Enraizado...


  Imagem de Elcio Limas

De dentro do burburinho das conversas e sons das diversas bandinhas que  por ali estavam, meus ouvidos capturaram uma melodia especial e seguindo-a, cheguei até 
o grupo que tocava, num cantinho do imenso pavilhão, para algumas pessoas que ali almoçavam...era uma melodia alemã (como todas as outras circulando no contexto); uma cantiga melancólica que instantaneamente (tornando bem real e concreta a expressão “num passe de mágica”) me reportou ao passado longínquo... e eu me vi, senti como se ainda estivesse lá... criança, na casa de meus avós paternos! A vó na cadeira de balanço, o vô na poltrona; ambos de olhos fechados ouvindo o som que vinha da vitrola, a doce melodia, cujos versos eu não entendia, mas intuía. Eu os observava e eles nem pareciam importar-se com a minha presença ali, mergulhados na emoção... onde ela os levava? O que havia ali, onde eles estavam e que eu não podia ver? Com o que interagiam e que deixava suas expressões suavizadas e por vezes, tão tocadas a ponto de verter uma e outra lágrima envergonhada? Iam ao tempo de juventude, à infância ou mais distante, onde estavam suas raízes?... Eu assistia, silenciosa, aprendendo a respeitar. Depois de algum tempo, levantavam. O vô desligava a vitrola e cada um ia para os seus afazeres, silenciosos, tranqüilos. A vó, geralmente ia para o jardim, cuidar das flores e eu a seguia, apreciando aquele amor e olhar que ela tinha para com as plantas. Ontem, com minha neta nos braços, voltei no tempo e no espaço pelo caminho fantástico instaurado pela música e estive com meus avós e com eles, outra vez, em outros lugares, que minha consciência não decodificou e não tenho palavras para traduzir; mas que meu inconsciente reconheceu. Eu me senti envolvida por uma grande emoção, muito  feliz e com uma sensação profunda de inteireza e unidade! 
Um pouco depois, assistindo o desfile, tão alegre, colorido e bonito, de carros alegóricos, bandinhas e pessoas trajadas com vestes tipicamente alemãs, alimentando e atualizando sua história, origens, cultura, pelas ruas de Blumenau, eu compreendi que o que mexeu e atualizou, também em mim, foram as minhas raízes! Algo assim parecido como quando escuto uma melodia gauchesca e visualizo homens e mulheres com trajes típicos  do RS... ou quando vejo a Bandeira Brasileira ou escuto o nosso Hino Nacional... ou fico perturbada quando escuto melodias ou vejo imagens de alguns lugares, culturas que não visitei, não conheço...  Então me senti mais ou menos como o grande “ficus” no centro do quintal da escola onde trabalho; imenso, cheio de memória e profundamente enraizado no solo... com tantas e tantas raízes! Tantas que muitas estão a  “perder-se de vista”... De alguma forma, estas percepções fortalecem e estimulam o continuar, o viver; acrescentam sentido à existência, muitas vezes  tão isenta de significado.
           

Trégua


Final de tarde...
Na despedida do sol,
céu colorido
brisa faceira
e espetáculo maravilhoso
das ondas
e gaivotas
no palco tranqüilo do mar...
Olhos
corpo
mente
alma
em trégua,
“uníssonos”,
se deliciam e
agradecem!

Bela canção!


Belas canções
traz a chuva
e nunca iguais!
Cantam a vida
de lá e daqui
do outro,
de mim e de ti!
Me encantam, demais!
Hoje, acordou-me!
E era doce a melodia...
Cantava que
teus olhos
e tua ternura
enchem meus espaços
de alegria! 
Só de alegria!

