Zoo, lição de mãe

Cheguei no zoológico de Pomerode, ontem, com olhos de criança! Depois, o olhar foi alternando. Com o olhar da criança, eu me encantava, somente! Tanta beleza merecia um olhar assim, de encantamento, ao contemplar todas aquelas espécies que, infelizmente, ou felizmente (dependendo do lado que se olha e reflete) estavam ali, bonitas e muito bem cuidadas. Porém, o olhar maravilhado, de repente detinha-se num detalhe e ficava sério, quando me colocava no lugar do animal que observava. De um dos lados que olhei e refleti, gostei: nenhum animal solitário! Todos em duplas ou grupos, inclusive os elefantes e as girafas! Fora do habitat, com certeza, mas entre companheiros. Vendo isto, deixei de lado o lado meu que olha, reflete e não gosta de cativeiro; para me entregar, observar e  encantar, como disse, com cada espécie, com as singularidades, as formas, os coloridos, os movimentos de cada um... nossa! Que riqueza! Não tinha visitado um zoo com tanta variedade de espécies.  Em especial, havia um casal de macacos e seu filhotinho. O filhote, como todo filhote, estava ali, faceiro, explorando o ambiente, mexendo aqui e ali, pulando de lá para cá;  de repente se encostava na mãe; depois tornava “saracotear” ao seu lado e olhava curioso para nós, que olhávamos para ele embevecidos, como quase todo mundo fica diante das gracinhas de qualquer bebê. De repente pareceu compreender que estava sendo o centro de nossa atenção e começou a "se mostrar", a exagerar na  “pose” a cada exclamação nossa: “Ah! Que lindinho! Que fofo! Olha só”... A mãe ficou mais atenta, percebemos. E o filhote continuou a se “pavonear”; subindo, descendo pela grade, cada vez mais animado, faceeeeiro! A mãe não teve dúvida! Acabou com o exibicionismo do filhote e com a nossa alegria! Pegou-o, aconchegando-o de encontro ao peito. Ele agarrou-se na mãe e ela levou-o  para dentro de uma casinha, bem no alto e longe dos nossos olhos. O pai juntou-se a eles. Ficaram lá, juntinhos, como se estivessem defendendo o seu bebê. Nós ainda olhando, surpresos, admirados com as atitudes deles. Então, surpreendentemente a mãe desceu, ainda com o filhote agarradinho e colocou-se de costas para nós. Entendi o recado. Acabou o espetáculo! Eu me emocionei. E não era para emocionar? A mãe protegendo o filho. Colocando limite nele e também em nós. Não brigou, não berrou. Agiu. Educou. O filhote reconheceu e aquietou no limite e no abraço da mãe. Nós reconhecemos e fomos embora. Quanta sabedoria!  Toda mãe sabe do que um filho precisa; isto parece estar na raiz do instinto materno. Por que, algumas vezes não está? Tanta criança exposta. Tanta criança sem proteção. Tanta criança sem abraço. Tanta criança sem limite. E tudo que todo bebê, toda criança precisa para crescer saudável é o cuidado, proteção, acolhimento, amor, limite. E respeito.  É muito? 

Voa!

Então,
VOA, amor!
Bem alto!
Além do mar
e do horizonte,
para perto do
arco-íris,
das nuvens mais brancas...
Lá onde o sol e a lua
se encontram e se amam
enchendo de pura magia
a noite e o dia!
Onde os pássaros cantam
aquelas canções mais lindas,
onde o infinito acolhe
cura, eleva a alma...
Depois volta!
Volta pro teu ninho
e ali descansa,
te faça feliz,
sossega, durma...
e no teu sonho
entra no meu,
me dá um abraço
e me conta como é...

Pausa

Não há movimento
tudo quieto
o dia acordou
mas não se mexe
aracuãs ensaiam
mas o show não começa
o tempo de fora segue
o de dentro, parou
ficou lá, na última cantoria.

Um lugar

Corpo enfraquecido
coração ferido
volta, decidido
pra  casa... 
Já de longe,
alguém, na porta,
coração disparado
estende os braços!
E no calor
daquele abraço
reencontra
o seu lugar!
De onde veio, viu
tantos braços
abraçando o vazio
tantos sem ter
 para onde voltar
tantos  lugares
áridos e ásperos
sem ninguém para esperar.
Tanta mágoa, dor,
medo, amor
sem coragem de
se expressar!
Tão bom voltar ou
contar (com)...
ter um espaço
no coração e
no abraço
de alguém
em algum lugar.

