Tempo de acontecer

               Imagem da internet
Ao pé do morro
o sol só chega depois
e aos poucos.
Majestoso.
Se fazendo anunciar
e esperar.
Um grande evento!
Vem descendo
revelando
colorindo
aquecendo
amoroso,
mas sem pressa.
Muitas outras coisas
também são assim:
especiais, majestosas,
de olhar
perceber,
desejar e esperar
o tempo de acontecer.



Vento


Vento forte
entra e areja
atravessa
arrasa e leva.
Me deixa só
comigo mesma.

Lamento

                              Imagem da internet
Escutei o lamento de uma mãe.
O lamento de uma mãe,
ecoa dentro de outra mãe.
A dor de uma é a dor da outra,
porque há algo que nos interliga, mães;
assim como algo nos interliga,
homens e mulheres: amor.
Amar e ser amado;
na forma como cada um
concebe e consegue.
O lamento dela ecoou
nas minhas entranhas e,
também ouvi,
na entranhas da mãe Terra.
Em todos os cantos deste universo...
Dilacerante!
Quando a distância cristaliza
e um filho não reconhece
e não encontra mais sua mãe
e, não há mais braços
para acolher e acalentar;
um lugar a pertencer...
o que se tem?
O que se fez?
Como seguir?
Como refazer
sem poder voltar?

Escolha


            Imagem de Elcio de Limas
O comecinho
de um novo dia
é tão bom “pegar”!
À luz tênue da lua,
e ao sol que se insinua
minha alma, nua
se veste de cores
e outra vez,
escolhe amar!

Véus



“Ao léu”
agitam-se, perfumados
e coloridos,
delicados véus.
Adornos,
misteriosos contornos,
cobrindo e
descobrindo
aparências
entre  as
transparências!
O que
não se vê,
vendo?
E se vê,
não vendo?
Lindos!
Femininos!

Dança


Corpo que dança...
E dançando se expressa
em todas as formas,
códigos e línguas...
Linguagem maravilhosa,
esta, a do corpo!
Corpo esquecido
em detrimento
das dietas,
tabus... das ideias e
dos sentimentos.
Corpo que é belo
mágico e sábio!
Que me escuta
me sente
e me traduz!
E me mostra!
Segreda sobre mim
através dos movimentos
que reaprendo
e da percepção
mais concreta
de mim mesma
depois de tanto
tempo longe e
indiferente a este
ser e saber latente
me esperando, 
há tanto...
silencioso e paciente.

História de Amor

     Imagem da internet

Linda história de amor!
Anita e Giuseppe.
O amor a um ideal
encurtou distâncias
e trouxe Garibaldi
de tão longe
para Ana...
(“viajei tantos espaços
pra caber assim,
no teu abraço”)
O coração de Ana
valoroso e inquieto
aconchegou-se no
olhar e na vida
deste homem intrépido!
E Ana tornou-se Anita.
Anita de Giuseppe!
E o amor deles cresceu
e brilhou e frutificou!
Nutrindo-se onde outros
fracassam, esmorecem:
nas adversidades,
barreiras e fronteiras,
no tinir das espadas
entre os fogos
dos canhões...
abraçados ao redor de
fogueiras em noites frias
céu estrelado
e fogo cruzado!
Enfrentando
as águas profundas
dos oceanos,
as intempéries
e a dureza cotidiana... a lida
improvisada em barracas,
casas alheias;
o desconforto
de esconderijos,
exílios, sustos, 
fugas, assaltos
e sobressaltos,
fogo cruzado!
"Pisando geada fria",
cavalgando solidão
ao som do minuano
por serras, coxilhas,
vales, areias e trilhas...
Amor alimentado
na fonte inesgotável dos ideais,
na partilha do sonho e do real!
Na cumplicidade,
no conforto  dos abraços
dos beijos, das conversas,
da confiança,  admiração!
Respeito mútuo!
De um olhar para a vida sempre
enxarcado de horizonte”...
Verdadeiro amor!
Quando um faz bem
pro outro e, juntos,
bem pela humanidade!
Para os outros:
Garibaldi, o cidadão do mundo;
Anita, a “heroína de dois mundos”,
o casal guerreiro!
Penso que para eles:
somente Anita e Giuseppe!
Uma mulher e um homem,
um encontro de ideias
de valores, de pele e
de sentimento.
Um grande, grande amor!
       Imagem da internet


Meus filhos


Estão no mundo
partes de mim
no inteiro de vocês!
E com vocês eu
viajo por onde
nunca andaria
e minha vida
enriquece com
o que vocês vivem
sentem, pensam e
realizam! E partes
de vocês estão no
meu inteiro! E nós
todos, com nossos
inteiros e nossas
partes; enlaçados
neste universo!
Ora fruto,
ora semente,
ora semeador...
Nestas alternâncias
na vida, sejam firmes,
generosos e íntegros,
meus filhos queridos!
         

