Ensinar e educar


     Foto retirada da internet

É nisto que venho pensando nos últimos tempos... neste casamento entre estes “dois fazeres’: ensinar e educar.  Nas minhas aulas de produção de texto, neste ano, estou trabalhando utilizando a tecnologia: o notebook e o pen drivre. Quem tem notebook, traz de casa, quem não tem ou não pode trazer, usa os computadores da escola. Isto deu um novo alento e colorido às aulas, que acontecem uma vez na semana. Os alunos estão felizes, curtindo muito; até porque no final da tarde, um pouco antes de acabar a aula, combinamos um tempo livre para eles trocarem seus  conhecimentos, partilharem jogos, mostrarem fotos e outras coisas que têm armazenado. Quem está fazendo um grande trabalho em tudo isto, sou eu mesma. Vencendo resistências, preconceitos e inseguranças. Adoro o quadro, o giz, o papel, as canetinhas e o lápis! A tecnologia me assusta, um pouco. Eu nem tenho celular! E entendo tão pouco desta ferramenta: o computador. Sei o básico do básico. Mas a curiosidade e o desejo de capturar e estimular o interesse dos alunos pela leitura e escrita, é maior. E me desafiei e me lancei. Estou até me animando para fazer um curso de computação, aprender a técnica! Mas o que está sendo interessante, apaixonante e  o mais importante, neste trabalho é o que acontece em sala de aula! Temos as Coisas pequenas e as Coisas grandes. Chamo de Coisas pequenas, isto: baterias que acabam e o grande número de extensões que tive que providenciar para que cada um tivesse onde colocar o carregador... os alunos estavam acostumados a jogar no computador; e agora, para escrever, tiveram que aprender a salvar, recuperar “coisas que apagam sem querer”; apagar, voltar; selecionar letra maiúscula, minúscula, colocar acento, cedilha (alguns teclados não têm...); colocar e tirar pen drive corretamente; acionar antivírus, etc...  e isto se traduz num corre-corre sem fim; em chamamentos intermináveis: professora pra cá, professora pra lá... “o meu não abre... não sei o que aconteceu, apagou tudo... como se põe o til, e o circunflexo... onde está a cedilha... como faço a interrogação... a letra ficou pequena de repente... quero a letra maiúscula... mas o que é que está errado nesta palavra, professora, que ela continua com este risquinho embaixo...”. Mas isto é quase nada, porque o que é relevante neste trabalho todo, são as Coisas grandes que acontecem e que para mim, são as produções dos alunos! Neste trimestre inicial trabalhamos com rimas, versos, poesia! A sala de aula, para quem não sabe, é um corpo vivo e vibrante, “chamejante”! De quando em quando, num intervalo de entre uma respiração, um chamado e outro, paro e olho e meu coração fica ao mesmo tempo desmanchado e inteiro, agigantado, com o que vejo. E o que vejo? Vejo crianças trabalhando com prazer! Sozinhas ou em duplas, trios, cada um do seu jeito e gosto; centradas no seu fazer. Isto não quer dizer silenciosas, quietas. Quer dizer trabalhando do jeito que as crianças trabalham:  comentando, olhando o que o outro fez, rindo de algo que só eles viram; lembrando de algo que aconteceu ontem ou que vai acontecer amanhã... contando uma piada.... voltando para o texto, relendo, continuando a escrita... quando então acontece um grande e surpreendente hiato! Quando todos ficam absorvidos  e só vejo seus olhinhos piscando atrás dos notebooks... silêncio de ouro! Preciosíssimo! E o meu coração bate forte, bate alto! Sabe o que está acontecendo ali? Alta produção de pensamento, de criatividade, de inteligência, de singularidade! E assim vai a tarde, alternando quietude e burburinho. De quando em quando, um conflito ou a lembrança de um impasse ... e aí, tudo para! É preciso atualizar. E abrir espaço para a palavra é saber que vem material de peso, ainda mais durante um processo de sensibilização, de encontro com os sentimentos, como este: de produção de texto. E tudo isto é conteúdo de vida que se mistura com o conteúdo de aula e o resultado, ao final de cada tarde de trabalho é o deleite e orgulho! Eu me deleito lendo seus trabalhos e me orgulho deles e por estar ali, fazer parte deste processo. As últimas semanas têm me oportunizado muita reflexão. Vejo seus movimentos e escuto suas conversas; como trocam informações técnicas a respeito dos notebooks e seus recursos; como utilizam os nomes (todos em inglês) e partilham sites e técnicas; falando deles como se falassem do jogo de futebol, do filme, da festa! Alguns até se abraçam e caminham pela sala e corredores, confidenciando algumas informações mais reservadas, conseguidas com o pai ou amigo do pai... e ficam se mostrando e também admirando mutuamente pelos saberes que fazem circular...e me olham felizes e me escrevem bilhetinhos de carinho e afeto no quadro ou em papeizinhos ilustrados e me apresentam poesias de desmanchar o coração, com metáforas de fazer inveja a muito poeta consagrado! E eu me pergunto: este que escreveu esta doce poesia é o mesmo menino que antes estava ali, falando, explicando todos aqueles termos técnicos sobre como acessar a tal site e dali fazer isto e aquilo para resolver tal coisa... e que na hora do recreio corria e lutava e brigava por causa de um “frango” que o goleiro do seu time levara... e que na apresentação do tema livre falara dos aviões, como funcionam e, mais especificamente de um tipo de avião construído especialmente na II Guerra Mundial, peso, tamanho, utilidade, etc... A gente aprende o tempo todo. O mundo, a vida, as pessoas, os instrumentos tecnológicos (em rica variedade!), os acontecimentos,  informam, ensinam coisas. Mas isto não significa que eduquem. Para educar precisa disponibilidade, tempo, sensibilidade; estabelecer vínculo, implicar-se, refletir junto, escutar e conversar; importar-se e cuidar do sujeito inteiro; o que vai bem além das informações, sejam elas simples ou complexas. Educar demanda sentimento, respeito, delicadeza no olhar, na fala, na ação.

 

0 comentários:


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog