Aniversário do Blog




Sempre atrás deste desejo
de transformar em palavra,
o instante capturado
e de  partilhar, celebrar contigo,
que está aí, do outro lado!
Não dou conta,
é evidente,
nem da demanda,
nem da forma,
nem do talento,
mas eu tento!
Eu me lanço,
entre ansiosa,
apaixonada,
insegura e
resistente!
Mas feliz
nos extremos,
a cada ponto final,
sempre!



O aniversário da Bombom

     


     
      O dia amanheceu lindo! Os verdes e a luz entravam pelas janelas, convidando para algo especial!!! E “o especial“ chegou! Entrou pela porta; num braço a Bombom e no outro a mochila.
- Vovó! Hoje é o aniversário da Bombom!  Vamos fazer uma festa?
- Claro! E o que faremos para esta festa? – falei, derretida, abraçando menina e boneca.
- Primeiro vamos fazer docinhos, vovó! De massinha de modelar. Trouxe de casa!
- Certo. Vou colocar uma toalha na mesa para fazermos  os docinhos...
- Não, não, vovó! Vamos sentar no chão. É bem melhor! Senta aqui comigo. Não vai sujar nadinha. Faço lá em casa...
- Querida, a vovó prefere fazer na mesa, para poder sentar. Estou com dor nas costas, Maria!
- Ah! Vovó! Senta aqui que a dor vai passar! Vai ver só!!!
E não é que passou, a dor?!!! E o tempo também?! Perdi a noção das horas fazendo bolinhos e docinhos com os apetrechos que ela trouxera! Massas coloridas; engenhocas para apertar e modelar formas de todos os tipos: grandes, pequenas, grossas, finas... gente! Que delícia!!!! Eu não queria parar de produzir... Mas a mãe da aniversariante tinha outros planos.
- Agora preciso fazer um bilhete para a minha filha. Você precisa me ajudar, vovó.
- Quer parar de fazer docinhos? Então temos que guardar o material, antes de fazer o cartão.
Ajudou-me a recolher restos de massinha e limpar o chão. Outros materiais vieram: lápis, canetinhas e folhas...
- Quero escrever “TE AMO! UM  BEIJO, FILHA”! Como faz  vovó?
Estava ouvindo direito? Ela queria escrever de verdade?!!! Achei que iria fazer um desenho, escrever o nome... e que diria algo para eu escrever...  Tenho pensado nisto, ultimamente: como será que ela irá percorrer este caminho da construção da leitura e da escrita? Vou participar? Como? Ela vai gostar? E como eu vou me portar?  Respirei e procurei agir como faço com os alunos, com tranqüilidade. Alfabetizei alunos, filhos; mas uma neta... primeira vez!!!!
- Você tem que fazer do seu jeito, querida! É para sua filha!
- Ah! Mas eu não sei escrever, ainda, vovó! Me ajuda!
A emoção foi me tomando! Coisa linda este momento! Revivê-lo, agora com minha neta!!!! Bom demais!!!!!
- Bom... então vamos lá... Como será que se faz o TE...
Ela me olhando, compenetrada, decidida, confiante! E então fui pronunciando cada palavra pausadamente; destacando e exagerando a emissão dos sons e ela foi associando com o que sabia e registrando... Evidentemente que já viu o alfabeto em sala de aula; que brinca, joga com as letras e que já conhece uma boa parte delas; mas daí a partir para uma escrita mais formal... me pareceu precoce; mas fui acompanhando; procurando dominar a ansiedade e a alegria intensa!!! Algumas associações foram difíceis, especialmente em relação ao F, J e H. Dei uma ajuda... e bateu uma dúvida... queria separar a profe da vó... foi difícil... é que tenho muito cuidado, muito respeito para com esta construção... para não forçar; para não tirar o prazer da descoberta... Mas foi!!!! Fiquei muito emocionada com este fazer e com o resultado!!!! Muito mais com o fazer do que com o resultado!!!!  Ver minha netinha neste processo de registrar o sentimento, o pensamento, com interesse e prazer, foi algo imensurável!
- Agora chega, vovó, já está bom! Vamos arrumar a mesa? Tem uma vela, vovó? Precisa...
Assim! Assim as crianças lidam com as coisas! Simplesmente. Cada coisa num momento. Cada momento inteiro, intenso... e deu! Desprendem-se dele, entram em outro, voltam...muito tranquilas!
A mesa ficou linda! Bombom foi homenageada de várias formas! Com doces, cantorias, bilhete, abraços...  E eu só curtindo...
Ô vida boa!!!! De boneca e de vó!!!! Delícia de aniversário!!!!!







