Contemplo

Assim eu me sinto
brotando!
Espichando o olho
para ver o que
ainda não alcanço;
dentro e fora...
Sempre germinando
teimosa e perseverante!
Eu morro antes de morrer
e morrendo
já estou nascendo outra vez!
Me desmancho em mortes
e me reconstruo em brotações!
E já estive 
flor, fruto e semente
e agora, finalmente,
estou raiz
nas manhãs
que nascem gentis
das tempestades escuras.
Estas, não me amedrontam mais.
Eu contemplo!
E meus braços,
germinando,
abraçam a vida
e tudo que amo
e investigo!
E aqui, onde estou,
eu estou feliz.
E grata.


Ventania

O vento
chega rebelde...
Dança,
se bobeia
e faz pirraça...
Assusta, 
colhe reza e suspiros;
apavora!
Mas, na sutileza,
volteia,
refresca,
desnuda
acaricia
e resfria verdades.

Uma pombinha foi para o céu

       
         
       Iam dos dois, pela rua, o dindo e a pequena de três anos. Era domingo de Páscoa, uma tarde luminosa; transpirando benquerer. Procuravam um mercadinho aberto para comprar fermento; o dindo queria fazer um bolo. Momento: “invenções dindescas.” Encontraram? Claro que não! Imagina! Domingo à tarde e ainda Páscoa... nada de mercado aberto!!!! Mas encontraram algo, sim...
         - Vovó! A gente encontrou um passarinho morto, na rua!
     - E ela me disse: - “Dindo, vamos levar o passarinho pra vovó fazer um “reiquinho”, nele” ?  -  continuou o relato, o dindo.
         - É vovó... mas o dindo não quis trazer... eu disse pra ele que você cuidou e fez “reiquinho” pro passarinho Luano e pra galinha Magali e eles ficaram bons... –  ponderou a pequena, bastante chateada.
         - Expliquei pra ela que o Luano e a Magali só estavam machucados; por isto que os cuidados e o reiki da vovó deram resultado; mas que aquele passarinho, caído ali, na rua,  estava morto. Vimos até  bichinhos comendo ele... – completou o dindo.
         A vovó, então, na delicadeza do momento, confirmou a fala do dindo:
         - Verdade, querida! A vovó não pode fazer mais nada se o passarinho já está morto. Com certeza, ele já está lá no céu dos bichos, junto com os bichinhos que a gente gostava e morreram: o Bin, a Lisa, o Sig, a Chochô, a Lola... Mas que coisa bonita esta sua preocupação  com o passarinho!!!!
         Aparentemente, o assunto encerrara ali... mas, não!!!
         À noite, a vovó não conseguia dormir; lembrando do fato. Puxa! No domingo de Páscoa, sua netinha encontra um passarinho morto na rua, se preocupa com ele; acha que a vovó pode ajudá-lo e a vovó não fez nada; além de discursar?
         Na manhã seguinte, a pequena voltou e os três: ela, a vovó e o vovô,  foram dar a voltinha costumeira na quadra em frente da casa. A pequena ia feliz, pedalando sua motoca! Os avós, revezavam: às vezes ao lado, às vezes à frente, às vezes atrás...no ritmo da tagarelice e curiosidade infantil...