Demais

Leio  um livro emprestado por uma colega de trabalho. Ele fala que há um grande problema na vida de todos nós, o DEMAIS. Interessante. Estou pensando muito nisto e encontrando o demais em todos os cômodos da minha vida. Demais... É muito mais rápido e fácil ensinar e aprender a adicionar (onde o "de mais" é separado, por questões da língua) e multiplicar do que subtrair e dividir. Os professores sabem, os viventes também. Embora, perdas sistemáticas também se enquadrem no demais. O que há entre o de menos e o demais é o segredo! Ali parece haver sossego. Entre o arrebatamento e a depressão, a presença e a ausência, o falar e o calar... ali parece haver ensinamento. Entre os excessos e as faltas, parece estar o aprendizado. Entre o ter e o não ter, ser ou não ser... parece haver sabedoria. Entre... o que está entre, que não é visto, não é falado; o que permeia as coisas... está ali e ao mesmo tempo não está, porque não se percebe claramente... parece ser a essência! Será?... O entre: ao mesmo tempo um desafio,  objeto a ser descoberto e um convite a uma ação; a de entrar e descobrir o que está de menos e o que está demais, aqui e agora.

FLor

  
Percebeu-se
é flor
é rosa
é botão,
tem espinhos
e inquietudes
(para que servirão?)
Tantas possibilidades...
no jardim,
na força latente
que está dentro,
no desejo de ser,
se conhecer,
e saber como é
ser rosa  
                                                               desabrochada!

Amigo

  Curiosa e sem muitas pretensões, pesquisei e encontrei algumas definições etimológicas sobre a palavra amigo. Uma, diz que vem do latim “amicus”, vinculada ao verbo amar e que significava “pessoa a quem se ama”. Outra, que se diz “poética”, que amigo deriva de “alma” e de “custódia”, e que então, o amigo seria o “guarda-alma”. Uma terceira, diz que amigo deriva de “sem” e de “ego”, cuja tradução seria “sem meu ego”; ou seja, o amigo é uma parte de mim, mas sem meu ego. Gostei. De todas. Deve haver outras...  menos ou muito mais poéticas. Mas concordo que amigo tem tudo a ver com amor. E com certeza, há uma parte da gente no amigo e uma parte dele na gente. Partes que se reconhecem, se atraem, querem ficar juntas, outra vez. E que quando juntas, se fortalecem e são capazes de enfrentar batalhas, o mundo! E também com partes “nada a ver”, que se repelem e distanciam em muitos momentos. Mas se respeitam. E isto me encaminha para a ideia da unidade e um pouco mais: “unidade na diversidade”. Diferentes e iguais; iguais e diferentes. Amigos e inimigos. Dualidade na unidade... Coisa linda a expressão “guarda-alma”! Eu me sinto assim, guardando a alma de uns queridos! Guardando preciosidades que um dia me foram confiadas ou que tive a felicidade de perceber, descobrir na interação com eles; muitas vezes no silêncio partilhado. Adoro guardá-las! Olhar para elas, lá dentro de mim, aquecendo meu coração e enriquecendo minha vida. E sinto-me protegida porque sei que amigos queridos guardam  preciosidades da minha alma, especialmente quando estou frágil demais para suportar tamanha responsabilidade. Isto sustenta, fortalece, mantém de pé; sem explicações, sem porquês; sem lógica. Simplesmente é assim! E que presente pode ser mais bonito do que ouvir (tão bom ouvir!)  ou dizer (tão bom dizer!):  “O teu afeto e carinho me dá alegria de viver e me conforta”.





Construtivo

    Errar o chute, o pênalti, a escalação. Perder. Errar a decisão, o gesto, a palavra. Perder. O erro sempre dói, pesa. Erro exposto, mais ainda. Suas  conseqüências, expostas ou não, mais.  Há uma expressão: erro construtivo. Quando eu a descobri, senti um alívio grande. Uma esperança. 

Dias bonitos

          Dias cinzentos, produzem saudade... saudade dos dias bonitos,  da beleza dos mesmos e tudo o que a gente faria (embora a gente não faça) se o dia fosse bonito! Já os  dias bonitos lembram as faltas porque se ofertam inteiros e simplesmente... Intensos, vibrantes, apaixonados! Sem cobranças e sem mágoas. Os dias bonitos vivem o presente. Amam incondicionalmente. Eles me fazem sentir muito profundamente a plenitude, assim como a incompletude. Aquilo que falta, naquele momento. Porém, se estivesse olhando teus olhos, ouvindo teu riso, lendo tua palavra, não veria nada, nem a beleza do dia ou sua melancolia! Tomada por ti o dia não teria a menor importância ou teria importância em dobro (!); porque esta percepção vem de dentro e de como a alma, o coração, os sentidos estão alimentados e por qual conteúdo vibram a cada precioso momento de vida. 