Ofício de mãe II


Eu te vejo, mãe!
De dentro
da escuridão da mata,
no alto do morro
uma chama crepita!
No teu ofício de mãe
não dormes
e na tua gruta humilde
entre o perfume
das rosas e do incenso
vigias e estende
teus braços sobre mim
e sobre todos nós!
A cada filho,
um cuidado único
porque tu sabes
a dor de cada um,
(real ou imaginária)
a necessidade,
o tamanho
e a intensidade
do abraço!
Mãe!
A luz que brilha
sinalizando
tua presença,
teu olhar sobre nós,
suaviza o ritmo
do meu coração
e não me sinto sozinha!
O teu amor
me acolhe e me
enlaça e o  teu laço
enlaça o outro,
também teu filho,
meu irmão.
Eu apaziguo 
neste teu abraço!

Ofício de mãe


Inicio a “Semana das Mães” exercendo o ofício de mãe na íntegra!  Estamos no hospital; eu e meu filho “do meio”. Aguardo sua volta da sala de cirurgia. Há duas horas foi levado do quarto, em uma maca; branquinho, um pouco inquieto. Uma cirurgia relativamente simples; mas “simples” depende do ponto de vista de cada um... Enquanto espero, recordo outros momentos assim, quando os filhos eram pequenos e vivemos estes momentos de inquietude dentro de um hospital ou em outros contextos. Estes são os fantasmas mais pavorosos que assombram o coração de uma mãe... sustos, despedidas e a impotência diante da dor ou de um problema na vida de um filho. Fantasmas que se esfumaçam diante do  sorriso e dos braços abertos, do filho, que se fecham ao redor do pescoço da mãe, num abraço de entrega e confiança! Meu filho volta para o quarto; me olha e sorri, um pouco sonolento, ainda. Eu intuo que gosta de me ver ali. Ele diz: “mãe, estou bem! Tive sonhos tão bonitos enquanto estive anestesiado”! Ah! Filho tranqüilo, bem e contente com sua vida e momento é o que sossega, aquieta, alegra o coração de uma mãe!

Ensinar e educar


     Foto retirada da internet

É nisto que venho pensando nos últimos tempos... neste casamento entre estes “dois fazeres’: ensinar e educar.  Nas minhas aulas de produção de texto, neste ano, estou trabalhando utilizando a tecnologia: o notebook e o pen drivre. Quem tem notebook, traz de casa, quem não tem ou não pode trazer, usa os computadores da escola. Isto deu um novo alento e colorido às aulas, que acontecem uma vez na semana. Os alunos estão felizes, curtindo muito; até porque no final da tarde, um pouco antes de acabar a aula, combinamos um tempo livre para eles trocarem seus  conhecimentos, partilharem jogos, mostrarem fotos e outras coisas que têm armazenado. Quem está fazendo um grande trabalho em tudo isto, sou eu mesma. Vencendo resistências, preconceitos e inseguranças. Adoro o quadro, o giz, o papel, as canetinhas e o lápis! A tecnologia me assusta, um pouco. Eu nem tenho celular! E entendo tão pouco desta ferramenta: o computador. Sei o básico do básico. Mas a curiosidade e o desejo de capturar e estimular o interesse dos alunos pela leitura e escrita, é maior. E me desafiei e me lancei. Estou até me animando para fazer um curso de computação, aprender a técnica! Mas o que está sendo interessante, apaixonante e  o mais importante, neste trabalho é o que acontece em sala de aula! Temos as Coisas pequenas e as Coisas grandes. Chamo de Coisas pequenas, isto: baterias que acabam e o grande número de extensões que tive que providenciar para que cada um tivesse onde colocar o carregador... os alunos estavam acostumados a jogar no computador; e agora, para escrever, tiveram que aprender a salvar, recuperar “coisas que apagam sem querer”; apagar, voltar; selecionar letra maiúscula, minúscula, colocar acento, cedilha (alguns teclados não têm...); colocar e tirar pen drive corretamente; acionar antivírus, etc...  e isto se traduz num corre-corre sem fim; em chamamentos intermináveis: professora pra cá, professora pra lá... “o meu não abre... não sei o que aconteceu, apagou tudo... como se põe o til, e o circunflexo... onde está a cedilha... como faço a interrogação... a letra ficou pequena de repente... quero a letra maiúscula... mas o que é que está errado nesta palavra, professora, que ela continua com este risquinho embaixo...”. Mas isto é quase nada, porque o que é relevante neste trabalho todo, são as Coisas grandes que acontecem e que para mim, são as produções dos alunos! Neste trimestre inicial trabalhamos com rimas, versos, poesia! A sala de aula, para quem não sabe, é um corpo vivo e vibrante, “chamejante”! De quando em quando, num intervalo de entre uma respiração, um chamado e outro, paro e olho e meu coração fica ao mesmo tempo desmanchado e inteiro, agigantado, com o que vejo. E o que vejo? Vejo crianças trabalhando com prazer! Sozinhas ou em duplas, trios, cada um do seu jeito e gosto; centradas no seu fazer. Isto não quer dizer silenciosas, quietas. Quer dizer trabalhando do jeito que as crianças trabalham:  comentando, olhando o que o outro fez, rindo de algo que só eles viram; lembrando de algo que aconteceu ontem ou que vai acontecer amanhã... contando uma piada.... voltando para o texto, relendo, continuando a escrita... quando então acontece um grande e surpreendente hiato! Quando todos ficam absorvidos  e só vejo seus olhinhos piscando atrás dos notebooks... silêncio de ouro! Preciosíssimo! E o meu coração bate forte, bate alto! Sabe o que está acontecendo ali? Alta produção de pensamento, de criatividade, de inteligência, de singularidade! E assim vai a tarde, alternando quietude e burburinho. De quando em quando, um conflito ou a lembrança de um impasse ... e aí, tudo para! É preciso atualizar. E abrir espaço para a palavra é saber que vem material de peso, ainda mais durante um processo de sensibilização, de encontro com os sentimentos, como este: de produção de texto. E tudo isto é conteúdo de vida que se mistura com o conteúdo de aula e o resultado, ao final de cada tarde de trabalho é o deleite e orgulho! Eu me deleito lendo seus trabalhos e me orgulho deles e por estar ali, fazer parte deste processo. As últimas semanas têm me oportunizado muita reflexão. Vejo seus movimentos e escuto suas conversas; como trocam informações técnicas a respeito dos notebooks e seus recursos; como utilizam os nomes (todos em inglês) e partilham sites e técnicas; falando deles como se falassem do jogo de futebol, do filme, da festa! Alguns até se abraçam e caminham pela sala e corredores, confidenciando algumas informações mais reservadas, conseguidas com o pai ou amigo do pai... e ficam se mostrando e também admirando mutuamente pelos saberes que fazem circular...e me olham felizes e me escrevem bilhetinhos de carinho e afeto no quadro ou em papeizinhos ilustrados e me apresentam poesias de desmanchar o coração, com metáforas de fazer inveja a muito poeta consagrado! E eu me pergunto: este que escreveu esta doce poesia é o mesmo menino que antes estava ali, falando, explicando todos aqueles termos técnicos sobre como acessar a tal site e dali fazer isto e aquilo para resolver tal coisa... e que na hora do recreio corria e lutava e brigava por causa de um “frango” que o goleiro do seu time levara... e que na apresentação do tema livre falara dos aviões, como funcionam e, mais especificamente de um tipo de avião construído especialmente na II Guerra Mundial, peso, tamanho, utilidade, etc... A gente aprende o tempo todo. O mundo, a vida, as pessoas, os instrumentos tecnológicos (em rica variedade!), os acontecimentos,  informam, ensinam coisas. Mas isto não significa que eduquem. Para educar precisa disponibilidade, tempo, sensibilidade; estabelecer vínculo, implicar-se, refletir junto, escutar e conversar; importar-se e cuidar do sujeito inteiro; o que vai bem além das informações, sejam elas simples ou complexas. Educar demanda sentimento, respeito, delicadeza no olhar, na fala, na ação.

Trabalho


Trabalho é tudo de bom:
produzir, criar, transformar,
construir, colaborar, cooperar,
ajudar, curar, alegrar, pensar,
refletir, aprender, melhorar!
Trabalhar enlaça.
Enlaça fora
enlaça dentro.
Se a gente olha para trás,
por onde andou a humanidade
pode ver os laços, as trocas
fomentando (ou não!) os avanços,
reconstruindo
protegendo,
lutando por algo justo e melhor.
Trabalho: esforço, perseverança.
Desafio atualizado cotidianamente.
Nesta lida se descobre
habilidades e limites
fortaleza e fragilidades!
Valores e grandezas
sombras, exageros e pequenezas.
É viver e fazer a vida render...
... render frutos!
(tantos e de tantos tipos...)
São eles  que respondem se
valeu a pena.

Simultaneidade



No interior
da oração
onde tudo é
silêncio e luz  
mais claro fica
o que está fora...
a cantoria da crianças
a percussão insistente
carros passando
alarme disparado
máquinas na lidança
grilos e cigarras fazendo alarido
na sinfonia da vida.
Vida se  fazendo
e perpetuando em
todas as formas...
Amor e dor
lazer e labor...
A roda girando
gestando, indiferente,
trigo e joio
luz e sombra
medo e alegria...
Em todos os cantos
e ao  mesmo tempo
suscitando
espanto e encanto
que na oração,
encontram  alento...


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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