Presente






Saiu... Bonito, um perfume discreto; roupa clara e um chapéu elegante. Ainda: fone nos ouvidos e uma sacola deixando à mostra laços, pontas e indícios de um presente.

- Quer que te dê uma carona? – perguntou a mãe.

- Não! – ele disse, tranquilo. E foi descendo as escadas.

Acompanhando seu movimento, através das folhagens, escadas abaixo; depois atravessando a ponte sobre o laguinho, chegando até o portão, a mãe, alternando inquietudes e contida alegria, lembrou: “Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma”...

Lá embaixo, abrindo o portão, o filho olhou para ela, acenou e seguiu seu caminho. Saiu para o mundo, pra vida; levando, além da singularidade e talento, um presente.

Sim! São para o mundo, os filhos. E que fossem, sempre, um presente para o mundo; um presente bem acolhido! E que quando não fossem do agrado, do gosto de alguém ou se eles próprios não se agradassem de algo ou alguém; que não faltasse o respeito para mediar este hiato, a diferença e, sabedoria para valorar e crescer; tornando-se, todos, presentes ainda mais valiosos no seu contexto.

Intensidades





E de repente

elas nos encontram

e envolvem num abraço...

Estas inteirices

que tomam as vísceras,

coração, mente, sentidos!

Intensidades...

Das oceânicas!

Ah! Aqueles momentos

profundamente aguardados,

vividos; que se diluem e

eternizam em sutilezas

e nos procuram, depois,

dias e dias

e pelo resto da vida;

atualizados

aqui e ali,

por uma brisa suave, no entardecer,

movimentando nuvens rosáceas;

uma palavra distraída;

um gesto inusitado,

uma melodia fora do contexto;

um passo descompassado,

uma rua de silêncios, outonal,

cheirando primavera...

um cumprimento, um abraço inesperado!

Todos cúmplices, aliados...

Ah! Intensidades!

Logo, logo se vestem de saudades

para nomear o vazio

do que se foi, mudou,

acabou, deixou de ser... não está mais.

Mas está.

Está e envia lembranças

no farfalhar dos dias

e transborda num benquerer

que não tem nomeação

mas que impulsiona...


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog