Outro dia!


Abri as janelas!
A brisa da manhã
entrou ligeirinho
suave e perfumada
alheia ou esquecida
dos “ontens”,
das urgências
e das mazelas;
curiosa do agora!
Abraçou meu desejo
e lá se foi, com ele,
borboletear na manhã luminosa!

Junto















Parece que junto
a percepção e o mergulho
no infinito de possibilidades,
sutilezas, diferenças e sintonias
é maior, mais bonito e completo.

Formatura

Formatura. Há tantos anos ouço meu pai recordar uma melodia “Dia de formatura” e emocionar-se profundamente.  De fato, é um momento ímpar. Na minha história familiar, (raríssimas exceções anteriores), somente os da minha geração em diante puderam ou conseguiram acessar ao mundo acadêmico, a universidade. Não que não houvesse desejo, apenas não era valor ou não havia condições econômicas. O trabalho, sim, este era essencial. Estudar, parecia um luxo, direito de apenas alguns, dos que tinham grana e podiam bancar os filhos em outras cidades, grandes centros, onde estavam as universidades. Hoje, apesar estar presente na cultura como valor e necessidade; de muitos estímulos e facilidades, acessar à escola e, especialmente ao ensino superior, ainda é privilégio. Mas eu desejei e estudei. Trabalhei e estudei, concomitantemente. Meus filhos também tiveram este desejo e foi um prazer, para nós, pais, oportunizar e garantir a continuidade, no estudo de cada um, onde desejaram estar e na carreira que cada qual escolheu. Ontem foi a formatura do meu filho caçula! Revivi aquela mesma emoção de orgulho, de alegria, de felicidade que experimentei na formatura dos dois mais velhos! Compreendi um pouco mais a emoção do meu pai... Um momento de paraíso, de redenção, de plenitude: tudo valeu a pena, tudo estava certo e no lugar onde deveria estar! Quando ouvi o nome dele sendo chamado, foi impulsivo e fundo o levantar da cadeira e exclamar: “é meu filho”! E isto ecoou dentro! E me dei conta que era algo novo e ao mesmo tempo repetitivo. Já dissera isto, em outros momentos distintos, num passado recente: “é minha filha!”... “é meu filho!”. Mas é sempre novo! Porque nenhum filho é igual ao outro e nem eu, mãe igual nestes três momentos. O igual era o sentimento de agradecimento, a felicidade! A emoção arrebatadora!  Ver um filho crescido, usando a "beca", sendo aplaudido, recebendo o canudo e “se virando no mundo”... sujeito! O mesmo filho que “ontem” estava na minha barriga; logo depois entrando na escola, vencendo medos, enfrentando desafios, conquistando autonomia... passando por todas as fases.... crescendo tão rápido, não cabendo mais nas roupas, no colo e nem no espaço da casa; porque o mundo se abria e convidava para sair, explorar, conquistar... tornando-o um cidadão do mundo!  Hoje estou mais emocionada do que ontem; porque o vazio na casa e nos braços ficou mais evidente e definitivo (como deve ser), ao mesmo tempo que abriu-se um espaço imenso de ternura, cumplicidade e esperança num outro lugar, no coração... Não é mais dependência, mas parceria. Ontem fiquei tomada de prazer, euforia! Hoje estou tomada de realidade, de silêncio e compreensão. São todos adultos, formados, pensando, escolhendo e agindo com suas próprias cabeças, pernas, braços e sentimentos!  Cidadãos brasileiros. De pé, entoando o Hino Nacional no auditório da UFSC, a alegria, a emoção, o orgulho não era só por causa do filho bonito, sensível e inteligente, mas também por ser brasileira e por meus filhos  serem cidadãos deste país que eu amo; cidadãos bons,  aptos a pensar, criar, trabalhar e produzir BEM comum!!! Que assim possa ser e meu coração de mãe aquietar!

