Advento













Advento
lindo tempo!
Tão bom esperar
consciente da espera
curtindo a espera...
Um filho, uma neta!
Um abraço, alguém ausente
férias, um presente!
A lua cheia,  a chuva!
Uma festa,  um redentor
uma saída, outro caminho
de justiça, igualdade.
Um dia de felicidade
um encontro de amor!



Um tempo...

Um tempo
para ouvir os grilos
escutar a chuva!
Um tempo
por favor
para não endurecer!
Um tempo
para respirar
o aroma do jasmim,
à noitinha,
quando adormecem
os pássaros e
a noite se insinua
envolvente e apaixonada!
Um tempo
para acompanhar
o sol dourando os verdes!
Por favor!
Um tempo
para acostumar com
a realidade seca
e ver a beleza
que não vejo mais,
absorvida pela  
“oquidão” das rotinas
e demandas.
Um tempo para olhar,
cuidar, acarinhar
uma profunda saudade!
Tempo! Tempo!
Para deleitar com a brisa
que agita a cortina de “voil”
na varanda silenciosa,
no entardecer aquarelado...
Tempo!
Tempo para encontrar comigo.
Tenho saudade de mim
dos intervalos, sozinha,
com o que me alimenta
e inspira.

Lentamente

Todos os dias
cada dia um pouco
aumenta e adentra
afundando lenta
sem esperança
a saudade.

Criança (3)

Criança é adorável!
Criança é tudo de bom!
Fácil verbalizar.
Fácil fazer.
Fácil olhar,
contemplar
suas gracinhas,
sua beleza;
orgulhar-se de
sua inteligência.
Difícil educar.
Sustentar a presença
as demandas;
suportar o choro
as birras
colocar os limites
e manter;
acompanhar
e respeitar sua condição;
não atropelar,
não exibir.
É nosso espelho.
Reflete nos atos,
nossas escolhas,
nossas palavras e valores,
nossas acertos e erros.
Por isto temos a oportunidade
de rever e refazer a vida
por causa dela! Assim como
o poder de limitar e impedir
que floresça na sua singularidade
devido nossa ignorância ou
perversidade.

Criança (2)

      Gostar de criança é fácil falar. E criança tem encanto e encanta a gente com seu jeito, suas palavras, suas leituras, hipóteses e conclusões sobre o mundo e sobre os adultos que observa com seu olhar profundo; que vê tudo e mais um pouco; muito além do que nossa observação mais profunda. Não vejo diferença em gostar de criança, de adolescente, de adulto ou de velho. Tudo é gente. A diferença está no tipo e nas demandas. Tem gente que não consegue lidar com as demandas das crianças, outros dos adolescentes, outros dos idosos...e tem gente que não gosta de gente, nem de si mesmo.

Capitulina (5) Sapato maravilhoso

O sapato era maravilhoso! Sabia que seria desde o primeiro olhar. Olhou e se apaixonou. Não poderia ficar sem ele. O tempo que levaria para pagar era nada comparado ao prazer de tê-lo! Era lindo e macio. Alto. Muito alto, mas confortável. Sentia-se bela e atraente, com ele. Era cor de abóbora. Nesta noite, só combinava com ela. Era sua noite de rainha! Não parava sentada. Dançava bem e rodopiava no salão, nos braços de um e de outro, ao som da valsa, do bugio, da rancheira, do vanerão... estava se dando ao desfrute! Podia se dar ao desfrute. O momento era de reconciliação consigo mesma e com uma história de vida e com a cor de abóbora! Uma noite, há muito tempo atrás, quando estava no ensino médio, Capitulina concluía um trabalho de história. Era muito tarde, já madrugada. Todos já estavam dormindo há horas, mas o pai   ainda não havia chegado em casa. Ele tinha avisado a mãe que ia sair com os amigos, jogar e tomar “umas e outras”. Era sexta-feira. De repente, ouviu um barulho de chave na porta. Era ele chegando. Logo percebeu que o pai estava “alto” e temeu a reação dele em vê-la ali, ainda acordada, tão tarde. Mas ele, estranhamente não brigou, estava carinhoso quando veio cumprimentá-la e até estalou um beijo na sua bochecha, para surpresa dela. Foi neste movimento que Capitulina viu a marca de batom bem visível no rosto do pai. Ficou mole! Chocada! Envergonhada por ver e por supor tudo que isto significava. Sentiu-se uma estranha dentro de si mesma e naquele contexto. Encarou o pai e perguntou o que era aquilo no rosto dele. O pai ficou lívido, chocado como ela e rapidamente se encaminhou para o banheiro, questionando repetidamente: -“ o que tem no meu rosto”? Capitulina não conseguiu mais trabalhar. Não sabia o que fazer. Então o pai retornou, cara lavada e perguntou: -“ mas o que você disse que tem no meu rosto? Olhei e não vi nada”... Ela não conseguia acreditar naquilo! Como ele podia mentir assim! Ela disse, então a ele, muito envergonhada,  que havia uma mancha de batom, na bochecha direita. Uma cor horrível, cor de abóbora. O pai insistiu em negar: - “mas onde, onde”? E fingia, representava, o que era  pior que tudo... E foi para o quarto dormir; deixando-a ali, pasma! E sem ter com quem dividir. Nunca mais esqueceu aquela noite. Algo mudou ou começou a mudar ali, quando uma porção de minhocas, raivas, questionamentos, passaram a gestar dentro dela.

