Tudo de novo



Abro a janela
a brisa da manhã
entra devagarinho
e devagarinho
envolve a pele
num abraço
cheio de frescor...
carícia
sopro,
alento
energia!
A vida chama!
O novo chegou...
O novo dia!
É viver  ou assistir.
Mas antes,
preciso respirar.


Intensidades


Tempo obstinado
compulsivo
vai engolindo
minhas horas
sem remorso...
Queria tanto ficar
em tantos “ali”, “lá”, “aqui”
só mais um pouquinho...
em  momentos meus...
que não são feitos 
de segundos,
mas de... 
intensidades!

Colher de melado



Depois de tanto tempo...
Uma colher de melado!
Adoçando a boca
acordando memórias
só doces!
Banana com melado
maçã com melado
bolachinha salgada
com melado,
melado puro
num intervalo qualquer...
saudável e  boooommmmm!
A doçura se espalha
o corpo estremece,
puro contentamento!
Uma fagulha de prazer
abrandando pesos
suavizando asperezas
potencializando
o sabor de bem querer!

Histórias ancoradas



Ancorados, encaixados no abraço suave do mar, os barcos contavam histórias. Não chegavam inteiras porque  algumas ondas brincavam, barulhentas, com  os rochedos, ali perto; crianças corriam e conversavam alegrias, na pracinha e o movimento de carros, na avenida próxima, era intenso... Uma composição bonita, na tarde nostálgica que se espichava  para além do horizonte distante.  Histórias de tanto tempo... do tempo em que, no seu corpo, as suas cores eram vivas, a madeira nova e eles, impulsivos e destemidos! Gastos e desbotados, agora eram tranqüilos e respeitosos. E não tinham pressa. Não mais. Palavras, pedaços, fragmentos  de histórias, chegavam, falando  de esperas e esperanças, medos e inseguranças; despedidas e saudades... Da solidão desesperada e profunda dos desencontros  e dos profundos encontros  com as incógnitas e mistérios  dos dias e das noites revezando-se dentro e fora... de temporais e apaixonamentos arrebatadores e de rotas e amores tranqüilos num porto seguro... De fugas, lutas e buscas; fracassos e perdas! E também de trabalho intenso e redes cheias! Tão bom ouvir histórias e encontrar, dentro delas ou através delas, com as pessoais; elaborar e aprender que o tempo não para e que  o que de fato se tem, é o agora e o que se quer e consegue fazer com ele... e que há muita frase feita, muita semelhança, muita repetição... mas nada igual, nenhuma história igual. Esta singularidade é o que mais nos afasta  e machuca; mas também o que mais nos aproxima e encanta...  Talvez o  preciso e precioso seja o cultivo da paciência para viver a própria história e para escutar e respeitar a história do outro, os momentos em que elas interagem e como isto impacta, repercute, mobiliza  e marca a nossa ....

Adoção


Meu filho e a namorada adotaram um gatinho. Era um desejo antigo. Foram numa feira de Adoção de animais e segundo eles, o amor foi à primeira vista! Adotaram com o coração! Um filhotinho de 45 dias. Um bebê. Lindo e esperto, curioso, de olho claro como uma manhã de sol! Muito parecido com nossa gata Chanson Bege. Aliás, a Chanson foi a única dos três gatos que prestou atenção  no filhotinho. Não sabemos se ficou tocada de ciúmes ou de curiosidade... Eu fiquei observando o meu filho e a namorada... chegaram em casa com o gatinho e o kit todo: gaiolinha para transporte (o gatinho vai com eles pro apartamento dele, em Floripa), comida, potes para água e ração; caixa de areia, areia, pá para limpar a caixa de areia e uma linda coleirinha azul; orientações escritas quanto aos cuidados, às vacinas e futura castração! Um enxoval completo! Vi o amor brilhando e crescendo nos olhares seguindo o gatinho... cada  ação dele acompanhada de cuidados e admiração! Qualquer pulinho, alongamento, , motivo de risos, suspiros, comentários! E nós, os outros, também sendo cativados por aquele pequenino! E, em torno do bichinho, instaurou-se a harmonia, a alegria e, a leveza inundou o ambiente e o coração da gente! Amor! Se compreende porque dizem que o amor não tem aparência, idade, sexo, raça, cor, gênero, reino, motivo, razão...  Ninguém, num primeiro momento, ama por lei, decreto, genética, porque quer, porque deve amar... ama simplesmente porque algo ali se reconhece, se encontra e se inflama! De vida! É sentimento, amor espontâneo! Que não demanda esforço e que jorra... e borbulha! Involuntário, independente de nossa vontade! Quando a gente amadurece um pouco, aprende que também pode amar por querer amar, por generosidade, por escolha. Este é um amor demorado; que pode vir ou não; mas isto só se sabe depois que tentar. E só tenta, quem conhece o amor e sabe que vale a pena! Mas este amor pelo gatinho, ainda sem nome, não demandou esforço algum! Não demorou mais do que alguns segundos para existir, pulsar, plasmar-se no coração de cada um, inclusive no do gatinho, que não sai do colo deles; como se este sempre tivesse sido o seu lugar! Por isto que se ama um filho não só porque foi gerado dentro da gente; ou qualquer outra criatura só porque isto tenha lógica... A gente ama porque se deixa tocar e porque toca e, tocando, se reconhece e fica com esta sensação de que chegou em casa... que está tudo bem, tudo certo.

Doce, só por hoje...

Por hoje,
desejo  fartar-me
de palavras doces,
delicadezas!
Gulosa,
mergulhar fundo
em harmonias
e gentilezas!
Sucumbir de afagos
faceirice e
“um não sei o quê”
de tantos agrados...
sem hora, sem pressa!
Sem economia de
abraços, beijos,
carinhos...
E com doçuras
curar  o lado
que fica do outro lado,
desamparado e
mendigo faminto
na aridez e no frio,
entre asperezas
e espinhos.

Além das reticências


Mais um pouco
adiante de minhas
reticências,
um sentimento
enclausurado,
busca palavras...
Sem perspectiva.

Companhia







Não sei se foi ela
quem me acordou
ou se fui eu
quem a chamou,
mas veio: a chuva! 
Combina com  
a madrugada silenciosa,
com meus sentimentos
rebeldes e inquietos,
pensamentos despertos...
Traz frescor e  melodia
aquieta, conforta, escuta...
Adorável companhia!
De quando em quando
é tão bom,
no seu abraço
esperar o dia!

Reunião


...“- Quero falar duas coisas: primeiro, que a nossa turma está muito unida! Que a gente gosta muito de estar junto! Segundo, que eu agradeço à professora por ter mudado os nossos lugares. No início eu não gostei, porque me separou da minha melhor amiga. Mas agora eu vejo que estou conversando com colegas que nem conversava muito, antes e, que isto está tão bom!
- Eu quero falar três coisas, professora! Primeiro, que eu também estou gostando de ter mudado de lugar porque fiquei perto de um menino com quem nem falava muito. Agora a gente está até brincando junto no quintal! E eu estou descobrindo que ele é muito legal! É muito bom isto! Segundo, que eu gostei do sorteio que a outra professora fez, para ver com quais colegas vamos ficar no quarto do Hotel Fazenda, na excursão! E terceiro: não gostei que aquela menina nova não respeitou as minhas coisas. Foi pegando sem pedir licença e riu quando reclamei! Depois, quando derrubou o material de um colega, eu vi e falei pra ela: - olha, você derrubou o material dele, precisa juntar! Ela riu novamente e disse: - e daí? E eu respondi: - bem, eu vi que você derrubou e é de boa educação juntar e se desculpar... Ela riu  novamente e disse que não ia juntar nada. Então eu disse que ia falar com a professora e ela nem se importou: - e daí? Não tenho medo, não to nem aí!”...
Amo! Estar ali, vendo tantos braços erguidos sinalizando o desejo de falar... ouvindo estas falas tão simples, sinceras e profundas atualizando o dia, limpando o coração... revelando a forma como o pensamento, os valores, os sentimentos estão pulsando e se organizando, dentro de cada um, a partir das vivências, das nossas interferências, nossos exemplos e, principalmente,  a partir do espaço que é oportunizado para refletir, observar, falar disto que acontece no contexto externo e no interior de cada um... as raivas, os medos, as expectativas, as dúvidas, as alegrias colocadas em palavras, que escutadas, acolhidas com respeito, são depuradas,  amadurecem e se reorganizam... e os sujeitos vão se construindo com conteúdo, fortes, cara limpa, com dignidade! Por isto tenho esperança de um futuro diferente, melhor! Por isto, gente, que o mundo não se acabe já!!!

Palco


Abro a janela...
O frescor da brisa
entra, acarinha o corpo...
O sol vai abrindo as
cortinas do dia,
descendo lentamente
pelos morros
clareando, enchendo
tudo de luz,
deixando à mostra o palco,
onde sabiás, aracuãs
rolinhas e tucanos
cantam seus ritmos
dançam sua faceirice!
Os verdes fazem mesuras!
Eu respiro tudo isto,
investigo minha alma
e a percebo deliciando-se!
Entregue, serena...
Assim como as nuvens
navegando lá no alto
sob o belíssimo palco,
curiosando,
cheias de expectativas,
as histórias que vamos
inventar e viver,
ali, hoje...