Os manos e a Tata



Eles me chamam de Tata, desde pequenos, os meus irmãos. Eu gosto. 
-“Tata! ...” -  ouço e me volto para eles e neste movimento, através deles vejo o nosso passado. Nossa vida em casa, juntos. Tudo tão intenso, um pouco tenso naquele cotidiano longínquo... muitos detalhes, encontros, ausências, afinidades, solidão, conflitos, medos, afetos e parceria, distanciamentos (diferenças na criação; eles guris, eu guria), silêncios, confidências e confiança...
Bonitos, os meus irmãos! Homens fortes, “durões” (só na casca!), lutadores, sérios diante das coisas da vida; de abraço amoroso, de olhar terno, coração derretido, sorriso largo, divertidos; buscando essencialidades; tentando ser melhor naquilo que percebem, conseguem, desejam. De alma sensível, do BEM. Com cada um deles, uma proximidade, cumplicidade e lidança diferente!
Uma irmã teria sido mais próxima e terna para comigo do que eles? Não! Por isto deixei de desejar uma e passei a desejar uma filha.  
Reencontros fundos, ao longo do tempo, tivemos: eu e meus irmãos; estas queridas partes importantes da minha vida! Carinho que muitas e muitas vezes me faz falta no cotidiano... ”Tata”, expressivo e doce elo fraterno; nó que nos enlaça! E no qual gosto de estar! Que me fortalece!

Já vivenciamos grandes hiatos; mas em momentos duros, quando um e outro precisou, um de nós estava lá e se importou! E quando o pai precisou, todos estávamos lá!  Todos em “UM”; voz embargada, olho lacrimejante, coração pulsante,  transbordante, cheio de esperança e gratidão!!!! Os manos e a Tata estavam lá, juntos.




Papai Noel




Fechávamos a roda para iniciar a última noite da novena familiar, antes da ceia de Natal, quando ouvimos as palmas... Em seguida, as calças vermelhas descendo a escada, mexeram com todos! E, antes que toda figura ficasse visível, todos já sabíamos quem era a visita inesperada!!!! Risos, gargalhadas, emoção, gritinhos, vivas, saudaram o Papai Noel! E só havia uma criança no grupo!!!!
No momento, pensei que era a primeira vez que o Papai Noel visitava minha casa. Estava emocionada! Sabe aquela emoção que amolece as pernas; provoca um vazio na boca do estômago e riso nervoso? Esta. Ah! Papai Noel não tem nada a ver com consumismo! Só para quem quer.
 Como seria a vida sem estes rituais e momentos de magia, quando o imaginário enche tudo de brilho, alegria?!
Durante a novena, nosso curto tempo de advento, nove dias; tivemos em mente e presente, nosso momento, nossa fragilidade; nossos medos, sonhos e desejos. Nossa vida pessoal e comunitária. E ambos: nosso pequeno e particular canto nesta nossa grande casa, o planeta! E nele, o Pai, a Mãe e os nossos irmãos. Uma imagem que eu gosto! De repente, os outros, também.
Nesta última noite, véspera do Natal, para acrescentar e aprofundar os significantes anteriores, especialmente o da noite anterior, sobre a “semeadura”; tínhamos a frase: “ se for possível, no que depende de vocês, vivam em paz com todos”... Interessante! Parece que, quando se fala em paz, subentende-se encontrar o mundo em paz para meu deleite... Como se a paz viesse de fora e do outro... que ele não me perturbe, por favor! Não me provoque, não faça demandas, não me frustre; não “encha o saco”; não faça guerra; não me decepcione! Mas e se for ao contrário: o quanto depende de mim, a paz???
E então o Papai Noel chega e traz aqueles presentes: sementes! De flores! De amor-perfeito!!! Deixando, também de presente, para quem quisesse, uma reflexão sobre toda simbologia e significantes que sementes e flores têm para cada um...
 
