sexta-feira, 30 de janeiro de 2015 | Filed in:
Belas assim...
é de amor!
De um que fala
pro outro:
- Meu amor!
Belas assim,
só por amor!
De um que vê
no outro:
- O meu amor!
Belas assim,
de tanto amor!
De um que
alimenta no outro:
amor!
Belas assim...
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015 | Filed in:
Observei o lagarto, as galinhas e o gato Sig, convivendo com tranqüilidade, no quintal; partilhando espaço e comida com uma civilidade que se torna rara, no campo dos seres humanos.
Todos
os dias fica mais claro que conviver, no planeta, está difícil! Avanços na
linguagem, na escrita e no pensamento; descobertas e desenvolvimento científico e tecnológico não eliminaram a barbárie. Ela continua viva; mais
viva do que nunca dentro do homem. Intolerância, menos-valia, ganância e
arrogância corroem as relações, espalham desconfiança, alimentam intrigas e mal
entendidos; disseminam insegurança, distanciamentos, inverdades, isolamentos, terror e violência.
O que aparece, cotidianamente, é que “humanos não pensam em estratégias para
conviver melhor uns com os outros. Pensam em estratégias para viver melhor uns
do que os outros. O que pouco aparece é o afeto, partilha, escuta, solidariedade e poesia. Estes nunca estão
nas manchetes; mas sobrevivem no anonimato. Teimosos e apaixonados, crescem,
perseverantes, por entre grosserias, ironias, pessimismo, preconceitos; infantilidades,
limites, impotências, ignorâncias e hipocrisias.
Por isto, quando vejo galinhas, lagartos e gatos que conseguem conviver; encontrar maneiras de manter e respeitar o espaço, um do outro; eu me emociono e alimento minha esperança!
Por isto, quando vejo galinhas, lagartos e gatos que conseguem conviver; encontrar maneiras de manter e respeitar o espaço, um do outro; eu me emociono e alimento minha esperança!
terça-feira, 27 de janeiro de 2015 | Filed in:
As folhas dançam!
Como dançam!
As românticas,
na brisa fresca e perfumada
das manhãs e das tardes de primavera!
As apaixonadas e arrebatadas,
nos temporais da madrugada!
As melancólicas,
nas ventanias de inverso!
As afobadas e impulsivas;
no ritmo do minuano ruidoso...
E todas dançam!
As pequenas
as raras
as compridas
as exóticas
as amareladas,
as belas
e as que ninguém vê.
Fecham os olhos verdes
e dançam...
As reservadas e inseguras:
coreografias belas
mas contidas.
As mais soltas?
Estas, tão soltas
que de tão livres
desprendem-se
de marcas, limites
e ritmos...
... e não dançam mais;
flutuam!
Diluem-se
no tempo
e na entrega;
felizes como ninguém!
| Filed in:
Por vezes
a vida é esta
sucessão de desencontros
impotências
mal entendidos
mal interpretados,
mal intencionados
grosserias, asperezas,
Babel.
Mas há também
esta doçura
que cativa, abraça;
que produz encontros
de olhar
de palavra
de gestos
e de silêncios;
que aproxima
e enlaça.
Alguém compreende e ajuda;
abraça, telefona, escuta;
manda uma mensagem...
Alguém se importa com alguém
em algum lugar.
Alguém pergunta e confia:
- Você gosta de mim, vovó?
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015 | Filed in:
Brigite e Lola
Minha netinha, de quase três anos, vive
um momento de grande interesse pelos cachorrinhos; uma mistura de medo,
curiosidade e apaixonamento ao mesmo tempo:
-
“Vovó, “puquê” o cachorrinho tá amarrado”? “Puquê” o cachorrinho tá sozinho? Ele não tem mãe?
Onde está a mamãe dele”? “Vovó, onde vai aquele cachorrinho, ali”? “Olha, vovó,
aquele cachorrinho na janela do carro...
ele tá feliz”! “Aquele cachorrinho é “babo”,
vovó? Tenho medo... mas eu queria “pegá” ele”... “Puquê” aquele cachorrinho “tá
tisti”, vovó”?...
