domingo, 30 de maio de 2010 | Filed in:
Os ânimos estavam alterados na sala de aula. Vivenciamos um tempo de olimpíadas, na escola. Uma turma solicitou: - “professora, precisamos fazer uma reunião”! Os meninos se defendiam; as meninas apresentavam suas queixas: os meninos não passavam a bola para elas, durante o jogo de queimada; só eles queriam jogar e pensavam que só eles sabiam jogar... eu ouvia como a palavra girava, de um a outro, mediando aqui e ali, mas deixando o espaço para a fala, que estava engasgada, principalmente em alguns. Um menino, emocionadíssimo, lágrimas caindo, grossas, disse: “ eu tentei passar a bola, mas as meninas ficavam paradas... então eu peguei mesmo quase todas e não passei mais pra elas... mas eu fiz isto porque queria que a nossa turma ganhasse, estava pensando no grupo...” e imediatamente uma menina respondeu: “mas ganhar não era o mais importante...!”. Claro! Estar junto era o mais importante. Sentirem-se acolhidas e parceiras, valoradas, era o mais importante. O grupo dos meninos tinha sua razão e motivos; o grupo das meninas também. Considerei oportuno o momento para fazer uma colocação sobre esta questão tão sutil, delicada, das diferenças entre os homens e as mulheres e, que já aparece, assim, desde que somos crianças; especialmente no modo de ver e sentir as coisas. E de que em algumas coisas, não se trata de ver quem tem razão, mas de escutar, falar sobre o que acontece (como estávamos fazendo), como cada um sente, pensa sobre um mesmo fato, para aprendermos uns com os outros e não para nos distanciarmos, condenarmos uns aos outros e sim, nos afastarmos dos rótulos de “melhor”, “mais inteligente”, “mais isto e mais aquilo”. E, aprendendo, encontrar o melhor jeito de conviver com estas diferenças; respeitar de fato; descobrir quando é possível ceder, acolher e fazer a vontade do outro, ou não... e acessar a isto que é o ideal e, ao mesmo tempo, o mais difícil: o equilíbrio, o caminho do meio. Ficou um silêncio na sala; um e outro falou mais alguma coisa, mas já não havia muito a dizer ou que sustentasse as queixas. Cada um parece que desejou ficar um pouco sozinho para pensar no que se passava dentro de si mesmo. São crianças inteligentes, potencializadas e senti que algo diferente entrou no contexto e que com certeza vai produzir efeitos diferentes no próximo encontro no jogo e quem sabe, na vida. E eu também precisei de um tempo de silêncio para processar o fato; porque mexe com as questões pessoais e porque é sério demais, bonito demais, responsabilidade grande demais participar e mediar coisas na vida de sujeitos que estão em processo de construção.
This entry was posted on 11:24
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário