Amarras

          O que fez a cigarra voltar ao lugar da tortura? Os gatos a disputavam na varanda; brincando num primeiro momento; jogando-a para lá e para cá. Ela gritava loucamente. Não suportei e interferi. Com uma pazinha,  libertei-a dos gatos e joguei-a na noite. Havia muitas opções para ela se proteger, fugir, se esconder na mata ao redor. Julguei que ela merecia uma chance ou oportunidade. Mas ela voltou à varanda. Ficamos num fazer sem entendimento algum; eu tentando salvá-la, supondo que ela quisesse ser salva, fugir dos gatos e ela retornando, sempre e sempre, até que eles a pegaram outra vez e nada mais pude fazer. Pensava que isto acontecesse somente com as pessoas... O que faz com que se repita, permaneça ou retorne ao cativeiro, aquilo que  nos fere, magoa, oprime? Qual a atração, o gozo que se esconde aí? Onde estão as amarras? Eu não me conformei com a volta da cigarra. Mas eu também já fiz isto. Não posso julgar. Mas ainda desejo  entender. 

 

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2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

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