E
assim vamos, passeando pela cidade. Cada encontro com um cachorro: uma parada,
uma conversa; uma história que ela começa e que eu continuo, “viajando” com
ela! Uma delícia!
Em
minha casa, temos duas galinhas: Brigite e Lola. Todo dia, cada uma põe um ovo. Coisinha
linda! Quando começam a cacarejar exageradamente, já sabemos o motivo, é só ir
buscar: os ovos estão lá! A netinha sabe.
Hoje,
no final de um dia intenso de aventuras com a vovó (eu!), enquanto o papai e a mamãe
trabalhavam; saíamos tagarelando do seu apto, nos preparando para a despedida. No corredor,
ouvimos o latido insistente do cachorrinho da vizinha de apartamento:
- Ó vovó... um cachorrinho...
- É... onde ele está? – perguntei,
fazendo de conta que não sabia.
- Tá ali, no “apatamento” da vizinha,
vovó.
- Ahhh... e por que será que ele está
latindo assim? – insisto, imaginando que me diria que ele queria a mamãe dele.
Fui surpreendida:
- Acho que ele “qué botá” um ovo, vovó!
Esta
foi a resposta imediata, firme e muito
clara da pequerrucha, que encaminhou-se para o elevador sem olhar para mim,
decidida!
Fofa!
Bidú
domingo, 25 de janeiro de 2015 | Filed in:
Aprendi, pelo olhar, sentimento e relatos de minha mãe e também convivendo, a admirar muito os tios, homens trabalhadores, que deixaram belos exemplos para os filhos e todos nós.
Por ser mulher, minha identificação e observação maior foi direcionada a elas, às filhas do nono e da nona; por quem tive e nutro grande afeto.
Na foto, faltam duas (precisamos reuní-las para fazer uma
foto oficial): uma tia que mora numa cidade ao lado e outra tia, queridíssima,
que está muito enferma. Aparecem apenas três: minha mãe e duas tias.
Sempre admirei a cumplicidade destas cinco irmãs e sonhei muito em ter uma irmã para dividir a vida, como elas. Mas não tive. Na infância, eu gostava de ir com minha mãe na casa da nona ou de uma e outra tia, semanalmente, para o “mate”, quando também encontrava algumas primas e primos. Estes, eram muitos. Alguns mais velhos, estudavam naquele turno ou trabalhavam e, assim, não nos encontrávamos tão amiúde; mas a quem, nós, os menores, olhávamos com admiração. Também visitávamos, com certa frequência, a casa da tia que morava na cidade vizinha, em finais de semana ou nas férias, o que era um grande acontecimento!
Sempre admirei a cumplicidade destas cinco irmãs e sonhei muito em ter uma irmã para dividir a vida, como elas. Mas não tive. Na infância, eu gostava de ir com minha mãe na casa da nona ou de uma e outra tia, semanalmente, para o “mate”, quando também encontrava algumas primas e primos. Estes, eram muitos. Alguns mais velhos, estudavam naquele turno ou trabalhavam e, assim, não nos encontrávamos tão amiúde; mas a quem, nós, os menores, olhávamos com admiração. Também visitávamos, com certa frequência, a casa da tia que morava na cidade vizinha, em finais de semana ou nas férias, o que era um grande acontecimento!
Além de brincar, eu, particularmente, nestes encontros, adorava observar que enquanto o mate ou o chá-de-mate girava, junto com as bolachinhas, cucas, bolos ou calça virada, a vida era atualizada. E elas, minha mãe e as tias, riam muito e também se queixavam de coisas que não lembro. Eu lembro apenas da sintonia, do calor e de como era bom ficar ali, entre elas, ouvindo o que não entendia, mas que intuía ser do universo feminino; feito de sutilezas, muito trabalho e da alegria que elas extraíam da sua rotina de labuta, dificuldades, limites, sonhos, expectativas. Estas sutilezas eu assimilei. Elas ficaram registradas no mais fundo de minha alma e em vários momentos e fases da minha vida, vieram à tona. Pude compreender, transformar e amadurecer graças a elas. Mulheres trabalhadeiras, caprichosas e peritas na arte do asseio da casa; do passar uma roupa, lavar uma calçada, preparar um mate; fazer uma comida gostosa; um doce mais do que doce! E ainda, na arte de ocupar-se com os filhos, os netos; acolher uma a outra... Cada uma, a seu modo, agindo e reagindo diante da vida e suas demandas; fortes, talentosas, jeitosas, belas; com uma elegância natural.