         - Olha só, vovô, um formigueiro! ... Ali ó, bem ali! ... Dá um empurrãozinho vovó, que ta pesado pedalar! ... Hiiiii! Que nojo! Um cocô! É de cachorro! Que feio fazer cocô na rua! ... Não pisa no cocô, vovô!!! Olha só, vovó... quanta sujeira na rua... quem será que jogou isto? É muito feio, né vovó?!!...
         - É sim! Quem jogou, ainda não aprendeu que o lixo tem que ser colocado no lixo... Ei! - de repente, a vovó viu uma possibilidade de dar um outro final ao episódio do dia anterior - Não foi neste caminho que você e o dindo encontraram o passarinho morto, ontem?  -  perguntou a vovó.
         - Foi, sim! Vem atrás de mim, vovó!  É bem longe!
         Rapidamente,  saltou da motoca e lá se foi, puxando a mão do vovô! A vovó, que remédio, seguiu atrás, carregando a motoca.
         “Bem longe” era logo ali!
         - Aqui, vovó! “Taqui” ele!!! “Taqui ele”!!! – e a pequerrucha apontava, orgulhosa por lembrar, o passarinho.
         Na calçada, quase no meio-fio, jazia o passarinho; na verdade, uma pomba. A vovó tinha um saquinho plástico. Vovô recolheu a pombinha e todos viram, então, muitos e muitos bichinhos, ali, comendo sua carne. A pequena se assustou e quis colo. A vovó amarrou bem o saquinho e voltaram para casa: o vovô levando a menina no colo e a vovó levando a motoca e a pombinha morta, dentro do saquinho.
         Em casa, a vovó e a pequena, do lado de cá do muro, acompanhavam a lida do vovô fazendo um buraco, com a pá, do lado de lá, dentro do mato, para enterrar o corpo da pombinha. O legal é que tinha, ali,  uma florzinha, um “beijinho” cor-de-rosa e foi bem juntinho dela, que  o vovô fez o buraquinho. Que lindo!
         - Agora ela não está mais abandonada, tem um lugarzinho. – disse a vovó.
         - Tchau, pombinha! – abanou com a mãozinha, a menina; muito séria.
         - Tchau, pombinha! Leva um beijinho para os bichinhos que estão lá no céu dos bichos... – acenou a vovó.
         - Vovó... se ela só tivesse um machucadinho, você  podia colocar a mãozinha em cima dela, rezar e ela podia ficar boa, né?
         - Se ela só estivesse machucada, podíamos cuidar dela, sim; com carinho, comida, remédio, “reiquinho”...  e ela teria a chance de ficar boa... às vezes, não adianta... mas a gente sempre tenta... – respondeu a vovó, “mexida” com as implicações e variáveis possíveis.
Mas a pequena já colocava um ponto final na história, encerrando o assunto e entrando, inteira,  num outro momento. No caso: um piquenique!
- Vovô, agora você “quenque” lavar bem as mãos! – sinalizou.
- Todo mundo vai lavar as mãos, sua danadinha! E este piquenique vai ser muuuuito legal! – riu a vovó, enchendo a fofa de beijinhos.
A Páscoa continua. Vida e morte, “uma nas pegadas da outra”, como dizem os sábios... Tudo vai se transformando, renovando, continuando de outro jeito. Vamos aprendendo que nem sempre podemos dar conta das demandas, das expectativas; mas de pequenos cuidadinhos, sim. Eles sensibilizam e aproximam. Constroem ninhos e laços.

