domingo, 28 de outubro de 2012 | Filed in:
Imagem de Elcio Limas
De
dentro do burburinho das conversas e sons das diversas bandinhas que por ali estavam, meus ouvidos capturaram uma
melodia especial e seguindo-a, cheguei até
o grupo que tocava, num cantinho do
imenso pavilhão, para algumas pessoas que ali almoçavam...era uma melodia alemã
(como todas as outras circulando no contexto); uma cantiga melancólica que
instantaneamente (tornando bem real e concreta a expressão “num passe de
mágica”) me reportou ao passado longínquo... e eu me vi, senti como se ainda
estivesse lá... criança, na casa de meus avós paternos! A vó na cadeira de
balanço, o vô na poltrona; ambos de olhos fechados ouvindo o som que vinha da
vitrola, a doce melodia, cujos versos eu não entendia, mas intuía. Eu os
observava e eles nem pareciam importar-se com a minha presença ali, mergulhados
na emoção... onde ela os levava? O que havia ali, onde eles estavam e que eu
não podia ver? Com o que interagiam e que deixava suas expressões suavizadas e
por vezes, tão tocadas a ponto de verter uma e outra lágrima envergonhada? Iam
ao tempo de juventude, à infância ou mais distante, onde estavam suas
raízes?... Eu assistia, silenciosa, aprendendo a respeitar. Depois de algum
tempo, levantavam. O vô desligava a vitrola e cada um ia para os seus afazeres,
silenciosos, tranqüilos. A vó, geralmente ia para o jardim, cuidar das flores e
eu a seguia, apreciando aquele amor e olhar que ela tinha para com as plantas. Ontem, com minha neta nos braços, voltei no tempo e no espaço pelo caminho
fantástico instaurado pela música e estive com meus avós e com eles, outra vez, em outros lugares, que minha consciência não decodificou e não tenho
palavras para traduzir; mas que meu inconsciente reconheceu. Eu me senti
envolvida por uma grande emoção, muito
feliz e com uma sensação profunda de inteireza e unidade!
Um pouco
depois, assistindo o desfile, tão alegre, colorido e bonito, de carros
alegóricos, bandinhas e pessoas trajadas com vestes tipicamente alemãs,
alimentando e atualizando sua história, origens, cultura, pelas ruas de
Blumenau, eu compreendi que o que mexeu e atualizou, também em mim, foram as
minhas raízes! Algo assim parecido como quando escuto uma melodia gauchesca e
visualizo homens e mulheres com trajes típicos
do RS... ou quando vejo a Bandeira Brasileira ou escuto o nosso Hino
Nacional... ou fico perturbada quando escuto melodias ou vejo imagens de alguns
lugares, culturas que não visitei, não conheço...
Então me senti mais ou menos como o grande “ficus” no centro do quintal
da escola onde trabalho; imenso, cheio de memória e profundamente enraizado no
solo... com tantas e tantas raízes! Tantas que muitas estão a “perder-se de vista”... De alguma forma,
estas percepções fortalecem e estimulam o continuar, o viver; acrescentam
sentido à existência, muitas vezes tão
isenta de significado.
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