Chegando...


Da estrada eu via
o sol que acordava
espreguiçando
e agigantando
seus braços
sobre o mar,
sobre o céu,
tingindo as nuvens
e as ondas
mansas e  brancas
de vermelho...
Um vermelho
que se derretia,
feliz, desapegado
num rosa suave,
lá adiante!
De repente a estrada sumiu
o  túnel escondeu
o dia dentro da terra,
ciumento da beleza
que se ofertava, amorosa...
E quando a luz da manhã
entrou novamente
pelos meus olhos,
brincava e dançava com um
bando de pássaros!
E uma melodia traduzia
o que meu coração queria
e o que me segredava
o dia: “quero ser pra você
a alegria de uma chegada”...


Frio

Frio
azul
luminoso,
dia maravilhoso (!)
chamando,
sorridente, para
encontros ao sol
ao redor do fogo
nos abraços
e nas palavras
de amor;
em busca do
essencial,
isto que enlaça
apazigua e
faz vibrar:
aconchego
escuta e
calor.

Leituras (2)

O corpo faz metáforas. Tão inteligente! Assim como na vida, uns órgãos mais “antenados” do que os outros, fazendo “leituras”  da realidade, dos acontecimentos com maior “sacação” e rapidez que outros. Sentimentos e pensamentos por vezes atrapalham a percepção e compreensão do que de fato acontece com o sujeito e então enjôos, vômitos,  sintomas repetitivos aqui e ali, chegam parando tudo; colocando reticências, vírgulas, exclamações, interrogações na vida toda... São Paulo, com certeza sabia disto quando escreveu uma carta aos coríntios, falando que nenhum membro do corpo é mais ou menos importante do que o outro; aliás, um discurso metafórico maravilhoso, o dele, nesta carta; adoro ler. A chuva mansa também fala; pingos deslizam, ininterrupta e metodicamente do telhado, das folhas, vindos de superfícies e formas diferentes e simplesmente caem e se diluem num outro contexto e sua existência prossegue, de um outro jeito.  Têm uma história, que se agrega a outras e consciente ou inconscientemente cumprem seu papel, no grande corpo do planeta. A entrega, o silêncio que paira, agora, em toda mata, ao redor, também fala; assim como falaram, à noite, os ventos fortes, os galhos que se debatiam, furiosos ou amedrontados no confronto com a chuva agressiva e fria. Também me entrego, quietinha. Quero aprender e compreender; ir um pouco além do ver e do sentir.

Noite de São João

           Em frente de casa, uma fábrica de colchões. O dono, como eu, curte São João e todo ano organiza uma festa bonita! Convida os vizinhos todos, funcionários, familiares, amigos, fornecedores, clientes. Um festão! Adultos e crianças juntos, “vestidos a rigor”, se divertindo! Bandeirinhas coloridas, fogueira luminosa, comida típica a vontade; brincadeiras, música e danças características; tantas cores! Alegria! Muita alegria! Gosto tanto! Uma festa popular belíssima! Lamento que a cada ano, por aqui, no sul, cada vez mais, é uma festa restrita aos espaços das escolas, isto quando não fica limitada a simples bandeirolas e balões enfeitando salas e corredores. Meu vizinho é uma exceção. Hoje é noite de São João e a festa está linda, animada que só!!! Vai longe... Voltei para casa com desejo de escrever sobre algumas sensações e lembranças lá da infância...  lembro de festas na escola; mas especialmente lembro de festas como esta do vizinho. Festas na rua. Nos terrenos baldios perto de nossas casas! Os pais e os guris passavam o dia atrás de pneus e madeiras e erguiam uma fogueira alta, no centro do terreno. Era um desafio erguê-la sempre mais alto. As gurias faziam as  bandeirinhas. As mães preparavam os doces, principalmente pipoca, em bacias, que passavam de mão em mão. À noite, com emoção acompanhávamos as chamas da fogueira subindo e não tínhamos medo das bombinhas, dos busca-pés... todo mundo sabia usar e brincar. Gostávamos que amarrar um bombril na ponta de uma varinha, colocar fogo numa das pontas e girar rapidamente, produzindo “estrelinhas”, brilho intenso; motivo de alegria, encantamento! Brincávamos ao redor da fogueira, conversávamos; estreitávamos alguns laços e muitos namoros começavam ali. Era frio e se não chovia, nenhuma noite era mais linda, mais clara, mais cheia de estrelas! Tantas melodias... nunca esqueci porque faziam meu coração bater forte, emocionado: “a lua no céu também quer brincar, não acha com quem, se põe a chorar; mas passa um balão, bonito e encarnado e dança com a lua, um lindo  bailado”... “São João, São João, acende a fogueira no meu coração” E haviam tantos rituais... eram dirigidos a um dos santos do mês: Santo Antonio, São João e São Pedro! A gente ia casar? Com quem? Como fazer para encontrar um namorado bom?  Quantos filhos teríamos? De que sexo seria o primeiro filho? Seríamos felizes? Provas, simpatias, tantas coisas cercadas de magia, de expectativas que enriqueciam o nosso imaginário. Eu gostava de ir espiar, depois que todo mundo tinha ido embora, o local da festa. Uma fumacinha tênue era o que restava da fogueira, algumas brasas e muitos arames (dos pneus) no meio das cinzas, que a brisa da madrugada fria espalhava suavemente... Havia um silêncio preenchido, como se os risos, as conversas, a alegria, a magia ainda estivessem ali, só que brincando de estátua e, como se a lua, as estrelas, o céu todo, lá em cima, agradecidos, respirassem delicada e compassadamente, para não acordar a gente, aqui em baixo. E o mundo, o futuro era isto, uma promessa de beleza e mistério, como uma noite de São João.