Escolher e depois pensar?

         

     Um dia destes, em uma turma, numa quinta-feira antes da Páscoa...
Um aluno, com um manto amarelo, compenetrado, representava Pôncio Pilatos; outro,  de manto azul, um pouco envergonhado era Jesus e outro, sem manto, incomodado porque não gostou da cor que sobrara: rosa; Barrabás. À frente deles, povo inquieto, ansioso e barulhento: o restante da turma.
         Pilatos, acalmando o povo, levantando firmemente a mão direita, falou:
         - Gente! Como fazemos sempre, na Páscoa, agora vocês vão escolher entre dois prisioneiros, qual merece uma chance e ser libertado...
         Foi interrompido pelo povo:
         - Pi-la-tos! Tchã-tchã-tchã! Pi-la-tos! Tchã-tchã-tchã! Pi-la-tos! Tchã-tchã-tchã!!!
         Um pouco nervoso, Pilatos acalmou novamente o povo, que se mostrava cada vez mais inflamado.
         - Temos aqui,  Barrabás! Ladrão e assassino, condenado a morrer na cruz...
  - Barrabás! Tchã-tchã-tchã! Barrrabás! Tchã-tchã-tchã! Barrabás! Tchã-tchã-tchã! - zoou o povo.
            - E aqui: Jesus!
      Silêncio... o povo só na escuta, na contenção... prestes a explodir.
         - Olha... eu digo para vocês que não acho que este homem, Jesus, tenha feito algo tão grave que mereça estar aqui, mas já que ele está, vocês decidem. Quem vocês querem que eu liberte: Jesus ou Barrabás? –  falou Pilatos, lavando as mãos.
         E o povo explodiu:
         - BARRABÁS! BARRABÁS! BARRABÁS!
      - Mas e o que faço, então, com este Jesus? – Pilatos estava visivelmente decepcionado.
   - CRUCIFICA! Tchã-tchã-tchã! CRUCIFICA! Tchã-tchã-tchã! CRUCIFICA! Tchã-tchã-tchã!
         Aí, acabou o  1º ato.
Todos voltaram para seus lugares, no círculo; a aula continuou.  A professora pegou a palavra:
- Agora, vamos pensar e conversar um pouco. Quem  decidiu e escolheu libertar um e condenar outro?
- O povo! –  responderam unânimes.
- E quem, no domingo anterior, estava esperando com grande alegria, na entrada da cidade, Jesus; que chegava, montado num burrinho? Saudando-o, aclamando-o, aplaudindo-o; manifestando apreço, respeito e grande consideração a ele e seus feitos?
- O povo! – novamente unânimes.
     - Bom... mas o que será que aconteceu, então, para que este povo mudasse de opinião, tão rapidamente, em cinco dias?
Silêncio. Ah! Finalmente! Tão bom quando a resposta não vinha pronta,  na ponta da língua e eles se punham pensar...
- Acho que muita gente e o prefeito ficaram com medo de perder o poder! –  expressou um menino, pedindo a palavra, depois de um tempo. Dois ou três balançaram afirmativamente a cabeça, após sua fala.
- É... acho que eles tinham combinado isto, antes, com os soldados e algumas pessoas do povo... Foi uma farsa! – completou outro, sendo aplaudido por um número maior de colegas.
- E eu acho que eles não pensaram direito... – arriscou outro, um pouco inseguro.
Silêncio, novamente. Hum... algo ali, mexera! E por ali, a professora entrou, feliz! Orgulhosa com as hipóteses levantadas.
- Muito legal! Esta é a questão: pensar! Mas não com e nem pela cabeça dos outros. Com a nossa! Como estamos fazendo agora. E eu pergunto novamente:
- Quem vocês teriam escolhido, se estivessem lá?
Depois de algumas brincadeiras (normais, usuais) a resposta veio, em uníssono:
- Jesus, claro, né, profe!
E cada um justificou a escolha. Então a professora perguntou apertou:
- Mesmo com toda aquela multidão gritando por Barrabás?
Um silêncio mais prolongado e incomum se fez. Aos poucos, começaram a se posicionar;  mostrando-se muito convictos de que não teriam vergonha, nem medo de escolher pela própria cabeça, Jesus. Mas um, envergonhado, ficou em pé e falou:
- Eu acho que não teria coragem, professora, de escolher Jesus, no meio daquela gente gritando por Barrabás!
Todos olharam para ele; mas ficaram com seus pensamentos. Nada de riso, nem de reprovação, nem de comentários. A professora pensou no quanto era bela esta espontaneidade e sinceridade! No quanto era tudo de bom, num grupo, quando  a confiança construída possibilitava esta exposição e também o acolhimento de cada jeito de ser e de pensar.
- Bem isto, queridos! Pensar! Pensar é um ato de inteligência e de coragem. Uma coragem que a gente vai construindo, aos poucos. Não aceitar, acreditar, espalhar, fazer por fazer ou porque disseram que é assim. Mas sim, aceitar, acreditar, espalhar e fazer por convicção; depois de pensar, investigar, ponderar. Dificilmente a gente acerta sempre. Quando escolhemos, algo, sempre corremos um risco. Podemos errar; mas errar pela cabeça dos outros é pior. É mais doloroso!
Chegou o intervalo e a professora liberou para o quintal. Necessário este hiato. Brincando, correndo, conversando, lendo na biblioteca, subindo na árvore ou sentado num pneu, contemplando a mata... cada um processaria o vivido do seu jeito. Num outro momento, amadurecendo neste exercício ininterrupto  de optar entre isto e aquilo, na roda dos dias e das noites, atualizariam percepções.

Passagem

Caminhando
vemos as pegadas
dos que já passaram,
já foram.
Nós também vamos;
não do mesmo jeito
nem no mesmo compasso...
Mas vamos!
Um pouco sozinhos,
cheios de saudades;
uma parte partilhando,
cheia de valor.
Aprendendo e ensinando;
um pouco chorando
um pouco crescendo.
Por vezes buscando.
Certas épocas, semeando,
nem sempre colhendo.
Sonhando bastante,
suspirando flores e risos;
sofrendo  desilusões,
amando nas entrelinhas;
juntando pedaços,
acreditando,
investindo,
recomeçando
apostando,
trabalhando muito;
perdendo bastante.
Por vezes morrendo,
desesperançando
e outra vez 
ressuscitando!
Reencantando,
renovando...
Vivendo!
E deixando pegadas...
Nossas marcas no tempo!
Isto é belo!
É humano!
É passagem. 

"Muito brilho, vovó"!