O tempo passou. Distâncias geográficas se instauraram, mas quando eu as reencontro, o afeto e a conversa fluem como antes.
Queridas mulheres formidáveis! Que com o pouco, sempre fizeram muito; extraíram essências; seguiram em frente, nem sempre acertando, nem sempre agradando; mas "segurando pontas", feito rochas, porto seguro, abrigo... Eu reconheço e vejo vocês (e o que não alcanço ver, intuo) e todo seu brilho, toda sua beleza, sua generosidade e todos os seus feitos cotidianos (uma lista longa que sai do anonimato na medida que aprofundo o olhar) dedicados, na gratuidade, aos seus queridos e a tudo que seus corações elegeram como valor.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015 | Filed in:
A
menina nasceu
e
de felicidade
o
pai plantou
a
árvore.
Coisa
linda!
Crescem
juntas
no
trajeto dos dias
entre
cuidados e afetos:
a
árvore e a menina.
Uma
aprofundando
altura
e raízes,
a
outra, conhecimentos
e
doçura.
Definindo,
ambas,
a
cada ano,
contornos
e adornos.
Antecipam
frutos:
gentileza,
finesse, carinho;
sombra,
quietude,
abrigo
de passarinho.
Um
pouco inibidas,
bastante
talentosas
vão
se encaixando
no
ambiente e no
coração
da gente,
suave,
de mansinho.
A
cada amanhecer
acordam
curiosas;
olhos
brilhantes,
verdejantes;
olhando
o horizonte
ansiosas
de vida,
surpresas,
magia.
Lindas!
Musas
para
o
poeta do dia.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015 | Filed in:
Comecinho
de inverno,
em
pleno Janeiro?
Mas
parece.
Brisa
geladinha,
sol
aquecendo devagarinho...
me
abraçando
com
delicadeza.
Dia
luminoso,
fundo
azul
recortado
por
flocos
brancos
planando
de
olhos fechados,
ao
sabor do vento...
Em
cada canto,
um
conto,
um
canto,
um
rosto e
um
reencontro comigo, antes.
A
cidade
suas
ruas, casas,
árvores,
rotina, de antes.
Mas,
também
coisas
ali plantadas
que
não vi crescer.
Rostos
maduros
que
não vi nascer.
Paisagens
transformadas
que
não vi mudar.
Colunas,
prédios, muros
que
não vi gestar...
As
raízes estão ali.
Pulsando,
palpitando
me
acarinhando.
Saudade
de mim aqui,
em
Ijuí.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015 | Filed in:
O
engarrafamento parecia grande.
-
Ô seu guarda! Como estão as coisas?
-
Ah, meu amigo... umas três horas para fazer estes 15 km e entrar na BR 101!
Bah!
Três horas era muito. Resolvemos voltar para a casa dos parentes e tentar
regressar a nossa casa, mais tarde da noite.
Três
horas depois, nova tentativa. Mas já não foi possível chegar, de carro, até o
posto da polícia rodoviária. O engarrafamento estava visivelmente maior. O
jeito foi caminhar até lá... saber alguma coisa...
-
E daí, seu guarda, como estão as coisas?
-
Pior, como está vendo! Umas seis horas, agora, para fazer os mesmos 15 km até a
BR...
Ah,
não! Seis horas não ia dar para agüentar!
-
Olha, se vocês tiverem onde dormir, melhor voltar e tentar amanhã bem
cedinho... o pior é que os hotéis estão cheios... – completou o guarda
rodoviário.
Sim,
tínhamos a casa dos parentes, dos quais já havíamos nos despedido por duas
vezes naquela noite! O jeito foi voltar, “desasados”. Passar a madrugada dormindo sentado dentro do carro
seria uma péssima opção para marcar estes primeiros dias do ano novo;
especialmente para nós quatro, de cinqüenta, sessenta, setenta e oitenta e
poucos anos (eu, meu marido, minha mãe e meu pai) respectivamente...
Os
parentes, é claro, nos acolheram! Conseguimos chegar em casa no dia seguinte,
não sem antes “engarrafar” por uma hora e meia, naquele mesmo trecho.
De
lá para cá, tenho pensando muito e muito no ocorrido... Ficamos literalmente
prisioneiros naquela noite, em Itapoá, SC. E sem celular e sem internet para
comunicar o ocorrido aos familiares que estavam nos esperando, em BC. Como é
que pode? Minhas férias são em Janeiro e não posso me deslocar de onde moro
para ir onde desejo e quando desejo: visitar pessoas, lugares, ir ao
supermercado que gosto, ao centro da cidade, etc; se não sair de madrugada ou
no horário que o “trânsito” permitir e voltar muito tarde. Ao supermercado, por
exemplo, que fica sete\oito quadras de minha casa, tenho ido entre 1h00-2h00 da
manhã; porque nesta época do ano, atendem vinte e quatro horas... Tenho que
escolher: ou me submeto a isto, ou fico em casa ou perco parte do tempo\dia no
engarrafamento. Foi então que me ocorreu, numa tentativa de adaptação ao que os
“novos tempos” sinalizam; criar uma nova
opção de lazer: engarrafar nas férias!
Assim,
ó: a gente combina e programa: “vamos engarrafar”? No lugar de piquenique na
praia ou na beira do rio; piquenique nos
acostamentos. Em vez de caminhar\correr\andar por trilhas verdinhas ou na
areia, ou na ciclovia; fazer isto por entre os carros enfileirados. Abrir cadeiras
e pegar um bronzeado, aproveitando o sol a pino e o seu reflexo na lataria dos
carros. Para quem não quiser o sol, fixar guarda-sóis entre os carros e bater
papo, tomar chimarrão, comer bolachinha ou comprar quitutes que são oferecidos
pelos quiosques improvisados na beira das estradas. Levar garrafões com água,
para um banho refrescante a cada pouco, como se fosse um banho de mar ou rio,
ou piscina. E, ainda, brincar de jogar água, umas famílias nas outras; fazer
uma “guerra de bexigas”; o que refresca e descontrai, canaliza a raiva (se ela
aparecer). Também outros jogos como: “queimada” (com uma bola bem levinha para
não quebrar os vidros dos carros); “bola
na cesta”... até um bailão dá para fazer entre os carros e no acostamento! Excelentes “pedidas” para estabelecer e
estreitar laços socio-afetivos neste novo contexto....
Estava
“me divertindo” com a ideia até que minha cunhada lembrou das “ondas de
assalto” nos engarrafamentos. Nossa! Minha ironia perdeu feio para o pessoal do “Mal”, ligeiro
na organização, criatividade e agilização do seu fazer; inviabilizando, ou
praticamente, desacreditando o meu, por antecipação. Mas só por um momento; porque o pessoal do
“Bem”, onde me incluo, não esmorece! Muito mais criativo e perseverante! Vamos
encontrar alternativas.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015 | Filed in:
Num
pavoroso instante,
a
escuridão me toma:
o
vazio das palavras!
Embora?
Para onde,
minhas
palavras?
Busco
no vento
nas
melodias
na lua
silenciosa
no
horizonte tranqüilo
nos
morros verdes;
e
investigo na poesia
no
riso das flores
nas
nuvens fugidias...
Como
tudo pode continuar
como
se nada fosse,
nada
houvesse?
Perdi-me
delas,
quando
esqueci de mim
lá no
labirinto
das
asperezas e securas.
Volto...
num resgate alucinado:
não me
deixem sem meu ar!
... nas
fundezas, escombros
e
descampados,
zumbis,
elas agonizavam!
Queridas!
Queridas! Queridas minhas!
Desilusão
alguma
justifica
tanto relapso,
tal
estrago,
tamanho
afastamento!
Perdão!
Ah!
Novamente respiro!
Pulso!
Vibro! Ressurjo!
Juntas!
