segunda-feira, 18 de maio de 2015 | Filed in:
- “Agora,
conta uma “hitorinha”, vovó”!
E
lá foi ela, na estante, escolhendo uma “penca” de livros, esparramando-os pelo
sofá, para só então selecionar aqueles do interesse do momento e, entre
estes, o primeiro a ser lido.
-
“Quero este, vovó, do Rei “Leião””!
Larguei
meus trabalhos e sem a menor resistência, sentei ao seu lado, no sofá e li a
história, que também gosto muito. A pequena sempre fica mexida com o enredo:
este tio que não gosta do sobrinho; os “leiõezinhos” (como ela fala) teimosos e
curiosos que desobedecem os pais e se colocam em perigo; o “leiãozinho” que
foge, cresce longe de casa... depois reencontra a amiga de infância; retorna ao
lar; luta com tio e assume o seu lugar de rei e depois se torna, por sua vez, o
papai de um outro “leiãozinho”... e disto ela gosta muito, vibra: do filhinho
ou filhinha que tem um papai e uma mamãe! Fica feliz! Depois, não pediu para
repetir a história; escolheu outra. Uma que ela não conhecia, ainda: “Era uma vez duas avós”... Meu coração
bateu forte porque eu amo esta historia da Naumim Aizen! Fui lendo e ela cada
vez mais centrada, interessada. Não dei conta de conter a emoção e ela
percebeu; surpreendeu-se, virou-se para mim e perguntou:
-
“Por que ta chorando, vovó”?
-
É porque eu gosto muito desta história! Sabia que a gente pode chorar por causa
de uma coisa que gosta? A gente gosta tanto, que chora de alegria, ou porque
sente uma coisa muito grande, muito bonita, no coração... – respondi; sem
certeza de que me entendia.
Ela
voltou a atenção para o livro e pediu para que eu continuasse lendo... No final, pediu:
-
“Eu gostei desta “hitória”, vovó! Conta de novo”!
No texto, a autora fala das suas duas
avós, das diferenças e semelhanças entre elas e, do quanto marcaram sua vida,
com seus jeitos singulares. Linda demais a leitura que a neta fez das duas avós; não só do que elas
exteriorizavam, mas daquilo que ela interpretava, intuía, capturava nas
entrelinhas das falas, atitudes, hábitos das duas... Fundo, fundo demais! Não
há como não se envolver, emocionar!
Em outros momentos; anos passados, quando
li este ímpar e belo texto, sempre lembrei das minhas duas avós, suas
especialidades e do quanto guardei de cada uma delas. Hoje, pela primeira vez
lendo para minha neta, foi muito mais do que isto! Eu lia e as imagens das
minhas avós misturaram-se comigo; porque agora, eu sou a avó! E senti, como nunca, a urgência da essencialidade! Existem,
sim, coisas impostergáveis, que não voltam ou não se repetem nunca mais e,
perdê-las é imensurável. Nada podia ser mais importante do que o momento presente,
ali, com ela: ora brincando junto, de massinha;
ora lendo pra ela; ora recortando e ajudando com a cola; ora ficando
muito quieta, observando e fazendo de conta que trabalhava em minhas coisas e não
prestava atenção ao que ela fazia: experimentando, tentando, persistente, manusear
a tesoura; “rabiscando” a folha; misturando as cores das massinhas... de
repente dando uma atenção “às filhas” ali ao lado... depois retomando um sem
fim de “coisiquinhas” que se pode imaginar e fazer com papel, cola, tesoura e
lápis, sem que ninguém interfira... até que:
-“Vovó, senta comigo, aqui no chão...
vem brincar comigo”! – um pedido tranqüilo para interagir, partilhar o momento.
Entendo.
Ela descobre que tem coisas boas de fazer sozinha, mas outras, é muito melhor
com o outro! Criança tem mais sensibilidade e sinceridade para reconhecer e
lidar com isto. E expressar.
Num
rápido instante, tentando fazer consciência de mim mesma; vasculhei meu
interior para ver se haveria uma única coisa sequer que fosse mais importante
do que sentar ali, com ela e brincar. Não havia. Nada.
Mas preciso admitir que se isto estivesse acontecendo há
alguns anos atrás; talvez eu encontrasse algo mais urgente a fazer, naquele
momento... algo relacionado ao trabalho ou à casa... que dor!
Eu reaprendo. Eu me liberto. Eu me
permito. Eu me humanizo e me reinvento com minha neta. Meu coração transborda de
gratidão: pelas duas avós que tive e pelo presente de ser, nesta vida, mulhermãeavó!
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