Elos


Que dor mais
insuportável
esta de saber
o quanto dói
e como dói

a dor do outro.

Canto e conto


Eu canto
um canto,
no canto.
Eu conto
um conto,
no canto.
Eu canto um conto,
no canto.
Eu conto um canto,
no canto.
Canto e conto
no canto,
um canto
e um conto.
E cantando,
eu conto.
E contando,
eu canto!
E sou  feliz!

Amigas

Queridas!
Cada uma, uma!
Cada jeito, do seu jeito!
Pequena, jovem, adulta...
Filha, mamãe, vovó!
Fases deste feminino
nosso, de cada dia,
que nos faz “apaixonar”,
confiar, “pegar junto”,
desistir, teimar,
duvidar e se entregar!
Descompensar e logo
suportar o insuportável!
Na gangorra do cotidiano 
dramático e encantador,
nos vejo chorar de alegria,
e rir, disfarçando dor...
... enfeitando o mundo
com um fazer minucioso,
cabelos e roupagens,
sedução, doçura e beleza!
Com o verbo! Com garra,
vontade e inteligência
e com os mais lindos adornos:
os sonhos, a fé e
os filhos saídos de nós!
Ah! Também  vejo
agonia e culpa, quando
fora do nosso lugar.
Vejo os desdobramentos:
“mil em uma”,
para dar conta de tudo
e de tanto”!
E, num outro momento
“uma em mil”,
na fila, esperando
olhar, reconhecimento
acolhimento...
Nos vejo de cabeça erguida; justas,
seguindo em frente,
sustentando lágrimas,
peso, ideais, sonhos, escolhas, funções,
numa labuta sem fim
de escolhas e renúncias
entre o fazer e o ser;
cuidar e desapegar,
fugir ou abraçar!
Nem sempre seguras,
mas sempre guerreiras!
Por vezes,
passando do ponto,
fugindo do ponto
e, finalmente,
enfrentando o ponto,
tentando acertar o passo.
Queridas!
Que através de nós,
o sol brilhe
a ternura não se apague,
a doçura não morra,
o respeito se propague!
Que por nós, a melodia,
a beleza, as histórias,
a sutileza e a poesia, 
permaneçam, vivas,
no verbo e na memória!
Que o abraço seja apertado
a paciência não corra,
a tolerância não se perca,
o mundo tenha esperança,
o essencial, seja cultivado!


Carinho imenso por vocês!

"Das antigas..."


“Empacotar” no capricho!
Embrulhar,
fazer com maestria:
dobras e amarras;
interagir com precisão
com papel, caixas,
barbantes, tesouras, fitas...
tudo certinho
proporcional,
nos “mínimos” detalhes.
Cuidado, paciência,
dedicação, arte, habilidade,
do velho caixeiro viajante”,
meu pai!!
Do tempo dos “antigamente”...
das estradas empoeirentas,
malas de madeira;
“bodegas” e”comércios”
plantados e perdidos,
nos fundões,
nas grotas,
lá onde “Judas
perdeu as botas”...
quando este saber
 tinha valor:
fazer um pacote
muito bem feito!

Eu amo!

Amei, primeiro,
o amor!
A ideia, o ideal!
Ah! O amor! A beleza, o sonho,
a fantasia, a ilusão...
E penei, catando quimeras
espalhadas ao vento,
diante da falta, do engano,
da desilusão, da queda feia.
Até que, de repente,
parei de me ver
e vi o outro!
Então conheci o amor...
Quando este outro, fora de mim,
mobilizou  a potência amorosa
que habita dentro de mim!
Então amei de verdade!
Não mais o conceito
Mas algo concreto!
Ah! Este que vejo,
que sinto
que me toca
e faz demandas!
É este que eu amo!
Este que me ensina
amar: em partes
e incondicionalmente!
Não sou mais
ser errante,
mendiga
de atenção,
de favores,
de significantes
de vida!
Agora tenho pernas,
forças e encantamento
para renascer
e vibrar,
a cada dia!
Eu amo!

3 anos, Maria!

Ela dança sua alegria,
dança sua graça
emociona nosso momento
movimenta nosso riso
acorda nossa criança
e hoje, faz aniversário:
3 anos!
Parabéns, querida da vovó!

Dia com horizonte


Quando vejo,
através da minha janela
e da minha rua,
o dia, lá fora,
descendo, feliz, assim,
pelos morros,
escuto meu coração!
Abro minhas asas,
abraço o horizonte...

Para onde?

Rodoviárias são tristes.
Gente que vai
gente que espera...
olhar distante,
em algo que
não está ali...
Quem chega
nunca sabe, ao certo,
o que vai encontrar.
Mas quem vai,
sempre sabe o que deixa.
Sou das que esperam,
sei acolher.
Mas não sei ir,
a não ser levando,
sempre, tudo junto comigo!

Com licença

O homem pediu licença para passar. A poltrona dele era a de número 5, janela. A minha, 6, corredor. Acomodou-se e cumprimentou:
- Boa noite! Para onde a senhora vai?
Respondi e por educação, não por interesse, devolvi a pergunta. E logo ajeitei meu “travesseiro de pescoço”, peguei meu tercinho, fechei os olhos e entrei no meu silêncio, para rezar... e também para não dar abertura à continuidade do diálogo com o desconhecido. Não só por isto, mas porque eu gosto de ficar calada quando viajo. Para olhar, pensar e rezar.
Ele era um homem grande que não cabia todo no seu banco. Não deu para seguirmos na indiferença. Sem maldade, invadia meu espaço e eu me chateei muito com isto. Minha bolsa grande veio em meu socorro e com ela fiz um escudo para me proteger do toque involuntário do desconhecido. Mas ele dormia, relaxava e soltava o peso, que se deslocava de lá para cá e acabava fazendo pressão no meu braço, através da bolsa. Eu, então, num esforço, me reorganizava no banco e, através da bolsa, devolvia a pressão e ele ia um pouco para lá; mas logo deslizava para o meu lado... assim fomos por longas horas.
Ele, ao menos, parecia dormir profundamente, porque ressonava; mas eu fazia soninhos curtos; não conseguia relaxar. Por vezes, ficava tomada de grande raiva, por este desconforto sem fim; mas fiquei ali. 
Faltando pouco tempo para chegar ao meu destino, o ônibus esvaziou e ele, antecipando-se a mim, que estava com a mesma ideia; levantou-se rapidamente e acomodou-se nos bancos ao lado, que ficaram vagos. Demonstrou seu desconforto, finalmente! Então, acho que verdadeiramente, descansamos.

Que experiência “mais sem cabimento”! De que isto serviu? Um encontro de desconforto profundo (e quantos assim!)... E lá se foi ele, para uma cidade adiante; viver sua história, da qual não tenho a mínima ideia... E eu cheguei no “meu destino”, para dar continuidade à minha.  Histórias que podiam ter feito uma intersecção, mas não.

Pesca

         

           O vovô e o amigo dele, o Arno, são bem fortes. O vovô sobe no telhado, sobe na árvore, carrega o carrinho de tijolo e me leva nas costas e no colo. Ele não cansa. O Arno é grande e ele pega a rede do vovô e joga no lago e pesca peixe grande! O lago da casa da vovó é grande e cheio de flores. E lá no fundo do lago, moram muitos peixes. Eu vejo os peixes quando o vovô joga a comidinha para eles! Pulam! Eles gostam da comida que o vovô dá. O vovô e o Arno pegaram três peixes, hoje. Os peixes ficaram pulando dentro da caixa. Acho que eles queriam voltar para dentro do lago. 



Grata


Grata pela vida,
que hoje amanheceu
pulsante, entre tantas
e doces palavras de afeto.
Grata pelo dia,
que nasceu lindo,
brilhante; me abraçando
acolhedor, misturando
frio e calor
com habilidosa maestria!
Grata pelos ninhos
em colos, braços e corações
onde pude, na
alternância dos dias,
repousar, chorar, descansar,
ser vista e ouvida, reconhecida;
ler e refletir a vida,
ou simplesmente, em silêncio,
aprender.
Grata pelo carinho,
pela lembrança;
sorriso, estímulo
e confiança!
Grata pela noite
ao fim do dia,
sempre “de lua”
segredando emoções,
apaixonada!
Grata pelo presente maravilhoso,
de hoje, num mesmo dia, 
estar em sintonia, 
interagir e contemplar,  feliz,
de lá, terra onde nasci
até aqui, terra que escolhi;
todos e tudo
que amo e que um dia
neste universo de meu Deus,
meu coração sonhou 
e minha alma quis.
                                                                                                                           (em 31 de março)




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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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