Ressignificadas:
eu e
as palavras!
domingo, 4 de janeiro de 2015 | Filed in:
Imagem
da internet
Da
maciez do travesseiro e através da janela, contemplo o que se passa lá fora: a beleza do dia com todos os
convites implícitos à alegria e às infinitas possibilidades de coisas boas
acontecerem ou serem forjadas... Isto, porém, não consegue tirar o peso da
outra realidade: a minha, a humana; com suas questões e desafios; seus testes,
pegadinhas, fraquezas, mesmices e misérias.
Vou
dizendo a mim mesma, a minha inquietude: “isto
não é importante; tudo bem; aquilo não tem importância; não faz mal, passa
logo; dá para ficar sem; não importa, você agüenta; está certo assim; você suporta; é melhor assim; é bem isto que
deve acontecer; você consegue; não podia ser diferente; você é forte; neste
momento o outro é mais importante; você supera; tem que ver o lado do outro;
você não está certa nisto”... e estas mensagens vão acarinhando,
curativando os buracos, as dores, frustrações, os medos, as saudades, a impotência,
limites, as mágoas, solidão, os apegos... então sinto minhas bordas e me
reconheço individual, só e inteira: eu! E só. E pronto. E é isto.
Então
levanto. Respiração tranqüila. As emoções acomodando-se, ante todas as
bandeiras de paz espalhadas na mente. Vamos (eu e minhas singularidades) em
frente: há tanta coisa para fazer!
| Filed in:
Em casa, ficamos assistindo a noite
vestir suas roupagens, acostumando nossos olhos às sombras. Vencido o primeiro
momento do desconforto e das lamentações, nos aquietamos e acomodamos ao novo;
na verdade, ao velho; ao que já foi um dia.
Algo bonito desvelou-se diante de nossas
janelas! A chuva parou. O vento aquietou. Uma mansidão nos envolveu e o desejo
de conversar nos mobilizou, sem pressa, sem ansiedade. Contemplamos o contorno
dos morros, mais delineado; vimos o céu
mudando de cor suavemente e a cantoria da passarada amainando... até surgir
aquele silêncio preenchido de sossego e os vagalumes aparecerem! Lindos!
Riscando a noite, agora totalmente escura, como se fossem fósforos acesos aqui
e ali, por criaturas aladas... Fizeram um bailado por entre as árvores da mata
ao redor. Uns viam seus reflexos nas janelas e se aproximavam, pensando que
eram outros vagalumes companheiros, batendo de leve nos vidros. Dois deles entraram
dentro de casa. Meu filho pegou e pudemos verificar suas “luzes”, esverdeada e amarela .. coisa bela! Como pode? Mãe natureza abençoada,
com estes filhos tão singulares!!!! Ficaram um tempo ali, diante de nós, todos
eles, numa performance maravilhosa de movimentos e brilhos, sensibilizando
nosso olhar.
Conversas e lembranças foram surgindo,
numa proximidade gostosa; onde a escuta foi a tônica. Bom escutar a voz do
outro, no escurinho. Descobrir tons, nuances... Por momentos fechei os olhos e
me detive neste escutar... maravilhoso! Minha mãe lembrou coisas da infância,
vivida em Ijuí (RS); de quando não havia luz elétrica e utilizavam lampiões; de
quando os banheiros era fora de casa e à noite usavam os pinicos, guardados
embaixo das camas. Lembrou; de quando, por falta de água suficiente, nas casas,
a mãe dela, duas vezes por semana, escolhia uma das filhas para ajudar;
colocava toda a roupa da família, que era grande, num cesto e as duas iam,
cedinho, de carroça, para a beira de um rio, longe da casa. Lá, passavam o dia,
retornando só à tardinha. Lavavam toda a roupa no rio; umas deixavam por um
tempo “quarando”, estendidas ao sol, no gramado verdinho ao redor do rio e
depois esperavam todas secarem ao sabor do vento e do calor, estendendo-as
sobre arbustos e árvores. Levavam lanche para o almoço. Antes de voltar para
casa, dobravam tudo bem arrumadinho... assim passavam o dia, nesta lida
trabalhosa; sem imaginar que um dia
existiria sabão em pó, máquina de lavar,
secadora e varal de todos os tipos... Detalhe importante é que o rio, este e os
outros que banhavam a cidade, eram de águas limpas! Podiam lavar as roupas e
podiam banhar-se; num outro momento.