Intervalos














Há alguns anos atrás,
à noite, quando costumava
caminhar pela praia,
acompanhando o vôo solitário
e irreverente de algumas gaivotas,
descobri o silêncio do mar...
As ondas se encontravam lá adiante
e, juntas, vinham
e se debruçavam sobre a areia,
sem alardes, somente produzindo
uma suave exclamação de alegria!
E, depois... o silêncio!
Profundo, interminável...
até o outro momento,
com uma nova exclamação!
Eu fechava os olhos e
acompanhava aquele silêncio
até ouvir outra vez
o som das ondas abraçando a areia...
Passei a prestar mais atenção
naquele intervalo, no silêncio,
ele me fazia muito bem.
Após a chuva, agora, 
nestes últimos dias,
saí para caminhar um pouco pela rua, à noite.
Havia uma quietude gigante!
Nenhum som.
Eu olhava e admirava o contorno
dos morros, das árvores que
sobressaíam na escuridão.
Era realmente algo majestoso!
O silêncio era de reverência,
dignidade e beleza permeando tudo
e preenchido de significados.
De repente foi quebrado
por uma cantoria intensa de sapos!
Sons de vários tons,
intensidades, harmonia e duração.
E, então, silêncio outra vez...
longos e profundos momentos de
silêncio, quando podia perceber, sentir
que algo se processava ali...
até a cantoria reiniciar!
Então compreendi,
de um outro jeito,
o que já sabia sobre
a importância e a necessidade
do silêncio,
da distância,
do intervalo,
dos hiatos.
A natureza ensina.
É toda feita de alegria,
de mil cores, mil sons, mil formas;
doação, gratuidade.
E sábia e poderosa;
cheia de intervalos silenciosos,
quando parece processar, maturar,
se transformar e embelezar!
Uns intervalos mais longos,
como o inverno e o outono e,
outros breves, como estes que
tenho observado
também entre
uma respiração e outra,
um encontro e outro,
um choro e outro,
uma decisão, escolha e outra,
um obstáculo e outro,
uma dor e outra,
um sonho e outro,
um trabalho e outro,
uma emoção e outra,
uma decepção e outra,
uma criação e outra,
uma alegria e outra...
Intervalos... espaços importantes
para capturar a intensidade,
a verdade de cada momento,
para não banalizar os sentimentos...
aquilo que é supérfluo e ilusório
logo se dissipa; onde
o que é verdadeiro,
se organiza e fortalece
na distância e na falta
e, está sempre lá,  no horizonte...

Sutilezas


Encantam!
Produzem efeitos que
repercutem,
ecoam por longo tempo
dentro, acalentando.
Eternizam um momento!
O exato momento em que
um sopro de vida,
pura essência
se materializa
com toda sua beleza!
Um instante fugaz
de nunca mais.
Esquecido jamais!
O voo sinuoso de uma borboleta,
que brinca com a brisa,
numa tarde de céu azul...
A gota de orvalho que desliza
quase que imperceptivelmente
na pétala da flor
recém desperta na manhã luminosa...
O raio de sol, curioso,
que escapa por entre as folhas
e vem espiar o que fazemos
atrás de nossas janelas...
A mão especial que se estende
e convida outra com emoção:
“vamos dançar?...”
e lindos sons saem do
coração, dos olhos, 
do corpo todo 
e as almas dançam 
suavemente
entrelaçadas...

No carnaval, saudade...

