Uma dor

Desassossego. Medo!
Impotência. Perder tudo
para a lama faminta
que desce pelo morro
desgovernada e cega.
Perder para a água
também perdida 
e desorientada
que sobe pelas ruas,
pelas paredes,
encurralando e engolindo
sem querer, sem planejar
colocada num curso
que não é o seu.
Mistura de terra, água,
lágrimas, corpos,
esperanças e trabalho,
anos de história enterrados
nos escombros,
como um punhal no peito.
É dor insuportável!
Dor da terra, violentada,
Dor do rio, envenenado
Dor do homem, equivocado
Dor de quem olha, paralisado.
Dor do vazio: 
nunca mais será!
Dor por esta fragilidade
de  não saber
não esperar
não dominar.
Será que alguém devia
cuidar e não respeitou?
Alguém devia saber
e não ensinou?
Agora, abraçar e cuidar
com  compaixão e respeito
das feridas, destes buracos
que ficaram na terra e no coração;
cicatrizes, dor sem remédio.
Sem esquecer, por favor,  
a interrogação.

 

0 comentários:


Minha foto
2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

Arquivo do blog