sábado, 13 de outubro de 2012 | Filed in:
"Hay que endurecerse,
pero sin perder la
ternura jamás!"
(Ernesto Che Guevara)
Esta frase mexeu comigo desde que ouvi pela primeira
vez. É forte e abraça os extremos. O que este homem deve ter visto, vivido,
pensado, sentido, para elaborar e verbalizar, registrar esta preciosidade?...
Eu fico sempre e cada vez mais impressionada com a
dualidade dentro de nós; que alterna nossa capacidade intensa de criar, de
gerar e expressar generosidade e afeto e, ao mesmo tempo, destruir, “espinhar”,
cutucar e ferir tanto!
Os raios do sol entram pelas janelas abertas, alegres
e curiosos de minhas coisas: papeis, livros, cadernos de alunos, violetas, meus
escritos, fotos, cortinas, escrivaninha e... especialmente, de uma “coisiquinha” pequena, um
“bolinho de gente”, de rosa e branco, rendinhas e lacinho no cabelo que dorme,
bem aqui, ao meu lado, ouvindo “Secret Garden” e que desmancha minhas armaduras
todas, me mostrando meu coração por inteiro com tudo de bom que poderia ser,
sentir e alcançar (se não fossem os meus limites, amarras, medos, preconceitos,
ignorâncias, egos...): um bebê, Maria!
Depois de enlaçar os cumes
dos morros, das árvores e superfícies mais altas e planas, o sol chegou aqui embaixo, entre os morros e
dentro da floresta, enfiando-se por entre troncos, galhos, folhas, enchendo
tudo de brilho... observo que a terra, esgotada de umidade, se delicia com o
calor, que aquece e enxuga! Que
as plantas se mostram, os gatos se alongam e se abandonam em cima dos tapetes e
que as borboletas e passarinhos, vão de lá para cá... cheios de “bobiça”... deliciando-se! Seguindo o
impulso de ser feliz, agora!
E a gente é? Conseguimos “ser felizes agora”
com todas as coisas que temos para isto e, com este desejo, esta “vocação”,
este chamado fundo, que vem de tudo, de dentro e de fora, para ser feliz?
A vida também mostra suas outras faces: a miséria,
ciúmes, exploração, “mensalão”,
golpes, “jeitinhos”, violência; desrespeito no trânsito, no trabalho, nas
relações... e os interesses! Fico decepcionada comigo e com os outros quando
faço e escuto críticas sobre o que move e sobre
o “interesse” dos outros... E eu acredito na crítica! Mas acredito mais no
trabalho, no fazer antes de reclamar. Mas eu também reclamo e aponto! A
decepção vem por conta de perceber que também cometemos, em maior ou menor
grau, deslizes que julgamos nos outros; só que estamos protegidos pelo
anonimato e pela hipocrisia. O “jogo de interesses” “corre solto”, como diria
meu pai, em todos os lugares, cabeças, corações e ações; do mais simples ao
mais graduado. Do mais sensível ao mais duro! O que nos diferencia é o grau,
certo “desconfiômetro”; maior ou menor consciência; pudor, abrangência,
censura... Daí (como usam em abundância meus alunos), eu reflito e penso que
tudo é mesmo uma questão de essência: para mudar e melhorar, precisamos
trabalhar na essência, na semente. Difícil um adulto mudar. Somente se quiser. Dá muito
trabalho, precisa muita força de vontade; assim como para deixar um vício! Por
isto acredito no trabalho com as crianças! E por isto, a responsabilidade de quem
educa e serve de exemplo é tão grande... muito grande! Todo adulto devia, de
quando em quando revisar seus hábitos, atitudes, crenças, conceitos. A gente sempre
pode melhorar; abrir os olhos, vislumbrar novos horizontes e, com isto,
melhorar o contexto ao redor... Alguma coisa sempre melhora, certamente... areja!
... “endurecerse,
pero sin perder la ternura jamás”!... Em profundidade, que significado isto teve para o “Che”, diante das
batalhas que travou dentro (consigo mesmo) e fora, lutando pelo considerava
certo? O que o movia, na essência? Não sei... mas reflito sobre o que significa
para mim. Não gosto da palavra endurecer. Isolada, a mim passa uma ideia de
fechamento, radicalismo, impossibilidade, autoritarismo. Mas neste
contexto vejo endurecer como sinônimo de fortalecer a vontade,
perseverar, não “arredar pé” daquilo que é correto, justo, direito; não se
vender, não se dobrar, não esmorecer, não se omitir! Aprender dizer “NÃO”,
“CHEGA”, “BASTA”! E que adianta tudo isto sem a ternura para perceber a doçura
das crianças, o perfume, as cores e as formas da natureza? Para descobrir o
amor num abraço, num olhar, num sorrio, num encontro? Para deleitar com as
notas de uma melodia e com
as ondas mansas do mar? Para ler os poetas; encantar com a metamorfose da
borboleta e com o afinco com que as mãe passarinha alimenta os filhotes! Para
perdoar e recomeçar? Para interpretar\acolher um choro, uma dor e adivinhar
onde se escondem os raios do sol que entram, iluminam e aquecem a mata, a
vida...
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