... recordações! Há algum tempo, já, que o carnaval deixou de estar associado à festa, baile, diversão. Esta conotação ficou no passado, na juventude e, quem me lembra disto são as fotos (registrando bailes e “fantasias” de blocos a que pertenci); a TV e o calendário de datas comemorativas. Eu me lembro dos bailes de carnaval na SOGI, em Ijuí! Quando era solteira, a gente colocava um colar de havaiana no pescoço, ousava mais na sombra e no baton e ia, em grupo, com as amigas, “pular” carnaval! E sempre era uma oportunidade de encontrar o príncipe encantado! De vez em quando, um rapaz de fato “chegava” e a gente dava com ele voltas e voltas pelo salão (assim era: todo mundo andando, “pulando” no mesmo sentido)! O tempo e o número de voltas dependia do quanto cada um estava gostando de “pular” com o outro. Por vezes ficávamos juntos por todo o baile, por vezes, só o tempo de acabar a marchinha que estava tocando. Enquanto uma “pulava” com algum rapaz, as outras estavam “pulando” por perto, acompanhando, curiosas, rindo e também “cuidando”!!! Era bom! O máximo seria “pular” com o guri que a gente gostava; mas isto dificilmente acontecia com uma e outra. Comigo nunca aconteceu! Na época eu achava que era porque as outras eram mais bonitas. Hoje eu penso que faltava, sim, um pouco de ousadia, mas que o bom (inconscientemente) mesmo era sentir aquela dor masoquista de gostar e não ser gostada; que depois motivava tantos e tantos escritos nos diários! Mais tarde, já com namorados e maridos, formávamos um “bloco”; geralmente com motivos havaianos e futebolísticos!!! Era, também, muito bom! Nos divertíamos um bocado! Pulávamos ao som das marchinhas, que eram deliciosas (!) e de quando em quando parávamos para beber algo. No meio da madrugada, um lanche sempre ia bem! Depois, com a chegada dos filhos, outras responsabilidades vieram e este tempo de brincar descontraidamente durante o carnaval adquiriu outra conotação para mim: sinônimo de descanso; fazer outras coisas, viajar, ficar mais tempo com os filhotes; escrever, reorganizar coisas da casa e, neste ano, especificamente, em preparar, tricotar “coisinhas” para minha neta que está chegando... Recordo com mais saudade de uma atividade realizada junto com um grupo de amigos, aqui em SC, filhos já crescidos. Durante alguns anos fazíamos um “retiro” na época de carnaval. Íamos para uma região de floresta, local de preservação, mata fechada,  nos arredores de Brusque; acampar. Era uma aventura maravilhosa! Local de difícil acesso. Tínhamos que caminhar alguns quilômetros com mochila nas costas (por isto cada um podia levar só o que  conseguisse carregar) por subidas e descidas íngremes; em trilhas sinalizadas mas cobertas pela vegetação fértil e, por isto alguns homens iam na frente, com facões e foices, redescobrindo o caminho. Acampávamos numa clareira, circundada por morros; que primeiro tinha que ser roçada e preparada para depois armarmos as barracas e o local da fogueira permanente. Água para beber em fartura! Cachoeiras e córregos aqui e ali; águas transparentes brotando por entre vegetação variada e rica!  Banho? Só de cachoeira, água gelada! Delícia!!! Mas, mais abaixo, distante do acampamento e sem usar xampu ou produtos que pudessem poluir aquelas águas limpinhas... Meu Deus! Ninguém tinha coragem de fazer qualquer coisa para prejudicar o ambiente, ali... de fato, um paraíso escondido! Mas tem gente que invade, explora, destrói, sim, sem a menor consideração e culpa... como é que pode?! O contato com a natureza assim, “in natura” mesmo, sem a presença dos “confortos” da civilização,  é avassalador! Mesmo em grupo, é a gente com a gente mesmo; improvisando, se acomodando, processando e elaborando os desafios, os sons, os silêncios, os cheiros que ali dentro da floresta fechada, mexem e aguçam perturbadoramente os nossos sentidos, todos! Vencendo o medo, se experimenta um deleite e um prazer imensos! A majestade e o silêncio da floresta impõe e demanda o nosso silêncio externo e interno e aí a gente compreende o que nem sempre ou nem só se aprende e nem compreende com informações, com leituras, com discursos, punições e diplomas: o respeito, atenção, observação, cuidado, agilidade, escuta, tranqüilidade, prevenção, olhar e ver; encantamento, leveza, sensibilidade, força, coragem,  confiança, solidariedade, intuição, conversa estritamente necessária; discrição, bom senso, criatividade e inteligência! Não fazemos mais os “retiros”. Mas eu tenho aquelas vivências profundamente presentes. Lá eu me deparei e a partir de então tive que reconhecer e enfrentar, sem escapatória os meus medos mais escondidos, as verdades mais doídas; os sentimentos mais verdadeiros. Isto foi bom demais! Todo mundo mereceria, merece viver uma experiência assim, porque talvez todos estes problemas que estamos vivendo em decorrência da ignorância, desrespeito e falta de cuidado para com o meio ambiente, fossem menores, com conseqüências menos catastróficas. Nós, humanóides, somos muito orgulhosos e arrogantes: não somos só nós que “sabemos” e “ensinamos” neste universo, não! Saudade grande, grande, grande, me invade, do carnaval na “montanha”..