Meu
marido lembrou da infância na colônia, no interiorzão de Nova Prata (RS) ; onde
também não havia luz e de como, seu pai, um homem simples, mas inventivo e de rara inteligência, levou luz
para casa, produzindo sua própria energia, construindo uma roda d’água e
aproveitando as águas do rio que passava perto. Lembrou de pequenas\grandes
coisas que aos poucos foram trazendo conforto
e diminuindo o trabalho para a família, construídas pela mão do pai e
aprendidas pelos filhos, que atentamente observavam e valoravam os feitos do
pai.
Meu
pai lembrou do tempo em que viajava (e sua profissão era conhecida como
“caixeiro viajante”) por precárias estradas de chão, pelo interior do RS e divisa com SC... sujeito ao
barro ou ao pó e de como era grande a solidariedade e acolhimento dos fregueses
em suas “lojas”, “bolichos”, “atacados”, “vendas” ou “comércios”, espalhados
aqui e ali, em distantes povoados; vilas, cidadezinhas, beiras de estradas,
“fim de mundos”; convidando-o para
almoçar, tomar um refresco ou para
pernoitar nas casas; partilhando o que tinham.
E
eu lembrei do meu nono, Isidoro. Depois da “janta”, quando eu era criança, a
mãe lavava a louça e descíamos (pois morávamos numa rua mais elevada; quem
conhece Ijuí, sabe dos “sobes e desces”) para fazer uma visita, um serão na
casa do nono e da nona, que moravam umas duas quadras de casa. Não conhecíamos
televisão, ainda. E o bom era ir na casa dos parentes, conversar. Nós,
crianças, adorávamos ouvir as conversas dos adultos e ficávamos ao redor ou
no colo deles, quietinhos, ouvindo...
Bom mesmo era ir na casa dos nonos! Na
minha lembrança, a nona Virgínia era
mais séria, cara de brava e um pouco resmungona. Sempre tinha uma reclamação de
algo, alguém; especialmente criticava as modernidades; das quais não gostava e
às quais os netos estavam sujeitos e por quem ela temia; eu nem lembro quais
eram estas modernidades... mas me esforçava para agradar a nona. E ela sempre
tinha um doce para agradar a gente! Eu esperava com ansiedade o momento em que
ela preparava um pratinho e colocava em cima da mesa para que nós nos
servíssemos... O nono “Doro”, como alguns chamavam, era muito alegre! Pelo
menos na minha lembrança! Falava muito alto! Tinha um cabelo grande e uma barba
descuidada, embranquecida. Pegava a gente no colo! Cantva e contava “causos”,
histórias que entremeava com silêncios; quando ou tomava uns goles de chá de
mate ou preparava um “paiero”, um cigarro de palha. Eu gostava de vê-lo
preparando o “paiero”: cortar as tirinhas de fumo, que tinha a aparência de um
salame preto; abrir a palha de milho; arrumar o fumo picadinho, desfiadinho
dentro e depois enrolar, devagarinho, até ficar pronto... daí, acendia, fumava
e soltava a fumaça para cima, sem pressa... e aquele cheiro de fumo ia tomando
conta do ambiente... tão bom! Era um ritual fantástico! Eu achava o nono um
homem muito forte e importante. À medida que fui crescendo, aprendi a admirar meus
avós e pais pela vida e feitos que viveram: todos uns sobreviventes vitoriosos
e valorosos. Hoje, de modo geral, dá-se muito pouco valor ao que temos e ao que
nos foi legado pelos pais e outros que nos precederam. É uma pena! Falta às
crianças estes modelos para admirar e nos quais se espelhar.
A noite terminou, para nós, desta forma
inusitada e rica, num dos balneários mais famosos de SC: sem luz! Acendemos uma
vela para chegarmos até nossos quartos. Depois, com certeza, cada um ficou a
sós com suas recordações e reflexões. Os sonhos, com certeza, belos. Os meus,
pelo menos, sim! Feito vagalumes batendo na minha janela...
Assinar:
Postagens (Atom)