Mais um ano!


Domingo de Páscoa.
55 anos.
Um dia lindo!
A vida, um presente! 
A dor, em trégua:
espaço para o amor!
E ressurgi e
fortaleci com o
abraço e o sorriso
do que tenho de mais precioso,
meus frutos
ali, comigo,
meus presentes,
celebrando a vida!
Por amor, dá para atravessar
a morte e a dor
chegar do outro lado
perdoar e agradecer.
Recomeçar,
mesmo que diferente,
nunca mais do mesmo jeito;
mas talvez, melhor.

Num dia, exaltação, no outro...


Ouvir elogios é tão bom! Especialmente daqueles a quem a gente ama, com quem se compartilha a vida ou partes, pedaços da vida; cotidiana ou esporadicamente. O elogio impulsiona, fortalece, qualifica, reconhece, constrói e muitas vezes, salva. Mas o sincero elogio. Este que vem da alma, que não visa nada além do seu conteúdo.  Há elogios superficiais, enganosos e interesseiros.  São como sortilégios, nos encantam para nos distrair do seu verdadeiro foco e desejo: nos derrubar, ferir, destruir, diminuir, banalizar, “tirar o tapete”, ali adiante. Aprendi que elogiar é bom; mas tem que ser com moderação.  Eu elogio muito os meus alunos e filhos, nas suas produções; talvez eu exagere porque, por vezes,  eles me devolvem: “Ah, não vale, você sempre diz que está bonito”... Reconheço que meu primeiro olhar é sempre de acolhimento e de valoração ao que o outro faz; mas só falo se acredito. Muitas  vezes, o bonito ainda não aparece, mas sei, intuo que está ali e que mais um pouco, vai aparecer. E aparece!  Isto é diferente de mentir, de ser falso, o que equivale a dizer: falar sem sentir e acreditar. A escuta e o acolhimento a qualquer elogio, também exige moderação e cuidado. Aprendo e ensino que não se pode deixar dominar, envolver e perder a noção das coisas, diante de uma coisa boa que se faz; diante de um elogio, um reconhecimento ou seu oposto. Para isto, quem primeiro deve reconhecer nossas qualidades, capacidades e limitações somos nós mesmos. E um pouco de modéstia não faz mal a ninguém! Se ficamos feito marionetes, ao prazer da opinião dos outros, positiva ou negativa, perdemos a identidade e a noção da realidade. Gostei de refletir isto, hoje, Domingo de Ramos... À entrada de Jerusalém, Jesus foi aclamado, exaltado como rei pelo mesmo povo inconsciente que logo depois o condenou à morte, escolhendo Barrabás, um ladrão; quando Pilatos solicitou que optassem entre um e outro para libertar. O que aconteceu? Eles mentiam, estavam sendo falsos quando o aplaudiam ou simplesmente, nas duas situações estiveram inconscientes, massa de manobra, “marias-vão-com-as-outras”... sem refletir, sem coragem de assumir pensamentos, sentimentos, vontades... Esta insinceridade ou falta de clareza nos posicionamentos, custa caro. Na história bíblica, uma vida.