                                                     


O grão de areia e o mar


Apaixonou-se quando ele chegou muito perto dela, numa noite de maré alta. Não estava preparada, ali no seu espaço, imóvel, olhando as estrelas, sonhando, contemplando a vida ao redor. E de repente, ele veio muito, muito perto e ela sentiu sua energia, viu-se no brilho dos olhos dele, ouviu seu riso cantante e contagiante e não precisou de nada mais do que isto para sentir que algo muito forte rompia barreiras dentro de si, acordando, germinando, flor belíssima! E ela, pequeno grão de areia, mais um entre tantos... um insignificante grão, ali na praia, de repente ficou diferente! Coloriu de emoção! Palpitou com os desejos estranhos e inquietantes, sinalizando possibilidades, ousadias, outras praias, gaivotas e horizontes... Ela tornou-se singular! Sentiu desconforto com a imobilidade cotidiana. Ficou curiosa! Atenta, os sentidos em alerta, vibrantes!   Potencializada de amor! Ele... ele era grande e livre, o mar! Cheio de mistérios, imprevisível, encantador! Quanto mais prestava atenção nele, mais descobria a si mesma. Quando vinha, nas tardes e noites de marés; muitas vezes chegando tão perto a ponto de tocá-la suavemente, envolvê-la num abraço macio, quentinho, delicioso; ela se sentia derreter e ao mesmo tempo unificar, tornar-se  nada e  tudo ao mesmo tempo! E a presença, o brilho dos olhos dele, sua gargalhada, o tom da voz sussurrante, o calor do seu abraço eram melodias que lhe contavam de si mesma, deste seu presente inusitado e de coisas de um passado que até pouco tempo, nem sabia que havia e que lhe faziam ansiar e suspirar por um futuro que nunca lhe ocorreu ser provável! Provável de provar! Nas madrugadas de calmaria, à luz da lua, rabiscava palavras de amor, na beira da praia... versos que brotavam espontâneos e irriquietos de um poço sem fundo, dentro do seu mundo! (e como entender que pudesse ser assim tão fundo se tinha a forma de grão de areia?) Antes do sol nascer, ele vinha e recolhia os versos, guardando-os em algum lugar entre seus mistérios profundos, deixando a praia lisinha, outra vez, para que outras e mais outras palavras de amor ela pudesse escrever e ele beber! Este movimento delicioso de toques fortuitos, intervalos, esperas, saudades, silêncios e tanta, tanta ternura, foi encurtando, gradativamente as distâncias entre eles... E, um dia, foram embora juntos! Este momento eu presenciei! Vi quando ele chegou, no entardecer, vestido de onda verde e num abraço grande e forte, tomou-as nos braços, levando-a consigo, horizonte adentro, cantarolante! Vi, quando ela, literalmente, mergulhada e diluída num mar de amor, morreu de amor! As estrelas, a lua e as flores, respeitosamente cobriram a terra inteira de quietude, perfume e doce penumbra.







Gratidão


Sorriso que se ilumina de “bemquerer” quando olha pra gente, reconhecendo os afetos e  olhinhos que se fecham e se entregam para o soninho, aconchegada, entregue e confiante no nosso colo... são presentes de Maria! É quando a vida é passada a limpo, as penações são redimidas, a alma se eleva. E eu sinto, eu penso, eu vejo e eu sei que isto é real e verdadeiro. Ali está uma essência! Embeleza a vida, enche de esperança o coração! Esperança de um não sei o que... acho que de alegria, de sinceridade, de leveza, de encontro... de tantas possibilidades de encontro. Encontro de essências! Quando uma reconhece a outra e não tem máscaras, não tem hipocrisia, nem fingimento, nem mentiras,  nem resistência, nem medo e nem culpa. Só a beleza do encontro e do “ser junto”... se a gente pudesse crescer e manter nossa essência vibrante e atuante... assim como quando éramos pequeninos, como ela agora, Maria! ... Que bom tê-la em nossa vida! Quanta gratidão eu sinto e que transborda em mim, por isto! Por tê-la e por ela vir confirmar, neste momento, que o amor é real! A essência é puro amor! Isto alimenta para mais um pouco; sustenta os sonhos, os ideais; a confiança, o desejo de viver, cuidar dos laços, não enrijecer os braços, lubrificar o olhar, arejar o acumulado, reciclar os entulhos, avivar a poesia!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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