Martela
martela
derruba, destrói!
Cimento que cai
em bloco,
trabalho feito
desfeito.
Tijolos emergem
ilesos
das marteladas precisas.
O tijolo é a essência
que não cabe
mais ali
mas não vai pro lixo,
novo projeto o desafia.
Recicla, aproveita
e no final
tudo serve
tudo vale a pena.
A mesma essência
num novo estágio
nova construção.
Martela
cinzela
modela
apruma
modifica
transforma
aperfeiçoa
sutiliza
cresce...
Faz, desfaz.
Avança, retrocede,
para, reflete
avança novamente...
Constrói, destrói, reconstrói.
Trabalho,
mais trabalho
fora e dentro
dentro e fora...
Concomitante
incessante.
É preciso força.
Antes que os braços
se estendam
o coração se antecipa
e já sente,
já se percebe
no calor do
abraço único
e alegrias circulam
pelas veias
e forças vêm
e o corpo se agita
num movimento
de inteireza,
consciência de si
e quando os braços
se encontram
no abraço,
se compreende
o que Deus sentiu
diante da sua criação
“viu que tudo era bom”!
Cri,cri, cri...
um grilo canta...
um pássaro pia...
longe...
outro mais aqui...
pertinho...
melodias nostálgicas...
Folhas fecham
os olhos...
balançando
entregues
à brisa
que afaga uma ali...
outra lá...
carinho gostoso...
Lentidão..
dormência...
espichamento...
de sensações
que não querem
se largar,
frutos de um
dia lindo
que vai,
relutante
feito criança
que não quer dormir,
fechando os olhos
devagarinho...
bem de mansinho...
De repente!
Um susto!
Um estremecimento!
Um carro barulhento
que passa!
Um pássaro atrasado
que chega,
se desculpando,
desafinado!
Ainda tem luz,
tem cor no céu
tem a promessa
de alegria,
de felicidade que
o dia de sol propagou...
Que delícia!
E logo... novo fechar
de pálpebras...
As cigarras
se revezam...
é uma cantiga de ninar...
“boa noite, meu bem,
durma um sono tranqüilo...”
Eu te observo
desconhecida,
cativada por ti
teus pensamentos,
teu jeito, teu querer.
Eu mesma, ainda dentro!
Emergindo, urgente
falante, feliz, afoita
tropeçando no verbo
que se encoraja,
em objetividades tateantes,
egoísmos que reivindicam espaço
de forma desordenada,
porque nova.
Mas, agora, uma mulher.
Sentia-me despir de tudo,
diluir-me, dissolver-me
e me reconstituir novamente...
Ora como uma folha singular
que balançava ao vento ou
como outra amarelada
e esquecida no chão.
Ora como um tronco simples,
esquecido, retorcido pelos ventos
ou como uma árvore majestosa,
bela, imponente,
resistindo ao tempo e
ao mesmo tempo
registrando a passagem do tempo.
Ora como alegres e delicadas flores,
“beijinhos” coloridos multiplicando-se
despretensiosa e amorosamente
pelo caminho ou como bromélias tímidas,
inconscientes de sua beleza,
escondidas no alto das árvores.
Ora como o canto suave e constante
de insetos invisíveis ou
como borboletas brancas,
aqui e ali, brincando entre os verdes,
tranqüilas, livres, felizes!
De quando em quando,
o murmúrio das águas,
em algum lugar;
por vezes cochichando,
por vezes gargalhando,
por vezes recitando canções ternas,
provocando relaxamento e
grande desejo de fechar os olhos e
ir para não sabia onde...
mas com certeza,
lugar delicioso e seguro.
Sentia a floresta misteriosa,
com seus silêncios preenchidos,
seus olhos em toda parte,
seus cheiros, acolhendo-me,
estreitando-me em seus braços,
mexendo com todo meu ser,
avivando uma chama de vida
que não sabia existir ainda
dentro de mim.
E era tudo novo e tudo conhecido,
ao mesmo tempo!
Era novo até sentir e
depois era conhecido
porque parecia recordar.
E quando a noite chegou...
Tudo vibrava! Tudo soava!
Sussurros, vozes, cantigas,
histórias, pausas,
silêncios densos,
melodias apaixonadas...
de onde vinham?
Das árvores, dos seres da floresta,
dos nossos corações,
de tempos passados,
de onde?!!!
Os vaga-lumes piscavam incessantemente,
como fogos de artifício silenciosos;
mostrando-se e escondendo-se;
numa brincadeira séria
que fazia com que pensasse
e fizesse uma associação
com o que experimentava no momento:
sentimentos que se mostravam
e se escondiam;
percepções que
ora eram claras, ora confusas...
compreensões que vinham,
dúvidas que se iam;
medos, felicidades,
culpas, certezas que se alternavam.
Chegaram de repente, sem avisar; enchendo meu coração de alegria inesperada e até, descompassada! Dois dos meus três irmãos! Surpresa boa no telefone, no último momento, sem me dar tempo de antecipar nada: -“Tata, prepara o mate, chegamos em dez minutos...”. Eles me chamam de Tata, desde pequenos. Eu gosto. -“Tata! ...”. ouço e me volto para eles e neste movimento, através deles vejo o nosso passado. Nossa vida em casa, juntos. Tudo tão intenso, um pouco tenso naquele cotidiano longínquo... muitos detalhes, encontros, ausências, afinidades, solidão, conflitos, medos, afetos e parceria, distanciamentos (diferenças na criação; eles guris, eu guria), silêncios, confidências e confiança... Bonitos, os meus irmãos! Os dois que vieram e também o outro que não pode vir. Homens fortes, sensíveis, lutadores, sérios diante das coisas da vida; de abraço amoroso, olhar terno, sorriso largo, divertidos; buscando essencialidades; tentando ser melhor marido, melhor pai; alma doce. Uma irmã teria sido mais próxima e terna para comigo do que eles? Acho que não; por isto deixei de desejar uma e passei a desejar uma filha. Que tive! Graças! Um reencontro fundo, este com os manos, hoje. Encontro com estas partes importantes da minha vida; com este carinho que me faz falta no cotidiano. ”Tata”, uma palavra expressiva e doce; um elo fraterno, nó que nos enlaça. Já vivenciamos grandes hiatos; mas em momentos duros, quando um e outro precisou, um de nós estava lá. Como agora. Eu precisava. Eles vieram. Intuitivamente.
Devagarinho,
chega sempre
o momento do tempo
que é teu, em mim!
E me encanto contigo,
inspiração, abrigo!
A palavra é o brilho que
existe ou não
interligando as peças
do quebra-cabeça
existencial
dando a elas
lugar e sentido.