Semana Santa



Páscoa!!! Pronto! As gavetas da memória se abrem e me mostram uma lista imensa de imagens, sensações, cheiros, toques, cores  guardadas ali, bem vivas e intactas... Na infância, a mãe guardando as casquinhas dos ovos, que iam sendo usados no dia-a-dia, dentro de uma bacia; depois a compra dos papéis coloridos, fininhos e lisinhos como uma seda e que a mim pareciam mágicos... ficava observando, encantada, a mãe cortando as tirinhas, molhando na água, depois enrolando-as nos ovos e finalmente, colocando-os no forninho do fogão a lenha. E então, a maravilha! Depois de alguns minutos, ela retirava os ovos do forno: estavam coloridos e as tirinhas de seda, ressequidas e pálidas ao redor! Como num passe de mágica, a cor dos papéis passara para os ovos! Que alegria! Quanta emoção! Estes ovos apareciam, dias depois, nas nossas cestas, minha e dos meus irmãos, na manhã do domingo de Páscoa! Cestas que tínhamos que procurar, pois estavam escondidas em lugares inimagináveis! Que angústia para aquele que via os irmãos encontrando as suas, sem conseguir descobrir o esconderijo da sua... mas que alegria, encontrá-la e depois conferir o que estava ali dentro! Quanto bem, quanto alimento para a imaginação, para a alma! E eram coisas muito, muito simples! Mas o máximo, o super, para nós! Depois íamos na casa da vó Aurélia e lá sempre havia uma cestinha nos esperando, com alguns doces que a vó fazia e ovos, também coloridos; só que os da vó, eram ovos cozidos, que tínhamos que consumir logo! Gostávamos de pegar e quebrá-los na cabeça um do outro! Sabíamos que estavam cozidos!!!! Era uma delícia! Quebrar e depois comer! E a memória vai descortinando mais coisas: cheirinhos e sensações  capturados em algumas daquelas manhãs e que ficaram marcados, eternizados ali... grama cheia de orvalho, cheiro de capim; manhãs luminosas, com sol radiante, céu azul e um friozinho gostoso; abraços e sorrisos dos adultos queridos; família reunida para almoço e conversas prolongando-se pela tarde... O gosto do doce associado a estas coisas boas de proximidade, sensação de proteção, afeto, carinho, de pertencer a algo! Um pouco mais tarde... quando? Quantos anos depois? Não sei, mas a conotação religiosa em algum momento entrou. A igreja, o padre, os rituais. Muita gente erguendo ramos verdes, cantos, cheiro forte e doce, ao mesmo tempo (incenso) vindo junto com a fumaça que saía de um potinho (turíbulo)... domingo de ramos! As imagens da igreja cobertas com um pano roxo, escondendo algo, um mistério... a procissão, caminhada longa, pelas  “subidas e descidas” das ruas ligando as duas igrejas católicas da cidade... culminando com discursos exaltados dos padres e depois com a  fila, para beijar o Jesus morto, dentro da igreja. Dois depois, a missa triunfal da ressurreição; uma festa para o Jesus que “vivia de novo”! Quanta emoção diante de coisas que não entendia, mas que mexiam muito com meu mundo interior, minha imaginação.  Mais tarde, na juventude, tudo, gradativamente, teve uma outra conotação, com  o amadurecimento; com as informações, com a compreensão dos fatos históricos, da simbologia, das metáfora e dos mergulhos nestas questões filosóficas e espirituais; que tiveram sempre um lugar e marcaram a vida, em todos os momentos e contextos.  E deste tempo, muito vivas as imagens do grupo de jovens, dos amigos inesquecíveis; das nossas caminhadas, na sexta-feira santa, antes do nascer do sol, para colher “macela” (marcela para alguns); dos encontros, das reuniões, dos ensaios e representação da “Paixão de Cristo”; das reflexões e conflitos, buscando entender e “casar” as questões religiosas com as sociais, com a realidade, com as contradições que percebíamos nos discursos e práticas dos adultos e da sociedade... E a memória continua, lúcida e precisa,  trazendo recordações mais recentes, da vida adulta. Eu mãe, querendo oportunizar aos filhos, este mesmo encontro com a magia, a beleza; mesmos valores, ideais e ideias envolvendo a Páscoa... algo bastante difícil e quase infrutífero, porque os tempos são outros, com pouco espaço para encantamentos e “magias”; com muita racionalidade, muita realidade já para os pequenos; muito apelo para consumir, gastar, comprar pronto,  pular fases e incentivo para a reprodução precoce dos comportamentos, falas,  gostos e atitudes dos adultos. Muita secura, vazio, banalização e superficialidades povoando a infância destes nossos dias. Como foram importantes a fantasia e a imaginação nos momentos de brincadeira ou solidão e abandono de fato, ou somente a sensação ou o fantasma deles, na infância. Ajudaram a suportar, transformar, organizar, amadurecer  e enriquecer a vida. Semana Santa: santa de ser boa e especial. Boa de “coisas boas” para lembrar, fazer, experimentar, descobrir. Boa nas tentativas, no exercício de “juntar” passado e presente; vida e religião, matéria e espírito; corpo e alma; saudades e realidades; o possível e o impossível, o palpável e as sutilezas...  Especial de nos destacar como indivíduos, sujeitos únicos e insubstituíveis neste universo de tantas criaturas. A tal ponto de uma "divindade" vir até o nosso nível e dar a vida por amor a nós (independente de ter sido exatamente assim ou não, de ser realidade ou fantasia). Maior prova de amor não há. Quem ama sabe. Sabe porque dá a vida, a qualquer hora, em qualquer dia, num impulso, sem refletir, nem questionar, para o ser amado. Só depois que encontrei em mim mesma esta certeza e disposição em dar minha vida por aqueles que eu amo, se isto fosse preciso para que fossem felizes, ficassem bem; entendi alguns destes mistérios apaixonantes que envolvem a Páscoa. 

