sábado, 4 de janeiro de 2014 | Filed in:
Pombos no calçadão
pombos
na praia,
nos
beirais dos telhados e dos terraços
passeando,
displicentes e confiantes
entre
nós...
No
cotidiano corrido,
cheio
de necessidades,
coisas
a consumir,
contas
a pagar,
aparências
a cuidar,
modelos
a seguir,
quem
se pergunta:
por
que os pombos estão avançando
e
tão sem medo e sem vergonha
invadindo
o nosso espaço?
O
que houve com o espaço dos pombos?
E
com outros tantos espaços que se foram
sem
que ninguém impedisse?
Passarinhos
sem espaço.
Respeito
sem espaço!
Casas
sem muro, andar seguro
brincar
na rua, confiar na palavra,
na
justiça... coisas com tão pouco espaço!
Crianças
sem espaço!
Infância sem espaço!
E qual é o espaço das crianças?
Onde
está o espaço e
a
fonte de alegria, de felicidade das
crianças?
Certamente não está na pressa
em
antecipar para elas, o mundo dos adultos:
nos
valores, no vestir, no brincar,
nos
compromissos, no falar.
Nem presa no brinquedo caro
que
não pode quebrar, nem perder
e,
às vezes, nem explorar, brincar.
Não está enclausurada nos eletrônicos
que
viciam, isolam e tapam buracos, abandonos.
Não
está prisioneira na TV de fácil acesso,
nos
DVDs, filmes e musicais comerciais.
Não está na
etiqueta das roupas e
calçados
de marca, expostos e apelativos
nas
propagandas, outdoors e nos shoppings.
Não
está no asseio dos ambientes, das roupas,
dos
lugares impecáveis,
bonitos
mas frios, intocáveis.
Não
está nos prêmios e barganhas
do
“se você fizer isto, te dou aquilo”.
Não está na mesada
e
nem na promessa de realização
de
todos os seus desejos!
Nem na prisão de segurança máxima
dos
presentes, doces, modismos
e
expectativas dos adultos.
Não
está nos cursos
e
nem nas agendas cheias.
Não
está na sua exposição
e
nem na exaltação de
sua
beleza, sua inteligência e suas habilidades.
A felicidade dos pombos
está
no espaço!
Espaço
para voar,
para
estarem juntos, no bando,
abrigados
e alimentados!
A
felicidade dos pombos está
em
viver sua vida de pombos!
A alegria, a felicidade das crianças
é
algo assim, bem concreto
e
também está num espaço!
No
espaço que damos a elas,
permitindo
que sejam crianças
ajam
e pensem como crianças!
Vivam,
plenamente, sua vida de crianças!
A
alegria das crianças está em explorar o mundo!
Conhecer
o mundo pelos sentidos:
ver,
pegar, cheirar, ouvir, sentir o gosto,
medir,
comparar, chorar, cantar e falar!
Delícia!
Delicia maior não há!
E
explorar, é brincar!
Brincar na água fresquinha
geladinha...
sentí-la escorrendo pelas mãos
Vir
e ir... livre!
Tomar
banho de chuva! Banho no tanque!
Banho
de mangueira!
E
fazer lama!
Banho
de lama! Bolo de lama!
Fazer
buraco na terra,
sentir
o cheiro da terra
perfumando
a tarde quente
depois
de uma chuva de verão!
Alegria
e pura felicidade, na vida de uma criança
é
subir na árvore, como um macaquinho!
Chegar
nas alturas
deslizar
pelos galhos...
O
medo de cair, infinitamente menor que o
prazer de subir!
Balançar!
Cochilar
na sombra gostosa,
fazer
da árvore uma casa, um clubinho.
Brincar com as letras, os números
aprender
com prazer, com cuidado,
no
seu tempo, com respeito, devagarinho!
Coisa gostosa, que criança gosta é
deitar
na grama e observar a transmutação das nuvens,
improvisar
um carrinho com sucata velha.
Mexer nas gavetas, mexer nas panelas
fazer
comidinha,
brincar
de casinha,
de
papai, mamãe e filhinha!
Pular
corda, jogar bola
andar
de bicicleta na rua!
Mexericar,
puxar o rabo do gato
fazer
carinho do cachorrinho.
Correr
atrás de borboleta
curiosar
a natureza!
Brincar
com os amigos:
pega-pega;
esconde-esconde
amarelinha,
bolinha de gude.
Bolha
de sabão, telefone sem fio,
soltar
pipa, espiar vaga-lume...
contar
estrelas e cantar e rir
até
dormir!
E
rodar e saltar e rolar
e
subir e descer
e
de novo sorrir e correr!
Comer
bolo e ouvir histórias
na
casa do vovô e da vovó.
Ganhar
beijos e abraços
quase
que por nada... por carinho, só!
A
alegria e felicidade mais genuína das crianças está
na
simplicidade das coisas,
naquilo
que, desde que o mundo é mundo
encanta
as crianças de todo mundo
e
não custa nada
a
não ser tempo e espaço.
Espaço
dentro das nossas vidas.
No
tempo que lhes damos para que possam
circular,
deslizar, entrar nas nossas vidas
marcar
nosso coração
com
suas gracinhas e agrados!
Marcar
nossa mente
com
suas hipóteses curiosíssimas
deduções
brilhantes
e
sua inteligência pura!
No
espaço que damos a elas,
no
nosso abraço! Abraço
onde
se abrigam do medo, do frio,
das
culpas, das dores e dos desafios deste mundo;
cativante
e assombroso, ao mesmo tempo!
Nosso
abraço:
o
espaço mais seguro!
A
proposta desafiadora, hoje, é:
resgatar
a essencialidade
das
coisas e das relações:
de
dentro do nosso cotidiano!
Deixar
fluir o sentimento.
Largar,
um pouco, a rigidez dos formatos,
dos
horários e das resistências.
Abraçar
e curtir o que é mais precioso:
este
presente do presente!
Que
é o estarmos juntos e,
como
as crianças e os pombos: felizes!
Na
simplicidade das atitudes,
na
delicadeza e sofisticação dos afetos!
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2 comentários:
Que linda mensagem... nos faz abrir os olhos para o coração... simples assim...
Obrigada, Mônica.
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