Bolinha de sabão

Bolinha de sabão,
vovó!
Olha! É gordinha,
é brilhante, vovó!
Água de sabão
é colorida,
né, vovó?
Colorida
de arco-íris!
Olha como eu sopro!!!!!
Uma fica grande
outra, pequeninha...
Escapa de mim, vovó!
Ah! Vem cá,
bolinha de sabão!
Vem aqui
na minha mão!
Vou encostar
meu dedinho,
te estourar rapidinho!

Flor Gramática

        

         
       Todo dia uma flor e um abraço, na hora do quintal. Uma flor vermelhinha que ele tira do jardim da escola para presentear as suas profes, uma delas, eu. Entrega a flor, aninha-se brevemente no colo da gente e sai correndo, porque brincar é urgente. Eu me surpreendo e por vezes penso “desse jeito, daqui a pouco, não haverá mais flores no jardim”... mas que nada! Hoje mesmo olhei e vi uma profusão de flores vermelhinhas! Como se elas se multiplicassem todos os dias, cúmplices do afeto do menino pela escola e por nós!
        Nesta quinta, foi diferente. Ele não saiu correndo. Ficou por ali, ao meu lado e de repente disse: - “estou preparando uma coisa para você não ficar com muita saudade de mim, no ano que vem, quando não estarei aqui para lhe dar uma flor todos os dias!... depois disto, sim, saiu correndo;  deixando-me  curiosa. Mais tarde, entregou-me um papel. E nele, o presente: a flor gramática! Flor raríssima e só minha! Ninguém tem! Sou depositária dela e desde aquele momento, estou pensando onde guardar, pois na caixinha dos guardados de profe, pode sufocar entre bilhetinhos, fotos, desenhos que ali estão,  dias inteiros em movimento, há anos, atualizando lembranças, todas belas, especiais. Uma flor precisa de cuidados diferentes, ainda mais esta, única...

  “MAISA, LHE  DOU  ESTA  FLOR  GRAMÁTICA! CADA PÉTALA TEM UMA CLASSE  ENSINADA  POR  VOCÊ. VEJA  SE CONSEGUE  LEMBRAR  O  DESENHO... PARECE  DE  UM  DO  LIVRO.
       ESPERO QUE  GOSTE  DESSA POESIA  E  DESSE DESENHO SÓ  PARA VOCÊ! I  LOVE  YOU!
        COM  MUITO  AMOR  E  CRIATIVIDADE...”

(quando registra: ”parece de um do livro”, faz referência a uma ilustração que fez no livro de poesia que sua turma escreveu)
        Esta flor gramática me presenteia com dois significantes: o da flor, com todo o seu conteúdo literal e metafórico,  construído e cultivado durante anos, na escola e, o de ser uma flor gramática! O afeto perpassando tudo, envolvendo o conhecimento, que fica, assim  vivido, promovido, valorado, destacado, poetizado... como deve ser!
Assim é o afeto, na vida da gente! Vai costurando nossas partes, nossos pedacinhos, as coisas do cotidiano, tão diferentes e inusitadas e tornando a vida este inteiro maravilhoso! Se hoje ainda estivesse faltando alguma coisa; se ainda tivesse alguma dúvida sobre o caminho escolhido; a certeza de que foi tudo certo (incluindo desafios, limitações e impotências) e de que tudo valeu a pena, se materializaria! Como já tenho esta certeza há muito tempo, esta flor especialíssima, neste momento - em que vou deixando espaço para os profes mais jovens,  saindo, devagarinho (a cada ano, um pouquinho, para acostumar) deste contexto fantástico que é a escola - chega até mim e é acolhida como uma reafirmação da importância de tudo isto que acreditei e amei neste meu fazer pelas “escolas ninhos” onde pousei, nesta vida! O olhar encantado, curioso, inteligente e afetuoso de um menino me devolve em palavras, o que meu coração sempre soube: tudo pode ser transformado em flor e poesia com afeto, com amor; até mesmo a gramática! E vou viajando na ideia...  flor tabuada, flor leitura, flor tabela periódica, flor isto e mais aquilo... de repente lembrando de Olavo Bilac que chamou, nos seus versos, a língua portuguesa de “última flor do Lácio”...
Diz um mestre, muito querido para mim, chamado Samael: “... “O amor em si mesmo é uma força cósmica, universal que palpita em cada átomo e em cada sol... contemplemos o cintilar dos mundos no firmamento estrelado... comungam entre si com seu cintilar luminoso. As ondas de luz, as radiações são o suspiro do amor. Há amor nas estrelas e na rosa que lança seu perfume delicioso”...


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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