Perdas

Dia cinzento
resquícios de lágrimas
nas folhas e calçadas
amigas, cúmplices;
a noite foi de perdas
era um segredo
e agora está ali
bem escrito
na melancolia do dia
e na saudade
que a brisa sussurra.

Conhecimento e felicidade

“O Conhecimento da realidade é aquilo que mais nos propicia felicidade e fruição(Nietzsche). Observava um grupo de alunos e lembrava desta frase. Eles estavam participando, ao vivo,  de um programa de TV, em uma emissora da cidade vizinha. Estávamos, os adultos, com eles, dentro do estúdio, mas afastados, só para dar “uma força”. Se estavam nervosos, não demonstravam. O que eu via eram crianças tranqüilas, enfrentando e encarando as câmeras, os profissionais que as operavam, a apresentadora, o adulto entrevistado com eles, os integrantes da produção do programa e aquele clima um pouco tenso e cheio de aparatos, características peculiares do contexto; com os olhos curiosos, observando tudo, centrados, serenos, investidos de confiança em si mesmos. Este contato real com as coisas do mundo, da realidade ao redor é de uma riqueza incomparável! Falar, ler sobre os Meios de Comunicação ou qualquer outro conteúdo é uma coisa. Ver, entrar em contato, experienciar, é outra. Outro nível. É redescobrir o que já foi descoberto com os próprios olhos e escrever isto, dentro, com as próprias palavras, percepções e sentimentos, como se fosse  aquele que inventou e descobriu, lá atrás... Algo ímpar! Importante e decisivo, não somente para um aprendizado em particular, mas para todos os futuros, pois uma experiência rica motiva para outras. A descoberta do prazer de SABER é tudo de bom! Felicidade pura! Oportunizar isto, fazer parte disto e acompanhar, é um privilégio! Um experimentar, também,  grande felicidade!

Ausência

       Por vezes, o amor se ausenta.  Se esconde, se protege. Fica esta sensação de desamparo, de aridez. Quando o amor se ausenta, tudo fica sem graça, insignificância absoluta. Por isto, o poeta do NT fala: “sem o amor, nada sou”...

Ventos e "pájaros"

Ventos e “pájaros”
como  brincam!
Como combinam!
Ventos... ora
acariciantes, ora
desajeitados
fiéis ao próprio
ritmo e desejo!
Te levam pra longe
te trazem pra perto
divertindo-se
com meus sobressaltos
minha saudade
meus medos
inquietudes.
“Pájaros”!  Alegria,
música e
liberdade!
Eles não voam.
“Vuelan”!
Ao sabor dos ventos.
Cúmplices.
“Vuelan” e enlaçam,
fazem ninhos
a gosto dos ventos.
Um ninho
é tudo de bom!
Onde for.

Ondas


Ondas jovens
impulsivas e
inconseqüentes
agitam-se sob
a água azul,
linda do mar.
Cavalgando,
cabelos esvoaçantes
consumindo-se
de encontro às rochas...
Reconstituindo-se
teimosas e persistentes
lá adiante... e
retornando!
Cheias de força
e beleza,
sempre
e sempre...

Curiosidade

   A curiosidade é importante  e nos move, desde os primórdios. Desejar saber, conhecer, compreender, entender é condição essencial para o verdadeiro aprendizado e para os avanços em todas as áreas do conhecimento! Ver isto nos olhos dos meus alunos  sempre foi meu norte. Hoje novamente me emocionei acompanhando um grupo deles, em Floripa; quando visitamos o Museu Arqueológico ao Ar Livre Costão do Santinho. Eles estão investigando sobre a pré-história  e visitar o sítio, contemplar as inscrições rupestres gravadas nas rochas foi algo muito especial dentro do processo de pesquisa e reconstrução do saber. Crianças, puro movimento, não aprendem com maior qualidade sentadas e quietas em salas de aula; aprendem interagindo e hoje, em meio aos risos, conversas,  brincadeiras subindo, “escalando” os caminhos, as trilhas; acarinhando cachorros que encontramos no caminho e, contemplando o mar, lá em baixo, como eles cheio de energia, barulhento, curioso, espontâneo e intenso, se lançando e explodindo em beleza e espuma sobre as rochas; vi seus olhos curiosos contemplando as inscrições, indagando-se assim como sinalizava uma  placa que havia pelo caminho: “que sentimentos impulsionaram estes homens a deixar desenhos nas paisagens onde viviam...”. Sei que isto vai “render muito” e "animar" as aulas daqui para frente por um bom tempo. Questionamentos para  aguçar o pensamento, a imaginação e a criatividade; formular hipóteses, argumentação e, claro, a produção de belos textos! E não só deles.

Leituras

          Eu, no meio, observando... o sol me abraçando tão gostoso que deu até vontade de fechar os olhos, fazer um soninho; mas tinha tanta coisa ali para ver... E me deleitei olhando pro mar! Tão lindo! Tão lindo! Suave na cor e no movimento... invadindo o coração com mansidão, sossego; produzindo tanta ternura, tanta... instantes de tocar no paraíso!  Quanta diversidade ao redor, jeitos e formas e cores. Silhuetas, posturas, passitos, ritmos, caminhares, singulares! Quantas leituras podia fazer! Tão bom ler livros! Mas que delícia ler pessoas!!! De outro lado, carros apressados zoando que o tempo urge, que o tempo é dinheiro, que tudo era para ontem! Eu no meio. Que sensação deliciosa não estar misturada a nenhum lado e poder observá-los e amá-los nestas diferenças. Vinha de lá, pelo calçadão, um velhinho, ereto e com “tranquinho” compassado,  ímpeto contido pelas limitações da idade, mas visível ainda. Eufórico no celular! Coisinha fofa! Ainda vibrando,  planejando, fazendo coisas, ágil no desejo e na vontade. E ia para lá uma senhora, de aparência “poquito más” jovem; cabisbaixa, arqueada pelo peso e por uma melancolia que me alcançou. Ela tinha frio e se encobria e escondia, do dia, atrás de imenso cachecol. Andava ofegante e parecia não ver, não se importar, não sentir nada além do que lhe ia nas entranhas. Eles se cruzaram, mas não se viram. Que pena! Reflexos dos aros de uma bicicleta puxaram meu olhar para a praia e fiquei acompanhando por instantes o giro ininterrupto das rodas, sulcando a areia, elegante... a vida girando suavemente, produzindo e deixando marcas. Em cada um, de um jeito. Quantas histórias, emoções marcadas, impressas nos corpos, tão bonitos nas suas diversidades... nenhum igual! Nenhum sentindo, pensando, agindo, querendo a mesma coisa do mesmo jeito! Tantas sutilezas permeando tudo. Quantos significados naquelas mãos entrelaçadas dos casais de namorados que passam; naquilo que cada um está vivendo; nos abraços e beijos que vão alternando... e o que se passa com aquele outro que anda e para e se “queda” olhando o horizonte e logo continua e logo para outra vez; denotando a mais absoluta falta de pressa, como se estivesse degustando cada  instante... e devo sentir piedade daquele que dorme ao relento, largado na areia como se estivesse na cama mais gostosa do mundo; esquecido ali, na noite? Será? Foi por falta de escolha ou foi por plena liberdade? E que sonhos agora povoam, fortalecem, acarinham o seu interior? Parece tranqüilo, acolhido... E que sentimento é este que me liga a todos estes desconhecidos? Dá para chamar de amor? Não sei se é; mas gosto da ideia.