(Te) olhar-(me)










Olhar pra você
é olhar pra mim
e encontrar
ao mesmo tempo
com o conhecido
e próximo;
com o estranho
e inatingível.
Movimento sutil
que encanta e
desconcerta,
de encontro e
desencontro
fundo e irremediável.

Na roda











Na roda
há melodia
e ritmo,
o ritmo da roda
que roda, roda
e amassa
e esmaga
e leva
leva e alivia
pesa e judia
alisa e
acaricia.

Palavra

Fugiu,
a palavra!
Disparou, atravessando
espaço
resistência
orgulho
medo
insegurança;
cheia de
alegria,
calor, entrega,
num redemoinho
de felicidade,
de saudade,
verdadeira!
Retornou
seca, disforme,
quebrada
amordaçada. 

Vazio

A folha tremia
sozinha no galho
as outras, não
as outras balançavam
juntas, acenando
ao vento frio que passava.
O mesmo vento
o mesmo frio
mas a dor era
daquele vazio
da falta imensa
do calor 
do amor.

Parceiras

Morte e vida...
uma,
na pegada, 
dentro, 
gerando, 
a outra;
significando e 
ressignificando
uma à outra...
e a gente
se surpreendendo
e, com sorte, aprendendo
com uma e com outra
todos os dias
a cada pesar
a cada prazer...

Bom dia!

Bom dia!
Sempre há, dentro,
uma parte
que voa
livre, feliz,
que não desiste,
que tem
para onde voltar;
que alimenta
o sonho,
desejo de viver,
a alegria!
E que apesar
do gelo, dos muros
e dos silêncios
vê, deseja e faz
poesia e,
de um dia qualquer,
um bom dia!

Só meu

Noites longas e frias
descoloridas e sombrias,
surpreendem-se,
de repente:
um fiozinho de lua
espia, lá de cima
curioso, inocente,
- Onde está todo mundo? – indaga
- Adormecidos. – sibila o vento.
- Ah! - suspira
e todo contente
abre o sorriso
de lua faceira,
ilumina o céu e
enfeita os verdes
de beleza que 
ninguém vê 
segredando :
é amor guardado
só meu.

Desapego (2)

        Difícil abandonar, largar, desapegar... de pessoas, coisas, lugares, ideias, sonhos, ilusões, conceitos e, da própria vida. Naturalmente, uns mais, outros menos e de umas coisas mais, outras menos. Bem pessoal.  Ouço tanto falar da importância do desapego para encontrar equilíbrio, sabedoria e felicidade... talvez por isto mesmo seres equilibrados, sábios e felizes  ao mesmo tempo, sejam tão raros; se existem. Eu me sinto intrigada, capturada por este desafio do desapego e o meu “apego” está situado na ordem das ideias, ideais e dos sentimentos; o que me oportuniza profundas  e intensas  percepções e alegrias; ao mesmo tempo que amargas frustrações. Pesquisando, encontrei alguns significados para o vocábulo: desafeição, desamor; desinteresse”; "des-", negativo, mais "apego", que vem de "pegar", do Latim PICARE, "trazer consigo, ter em si, pegar". Eu me sinto solidária e tento não julgar os apegados aos “bens materiais”; aos que, sem garantias ou possibilidades, não se entregam à morte e se agarram ao fio da vida com todas as forças que lhes restam... porque sinto na carne, na pele, nas veias o quanto é duro desistir; deixar pra lá aquilo que é mais caro, querido e que nos sustenta no cotidiano duro ... Me identifiquei com a definição, acima: "trazer consigo, ter em si”; porque vejo que em mim é assim; não me lembro de ter sido educada para me apegar a isto ou aquilo; simplesmente me estruturei assim, como se isto fizesse parte dos meus gens. Mas, com certeza, a educação, as vivências, os caminhos que escolhi, reforçaram isto. Não estou convencida plenamente, talvez porque meu “nível de consciência” não tenha se elevado,  de que o apego, seja, de todo, um mal; porque desafeição, desamor; desinteresse” ou indiferença  não me interessam, não quero. Por outro lado, temo e me assustam as conseqüências do apego: ser invasiva, inconveniente, desrespeitar o espaço, a liberdade, o direito do outro. Então parece que é preciso educá-lo (o apego), como um filho querido; sem “alarido”, sem "corujisse"; mas com ternura,  com limites firmes... inspirar-se e aprender com a fênix: morrer e renascer das cinzas. 


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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