Medo


Toda vez que acompanho meu pai, octogenário, ao banco, ganho um abraço! Ele fica muito inseguro e nervoso diante do caixa eletrônico; com a digitação de senhas e com as solicitações que são feitas durante as operações para verificar e retirar extrato ou  fazer uma retirada da sua conta. Eu tento intervir o menos possível para que ele sinta-se independente; fico ao lado, lendo junto, ajudando a interpretar e assegurando que está avançando corretamente.  Quando finaliza a operação, fica feliz feito criança, me abraça, agradece muito! Como se tivesse vencido uma grande batalha! Isto me sensibiliza. Coisas que são  aparentemente tão simples para mim ou qualquer outra pessoa, para ele, são extremamente difíceis e sofridas. Causa de inquietude, descompasso do coração, insônia, medo. Quanto mais teme errar, mais erra. O medo de errar é horrível! Crianças, quanto mais inseguras, menos se desafiam e o medo de errar provoca bloqueios, impedindo-as de aprender, avançar, aproveitar, deleitar. “escrevem pouco para errar pouco”! Privam-se de brincadeiras, de participar em tantas coisas por medo de não acertar, de não agradar, de não serem “boas naquilo”, de não serem aprovadas por este ou aquele... por medo de serem criticadas, castigadas, ouvir deboches...isto porque ao lado de um que tem medo, sempre tem um arrogante autoritário, que sabe tudo, entende de tudo, é melhor em tudo... não tem medo de nada e sabe tirar proveito do medo do outro. Crescemos... e nos tornamos adultos sem voz e querer; ou com voz e querer distorcidos, limitados, medíocres, Eu tive medo de muitas coisas; isto motivou algumas de minhas escolhas, quando não tinha a percepção e compreensão de hoje. Lamento ter me deixado dominar por ele em muitas esquinas e, por conseqüência, sinto saudade dos horizontes que não vi, das melodias que não ouvi, das paixões que não vivi, das emoções que não senti e dos aprendizados que não fiz. Percebo que o medo é algo enraizado na infância; quando somos impedidos de experimentar quando deveríamos ser orientados, estimulados para o experimentar e pensar, na medida em que vamos abrindo nosso olhar e nosso desejo inocente de explorar e interagir com o mundo, nos contextos diversos. Na verdade, nosso primeiro medo não é nosso; é do outro. E, muitas vezes, o medo do outro não é pelo que possa nos magoar, ferir e, sim, medo de que sejamos mais felizes ou livres do que ele. O pior de todos os medos e bloqueios, penso, é o de ser diferente e temer tudo que é diferente; o que é uma grande bobagem, porque é isto que somos, de verdade, diferentes. Não há como fugir disto, a não ser, enclausurando. Este "fantasma" é "duro de roer"! 

Carinha de bebê


Uma neblina cobre o cume dos morros ao redor, como se fosse um gorrinho e está tudo paradinho... quieto. Nada se mexe. As árvores todas, da mata ao meu redor, estão  mais verdes do que nunca, depois de uma chuva suave durante a noite...  olhando assim,  daqui da minha janela, elas me lembram a carinha de um  bebê depois do banho, cara limpinha, cabelo molhado, escorrido,  coberto pela tolha de banho... chupeta na boca  e... olhinhos de sono!  Sim, assim mesmo! A natureza está com cara de bebê recém saído do banho! Coisa linda! Dá vontade de pegar no colo e abraçar! Dar uns beijinhos e ninar...

Deleite no "salão"

