No carnaval, saudade...

... recordações! Há algum tempo, já, que o carnaval deixou de estar associado à festa, baile, diversão. Esta conotação ficou no passado, na juventude e, quem me lembra disto são as fotos (registrando bailes e “fantasias” de blocos a que pertenci); a TV e o calendário de datas comemorativas. Eu me lembro dos bailes de carnaval na SOGI, em Ijuí! Quando era solteira, a gente colocava um colar de havaiana no pescoço, ousava mais na sombra e no baton e ia, em grupo, com as amigas, “pular” carnaval! E sempre era uma oportunidade de encontrar o príncipe encantado! De vez em quando, um rapaz de fato “chegava” e a gente dava com ele voltas e voltas pelo salão (assim era: todo mundo andando, “pulando” no mesmo sentido)! O tempo e o número de voltas dependia do quanto cada um estava gostando de “pular” com o outro. Por vezes ficávamos juntos por todo o baile, por vezes, só o tempo de acabar a marchinha que estava tocando. Enquanto uma “pulava” com algum rapaz, as outras estavam “pulando” por perto, acompanhando, curiosas, rindo e também “cuidando”!!! Era bom! O máximo seria “pular” com o guri que a gente gostava; mas isto dificilmente acontecia com uma e outra. Comigo nunca aconteceu! Na época eu achava que era porque as outras eram mais bonitas. Hoje eu penso que faltava, sim, um pouco de ousadia, mas que o bom (inconscientemente) mesmo era sentir aquela dor masoquista de gostar e não ser gostada; que depois motivava tantos e tantos escritos nos diários! Mais tarde, já com namorados e maridos, formávamos um “bloco”; geralmente com motivos havaianos e futebolísticos!!! Era, também, muito bom! Nos divertíamos um bocado! Pulávamos ao som das marchinhas, que eram deliciosas (!) e de quando em quando parávamos para beber algo. No meio da madrugada, um lanche sempre ia bem! Depois, com a chegada dos filhos, outras responsabilidades vieram e este tempo de brincar descontraidamente durante o carnaval adquiriu outra conotação para mim: sinônimo de descanso; fazer outras coisas, viajar, ficar mais tempo com os filhotes; escrever, reorganizar coisas da casa e, neste ano, especificamente, em preparar, tricotar “coisinhas” para minha neta que está chegando... Recordo com mais saudade de uma atividade realizada junto com um grupo de amigos, aqui em SC, filhos já crescidos. Durante alguns anos fazíamos um “retiro” na época de carnaval. Íamos para uma região de floresta, local de preservação, mata fechada,  nos arredores de Brusque; acampar. Era uma aventura maravilhosa! Local de difícil acesso. Tínhamos que caminhar alguns quilômetros com mochila nas costas (por isto cada um podia levar só o que  conseguisse carregar) por subidas e descidas íngremes; em trilhas sinalizadas mas cobertas pela vegetação fértil e, por isto alguns homens iam na frente, com facões e foices, redescobrindo o caminho. Acampávamos numa clareira, circundada por morros; que primeiro tinha que ser roçada e preparada para depois armarmos as barracas e o local da fogueira permanente. Água para beber em fartura! Cachoeiras e córregos aqui e ali; águas transparentes brotando por entre vegetação variada e rica!  Banho? Só de cachoeira, água gelada! Delícia!!! Mas, mais abaixo, distante do acampamento e sem usar xampu ou produtos que pudessem poluir aquelas águas limpinhas... Meu Deus! Ninguém tinha coragem de fazer qualquer coisa para prejudicar o ambiente, ali... de fato, um paraíso escondido! Mas tem gente que invade, explora, destrói, sim, sem a menor consideração e culpa... como é que pode?! O contato com a natureza assim, “in natura” mesmo, sem a presença dos “confortos” da civilização,  é avassalador! Mesmo em grupo, é a gente com a gente mesmo; improvisando, se acomodando, processando e elaborando os desafios, os sons, os silêncios, os cheiros que ali dentro da floresta fechada, mexem e aguçam perturbadoramente os nossos sentidos, todos! Vencendo o medo, se experimenta um deleite e um prazer imensos! A majestade e o silêncio da floresta impõe e demanda o nosso silêncio externo e interno e aí a gente compreende o que nem sempre ou nem só se aprende e nem compreende com informações, com leituras, com discursos, punições e diplomas: o respeito, atenção, observação, cuidado, agilidade, escuta, tranqüilidade, prevenção, olhar e ver; encantamento, leveza, sensibilidade, força, coragem,  confiança, solidariedade, intuição, conversa estritamente necessária; discrição, bom senso, criatividade e inteligência! Não fazemos mais os “retiros”. Mas eu tenho aquelas vivências profundamente presentes. Lá eu me deparei e a partir de então tive que reconhecer e enfrentar, sem escapatória os meus medos mais escondidos, as verdades mais doídas; os sentimentos mais verdadeiros. Isto foi bom demais! Todo mundo mereceria, merece viver uma experiência assim, porque talvez todos estes problemas que estamos vivendo em decorrência da ignorância, desrespeito e falta de cuidado para com o meio ambiente, fossem menores, com conseqüências menos catastróficas. Nós, humanóides, somos muito orgulhosos e arrogantes: não somos só nós que “sabemos” e “ensinamos” neste universo, não! Saudade grande, grande, grande, me invade, do carnaval na “montanha”..

 

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