Exposição

Observava o trabalho da vendedora de cortinas... Tão desenvolta, segura, inteligente e rápida no raciocínio! Nossa! Que universo diferente do meu! Outro vocabulário: metragem, tecido, textura, cor, caimento, altura, largura, costura, acessórios, pé direito, trilhos, números, cálculos... Interessantíssimo! Depois vi o trabalho dos garis limpando as ruas, usando uma máquina para sugar o pó e a sujeira  e não somente as vassouras e as pás costumeiras e fiquei pensando no valor deste trabalho! A “cortineira”  e o gari fazem trabalhos diferentes; um deles, se poderia dizer, essencial e o outro supérfluo; mas com certeza, não do ponto de vista de todos. Sempre há controvérsias e é bom que haja, dizem... Mais tarde, lembrei destas observações quando me deparei com dois outros assuntos que estavam sendo discutidos em contextos diferenciados,  na internet. O  primeiro: divulgar ou não cenas de sexo no BBB 12 e o segundo:  se as musas do carnaval, com suas bundas e seios expostos estão mais para deusas ou piranhas. Para muitos, com certeza, isto é bastante importante, relevante e merece tempo de discussão; tem conseqüências e constatei que muita gente estava se envolvendo com a questão. Bom. Aquele pessoal confinado lá no BBB, tem seus motivos para estar lá e não estariam se não houvesse a oportunidade e o interesse deles próprios em se expor, de quem organiza e de quem assiste; assim  como as musas do carnaval. O que move cada um de nós, nas nossas escolhas, atitudes, posicionamentos, exposições?  Com certeza há um limite para tudo, o bom senso. Por vezes, penso que a globalização afetou de tal forma a individualidade, que muitos, gradativamente,  estão perdendo a percepção de si próprios, da sua singularidade, sentimentos, identidade  e aí não há limite e nem bom senso que faça sentido. Meu professor de literatura (lá dos anos 70), agora também escritor famoso, publicou hoje, no facebook, um comentário bonito e cheio de sabedoria sobre “ser rico” e questiona, num dado momento sobre qual o legado que as pessoas ricas (de grana) deixam à humanidade... Ontem, conversava sobre isto com meu filho: em que as nossas ações, nosso trabalho contribui para com a nossa época, para com aqueles que vivem conosco... que marca a gente está deixando ou vai deixar por aqui... Expor ou não se expor? Ficar à margem, esconder-se, não se envolver e nem se comprometer; dançando passivamente conforme a música escolhida por outros ou mostrar-se, correr os riscos, provocar reações, produzir mudanças... Mas e por que se expor e como se expor? É onde entra o conteúdo, os ideais, os sonhos que norteiam e motivam cada um. Bom mesmo é falar sobre isto; porque, ao que parece,  ninguém dá ou faz o que não tem, o que não sabe, não recebeu, não aprendeu, não acessou, não buscou; não se permitiu experimentar. Se as questões são expostas, faladas, há  possibilidade pensar sobre elas. E pensando...

Menos "fada", mais "bruxa"


"Me  ouvir...
Quando  somente escrevia,
eu me escutava.
Agora que falei, no divã,
eu me ouço!
As palavras não se escondem
e não silenciam, como no papel
mas, se buscam, se encontram 
e se contextualizam,
na fala.
Se organizam e tomam um lugar.
Há um lugar para elas!
E vão, então, falando de mim!
Eu me descubro e tenho sensações de liberdade,
observando a mim mesma, meu conteúdo,
com menos medo, menos censura, 
menos culpa.
Eu gosto de mim, assim,
menos, bem menos “fada” e mais “bruxa”!
Menos princesa e mais o real: mulher!
Mesmo que seja, ainda,
um "fiapo' de mulher.
Eu me assusto, por vezes
com esta mulher que se desvela,
(eu mesma)
desconhecida e  
distante de mim...
Ainda não combinamos 
sentimentos,
gostos e atitudes...
Mas ela me encanta, 
seduz e, estou olhando bastante para ela.
É mais poética e alegre!
Não sente tanto frio. Brilha. Dança e ri!
Compreende tão melhor...
Por vezes sente-se  flexível,
leve... tão leve...
como um bambu em meio às tempestades...
Sonha menos e gosta mais do
conteúdo da vida real,
mesmo sem perspectivas, às vezes,
de sair da prisão interna,
mesmo com medo,
mesmo com os sintomas que não
cessa de produzir,
mesmo na solitude,
mesmo com maior consciência de
um tempo desperdiçado
num silêncio ingênuo e inútil... Mesmo assim!
É bom descobrir que
há algo melhor em mim,
uma outra possibilidade,
outra opção
 de inteireza,
de bondade e respeito
para comigo mesma.
E, que,  apesar de abandonar o sonho,
não preciso abandonar o amor
e, que talvez,
possa amar melhor.

Ponto

Algo acaba. É
ponto final.
Fim.
O nada.
Difícil não é perder.
Difícil é acostumar
com a ausência,
um buraco
que primeiro cresce,
insuportável.
Quando não tem mais espaço
para agigantar e doer
começa apequenar.
Fica um ponto,
um pontinho só,
mas consistente
consciente
e presente.
E enquanto “apequena”
acostuma e
faz ninho.

Tão bom!

Quente... mas o quintal estava protegido do sol pelo grande “fícus”, que se agiganta ano após ano... Três balanços (de corda e pneu)  pendurados nos seus galhos,  atrás dos quais, crianças se organizavam em fila para serem embaladas por nós, profes. Uma brisa refrescante aliviava o calor (mesmo na sombra), produzindo deleite e fazendo com que folhas caídas no chão rolassem de lá para cá, sem resistência e os cabelos das crianças se mostrassem travessos e esvoaçantes, fazendo cócegas, tirando a visão... Riso, espera, respeito, conversa, sossego... fiquei com vontade de cantar e percebi que os olhos se voltavam para mim  e que o canto combinava, caía muito bem naquele momento, após o almoço, quando dá aquela preguicinha na gente... “quero que balance bem alto”, um pedia; enquanto outro: “bem baixinho, tá profe, tenho medo de muito alto”... Melodias vinham à memória e eu ia cantando, assim como chegavam, cheias de lembranças e saudades  de outros tempos, outros dias, outros lugares e outras crianças... umas daqui mesmo, outras de bem mais longe... lembrei da minha própria criança e deste tempo em que, no decorrer da vida, de quando em quando para tudo e tudo é só alegria, leveza... uma brisa refrescante e espichada!!! ... “oi epo  ita ta eia”... “samba lelê”... “ era uma casinha”... “alecrim, alecrim dourado”... “eu vi um cachorrinho”... “era uma casa muito engraçada”... “era uma vez, uma baratinha”... “a barata diz que tem”... “caperucita, la más pequeña de mis amigas”... “clim, clof, cataparatirulilo”... “boi, boi, boi, boi da cara preta”... Tão simples, tão leve, tão bom... tão bom...

Jeitos...

Viver um dia
depois do outro
é tudo de bom
atemporal,
sensação de inteireza!
Esperar  um dia
após o outro
é judiação
o tempo se arrasta
não passa,
sensação de fração.

Aventura deliciosa!

A alegria de recomeçar! Ainda se vê pais chegando emocionados, trazendo os filhos ao primeiro dia de aula! Alguns avós também se aventuram juntos! Ainda se vê criança com olhos brilhando, curiosa, cheia de expectativa, abraçando a professora com timidez, olhos amorosos e admirados! Para algumas crianças e famílias, a escola ainda é um lugar especial, que valoram e respeitam. Um lugar onde se deseja estar, se espera chegar, que é prioridade; assim como antigamente a gente esperava chegar às datas especiais... Um lugar em que se confia e entrega o bem maior que se tem! Felizmente, para muitos, ainda, o ambiente de escola, de sala de aula é de aventura! Poderá haver ali, alguma coisa de que não se goste tanto ou que não cativou ainda; mas sempre terá algo bom que transforma todo o resto e, por isto:  o desejo de voltar, a saudade quando se vai embora e a nostalgia depois que muito e muito tempo passa...  Após tantos e não poucos anos em sala de aula e de ter passado por lugares singulares e partilhado espaço com tanta gente diferente; penso que o pior,  na escola,   não é a falta de competência e apegos ao passado; mas a falta de alegria, afeto e sabedoria. Com isto, o resto não tem como não vir por acréscimo! Sem isto, não há "acréscimo" que se viabilize ou vislumbre!

Paraíso!

Domingo lindo!
Sol faceiro,
mar brilhante,
coloridos
exuberantes;
ondas exibidas!
Para todos!
Como se senões
não houvessem
e tudo estivesse
ali, realmente
compondo um paraíso
para o deleite
de todos!

