sábado, 20 de outubro de 2012 | Filed in:
Na
área coberta, elas organizaram o Salão. Primeiro o espaço: o longo e velho banco
de madeira transformou-se em maca para que “os clientes” pudessem deitar ou
sentar para receber massagens das massagistas. Uma mesa pequena para a
secretária que faria os agendamentos e encaminhamentos dos clientes... uma mesa
para a maquiadora, outra para a cabeleireira;
outra para a manicure e outra para a pedicure... cadeiras, uma ao lado
da outra e pneus enfileirados numa sala de espera, para os clientes. As fitas coloridas, remanescentes da
ornamentação do VI Circo e IV FECAQUI da semana anterior, dançando ao sabor da brisa, na tarde de temperatura gostosa, davam ao
ambiente, um ar nostálgico e aconchegante... Era tão lindo vê-las organizadas
assim, demonstrando iniciativa, autonomia e respeito (tudo isto que a gente
quer ver nos alunos!); que meu coração encheu-se de uma ternura sem fim e eu me
senti profundamente agradecida por estar ali, presenciando, nem de tão perto,
para não ser invasiva e nem de tão longe, para que soubessem que estava ali, se
precisassem... Já estava na hora de iniciar a aula do período vespertino e me
debatia, sem coragem e não me julgando no direito de “acabar” com aquele fazer
prazeroso em nome de nada! Que aula de Português, Matemática ou de CNS, seria
mais importante do que aquela interação, naquele momento, onde exercitavam e
colocavam em prática todo "um saber"? O serviço era VIP! Os "clientes" (de todas as salas), muito
tranqüilos, esperavam na fila, sentido-se importantes, muito bem tratados pela
secretária, gentil e eficiente; que agendava tudo, colocando respeito e ordem, ágil, falante e muito
atenta: “você que vai fazer a mão, pode
passar ali”... “olha, você aguarde um
momentinho, logo será sua vez”... “fique
tranqüilo, tem só duas pessoas na sua frente”... As duas massagistas
mostraram-se muito habilidosas e delicadas nas massagens nas costas e sola dos
pés (utilizando umas madeirinhas finas para dar suaves batidinhas nas mesmas) e conversavam delicadezas com os
clientes! A cabeleireira e sua ajudante,
faziam obras primas nos cabelos (de meninos e meninas); com o uso de enfeites,
laços, gel e fixador! A maquiadora, compenetradíssima, coloria olhos, bochechas
e lábios com muita arte, harmonia; sem exageros! A manicure e a pedicure,
munidas de muitas cores, pintavam unhas com capricho! Algumas, elas ornamentavam
com flores; manuseando o palito com maestria; muito sérias, compenetradas! Não
fui chamada para mediar ou resolver nada exceto quando dois meninos não queriam
sair do salão depois de receber massagens relaxantes; queriam mais! Quando
cheguei para conversar, já tinham resolvido e os meninos estavam postados na
fila, outra vez! Quando finalmente chamei para irmos à sala de aula,
solicitaram só um momentinho, pois precisavam fazer uma reunião de “final de
expediente”! Rapidinho, reorganizaram o ambiente; o material de cada uma devidamente guardado...
depois disto, reuniram-se numa rodinha e conversaram... falavam baixinho, comentando
como tinha sido o trabalho; combinando como seria no próximo dia, como iriam
melhorar o serviço aos clientes!!!! Coisinhas lindas! Eu andava pelo quintal,
acompanhando de longe, como disse, com
os olhos espichados! Feliz, feliz com a cena! Então voltaram para a sala de
aula, contentes, tranqüilos e produziram que foi uma maravilha! Comentei com
colegas sobre a beleza e importância daquela brincadeira e do brincar em geral! Todos estavam
sensibilizados! Maravilhoso ver crianças brincando! E ver, dentro do nosso
espaço de trabalho, voltado para a criança e para a proteção e garantia daquilo
que é pertinente à criança; como estes alunos de 4º e 5º ano, avançaram na sua
forma de brincar; mostrando-se
articulados no pensamento, na palavra e na sua ação no social; reproduzindo,
através da sua “leitura” e compreensão, o mundo que apresentamos a elas. Eles
nos devolvem tudo! Nos observam e nos imitam... quando as crianças brincam, deixam
claro como são os adultos do seu convívio e como eles estão marcando e
sinalizando valores a eles. Nossa
responsabilidade é muito grande.
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