"Hay que endurecerse"...


"Hay que endurecerse,
pero sin perder la ternura jamás!"
        (Ernesto Che Guevara)

Esta frase mexeu comigo desde que ouvi pela primeira vez. É forte e abraça os extremos. O que este homem deve ter visto, vivido, pensado, sentido, para elaborar e verbalizar, registrar esta preciosidade?...
Eu fico sempre e cada vez mais impressionada com a dualidade dentro de nós; que alterna nossa capacidade intensa de criar, de gerar e expressar generosidade e afeto e, ao mesmo tempo, destruir, “espinhar”, cutucar e ferir tanto!
Os raios do sol entram pelas janelas abertas, alegres e curiosos de minhas coisas: papeis, livros, cadernos de alunos, violetas, meus escritos, fotos, cortinas, escrivaninha e... especialmente,  de uma “coisiquinha” pequena, um “bolinho de gente”, de rosa e branco, rendinhas e lacinho no cabelo que dorme, bem aqui, ao meu lado, ouvindo “Secret Garden” e que desmancha minhas armaduras todas, me mostrando meu coração por inteiro com tudo de bom que poderia ser, sentir e alcançar (se não fossem os meus limites, amarras, medos, preconceitos, ignorâncias, egos...): um bebê, Maria! Depois de enlaçar os  cumes dos morros, das árvores e superfícies mais altas e planas, o sol  chegou aqui embaixo, entre os morros e dentro da floresta, enfiando-se por entre troncos, galhos, folhas, enchendo tudo de brilho... observo que a terra, esgotada de umidade, se delicia com o calor, que aquece e enxuga!  Que as plantas se mostram, os gatos se alongam e se abandonam em cima dos tapetes e que as borboletas e passarinhos, vão de lá para cá... cheios de “bobiça”... deliciando-se! Seguindo o impulso de ser feliz, agora! 
E a gente é? Conseguimos “ser felizes agora” com todas as coisas que temos para isto e, com este desejo, esta “vocação”, este chamado fundo, que vem de tudo, de dentro e de fora, para ser feliz?
A vida também mostra suas outras faces: a miséria, ciúmes, exploração,  “mensalão”, golpes, “jeitinhos”, violência; desrespeito no trânsito, no trabalho, nas relações... e os interesses! Fico decepcionada comigo e com os outros quando faço e escuto críticas sobre o que move e  sobre o “interesse” dos outros... E eu acredito na crítica! Mas acredito mais no trabalho, no fazer antes de reclamar. Mas eu também reclamo e aponto! A decepção vem por conta de perceber que também cometemos, em maior ou menor grau, deslizes que julgamos nos outros; só que estamos protegidos pelo anonimato e pela hipocrisia. O “jogo de interesses” “corre solto”, como diria meu pai, em todos os lugares, cabeças, corações e ações; do mais simples ao mais graduado. Do mais sensível ao mais duro! O que nos diferencia é o grau, certo “desconfiômetro”; maior ou menor consciência; pudor, abrangência, censura... Daí (como usam em abundância meus alunos), eu reflito e penso que tudo é mesmo uma questão de essência: para mudar e melhorar, precisamos trabalhar na essência, na semente. Difícil um adulto mudar.  Somente se quiser. Dá muito trabalho, precisa muita força de vontade; assim como para deixar um vício! Por isto acredito no trabalho com as crianças!  E por isto, a responsabilidade de quem educa e serve de exemplo é tão grande... muito grande! Todo adulto devia, de quando em quando revisar seus hábitos, atitudes, crenças, conceitos. A gente sempre pode melhorar; abrir os olhos, vislumbrar novos horizontes e, com isto, melhorar o contexto ao redor... Alguma coisa sempre melhora, certamente... areja!
       ... “endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”!... Em profundidade,  que significado isto teve  para o “Che”, diante das batalhas que travou dentro (consigo mesmo) e fora, lutando pelo considerava certo? O que o movia, na essência? Não sei... mas reflito sobre o que significa para mim. Não gosto da palavra endurecer. Isolada, a mim passa uma ideia de fechamento, radicalismo, impossibilidade, autoritarismo. Mas neste contexto  vejo endurecer como sinônimo de fortalecer a vontade, perseverar, não “arredar pé” daquilo que é correto, justo, direito; não se vender, não se dobrar, não esmorecer, não se omitir! Aprender dizer “NÃO”, “CHEGA”, “BASTA”! E que adianta tudo isto sem a ternura para perceber a doçura das crianças, o perfume, as cores e as formas da natureza? Para descobrir o amor num abraço, num olhar, num sorrio, num encontro? Para deleitar com as notas de uma melodia e  com as ondas mansas do mar? Para ler os poetas; encantar com a metamorfose da borboleta e com o afinco com que as mãe passarinha alimenta os filhotes! Para perdoar e recomeçar? Para interpretar\acolher um choro, uma dor e adivinhar onde se escondem os raios do sol que entram, iluminam e aquecem a mata, a vida...

 

0 comentários:


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog