Dói...


“Vovó, estou aprendendo
que quando a gente
gosta de uma pessoa,
ela entra no coração da gente
e não sai mais...
E daí, quando ela
não está perto,
dói”!
     Estes tempos, saídos da rotina e tão cheios de um “novo” desconcertante, produzem experiências e reflexões antecipadas, precoces, nos pequenos. Impossível medir seu alcance, sua profundidade... Estou bastante mexida com isto.
        Mês de Maio e nós colhendo uvas no nosso pequeno parreiral... algo bastante inusitado! Aparentemente, os “cachos” mostram-se iguais aos colhidos no verão, porém, sem aquela doçura peculiar... Para nós, é surpreendente!
       Que tempos! Na reclusão, observando as polarizações ácidas, os limites relacionados ao “ir e vir” e suas consequências bastante dolorosas; acompanhando o fantasma de um vírus que assombra o cotidiano e desestabiliza; lidando com a reinvenção do meu “ser professora” neste tempo de aulas on-line; emocionando com ações de empatia, benquerer e generosidade; contemplando os dias brilhantes, que exibem beleza e aparente tranquilidade, eu penso: será que estamos alcançando compreender o que se passa e que parece estar além do que nos desafia e polariza? Alcançando compreender este novo que se anuncia, um pouco mais a cada dia?




Mãe

       
   
   Sempre filha...
        Minha mãe está longe de mim. Já lidei melhor com esta realidade, principalmente quando o pai estava vivo. Mas, agora, a distância ficou aumentada por conta do isolamento social e ambas estarmos dentro do grupo de risco. Nos falamos pelo telefone e fazemos, uma pela outra, o que é possível e apreciamos fazer: rezamos uma pela outra! Neste fazer, nos confortamos. Sei que ela pede pela minha saúde e pela saúde dos meus! E eu, eu peço, com todo fervor, para que isto passe e tenhamos muitas oportunidades de encontro para o abraço, o chimarrão, a visita às tias, os papos sobre a vida, a saudade do pai e as lembranças da sua infância e juventude! Dona Ottilia, minha mãe adora recordar e eu, sua filha, ouvir!  



   Sempre mãe...
          - Manhêêê! Quem é o teu filho preferido?
        - Ah! Tenho três preferidos! O meu preferido, de cinco anos, é você! O meu preferido, de 9 anos, é o mano! E a minha preferida, de 13 anos, é a mana!
        O tempo passou... a infância curiosa e criativa ficou longe, mas ecoa em meus ouvidos; assim como a adolescência investigativa e os primeiros voos para fora e para longe de casa; atrás de escolhas, sonhos e caminhos.
        Caminhos tão diferentes! E sou tão grata, tão grata por tudo que aprendi, acessei, conheci e realizei através dos seus olhos, suas viagens, suas demandas, suas dores, suas superações, suas singularidades, “toques e dicas”, carinho e cuidado, agora, para comigo. Continuam meus três preferidos! Pra sempre, meus filhos e eu, sua mãe!



A viajante do mundo e o moose



- EVENTO: vovó mediando a aula on-line da neta.
- ONDE? Cada uma no seu cantinho: vovó na sua casa e a neta no seu apto.
- INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO: celular
- COMBINADO DA TARDE: usar fantasia
- FANTASIA DA NETA: Viajante do mundo
  - Justificativa dela: “sou uma viajante do mundo, vovó! Levo mochila, meu lhama de pelúcia, mapa do Brasil e do mundo, mapa do esqueleto, travesseiro e um cobertor. Tenho uma capa. Viajo no meu cavalinho (cadeira) e sou meio mágica! Quando preciso, minha mochila vira uma casa, um chuveiro, lanchonete... Eu viajo porque gosto de conhecer as coisas, saber como elas são; se as coisas estão bem ou não, em outros lugares”...
- FANTASIA DA VOVÓ: Moose,
  - Justificativa dela: “por causa da saudade dos queridos lá no Canadá. O moose é um animal símbolo do Canadá. São muito grandes e têm chifres imensos. São solitários e herbívoros. São lindos”!
- ATIVIDADES: uma viagem pelos conteúdos\atividades propostos pela escola: aula de ciências, depois matemática e depois, inglês. Após, um lanchinho: o da vovó, uma maçã. Da menina,  pastelzinho, chá e um chocolatinho.
- MAIS  ALGUMA COISA? Claro que sim! Depois das aulas, a viajante do mundo convidou o moose para viajar com ela; porque afinal, ele nunca saíra do Canadá. E lá foram eles: - “para a Europa, a cavalo”! – disse a viajante! O moose, então, também no seu cavalinho, seguia a viajante, extasiado com tantas belezas. Houve muitas paradas para lanches, banheiro e soninho. Numa das paradas, a viajante falou: - “vou consultar o mapa para saber onde estamos”... “Ah! Estamos na França! Hmmm... como não sabemos falar francês, vou te ensinar, moose, umas palavrinhas em inglês: Hello! I'm a moose! Bye!” (ela nem lembrou que o moose poderia saber inglês e francês, já que era canadense!) E seguiram, cavalgando... Muito tempo depois, outra parada. Nova consulta ao mapa: - “Ei, moose! Agora já estamos no Egito!”... (nem a viajante, até o momento e, muito menos o moose, que nunca tinha viajado, sabiam, de verdade, diferenças entre países e continentes... Mas aí, a viagem\aula precisou ser interrompida por ali, porque a vovó tinha uma outra aula on-line:  de pilates.
- FINALIZAÇÃO DO TRABALHO:
  Neta: - “gostei de tudo, vovó! Gostei muito das nossas fantasias! Gostei de conhecer o moose, saber coisas sobre ele e de  levá-lo para conhecer o mundo”!
  Vovó: - “também gostei de tudo, querida! Especialmente de encontrar a viajante do mundo e fazer este belo passeio com ela! Ir para a Europa e depois para o Egito! Aprender inglês e ler mapas”!
    Delícia de tarde, acompanhando as associações, as generalizações e a leitura de mundo prazerosa que faz  uma criança, dentro do seu processo de aquisição do conhecimento; quando lhe é permitido viajar!

Isolamento

O isolamento
trouxe cuidado,
quietude,
respiração funda
e olhar demorado...
A natureza brilha,
deixada em paz!
O sofrimento humano
redescobriu a oração,
o valor da partilha,
do benquerer
e do coletivo.
Um jeito diferente
de viver e interagir nasce
de onde não se esperava:
deter um vírus.

Violetas







Olhai minhas violetas!
Numa troca de benquerer,
ao sol, florescem!
Vestidas de cores,
encantos e cuidados!
Entre elas, sinto-me
cheia de glória!


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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