            Na área coberta, elas organizaram o Salão. Primeiro o espaço: o longo e velho banco de madeira transformou-se em maca para que “os clientes” pudessem deitar ou sentar para receber massagens das massagistas. Uma mesa pequena para a secretária que faria os agendamentos e encaminhamentos dos clientes... uma mesa para a maquiadora, outra para a cabeleireira;  outra para a manicure e outra para a pedicure... cadeiras, uma ao lado da outra e pneus enfileirados numa sala de espera, para os clientes.  As fitas coloridas, remanescentes da ornamentação do VI Circo e IV FECAQUI da semana anterior,  dançando ao sabor da brisa, na tarde de temperatura gostosa,  davam ao ambiente, um ar nostálgico e aconchegante... Era tão lindo vê-las organizadas assim, demonstrando iniciativa, autonomia e respeito (tudo isto que a gente quer ver nos alunos!); que meu coração encheu-se de uma ternura sem fim e eu me senti profundamente agradecida por estar ali, presenciando, nem de tão perto, para não ser invasiva e nem de tão longe, para que soubessem que estava ali, se precisassem... Já estava na hora de iniciar a aula do período vespertino e me debatia, sem coragem e não me julgando no direito de “acabar” com aquele fazer prazeroso em nome de nada! Que aula de Português, Matemática ou de CNS, seria mais importante do que aquela interação, naquele momento, onde exercitavam e colocavam em prática todo "um saber"? O serviço era VIP! Os "clientes" (de todas as salas), muito tranqüilos, esperavam na fila, sentido-se importantes, muito bem tratados pela secretária, gentil e eficiente; que agendava tudo, colocando  respeito e ordem, ágil, falante e muito atenta: “você que vai fazer a mão, pode passar ali”... “olha, você aguarde um momentinho, logo será sua vez”... “fique tranqüilo, tem só duas pessoas na sua frente”... As duas massagistas mostraram-se muito habilidosas e delicadas nas massagens nas costas e sola dos pés (utilizando umas madeirinhas finas para dar suaves batidinhas nas  mesmas) e conversavam delicadezas com os clientes! A cabeleireira  e sua ajudante, faziam obras primas nos cabelos (de meninos e meninas); com o uso de enfeites, laços, gel e fixador! A maquiadora, compenetradíssima, coloria olhos, bochechas e lábios com muita arte, harmonia; sem exageros! A manicure e a pedicure, munidas de muitas cores, pintavam unhas com capricho! Algumas, elas ornamentavam com flores; manuseando o palito com maestria; muito sérias, compenetradas! Não fui chamada para mediar ou resolver nada exceto quando dois meninos não queriam sair do salão depois de receber massagens relaxantes; queriam mais! Quando cheguei para conversar, já tinham resolvido e os meninos estavam postados na fila, outra vez! Quando finalmente chamei para irmos à sala de aula, solicitaram só um momentinho, pois precisavam fazer uma reunião de “final de expediente”! Rapidinho, reorganizaram o ambiente;  o material de cada uma devidamente guardado... depois disto, reuniram-se numa rodinha e conversaram... falavam baixinho, comentando como tinha sido o trabalho; combinando como seria no próximo dia, como iriam melhorar o serviço aos clientes!!!! Coisinhas lindas! Eu andava pelo quintal, acompanhando de longe, como disse,  com os olhos espichados! Feliz, feliz com a cena! Então voltaram para a sala de aula, contentes, tranqüilos e produziram que foi uma maravilha! Comentei com colegas sobre a beleza e importância daquela brincadeira e do brincar em geral! Todos estavam sensibilizados! Maravilhoso ver crianças brincando! E ver, dentro do nosso espaço de trabalho, voltado para a criança e para a proteção e garantia daquilo que é pertinente à criança; como estes alunos de 4º e 5º ano, avançaram na sua forma de brincar; mostrando-se  articulados no pensamento, na palavra e na sua ação no social; reproduzindo, através da sua “leitura” e compreensão, o mundo que apresentamos a elas. Eles nos devolvem tudo! Nos observam e nos imitam... quando as crianças brincam, deixam claro como são os adultos do seu convívio e como eles estão marcando e sinalizando valores a eles.  Nossa responsabilidade é muito grande.

Casulo


Dentro, a lagarta
processa o que acumulou.
Se enfeita,
esmera, capricha!
Um detalhe aqui,
outro ali...
Quer ficar linda!
Quer  viver!
O projeto é grande
bonito!
O mundo lá fora
é promessa de deleites...
O tempo passa
e passa do tempo...
... O que houve?
Medo? Insegurança,
Narcisismo em excesso?
Culpa?
A borboleta não saiu,
não voou
não conheceu
o que mais queria!
No casulo
ficou aprisionada.
O que viria ser
nunca foi...
Protegida no casulo
secou.

Dois lados


A esperança
que não se entrega,
que agoniza
mas não morre,
tem dois lados:
o inútil
e o que salva.

Passou


Dentro,
nem vi o tempo
da primavera acabar,
adormecida
entre perfumes
e quimeras!
O outono já chegou!
Flores murcham
folhas caem,
cansadas,
resignadas.
Cantorias ainda
ecoam no espaço
abraçadas a fantasias
que se dissipam no tempo...
As tardes
chegam de cinza,
bonitas e sóbrias.
Passou.

Alento...



Quando tudo
fica triste
quando não há palavras
não há riso
o olhar não fixa....
Quando há desencontro
de direção
de solidão...
Errantes,
insatisfeitas
machucadas
almas sedentas de pouso
então buscam
alento
no pranto
que de tanto
dilui-se e renasce
num canto.

Amor



Acho que o amor é este “arrepio” que, de repente, percorre o  corpo e a alma... fazendo uma carícia à pele, às urgências e áreas sensíveis do pensamento e dos sentimentos... e ali fica... e fica... uma carícia que ao mesmo tempo acolhe e sossega; acorda e inquieta, produzindo esta sensação de unidade, leveza, diluição e reconstituição... inteireza  e força, imensas!  Observo, na manhã luminosa, embaixo da minha janela, uma folha de palmito... a brisa que vem da mata mexe com ela suavemente e ela se entrega e se deixa embalar, como se estivesse de olhos fechados, confiante, feliz! Eu vejo como se delicia e, Impressionante, como se torna cada vez mais bela! Talvez esta brisa seja uma essência de amor, regando as essências da folha, que certamente, cada dia ficam mais firmes e fortes... Brisas, melodias, silêncios, contemplações, palavras, gestos, encontros fazem isto conosco, produzindo estes “arrepios” de felicidade instantâneos que perduram dentro da gente por eternidades e do qual a gente está sempre sentindo saudade, porque ao mesmo tempo que fica, o amor é  livre,  viajante curioso do tempo, do espaço e do outro. 

Maravilhosas e verdes!


    Imagem de Elcio Limas
Majestosas!
Perseverantes
pacientes e maternas.
Que criaturas!
Singulares, diferentes
entregues, silenciosas!
Modelando suas formas,
sem pressa,
aprofundando nos detalhes,
nos tons, vaidosas!
Dependentes da chuva,
amigas da noite
companheiras do tempo
e enamoradas do sol!
Generosas, cúmplices
de quem chegar.
Discretas na 
Imobilidade disfarçada,
acolhedoras e confidentes
dos mistérios da vida.

"Hay que endurecerse"...


"Hay que endurecerse,
pero sin perder la ternura jamás!"
        (Ernesto Che Guevara)

Esta frase mexeu comigo desde que ouvi pela primeira vez. É forte e abraça os extremos. O que este homem deve ter visto, vivido, pensado, sentido, para elaborar e verbalizar, registrar esta preciosidade?...
Eu fico sempre e cada vez mais impressionada com a dualidade dentro de nós; que alterna nossa capacidade intensa de criar, de gerar e expressar generosidade e afeto e, ao mesmo tempo, destruir, “espinhar”, cutucar e ferir tanto!
Os raios do sol entram pelas janelas abertas, alegres e curiosos de minhas coisas: papeis, livros, cadernos de alunos, violetas, meus escritos, fotos, cortinas, escrivaninha e... especialmente,  de uma “coisiquinha” pequena, um “bolinho de gente”, de rosa e branco, rendinhas e lacinho no cabelo que dorme, bem aqui, ao meu lado, ouvindo “Secret Garden” e que desmancha minhas armaduras todas, me mostrando meu coração por inteiro com tudo de bom que poderia ser, sentir e alcançar (se não fossem os meus limites, amarras, medos, preconceitos, ignorâncias, egos...): um bebê, Maria! Depois de enlaçar os  cumes dos morros, das árvores e superfícies mais altas e planas, o sol  chegou aqui embaixo, entre os morros e dentro da floresta, enfiando-se por entre troncos, galhos, folhas, enchendo tudo de brilho... observo que a terra, esgotada de umidade, se delicia com o calor, que aquece e enxuga!  Que as plantas se mostram, os gatos se alongam e se abandonam em cima dos tapetes e que as borboletas e passarinhos, vão de lá para cá... cheios de “bobiça”... deliciando-se! Seguindo o impulso de ser feliz, agora! 
E a gente é? Conseguimos “ser felizes agora” com todas as coisas que temos para isto e, com este desejo, esta “vocação”, este chamado fundo, que vem de tudo, de dentro e de fora, para ser feliz?
A vida também mostra suas outras faces: a miséria, ciúmes, exploração,  “mensalão”, golpes, “jeitinhos”, violência; desrespeito no trânsito, no trabalho, nas relações... e os interesses! Fico decepcionada comigo e com os outros quando faço e escuto críticas sobre o que move e  sobre o “interesse” dos outros... E eu acredito na crítica! Mas acredito mais no trabalho, no fazer antes de reclamar. Mas eu também reclamo e aponto! A decepção vem por conta de perceber que também cometemos, em maior ou menor grau, deslizes que julgamos nos outros; só que estamos protegidos pelo anonimato e pela hipocrisia. O “jogo de interesses” “corre solto”, como diria meu pai, em todos os lugares, cabeças, corações e ações; do mais simples ao mais graduado. Do mais sensível ao mais duro! O que nos diferencia é o grau, certo “desconfiômetro”; maior ou menor consciência; pudor, abrangência, censura... Daí (como usam em abundância meus alunos), eu reflito e penso que tudo é mesmo uma questão de essência: para mudar e melhorar, precisamos trabalhar na essência, na semente. Difícil um adulto mudar.  Somente se quiser. Dá muito trabalho, precisa muita força de vontade; assim como para deixar um vício! Por isto acredito no trabalho com as crianças!  E por isto, a responsabilidade de quem educa e serve de exemplo é tão grande... muito grande! Todo adulto devia, de quando em quando revisar seus hábitos, atitudes, crenças, conceitos. A gente sempre pode melhorar; abrir os olhos, vislumbrar novos horizontes e, com isto, melhorar o contexto ao redor... Alguma coisa sempre melhora, certamente... areja!
       ... “endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”!... Em profundidade,  que significado isto teve  para o “Che”, diante das batalhas que travou dentro (consigo mesmo) e fora, lutando pelo considerava certo? O que o movia, na essência? Não sei... mas reflito sobre o que significa para mim. Não gosto da palavra endurecer. Isolada, a mim passa uma ideia de fechamento, radicalismo, impossibilidade, autoritarismo. Mas neste contexto  vejo endurecer como sinônimo de fortalecer a vontade, perseverar, não “arredar pé” daquilo que é correto, justo, direito; não se vender, não se dobrar, não esmorecer, não se omitir! Aprender dizer “NÃO”, “CHEGA”, “BASTA”! E que adianta tudo isto sem a ternura para perceber a doçura das crianças, o perfume, as cores e as formas da natureza? Para descobrir o amor num abraço, num olhar, num sorrio, num encontro? Para deleitar com as notas de uma melodia e  com as ondas mansas do mar? Para ler os poetas; encantar com a metamorfose da borboleta e com o afinco com que as mãe passarinha alimenta os filhotes! Para perdoar e recomeçar? Para interpretar\acolher um choro, uma dor e adivinhar onde se escondem os raios do sol que entram, iluminam e aquecem a mata, a vida...

O que fica...


Bom mesmo
depois do vivido
da bagunça,
dos risos, da festa,
dos encontros
permanecer ali,
no silêncio das ausências!
Janelas abertas...
a brisa balançando
suavemente
fitas de crepon, de TNT, que
coradas de felicidade
se entregam ao balanço,
“voando” sua alegria
para dentro...
para fora...
azuis, rosas,
lilases, brancas, vermelhas...
Bom, depois do que foi,
perceber a energia
que ficou!
Sentir todos
e cada um, novamente...
O expresso, o calado
(mas experimentado)
nas entrelinhas
marcado!
De quantas histórias
e momentos
este universo paralelo
está desenhado?
Sussurros, lamentos
palavras de amor
e toda ordem
de pensamentos
sentimentos...
Por isto gosto
de olhar e
de ler sutilezas.

Aurora


    Imagem de Elcio Limas
Imagem
melodia
palavra!
Femininas,
onde cada uma
toca e enlaça?
Em que coração
faz ninho,
ancora?
Cada dia
uma nova aurora!
E novo olhar...
nova escuta...
e outra palavra
buscando decifrar
o enigma, a magia
a essência...
E de tantas formas
podemos ver,
sentir, expressar,
querer e amar!
Estreitar laços
em nós e abraços!
Estar junto
sem estar presente!
Emprestar
um olhar
e com ele ver
outro horizonte
outras cores
viajar em outros dias
outras pautas
outras melodias!
Gestar outras palavras
como a primavera,
as flores!




Reencontro!


Hoje minha juventude me visitou! De repente, no calçadão, passeando com minha neta, escutei The Fivers, depois Renato e seus Blue Caps!  Reencontrei com aquelas emoções profundas que sentia nos encontros, bailes e reuniões dançantes do “meu tempo”... quando o futuro estava muito longe e tudo parecia preparo para um vir a ser... um dia. Ensaiava o viver! "Viver", de fato, achava que seria só depois de “formada”, “casada” e mãe. Mas já vivia! E já me deleitava com a música e com os escritos que aquele viver sutil inspirava. Deu saudade do que não sou mais, mas que permanece, dentro, feito vulcão adormecido.


Acabar em flor!


A lua  passa
pela janela...
Me acorda!
Acena para
ir com ela!
Vai num passinho lento
sem pressa
persuasiva
e tranqüila...
diluindo-se na manhã
luminosa que
desce pelos morros,
cantante e feliz!
Fico tentada!
E se eu fosse!
Em que me transformaria?
Ah! Bom seria,
como Naiá,
a índia tupi-guarani,
acabar em flor!
E só, só de primavera,
muitas violetas, 
enfeitar os dias 
do meu amor!


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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