Coisas de ser feliz...


Lindo  o dia
que nasceu
menino feliz !
Chamando a gente
cedinho,
para acordar,
vestir  leveza
pegar o sonho
a pipa, o livro,
o chapeú
e sair por aí...
fazer coisas
de ser feliz!

Pausa


Tempo fechado
nuvens carregadas,
chove sem preguiça
decididamente.
Tudo quieto
só a chuva fala!
Fala, chora e canta
o que foi
e o que é.
Toda natureza
se cala e ouve...
Até o horizonte
fecha os olhos...
e por instantes
é só isto e mais nada:
círculo fechado
momento de pausa.
Só o tempo,
disfarçado
e silencioso
não para.

Coisas de quem ama


Nesta manhã chuvosa, propícia para uma conversa, um chá e silêncios preenchidos de cumplicidades; me encontro atarefada, um pouco ansiosa com tantas coisas para fazer e com o tempo restrito a me sussurrar que terei que fazer uma escolha (e rápida) entre o que preciso  e o que desejo fazer; pois não há maneira de conciliar... de repente escuto alguém chamando por mim. Puxa! Não queria falar com ninguém! Tão bom este silêncio! Ficar aqui, no meu cantinho, só com minhas coisas, por alguns minutos, por uma manhã... atualizar a vida comigo mesma; mesmo que sejam as coisas do dever as priorizadas. Logo identifiquei a voz do meu pai e seus passos um tanto inseguros subindo as escadas até chegar aqui, no mais alto do alto da minha casa, no meu esconderijo e refúgio, de onde tenho a visão de estar plantada no meio da floresta ao redor! Respirei fundo, tentando não imaginar nada; inutilmente, porque de antemão já vislumbrei a figura dele, ofegante, me fazendo alguma queixa ou solicitação de algo. Mas fui surpreendida! Ele chegou no topo da escada e entrou no recinto com as mãos estendidas para mim: - “olha aqui, minha filha, trouxe este lanchinho pra você”! Meu coração quase parou! Tamanha singeleza e ternura do gesto. Veio lá de baixo, da casa dele (que fica no meu pátio), subindo tantas escadas só para me fazer um agrado!  - “Não sei se você vai gostar, minha filha, mas eu trouxe este lanchinho pra você, sei que está trabalhando e não vai sair daí para comer”... eu o interrompi com um abraço! Feliz e tocada com o carinho inesperado e sentindo-me culpada pelos pensamentos anteriores. Agradeci muito! E ele saiu dizendo que eu merecia muito mais. Como pode isto? Estas coisas “pequenas-grandes” que de repente invadem a vida da gente, fazendo tanto bem e que não têm preço... fazendo a gente (re)pensar num sem fim de coisas... São coisas de pai, coisas de mãe, coisas de quem ama. Algo que entra e sai no cotidiano da gente, gratuita, despretenciosa e sutilmente; deixando sempre um perfume inexplicável de benquerer, de ternura, de calor na medida certa, como se fosse uma carícia na alma. Eu me sinto, agora, revigorada e amada. E é só o que preciso para seguir em frente; olhando para o dia, para minha vida e tudo que me é querido, com o coração arejado; a alma cheia de amor, ternura e poesia!

Um mundo ali...



Bonito demais
pousar o olhar 
ali fora,
ver as minúcias
e as grandezas;
o dia que nasce,
a flor à beira do lago
a chuva, o luar...
as relações
e as sutilezas!
Mas que coisa esta
tão grande,
tão mágica
de olhar dentro!
Fechar os olhos
e encontrar...
todo este mundo ali,
cheio de música
palavras,
sintonia,
teu abraço
tua mão
teu olhar!



Contornos


                   (Imagem: internet)
Dias econômicos
justos feito segunda pele:
não gosto!
Quando os minutos
de tão apertados
saem espremidos e ásperos
e na pressa,
sem um enfeite
sem uma cor.
Não gosto
da economia
de sons e alaridos
de movimento
e dos sentidos.
O momento apressado,
como roupa que encolheu
aperta, incomoda, limita;
os braços caem, vazios!
De horizonte, de mim
de ti, de calor...
Gosto dos dias frouxos
do desperdício do olhar
que se espreguiça
se espicha e se demora!
Das reticências e exclamações
que  “infinitizam”
o que se sente,
o que vai pelas entrelinhas
do único instante!
Das roupas largas
que, apenas e suavemente
contornam...
como uma carícia!


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog