segunda-feira, 28 de janeiro de 2013 | Filed in:
O
mundo acabar de acordo com um anúncio, data marcada? Não acredito muito nesta possibilidade de um final
apoteótico, apreciado das arquibancadas ou dos esconderijos. Acredito mais no
que vejo acontecer, no inesperado de um momento aparentemente qualquer, mas
muito especial para quem o está vivendo. Meu querido cunhado não sabia que
aquele seria o último chimarrão da sua vida, antes de sair de casa para buscar
o filho na escola e um assassino de aluguel, friamente e por motivo fútil, com
quatro tiros, subtraí-lo da família, de nós! Os jovens faceiros, cheios de vida
e ânsia de viver, que se enfeitavam em suas casas para os encontros, show e
diversão que aconteceriam numa festa, na boate Kiss, no sábado que passou, em
Santa Maria, também não sabiam que estavam se preparando para sua última festa
e que a vida seria ceifada, de modo tão dramático e por falta de cuidados
simples... o pai ou a mãe de cada um deles sequer imaginou, antes que saíssem
de casa, que aquela seria a última vez que veria seu filho, sua filha com
vida... e aqueles pais que moram em outras cidades e quem sabe há quanto tempo
não viam ou não falavam com o filho, a filha... (por um longo tempo, tive dois
filhos muito longe de casa e sei muito bem falar dos sobressaltos, dos medos e
fantasmas que assolam a cabeça e o coração de pai e mãe, mesmo sabendo que “os
filhos são do mundo”)... assim tantos acidentes, tantos imprevistos provocando
estes hiatos e silêncios dolorosos na vida de todos nós... Muitos, todos os
dias, recebem um aviso, um papel com uma sentença de morte, por causa de uma
doença; mas mesmo assim, há o inesperado; sempre contrariando as expectativas, os
diagnósticos e prognósticos. Fez, faz, faria diferença saber? O dia e a hora de
morrer? Por vezes eu penso: será este o último texto que escrevo? Última vez
que vejo meus filhos, minha neta, este ou aquele? Último dia? Último amanhecer?
Última vez que escuto as minhas músicas preferidas? Que me emociono diante dos
alunos, da magia da noite, dos verdes, do encanto da chuva, de um olhar, de um
abraço, dos encontros e trocas? E junto, me pergunto: faz diferença saber? Ach0
que na intensidade, sim! Na intensidade do meu olhar, do meu afeto, da minha
palavra, do meu abraço, da minha atenção ao outro... estar inteira ali onde
estou, consciente de que quero dar o meu melhor, mesmo quando isto não sai bem
como eu desejo! Só isto. Por outro lado,
a gente não pode dizer que a vida não nos dá chances de mudar, fazer diferente,
cuidar mais das coisas, dos afetos, da própria vida. A busca pelo prazer
imediato e permanente está banalizando e escondendo a beleza do viver. Se a
gente presta atenção, percebe que de fato, só é preciso cuidar. Cuidar da vida,
para que quando a morte chegue (e ela vai chegar, não tem jeito), não fique a
sensação de que algo não foi vivido, não foi cuidado; de que não se fez o que
tinha que ser feito: viver bem! Isto significa e implica em cuidados básicos:
higiene, boa alimentação, respeito consigo e com o outro, atenção, proteção e
afeto. As religiões dizem que todos nós temos a nossa hora, mas que ninguém
sabe qual é; algumas ainda dizem que 50 % do que nos acontece, incluindo a
morte, está relacionado ao carma e que não há nada a fazer em relação a isto;
mas que os outros 50 % acontecem por acidente, ou seja, por falta de cuidado,
atenção. Não precisavam acontecer e nem do jeito e hora em que acontecem. Mas
isto não consola, não tira, não apaga a dor. O dia seguinte à perda, chega
carregado de nossa impotência, desespero, culpa, raiva, indignação, medo,
fragilidade ... Acho que a gente tem que se indignar, SIM! Indignar com a falta
de cuidado, tanto na vida pessoal, quando na coletiva, onde o básico não
acontece ou acontece pela metade: o simples cumprimento das leis! Elas estão aí
justamente para garantir os cuidados essenciais para com a VIDA! Impressionante
o ser humano! Ao mesmo tempo que todos os noticiários estampam que centenas de
famílias, uma cidade, um estado, um país, lamentam e choram, hoje, esta perda
injustificável de tantos jovens, filhos queridos; eles também registram que uma
mãe deixou seu bebê, que não estava bem, sozinho na sala e foi dormir. Ele
morreu e ela o jogou, dentro de um saco, no lixo... Ela tinha mais filhos,
todos mal cuidados, vivendo precariamente. Eles nos mostram também, todos os
dias, homens e mulheres, jovens, desperdiçando e desrespeitando sua vida e a
dos outros com as drogas, as bebidas, a bandidagem e a ignorância em todos os
níveis. Extremamente mexida com tudo isto, solidária com tantos pais, mães e
irmãos que perderam ou estão na iminência de perder um querido, de forma súbita
e “sem sentido”, penso, imagino, tentando articular uma saída para minha dor,
minha indignação; uma saída para esta dor dos outros e minimizar ou evitar
dores futuras: cada um cuidando com carinho da sua vida, suas responsabilidades,
seu trabalho e implicações; respeitando o outro e as leis e... pronto! Tão
pouco! E já seria um paraíso! Será que a gente não quer, não merece ou não sabe
fazer?
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