Muitas vezes,
o brilho maravilhoso
de um dia,
como  o de hoje;
sua beleza e suas
possibilidades,
fica encoberto pelas ilusões
tragédias, desencontros,
dor, solidão, crises e egos...
e não o vemos.
É quando a desesperança
fragiliza olhar e juízo!
Mesmice, medo, secura, banalização
e perversidade ganham terreno!
Então, um brilho extra, por favor!
Por gentileza!
Do “pó de pirilimpimpim”
que vem pelas mãozinhas,
brilho do olho,
falas, demandas,
espontaneidade e afeto sincero
dos nossos pequerruchos!
E de abraços, beijos e escutas;
e de latidos e miados
de tantos e tantas criaturas que,
como as crianças,
enchem de brilho a vida da gente!    
Este brilho do contentamento
é vital!
Vital resgatar,
espalhar e cuidar:
- “ A gente precisa pôr muito
brilho, vovó! Muito, muito...
em tudo, tudo... Assim, ó...
como eu faço”!!!

Saudade


Saudade
irremediável
dos meus pedaços
em tantos outros,
longe de mim...
Culpa da cigarra
e seu canto apaixonado
neste entardecer
silencioso e cinzento...
Acorda minhas memórias,
meus sentidos.
Voltem, partes minhas!
Vamos para casa!
A noite é amiga,
boa ouvinte; confiável;
suas criaturas, delicadas,
cochicham
preservando a quietude.
Sinto que tudo
é muito maior do que alcanço...
Que há um véu...
(quase vejo!)
e que atrás dele
 todos estão ali!
Solidão, uma ilusão;
saudade, a verdade.

Outono


Outono!
Tempo (meu preferido)
de transição,
de olhar derramado e demorado
no horizonte;
de escuta atenta às histórias
sussurradas pelo vento
que chega, íntimo,
arrepiando a pele
tumultuando o coração
nomeando as emoções...
Na alma, reflexão
e aprendizados
acerca dos arroubos e paixões
do verão;
da exaltação dos sentidos
na primavera
e, do recolhimento e quietude
no inverno.
Maturidade.


Profe, você acredita no Coelhinho da Páscoa?

         


         Circulava entre os grupos de trabalho, mal contendo a alegria que me tomava e transbordava, ouvindo as conversas, o jeito como estavam lidando com as opiniões divergentes em relação ao texto, à ilustração, tipo de letra, de cor e de borda dos cartazes... De repente, um chamado:
         - Profe!
         Aproximei e o menino perguntou-me, baixinho:
         - Profe, você acredita no Coelhinho da Páscoa?
         - Claro!
         Ele sorriu! Eu sorri, feliz e liberta! E visualizei o laço! Sabe, um laço? Daqueles bonitos e perfeitos? Que a gente não tem coragem de desmanchar para abrir o presente? E, que muitas vezes, é muito mais bonito que o próprio presente? Bem este. Lindo! Senti o nosso laço aprofundar e embelezar, com esta nova cumplicidade estabelecida!
         Que delícia! Que oásis este imaginário que colore e dá suportabilidade ao cotidiano seco, bruto. Metáforas que embalam a infância e ficam atualizando doçuras quando tudo perde cor e sabor nas outras fases da vida...
         No real cotidiano, que não poupa nada, nem ninguém, nem as crianças e seus ouvidos e percepções sensíveis; cotidiano de profundos e inaceitáveis retrocessos, repetições e decepções;  de imediatismos; carência de respeito, paciência, renúncia, altruísmo e humildade para fazer o mea-culpa; de excessivo exibicionismo de força, falta de caráter, poder, hipocrisia, infantilidades e julgamentos, no mundos dos adultos... ah! Como cai bem um Conto de Fadas! Viajar  na melodia “Botei meu sapatinho, na janela do quintal”...  Encontrar, de manhãzinha, pegadinhas do Coelho da Páscoa sinalizando e encaminhando para estes pequenos,  inesquecíveis e acalentadores prazeres... que não têm preço! Não têm preço!!!! 
         Uma realidade, onde fadas, príncipes, bruxas, elementais, super-heróis acolhem, protegem, têm poder e resolvem todos os problemas, vencendo medos, monstros, o MAL.  Ah! Este mundo paralelo que alimenta e possibilita o sonho, a criação, a arte, a elaboração dos aprendizados, o ideal, o olho brilhante, o sorriso, o renascer, reconstruir e seguir em frente! Com encanto! Que não o percamos de vista! Ou, pelo menos, não o inviabilizemos às crianças.
          

Flor amada

Bela!
simples
única!
Solitária
mas íntegra
e fraterna
na função.
Te vejo, te quero, 
te absorvo, admiro
com o que alcançam
meus olhos
sentimentos
limites
e sensibilidade.
Há outros
olhares e alcances:
o dos outros,
emprestados;
mas não os quero.
Não seria eu.
Vou devagar...
Contemplando
e refletindo...
Aprofundo e
cada vez mais
distancio
do senso comum.
Partilhar saber
enriquece;
informação,
embrutece
atordoa.
Atordoada, não te vejo!
Não te sei.
Mas isenta,
na solitude do
pensamento,
no vazio  da paixão
te encontro!
Te escolho ou rejeito;
me expresso!
Amor, emoção, ação sentida
não dirigida.
Te amo!

Longe de mim

O entardecer
se reinventa para mim,
me convoca...
e eu me procuro!
Escondi-me bem, desta vez!
E me estranho, debato,
longe de mim...
Os ventos sopram!
O que é leve,
desliza;
o que é pesado,
vai arrastado...
e tudo termina
num abraço
ali, entre os morros,
no horizonte próximo!
Não estou neste entremeio.
Mas em algum significante
devo estar... Claro... aqui,
neste vale verde, colorido,
belo, mas áspero!
Onde?
Se a noite chegar
e não me encontrar
seguirá, certamente
sem brilho!
E eu , presa entre vazios,
assistirei o desfile, interminável,
das sombras sem nome.

Eterno feminino


O feminino encanta!
Elas e sua nomeação!
Substantivos fortes...
concretos, abstratos,
comuns e próprios!!!!
Encantam na singularidade,
no maravilhoso plural
e nos significantes!
Flores! Borboletas! Fotos!
A  beleza, a gestação, a Pátria,
música,  a poesia, a ternura, a justiça,
a noite, a alegria! Festas! Comunidade!
A casa, a família, mães, avós, a natureza,
A amizade, a educação, vitória, liberdade!
A imaginação! A arte! A saudade!
A saúde! A criação! 
As mulheres!
Estas que vêm parindo 
e tecendo sementes,
força e espaço; voz e vez
encanto e espanto... valor...
incansáveis, no tempo e na história...
Como as TEREZAS e DULCES,
doces e sutis,
deslizando, necessárias e entregues
aos doentes, famintos, desvalidos...
Como as ZILDAS e MELÂNIAS,
doando tempo e vida
para que outros não percam a sua;
vendo sujeito e potencial
onde ninguém vê;
oportunizando o acesso
ao SABER e ao SER...
sem comparar, sem discriminar!
Como as MALALAS, jovens destemidas,
idealistas, que articulam discursos
e lutam e gritam seus direitos
contra balas covardes e assassinas;
contra ameaças machistas e arcaicas!
Como as CLEÓPATRAS, lindas, sedutoras;
estrategistas e poderosas! Políticas!
Sem medo de assumir
e lidar com o poder!
Desbravando; encontrando
novos caminhos!
Como as DANDARAS
guerreiras incógnitas,
que levam na carne, marcas
da resistência ao preconceito:
de cor e de raça!
Como as ANITAS! As JOANAS!
estas apaixonadas,
destemidas, arrojadas...
Que se lançam, corpo e alma,
em batalhas, movimentos, causas;
companheiras; cúmplices;
em quem se pode confiar.
Como as MARIAS  DA  PENHA,
as que dão a volta por cima!
Que transformam o
cotidiano de violência,
menos-valia e desrespeito
em dignidade; em palavras,
em leis de proteção!
E como todas NÓS, OUTRAS!
Mulheres!
De todas as cores, tamanhos,
formas, peso, formação,
estado civil, profissão....
Um exército de mulheres!!!!
Que faz história silenciosa,
numa diversidade ruidosa!
As que vivem por viver,
amam por amar!
Que se debatem,
avançam, mas
ainda se submetem!
As que não correspondem
aos padrões
de estética, ética,
etiqueta ou gramática!
As que seguem
mesmo sem escuta;
que insistem, perseveram
mesmo excluídas, desamparadas!
Mulheres que perdem filhos,
amores, viço, saúde
tempo, pudores, doçura e fé
em busca de um lugar.
Que gestam por querer;
por prazer
e também sem querer,
mal amadas; mal tocadas.
As poetisas,  musas,
intelectuais, delicadas, rudes,
sem modos, rebeldes, decididas;
as fluentes na fala,
no querer
e na arte do amor e da dor;
as abandonadas, traídas, rejeitadas;
as "modelos", amadas, queridas;
as silenciosas, esquisitas
as impacientes e as preguiçosas!
As simples e as complexas!
As românticas e as "pé no chão";
as que pintam e bordam;
as que espalham alegria;
as que cuidam dos jardins,
fazem cortinas e
enfeitam janelas...
Mulheres!
Ao longo da história,
ao lado.
Será que alguém ainda não viu?
Sempre ao lado.
Companheiras,
agregando.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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