Reencontro

Pájaros  alegres
bateram  na  janela
e  acordaram,  a  vida
que  dormia,
com  sua  cantoria!
Espreguicei  a  saudade
alonguei  o  desejo
me  deliciei  com  o
que  trouxeram  de  ti,
atravessando  espaços
neste  universo
de  infinitudes
encontradas  e
desencontradas:
o  riso  cachoeira,
a  energia  envolvente
a  voz  curativa
o  abraço  aconchegante.  
Funda, doce  fantasia!
Alimentou a alma
acarinhou o dia!

Outono


Olho pra eles
frágeis, vulneráveis
dependentes e
eu me comovo!
Uma vida toda
de luta, trabalho,
alegrias duramente
conquistadas
e, de repente ali
dirigidos, tendo,
como crianças
novamente
que se submeter
ao outro, não por
imposição,
mas por necessidade.
Outono melancólico.
Quanto amor  respeito
a aprender e construir
para viver e acompanhar
este outono com dignidade
separar o trigo do joio
enxergar a sabedoria
perdoar o passado
reconciliar com as
essencialidades.


Cor de abóbora



O sapato,
salto muito alto
delicado, único,
cor de abóbora,
deslizava pelo salão
elegante e soberano.
Único, entre dezenas!
Como a lua cheia
espiando por entre
as folhas do coqueiro...
Único! Como pájaros
em voos livres
recortando o horizonte.
Único! Como você,
e os efeitos
que produz
em mim.

Capitulina (4) - Finados

        Era dia de finados.  Dia de “Todos os Santos”, no calendário. Capitulina estava longe de casa, dos seus vivos e dos seus mortos. Não queria  pensar na morte; queria pensar na vida e ser feliz!  Para ser feliz tinha que lutar, ir atrás do que queria. Mas isto não era o que ela pensava; era o que diziam a ela: “vai, Capitulina, arrisca! A vida passa...”. Ela, ela mesma, era covarde. No entanto, naquele dia, acordara com coragem e ia, de fato, arriscar, iria atrás do seu desejo. Pelo menos neste dia! Tomou coragem, parou o ônibus e foi. Sabia onde ele morava e foi atrás dele, sem avisar. Para conversar; de uma vez por todas saber o que significava para ele, declarar o seu amor e fosse o “seja o que Deus quiser”... O ônibus estava cheio; gente sentada, gente em pé; tente conversando alto, rindo... gente polemizando, reclamando... e isto foi bom, porque distraía e não deixava os pensamentos se organizarem e outra vez “dar pra trás”, desistir. Desta vez, iria em frente e tudo estava colaborando para ir em frente. Foi bom. Quando chegou, viu que ele não estava sozinho. Entendeu porque  não havia e não haveria nenhuma história entre ela e ele; havia uma outra! E observou os dois, de longe, um pouquinho só; até recobrar as forças e ir embora.  Parecia tudo perfeito, ali, delicado, harmonioso... os dois, os cachorros, o ninho, o amor, o silêncio preenchido, a cumplicidade explícita, a sintonia forte, a comunhão, pareceria; o sossego, a quietude... tudo. Capitulina sentiu-se uma intrusa e criminosa, olhando. Não deveria estar ali. Mas se não fosse, não saberia. Tudo certo no entendimento, menos no sentimento, para o qual precisa tempo. A verdade arromba, dilacera, sangra; mas organiza. É preciso continuar; voltar para a estrada, para o ônibus,  para casa; para a vida que não para por causa das tragédias particulares. É preciso lutar e ir atrás do que se deseja, sim, seja para viver, seja para morrer para o desejo. Era finados.

Urgências

Urgências  externas
são fortes, atropelam,
confundem, estressam.
Perturbam, desorientam,
fragilizam profundamente
são as urgências internas
ansiedade, insegurança,
medo, expectativa, saudade...
Sem remédio, consolo, beleza,
dinheiro,  status, crédito
que possa aquietar;
somente a leveza
de um abraço,  um colo,
uma palavra, um gesto
de valor, respeito, calor.
Esta ausência, amarga e seca.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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