sexta-feira, 4 de janeiro de 2013 | Filed in:
A fila, no final da tarde, na padaria do supermercado, estava grande.
Todos sabemos que é assim, na temporada de verão, em quase todos os lugares da
cidade: precisamos ter paciência redobrada por causa do grande número de turistas
partilhando espaço conosco. Minha senha era de número 603 e estavam atendendo o
número 588, quando cheguei. A fila aumentava, todos querendo pão fresquinho
para o jantar. Até que elas chegaram, avó
e neta! A neta pegou a senha e ela e a avó não gostaram do número. Ficaram por
ali, inquietas e foram, ao contrário de nós, que aguardávamos nossa vez com
tranqüilidade, aproximando-se do balcão.
Eu pensei: “elas vão tentar passar na frente, mas não vão conseguir, porque há
um respeito e uma sequência garantida pela senha”... Mas eu não contava com uma
outra artimanha! Quando chegou a vez do número 600, um jovem simpático, a vó aproximou-se, abraçou-o e começou a
conversar com ele como se fossem conhecidos, como se estivessem juntos, íntimos!
Entendi o plano! O jovem fez o seu pedido e depois fez os pedidos que a avó
sussurrava ao seu ouvido. Assim as duas passaram à frente de todos nós, com
certeza pulando umas dez pessoas, ou mais. E riam e cochichavam, contentes com
sua esperteza. Agradeceram ao jovem! Que por sua vez, encaminhou-se ao caixa
com um sorriso de “dever cumprido”; de bom rapaz!
A vó não era uma velhinha frágil; mostrava-se bem ágil, forte, alegre. Deixá-la
passar na frente, de fato, seria uma boa ação; no meu entendimento, se ela
pedisse a todos nós que estávamos ali, ou se isto partisse do desejo e
iniciativa do jovem ou de algum de nós; ou se ela fosse realmente bem velhinha
e frágil e, estivesse sozinha. Não estava. A avó poderia ter ido sentar nos
bancos que ali estão (como meu pai sempre faz, enquanto me espera concluir as
compras) e deixar a neta, bem forte e saudável, na fila, aguardando o que a
senha determinava. Não gostei da forma. Não gostei do exemplo. Não gostei dos
risos, pareceu deboche. Não gostei da minha postura, assistindo, voz presa.
Fiquei pensando, depois do ocorrido, que, assim como nos caixas, poderia haver,
neste tempo de temporada, uma fila especial, para gestantes, idosos, etc...ali,
na padaria, onde acontece a segunda maior aglomeração nos supermercados; isto
talvez evitasse o que aconteceu e que classifiquei como algo tremendamente
desrespeitoso e um mau exemplo de um adulto, no caso, da vó para a neta. Fiquei indignada,
sim! E por uma “coisa corriqueira”, pequena, disseram-me. Existem outras
piores, de maiores proporções e consequências; mas eu penso que estas
começaram, certamente, assim, com as pequenas e corriqueiras. A lei da
esperteza, de tirar vantagem, de tirar proveito está, infelizmente,
incorporada, como se fosse um valor ou um consenso. Assim como a omissão e a
submissão. De repente ficou bom pensar que tenho um ano inteirinho pela frente como um tempo
bom para trabalhar, refletir, semear, algo diferente, mais concreto em relação a isto; senão com os outros, ao menos comigo mesma.
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