Parceria

Escrevi uns versinhos para compor as lembrancinhas da minha neta que nasce em Abril. Meu filho fez as ilustrações e me chamou para ver. Lindo!  Eu sabia que ninguém iria capturar melhor do que ele o que eu quis  expressar! Mas o processo não foi isento de conversa, de opiniões contrárias e de escuta. Este “lindo” é um “lindo” do meu ponto de vista, sei!  Para além da questão estética. Parece que escrever é mais fácil do que desenhar. Por isto, ilustrar o que outro escreve, "ler" o que está na imaginação do outro é algo meio mágico, para mim. Talvez porque eu não saiba desenhar. Admiro os traços que surgem e se encontram e tomam formas harmoniosas, como se tivessem vida e vontade própria! Eu me comovi com isto de nós dois estarmos ali, partilhando o que mais gostamos de fazer por causa do nosso amor por alguém! Conversava com colegas, na escola, hoje, exatamente sobre isto: parceria, trabalho em equipe. Difícil. Mas belo e incomparável. Quanto maior e mais bonito ele é, menos estrelismo. O amor e o ideal têm que ser maiores do que o ego; caso contrário, não dá certo,  ou “vai pela metade” ou  acaba logo, não se sustenta. Quantos projetos, quantas conquistas, quantas melhorias  e avanços foram impossibilitados, abortados, engavetados, perderam-se por causa do ego de um de outro. Por outro lado, quantas belas parcerias e resultados magníficos por aí, qualificando a vida de todo mundo...

O que é...

O que é isto
que enche tanto
meu coração
até a sensação de explodir,
que inquieta, desassossega,
perambula pelo tempo
e pelo espaço,
feito elástico,
indiferente à distância
e, que quando encontra
as palavras
e as endereça,
aquieta, suaviza?
O que é isto
que de repente
chega
numa lembrança viva,
nos intervalos,
entrando pelas
minhas janelas
em forma de um sorriso
de uma voz,
de um olhar,
de um calor de mãos
de um abraço
perceptível
somente a mim?
O que é isto
que me agiganta
me faz  abraçar o mundo
fundir nas coisas
por entre
a brisa e os sons,
diluir na chuva
e me reconstituir
no calor do sol?
O que é isto
que me enche de alegria
porque existe,
porque respira
porque vive
em algum lugar?
O que é isto que dói
quando não vejo
e dói mais ainda
quando vejo
porque sempre
vai embora?
O que é isto
que me faz
me enxergar
que me recorda
quem eu sou,
que me faz sonhar
e desejar ser feliz?
Amor.

Ondas (2)

As ondas
se constituem
num instante,
inteiras, belas,
altas, fortes
para logo
num sopro seguinte
se desfazer,  ‘
diluir, diluir, diluir...
numa entrega
suprema, na praia...
E voltar...
e novamente subir
e descer... numa
carícia ininterrupta
de ser junto e
ser separado e
nunca cansar
deste encontro
repetitivo e novo...

Sossego

Sem pressa
mas às vezes sem pensar,
sem ansiedade
mas às vezes no impulso;
sem medo
mas às vezes contida;
sem  rigidez
mas às vezes tensa;
forte, segura
mas também frágil e
sensível  para perceber
as profundezas
suas misérias e belezas;
falante, expansiva
mas às vezes quieta, distante,
introspectiva;
racional e objetiva
mas às vezes
com paixão desmedida!
Assim... sem  a prisão
das certezas absolutas,
conceitos e preconceitos...
Confortável e segura
é quando meu coração
responde e desliza tranquilo,
sem resistência ao
movimento singular da vida!

Meus velhos (1)

