Era uma pipa
delicada
recortando
o céu azul.
Bailarina
ave,
borboleta
em movimentos
coloridos,
suaves,
expressivos,
intensos
e audaciosos!
Arriscando-se
solitária
inteira
corajosa!
Pura música
puro deleite.
Fala.
Não fala.
Fala.
Não fala.
Cala!
Por quê?
Medo
medinho
(me) dão...
um tempo!
O tempo
suficiente
para forjar
valentia!
O tempo de medo
engorda
e adoece
vontades caladas
enrruga
a alegria
enfraquece
a coragem
engessa
a leveza
envelhece
as idéias
mofa os sonhos
mata o desejo.
Conforma e "enforma".
Quem sou?
Quem são
estes outros?
Estes oceanos
que me cercam?
Em quê
nos encontramos
e onde vamos
parar, assim...
desajeitados
com nossos conteúdos
e assustados
com a densidade
e inquietude
de nossas águas
turbulentas?
Quando os encontros
de águas tranqüilas,
transparentes?!
Quando foi que
de riachinho,
fiozinho d’água
corrente, cantante, lá
num viver alienante
tornei-me, também
oceano revolto?
Atropelado
e atropelando
em sequências
sem fim de
altos e baixos,
desejos ambiciosos
de felicidades;
de questionamentos
avassaladores
derrubando mitos,
invadindo o
desconhecido,
arrasando
construídos,
vislumbrando
nunca vividos,
descobrindo flores
aromas e cores?
Onde, outra vez
córrego tranqüilo?
Agora a pouco
derreteu o coração
e era pro coração.
Na madrugada
a lua cheia invade
os espaços da sala,
doura a mata ao redor
desenha sombras doces
na varanda.
Misturada com a
quietude pulsante
do momento,
a emoção fica
suspensa
aguardando
temendo
romper o encanto.
Foi um instante
uma fala
um significante
aquietou o
momento
curativou a saudade
mantendo o encanto.
O momento
sempre é singular
e aquilo que ocorre
é inusitado
e o que é
nada para um,
é tudo para o outro.
Nenhum
caminho aberto
a não ser
o das sutilezas
e do futuro do pretérito.
Quimeras coloridas
esperançaram
os dias
quando não vivia
apenas cumpria.
- É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. – Significa “criar laços”...
- Criar laços?
- Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. – Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...".
Algo assim, tão belo, merece um tempo! O tempo de um deleite! Simples! De uma simplicidade que tira o chão porque, de repente... o grande enigma é só isto. E pronto! E só isto é tudo! E o tudo é este sossego que a compreensão disto, dentro da cabeça, dos olhos e do coração, produz. Instantâneos de alegria, de felicidade, estes laços invisíveis que se instauram - a partir do momento em que alguém se torna único para mim e me torno única para alguém e - toda vez que eles se atualizam nos encontros, sejam cotidianos, sejam tão raros quanto orquídeas florescidas. E de quantos únicos se encontra preenchido o coração da gente?! Neste frio, que delícia recordá-los, torná-los presentes! Aquece. Enternece. Humaniza. Preenche. Significa. E dá saudade. Muita.
- "É, mas você já fez dois gols contra, no nosso jogo, um dia destes, lembra?”. – interfere outro.
- 'Né, professora, que até o melhor goleiro do mundo pode levar um frango?” - questiona um terceiro.
- "Jogo é jogo. Tem que saber ganhar e perder, como na OLINQUI, né, professora?!” - já procura consolar um quarto.
Eu acho tão fofo! Fico tão feliz ouvindo, acompanhando as conversas deles! Vejo como observam, refletem, processam, amadurecem suas percepções... procurando ver os dois lados da questão que ocorre; encontrar saídas para os problemas, para as frustrações; como se articulam com a palavra em busca do que é justo, dentro da lógica e perspectiva deles e como buscam e precisam da mediação do adulto neste processo. E é aí que reside a maior responsabilidade do educar e do educador; no meu entendimento. Aí, a delicadeza e a seriedade do processo! É isto que mexe conosco; porque mexe com os nossos valores, nosso conteúdo, nossa riqueza e também com a nossa pequenez e limitações. Ultrapassa a responsabilidade de “ensinar ler, escrever, calcular, compreender a história, a geografia, a ciência, línguas, arte e filosofia”. Trata-se de educar sujeitos, cidadãos singulares, únicos e não de fazer pequenos xerox de mim, dos pais, de interesses e expectativas e, do sistema. Acompanhar e não atrapalhar. Orientar e não direcionar. Desafiar e não dar a resposta pronta; ao mesmo tempo que acolher as devolutivas, como elas podem ser dadas e não como se quer e conseguir respeitar e não comparar! E ainda questionar, “mas será que não poderia ser de outro modo, será que não pode caprichar um pouco mais, dar um pouco mais?...”. Que responsabilidade quero para mim, professora? A de estimular a construção de sujeitos com mentes fechadas, preconceituosas, arrogantes, competitivas e elitistas, separacionistas? Eu sonho que sejam cientistas e poetas; desenvolvam o raciocínio e a sensibilidade; que pensem, olhem e sintam, se posicionem e encontrem alegria e caminhos dentro da complexidade ou da simplicidade; dentro de uma medida justa para si mesmos e para os outros, como aprendo. Eu sonho, eu quero, eu me dedico; mas esbarro, como disse, nas minhas limitações e falho. E aprendo e também amadureço. Não tem como. Nada pronto. Tudo em processo e o olhar precisa estar sempre atento, implicado, reflexivo, para que não se perca o prumo.
Um chazinho
quente e doce
enlaça e acolhe...
e o corpo contido
relaxa...
se entrega
e se percebe
desconhecido
com desejo
de ser descoberto
desperto, tocado
e produzir melodias.
Amor cortez.
Amor vazio de encontro.
Não se expressa
e não se traduz
em abraços
em beijos;
não se alimenta
de carícias
juras e sussurros;
não se fortalece
em noites
perdidas de amor;
não se declara
aos quatro ventos,
à luz do sol
e nem ao luar.
Ele se retrai
atrás dos olhos
que se fecham
para não ver fora
somente dentro;
da palavra que
não fala o que sente;
da dor negada;
da saudade ignorada
e da alegria sublimada
quando se ilumina
em presença
do que é amado!
E depois,
aparece aqui,
ali, lá... bonito
transformado
em trabalho,
arte, música...
algo sutil,
apaixonado,
pura poesia!
Atravessando
a mesa em frente,
passando pelo
vão da janela
entreaberta
e antes de chegar
no morro verde,
cheiroso,
recém banhado,
meu olhar foi
capturado por
suspiros de chuva
que ficaram
enfileirados,
brilhantes e belos,
suspensos
num fio, lá na rua...
...assim,
no meio do caminho!
Mais surpresos
do que assustados
no anonimato injusto
(nem percebido!),
alongando-se e
equilibrando-se no
fio, curiosos:
- “o que há lá embaixo?...”