terça-feira, 18 de janeiro de 2011 | Filed in:
Tinha quatorze anos quando soube que minha mãe fazia o meu enxoval. Pacienciosamente e com orgulho, ela o foi organizando, ano após ano... cada mês comprava uma coisa ou um conjunto de coisas; fazendo alguns malabarismos para “se virar” com o dinheiro que o pai permitia e era possível, mas nunca extravagâncias! Afinal, era uma coisa muito importante preparar o enxoval de uma filha e quando casei, aos vinte e um, tinha coisas pra casa inteira! E se eu não me casasse? (!) Toalhas de mesa, de banho, de rosto; louças, “coberta de mesa”; lençóis, enfeites, panos de pratos, tapetinhos... e guardanapos de crochê (muitos, de tamanhos e cores diversas!); colchas, acolchoados, cobertores, utilidades de cozinha, panelas... nossa! Era muita coisa... tudo arrumadinho, limpinho, cheirosinho! De quando em quando a gente abria o “baú” (onde tudo ficava bem guardado) para arejar, admirar, ver o que faltava... um ritual. Avós, tias, primas, amigas, todas, no decorrer dos anos, de um ou de outro jeito, iam contribuindo para alimentar o baú. Eu mesma, depois que comecei trabalhar, aos dezoito, de quando em quando encontrava uma relíquia que guardava no baú. A gente se preparava para algo muito importante, que viria! Saber que este baú existia produzia um misto de agradável expectativa, ansiedade e certo temor secreto: e se eu não encontrasse o príncipe? Sim, porque eu queria encontrar o príncipe. Viver o ritual todo, até o fim; como todas (?), típico. E tinha valor, imenso valor. Não era só o baú. Não eram só os objetos. Eram sonhos ali guardados. Será que hoje, mães ainda fazem o enxoval para as filhas, neste estilo? Eu não fiz para minha filha. Quando chegou a hora, corremos para comprar o essencial. Há um jeito novo de ver o casamento, o trabalho, as relações. Diferente. Hoje, especificamente em relação às coisas da casa, tantas novidades todos os dias; muita oferta e tudo fácil para descartar, trocar. Minha filha ficou surpresa quando mostrei a ela um lençol ainda em uso, lá do tempo do baú; mais de trinta e cinco anos...
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