Já há algum tempo meu olhar se volta, mais atentamente ou por maior tempo, para os anciãos. Ao mesmo tempo que vou ficando mais velha, também aumenta a convivência com pessoas de mais idade; uma vez que os outros e os mais velhos que eu, também envelhecem! Cada um no seu ritmo e peculiaridade. Há um casal que acompanho “mais de perto”. E, ao perceber as mudanças, algumas bem sutis, outras mais evidentes; no falar, no ouvir, no enxergar, no se locomover, no segurar objetos, transpor obstáculos, processar informações, memorizar, lembrar das coisas (onde estão guardadas, datas, nomes de pessoas, lugares...), adaptar-se ao novo, ao inesperado; no lidar com os apegos, com o aparecimento gradativo de uma hipersensibilidade, impaciência, dengo, medo, insegurança, tristeza, resistência x acomodação (alternadas), insistência, repetição, fragilidade escancarada; eu me comovo! Eu me sensibilizo na raiz e me percebo impotente diante de muitas situações e demandas. E, surpresa, muito surpresa com o que vou observando, sentindo e aprendendo sobre esta fase da vida! Ontem, observava, discretamente o meu casal preferido. Não sabiam que eu estava ali, pois cheguei adiantada. O combinado era buscá-los. Estavam na missa. Constato que neste período, ficaram, ambos, mais “religiosos” e assíduos às celebrações, mais do que me lembre em outras fases de suas vidas. No meio da multidão de fiéis, na missa das 18 horas de domingo, lá estavam eles, recortados pelo meu olhar; um ao lado do outro... Os olhos brilhavam e havia um sorriso sereno e infantil nos seus rostos, escutando as palavras do sacerdote e entoando os cânticos. Frágeis, apoiavam-se um no outro e era evidente o quanto isto é importante: contar um com o outro, estarem juntos neste momento; apesar de todas as diferenças e das dificuldades de consenso, de diálogo que sempre tiveram. Na hora da comunhão, foi demais! As pessoas foram saindo dos seus lugares, rápidas e eles foram ficando para trás... e eu percebi o esforço que ele fez para sair do seu lugar, batendo as pernas, já inseguro no caminhar, envergonhado, pedindo licença aqui e ali (e ninguém facilitou nada para ele, nada de gentilezas, ali, onde, penso, “deveria” haver uma abertura maior para as práticas solidárias), até conseguir um lugar na fila longa, sorrindo sempre aquele sorriso ingênuo e distante, que se desculpa o tempo todo por ser velho e existir... e então ele a chamou e a acomodou na sua frente e a protegeu colocando as mãos nos seus ombros. E então os dois sorriram! Agora um sorriso espontâneo, de felicidade! Isto foi de morrer! E o coral cantava algo melodioso, bonito demais, que naquele momento mexeu nas minhas “entranhas mais entranhadas”: “tu és senhor, o meu pastor, por isto nada, em minha vida faltará”... Foi então que me viram e percebi o suspiro de alívio! Ainda agora, a sutileza do momento produz intensa emoção e um sentimento que não sei explicar, definir, ainda. Na cabeça, isto se mistura e associa ao que aprendi, leio, ouço sobre outras culturas, especialmente orientais e indígenas, que dão e colocam os velhos num outro lugar de valor, importância. E com o qual me identifico e concordo. Estou processando, querendo compreender, aprender a lidar... Tem uma coisa que me inibe, incomoda: as denominações... velhos, 3ª idade, idosos, anciãos... parece que cada uma delas se adapta a uma e outra  situação, mas não a todas. Por vezes gosto, por vezes não gosto de nenhuma e meu desejo é encontrar uma palavra que expresse melhor este período da vida, sem ser pejorativo, excessivo, redundante ou vago, no meu entendimento. Na verdade, entre todas,  gosto mais de velhos. Vou me deslocando de um lugar e deslocando o olhar, que sempre esteve focado na infância e adolescência (por causa do trabalho), para a velhice, outro universo; bastante desconhecido, ainda; que me convoca fortemente.

Puro prazer!

Cheiro de milho verde,
de “churrus”,
protetor solar
e da maresia...
Um catavento
ventando brisa
e misturando cores
no  alto de um mastro junto
à cancha de bocha...
O mar, bordado de
rendas brancas e rebeldes
transformadas, de repente,
em ondas murmurantes,
cantantes, “cochichantes”,
traduzindo meu espanto,
meu  encanto!
Ao sabor do vento, longe,
um barco pirata,
um iate , um barco a vela,
solitários, sonolentos...
Pequenos flocos velejando no céu
num ritmo, num tempo
de outra ordem...
escondendo-se aqui e ali,
atrás dos morros protetores,
à frente, aos lados, atrás...
Gente rindo, gente dormindo,
gente deitada, lambuzada,
gente “tostada” no sol das 14 horas.
Gente comendo, gente comprando,
gente  “ralando”, gente vivendo,
de tantos e todos jeitos!
Brisa deliciosa produzindo
caricias e convidando
sedutora, para uma
entrega aos braços desta
adorável tarde,
adorável momento
só, comigo mesma,
em paz.
Descobrindo o puro prazer
do nada fazer.
Nada fazer?


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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