Bambus

Quando as entranhas da terra
se revolvem,
espreguiçando,
suspirando,
se acomodando,
nem mesmo a casa
edificada sobre a rocha
resiste.
Bambus flexíveis
me encantam
cada vez mais.

Teu abraço

Finalmente ali
onde o pouco
o quase nada
se torna o tudo,  
se torna o infinito!
Onde me reconheço
e estremeço, inteira
de emoção, de prazer,
de calor 
de amor e
de medo de perder
outra vez...
E se mais nada houver
só por isto valeu viver:
encontrar
o que vim buscar
o que mais desejei
e como o poeta dizer:
“viajei tantos espaços
pra caber assim
no teu abraço”...

Buenos Aires

        As luzes, lá embaixo brilhavam intensamente! Era algo como um tapete sem fim de vaga-lumes em formações geométricas. Lindo! Era Buenos Aires, de madrugada. Eu chegava de mansinho, abraçando a cidade; suavemente pousando nas suas construções, sua história, seu jeito de cidade tão diferente do meu conhecido. Ela permitiu a intimidade, mas não ficamos íntimas; somente nos admiramos! Ela ficou lá, altiva, aristocrata. Eu sou plebeia... Admirei sua imponência ancestral, sua arquitetura  magnífica! Aqueles prédios antigos, transpirando história... E as livrarias! Gente lendo em cantinhos aconchegantes, tomando um café, um chocolate quente, conversando baixinho... Os parques inundados de beleza, esculturas fortes, belas, cheias de significados heróicos, apaixonantes. Tantos verdes! E o tango! Nossa! Coisa mais linda! Linda! Assisti um show numa casa famosa por lá e fiquei profundamente emocionada! Profundamente. Um ato amoroso, cheio de sedução, envolvente, erótico e bonito! Forte e suave ao mesmo tempo. Estes contrastes eu vi em todos os lugares: exaltação e paixão; sensibilidade, doçura e romantismo. Em muitos momentos eu pensei que com certeza é um lugar muito especial para casais apaixonados, que devem capturar e se nutrir desta energia mais do que quaisquer outros! Igrejas belas; a catedral mesmo, um "deslumbre! Tantos detalhes, formas, cores, arte! Tudo com história, nem toda bonita, nem toda “cor-de-rosa”; mas em tudo, muito orgulho dela. Eu não faço parte, mas admirei.

Fora do ninho (2)

        Encontrei, novamente, o passarinho prisioneiro no supermercado. Desta vez, à noite. E lá estava ele, voando de um lado para o outro, emitindo um som lamentoso, por entre todas aquelas luzes (isto era hora de passarinho estar acordado?!) e aquele burburinho de gente... de certo com saudade do silêncio e da escuridão da noite para dormir em paz, junto dos seus. Porque nada, de fato,  se compara, nada é melhor do que estar perto, aconchegado com “os nossos”!  Nossos queridos, nossos amores. Por isto, apesar de amar as singularidades, gosto da idéia, da imagem de que todos moramos numa mesma casa, a Terra. Isto me fortalece, conforta e apazigua na saudade que sinto daqueles que eu amo e que não estão comigo no cotidiano; porque digo para mim mesma: “daqui a pouco ele vai chegar em casa”.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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