Cappuccino

Eles riem! Acho que são irmãos e estão na mesa ao lado. Ele come um pedaço generoso de uma torta de chocolate que produz saliva e recordações deliciosamente doces, em mim! E joga ao celular. Ela fala sem parar, baixinho e depois ri, ri... eu tenho o impulso de pensar, muito tola, que riem de mim. Mas hoje estou de bem comigo. Bem demais para me colocar pra baixo e ceder espaço à menos valia. Hoje, não!
Na TV em frente, com uma imagem tremida e nebulosa, passa o Jornal local, para o qual não ligo a mínima! É hora do almoço. Ousadamente, estou num lugar super bacana, sozinha. Almoço e escrevo; separada de minha vida trivial. Esta outra mulher, em mim, é demais! Adoro! E a gente só se encontra assim, quando saio de mim e do meu contexto. Aí, o mundo é muito maior e não padeço das pequenas coisas e mesmices do cotidiano. Eu olho para elas. E avalio. E lhes dou o devido valor e lugar. Mas não o primeiro e melhor lugar.
Há uma campainha em minha mesa. Vou acionar e chamar o garçom. Pedir um cappuccino. Ah! Delícia! Mas um resquício  de loucura e morbidez me sussurra: “e se o cartão estiver sem saldo?  E se você passou do limite? O que vai fazer? Por que não ficou no apartamento e comeu um pão, um sanduíche”? Mas não mesmo!!! Não adianta! Hoje não vou me sabotar com nenhuma alucinação. Aperto a campainha:
- Um cappuccino!
- Pequeno ou médio?
- Qual a diferença?
Ele me mostra. Eu escolho:
- O pequeno! Com creme!
Rimos.
Pequenas coisas. Grandes delícias!

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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