais à escola, às regras, às leis; agressivo e com grande dificuldade para o aprendizado; “ainda não sabe ler e não tem vontade de aprender, de fazer tarefas escolares...” . Uma mãe dedicada, que via o filho sofrer e produzir desconforto aos outros, desajustado.  Ela buscava uma ajuda, uma palavra, um horizonte, sedenta: “professora, eu faço qualquer coisa para ajudar meu filho! O que a senhora disser para eu fazer, para onde ir, onde buscar... eu faço, eu vou... Não sei ler, mas eu vou perguntando aqui e ali... eu acho, eu chego lá...!” Estar ali, segundo ela, era o último lugar, última esperança... Contou-me que espera, a cada dia, que este filho seja chamado, inscrito que está, num destes programas municipais de atendimento especializado infância; preocupada, porque sabe e sente que o menino precisa de ajuda urgente, imediata e ela não vem (realidade triste da saúde e da educação no nosso país)... Eu tive vontade de dizer a ela que eu tinha escuta, mas não tinha o poder do milagre! Mas calei e ouvi, ouvi, ouvi... tanta coisa triste e também tanta coisa bonita de superação e luta... Eu tinha que manter a esperança, não só a dela; a minha também. Ela chorou e eu também, por dentro, porque por fora, eu estava “só ouvidos”. Esta escuta e um encaminhamento para contatar a pessoa  certa para a ajuda concreta, foi o que eu pude (tão pouco) dar a ela naquele momento. Minha alma de cidadã, de mãe, de avó e de profe colocou-se no lugar dela, sentiu e sofreu a dor dela. Compreendeu. Com o encaminhamento, ela saiu mais tranqüila e eu também, com a escuta e aprendizado que fizera, sentindo-me mais humana e agradecida.
Durante a conversa, lembrei muito da Maria, minha neta. De quando ela me chama: “vem uouó Isa! "Xenta" qui, chão”; sinalizando, batendo, com a mãozinha, no lugar onde devo sentar, ao seu lado. Aí sento e então conversamos, rimos, cantamos; conto história, brincamos de casinha e lanchamos... Ela me convoca para isto e eu fico feliz por estar ali, por poder partilhar. Por ser um lugar seguro para ela e ela ser uma alegria ímpar para mim! 
Sentar junto, conversar... , escutar e falar... Assim temos uma possibilidade rica de aprender e ensinar; de encontrar soluções, respostas, caminhos, consenso, de forma pacífica e mais justa. Construir respeito, cumplicidade. Estabelecer e aprofundar laços de afeto. Humanizar.  

