Lego de pedra

Em rápida sintonia,
desejo e vontade
conspiram,
se articulam e
mãos fortes, inquietas,
curiosas de ação,
brincam com
os legos de pedra
encaixando-os
com suavidade
e leveza
de algodão.
Lapidando o homem
por fora e por dentro;
surgem
contornos e formas...
que vão,
ligeirinho,,
transformando-se
ora em abrigo,
caminho, proteção,
inventos de serventia!
Ora em agrados internos,
forjando sossego,
vocabulário, inspiração...
que é
quando a pedra
vira poesia
e o coração,
construção.




A praça, a aula e "livros à mancheia"



   Um dia, pelos idos de 1870, Castro Alves poetou: A praça! A praça é do povo, como o céu é do condor”!
Hoje, novamente, eu estive na praça; eu povo, eu cidadã, eu professora, eu mulher, mãe, avó, na Praça da República! Bem ali, onde, em anos longínquos, estive muitas e muitas vezes organizada com meus pares; erguendo voz e bandeira, com respeito e educação, pelo direito e respeito à educação.  
Neste breve retorno à Ijuí, RS, agora, não planejara, mas este reencontro político e amoroso, na praça, em torno da educação aconteceu e fiquei feliz!!! Não sou mais aquela jovem e idealista professora. Agora sou uma senhora professora aposentada... mas ainda vibro! Ainda idealista! Ainda apaixonada por este fazer trabalhoso que valoro profundamente! Eu e tantos! Por isto, tenho coisas a dizer! Partilhar! Defender! Coisas a escutar, conversar! A luta continua. O trabalho continua. O estudo continua. É incessante.
Gostei e vibrei muito, todo tempo em que estive ali, na "praça do povo", na manhã cinzenta e friorenta, vendo e ouvindo professores e alunos. Um grupo significativo, não pela quantidade, mas por estar ali. Vi paixão nos discursos acalorados dos jovens! Vi serenidade e maturidade nos discursos aprofundados e tranquilos dos mais velhos: “a conscientização precisa passar pela reflexão”. Isto demanda paciência e tempo. Por isto o valor da História, da Sociologia, da Filosofia; do ensinar\aprender\exercitar pensamento e leitura: a dos livros, a da realidade passada e presente e a do outro. Por isto o valor do observar, questionar, investigar, refletir, analisar, associar, estudar, trocar. Aquele que pensa, reflete; não “engole”, simples e passivamente o que escuta, seja de A, B ou C. Há muita gente “pegando” frases, pensamentos aqui e ali e defendendo, apontando como verdades ou mentiras, espalhando sem ir a fundo, sem conhecer de fato. Muita gente falando de educação sem ser\entender\trabalhar com educação. E o assunto é sério! Seríssimo! Educação é base. Requer cuidado, carinho, respeito. Dar escuta e valor a quem entende, estuda, pesquisa.
Lembrei de outros versos do mesmo poeta: “Oh! Bendito o que semeia livros, livros à mancheia e manda o povo pensar”... E, esperançosa e grata pelo (re)encontro cívico; por esta aula na praça, atravessei a rua, entrei na livraria e comprei! Comprei “armas”, as mais sofisticadas e poderosas: os livros! Comprei livros! Livros para mim, para minha neta, para meus alunos!

Ler! Ler e pensar! E cabeça pensante, investigante e coração pulsante, sem medo, fortalecer: vontade de trabalhar, desejo de aprender e fazer melhor, justeza, bem comum, cidadania; educação de qualidade para todos: visíveis e “invisibilizados”; benquerer, respeito às conquistas do povo; respeito à vida, às diferenças e à liberdade.

Voltar




Voltar pra casa, 
pra terra natal
é um pouco assim como
as borboletas
ao redor das flores
enchendo-as de
agrados e beijos:
mistura de alegria
com nostalgia; 
de saudade e inibição! 
De rompantes
de riso
e de choro; 
de expectativa 
e inquietude; 
de exageros,
bobeira
e emoção! 
Reencontro com tantos outros
e com partes minhas
ainda ali, em curvas,
esquinas, fachadas! 
Em tantas coisas modificadas...
Tantos ontens, 
tantos sonhos,
tantos vividos neste chão...
Ah! Voltar é mesmo
este borboletear
desnorteado, 
sem saber muito bem
nem como
e nem onde pousar...

Um filho

Esperar um filho:
fortalecimento!
Parir um filho:
inusitado (re)encontro
com as entranhas da terra,
o eterno feminino
e o sentido da vida!
Ver um filho crescer:
encanto!
Amamentar e alimentar um filho:
alegrias, escolhas, singularidades!
Cuidar de um filho:
amadurecimento!
Proteger um filho:
responsabilidade, força!
Ensinar um filho:
trocas!
Educar um filho:
refinamento do amor!
Brincar, rir com um filho:
desarmar, desamarrar, relaxar,
vibrar! Ficar feliz!
Ninar um filho:
pura delicadeza!
Respeitar um filho:
aprendizado!
Estimular um filho:
paciência, perseverança, esperança!
Ver um filho no mundo:
apreensão, confiança, saudade!
Acompanhar a dor, os limites de um filho:
angústia e impotência,
exercício de humildade.
Perder um filho:
vazio inexorável.
Observar as conquistas de um filho:
deleite!
Ver um filho feliz:
sossego: tudo valeu!
Ser cuidada e protegida
por um filho:
entrega, gratidão!
Abraço de um filho:
cura, suaviza, preenche!
Ser chamada de mãe:
ter e pertencer
a um lugar;
acarinha
e apazigua o coração!



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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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