Reflexos

Observo e convivo, todos os dias, com crianças  e gatinhos. Crianças e animais extraem o verdadeiro de nós. Perto deles não conseguimos ser aquilo que não somos. São tão verdadeiros e espontâneos, que exigem\motivam a recíproca. Por isto é tão bom tê-los sempre por perto. Nos ajudam a refletir, observar, contemplar, amadurecer, crescer; ser melhor... se não fugirmos deles! Triste quando os adultos não suportam a espontaneidade das crianças, não respeitam o seu sentimento e passam a ensinar a hipocrisia, a barganha, a dissimulação, o “tirar vantagem”... Uma sociedade que tem corruptos é porque criou, alimentou, estimulou os corruptos. Houve quem os educasse para isto. Ninguém nasce ou se torna do dia para a noite, um corrupto. Alguém estimulou, deu exemplo, ajudou a forjar a alma e o pensamento daquele que rouba, engana, mente, quer tirar vantagem de tudo; dar “um jeitinho”; escapar dos deveres, das obrigações, das leis e sutilmente fazer com que outro faça; trabalhe por ele. Eu vejo, de um lado com grande satisfação, a justiça acontecendo, no país, em relação aos corruptos denunciados, presos, condenados. De outro, com pesar. Pesar porque eu creio que não é a prisão que vai livrar o país dos corruptos. Se eles fossem um “caso isolado”, tudo bem. Frutas podres, a gente separa e joga fora. Melhor ainda, aproveita para fazer compostagem, adubar o solo: transformando em coisa boa. No caso, as prisões, para onde vão os “bandidos”, os infratores todos, são, na verdade, verdadeiras escolas de degeneração e não de regeneração; devolvendo tudo que recebem em pior estado, sem transformação alguma. Vejo, ouço, leio tanto sobre este assunto, todos os dias... Me preocupo seriamente. Por vezes esqueço, deixo pra lá, dizendo a mim mesma que faço minha parte como mãe e professora, tentando educar para uma cidadania consciente e solidária; mas, por vezes, desanimo, perco a esperança; acho-me impotente e não vejo saída para isto, que está “entranhado” nos sujeitos muito mais profundamente do que a gente pensa.  O egoísmo e a corrupção estão dentro de nós, mobilizados a todo instante, por demandas internas e externas no contato com o outro, com o mundo e com os desafios cotidianos do mundo. Deixar-se tomar, levar; entregar-se ao egoísmo, à corrupção é outra história. Vai depender da educação, dos princípios de cada um. Vai depender do adulto, da sociedade que cria, orienta, ensina, educa, dá exemplo. Dos valores. Ao que parece, o valor que aparece, que é priorizado e considerado como valor essencial, na nossa sociedade, por uma grande maioria, é o poder e o dinheiro que ele oportuniza e com o qual é possível comprar, consumir, acumular e se sobrepor ao outro. Por isto, a importância das crianças e também dos animais. Pura essência e instinto, ali! Para ser reconhecido e trabalhado! Melhor ouvir de uma criança: “chata, feia, etc...”, verdadeiro para ela; do que de um adulto: “querida, linda...” pura hipocrisia ou manipulação de alguém que, “nas costas”, já vai desmentindo, falando mal, criticando e, se possível, tirando seu tapete, destruindo, descartando quando não tiver mais utilidade. Nós somos assim: muito feios. Mas podemos nos embelezar! Podemos reaprender com as crianças, educando as crianças e nos reeducando. Animais também ensinam.
Estávamos passeando com minha filha e minha neta, quando encontramos com uns amigos, na praia. Resolvemos parar ali com eles, um pouco, para conversar. Como não estava planejada esta parada, não tínhamos, junto, os brinquedos de praia da Maria. Claro que ela viu um menino, no guarda-sol ao lado, cheio de brinquedinhos e foi até ele, feliz da vida, “de olho” nos  brinquedos! O menino, maior que ela, a acolheu, abraçou e beijou; mas ficou resistente em emprestar, dividir baldinhos, pás, etc. Eu pensei que o melhor seria sair dali, evitar o confronto; até porque os adultos que acompanhavam o menino, pais e avós, exceto a mãe; não esboçaram interesse e nem sorrisos para com a aproximação da Maria. Mas resolvi investir no nosso potencial de tolerância, de aprendizado e comecei a conversar e junto com a mãe do menino, fomos fazendo a mediação entre as crianças. Aos poucos, o pai também começou a estimular a troca e o avô,  buscar água no mar. As crianças brincaram bonito e nós, adultos, aprendemos que com um pouco de boa vontade, podemos bem mais do que pensamos  e que não é assim tão difícil partilhar e, que por alguns momentos, o “meu” pode ser “nosso” e que isto pode ser tão bom e acontecer de forma respeitosa! Claro que pretendemos cuidar e não ir à praia, com a Maria,  sem os seus brinquedos, para não abusar do outro e para que a partilha possa ser mais significativa: nem só dar, nem só receber; mas interagir e trocar.

Suscetibilidade

Texturas e doçuras
se escondem
na tarde luminosa,
suscetíveis ao olhar curioso
que vê,
à mãozinha sensível
que toca
descobre
e se encanta!
A cantoria do mar
espalha melancolia
e os morros
abraçam mais forte.
Edifícios estendem
sombras na praia
mas o sol, 
soberano nas alturas,
segue...
rabiscando suavidades
no azul!
E a brisa vai com ele,
sussurrando frescores
e peripécias!
Maria Margot

Ventos

Ventos, ventos!
Suaves  e fortes
levam as folhas
balançam os galhos
acarinham minha pele.
Não me trazem novidade
mas, lembranças, preocupações
produzindo emoção e arrepios...
Ao mesmo tempo me dizem
para aquietar o coração.
Porque o que está muito perto
um dia vai para longe
o que está longe,
um dia volta.
Isto não tem remédio.
E o vento curativa
o que dói no momento.
Ele assopra, acarinha...
cuida as feridas;
escuta e acolhe,
escuta e abraça.
Respeita. Guarda com ele.
Limpa, faz circular, desacomoda.
Impele olhar de outro jeito,
ver  de outras formas.
Por vezes, arrasa e destrói.
Certas coisas,
só mesmo destruindo.
Ele sacode minha saudade
minha preguiça.
Sacode meu medo.
E cativa para outros ares
outros lugares.
Sem “ontens” e amanhãs.
Tarde de primavera!
Meu mundo dentro
de tantos mundos...
Ventos! Ventos!
Me levem!
Me virem, desvirem
desfaçam e refaçam.
Dissolvam-me entre
cores e perfumes
nesta carícia
tão mais real
do que as nuvens escuras
dentro de mim.





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2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

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