Então, o amor e a paz que eu quero, tenho que semear e cuidar? Ah! Papai Noel... não era mais fácil termos feito o “amigo secreto”?
Então lembrei que um dia já tivemos a visita do Papai Noel, em casa... Anos atrás, quando os filhos eram crianças... Naquela noite, o Ximitão, de cabelos já branquinhos, foi vestido pelos netos... o desejo e a fantasia produzindo magia através do benquerer! E o presente? Era a alegria e a entrega do vovô!  Ele e cada um, um presente especial para o outro!
Presentes especiais, a gente ganha, mas nem sempre percebe, nem sempre cuida... alguns deles, são delicadas sementes que precisamos cultivar com afinco e sutileza...

Semeia

Canta
e semeia!
Fala
e semeia!
Ri e
semeia!
Chora
e semeia!
Leva cacetada
e semeia!
Semeia na revolta,
semeia na decepção!
Semeia na alegria mais profunda,
na tristeza mais escondida!
Semeia na saudade insuportável,
no benquerer absoluto!
Semeia na dor mais aviltante,
e diante da incompreensão absurda!
Semeia na rasteira
mais inesperada!
E diante da mentira mais deslavada!
Semeia no silêncio da madrugada
e na luz do dia,
na festa, na rua,
na fila longa e apertada!
Agora,  olha para trás!
Veja os "amores perfeitos"
ou "quase perfeitos",
(levando em conta que 
não somos perfeitos!)
brotando, germinando,
florescendo!!!!
Valeu a pena
não morrer!
não desistir!
não se entregar!
Valeu a pena acreditar!!!!




Marcas

Somos  marcados
pela passagem do tempo;
pelas   presenças e
também pelas ausências.
O tempo marca por fora e
marca por dentro.
As marcas de fora provocam as de dentro,
as de dentro transformam as de fora!
Dois jeitos de olhar para elas:
um, com lamento e com piedade
pelo que não foi e
poderia ter sido;
pelos dias que escoaram por
entre as horas e sonhos fugidios.
Outro, com  ternura e compreensão
pela vida vivida, assumida
esculpida pela paciência, reflexão
e compaixão.
Elas lembram os risos que demos ou que
reprimimos.
O que choramos ao mundo e o
que escondemos.
O que pensamos, fantasiamos 
até que  aprendemos.
Bonita vida!
Com marcas dos encontros
de amor e de dor
em  estradas sinuosas.
Bonita vida!
Com  marcas de
aprendizados essenciais
tropeços e recomeços
delicadezas e sutilezas.
Algazarras, murmúrios
e silêncios preenchidos.
Bonita vida!
De trabalho, de luta
cotidiana para conseguir
e manter o espaço entre tantos
sem perder a ética, os ideais
e a dignidade.
Bonita vida!
Com estes belos frutos,
os melhores, os especiais
e únicos:
os filhos, os amigos
e um amor!
Marcas  sinalizando
dentro, muito dentro
o lugar singelo
onde o pai, a mãe e o menino
no  presépio interior
aquecem, significam
e marcam
nosso aprendizado
com o fogo do amor.



Confiar


Confiar! Que bom que ao final de um dia ou de um ano, podemos encontrar e nomear pessoas em quem confiamos ou que confiam em nós! Num cotidiano volúvel, permeados de relações descartáveis, interesseiras, mascaradas, desrespeitosas, sem cultivo, sem cuidado; confiar e mostrar-se, de verdade, torna-se cada vez mais difícil. Enganar é mais fácil. Tudo conspira para isto...
 E é vital confiar. Em algum momento, temos que decidir se vamos nos entregar e confiar; se queremos ser confiáveis ou não. Isto, depois de escolhido, é pra sempre! Mesmo que o amigo vire inimigo: um dia, confiou em você! Te deu algo para guardar: um objeto, um sentimento, um segredo, uma queixa... e você tem que continuar guardando. É muito sério. E se aprende na infância, como a maioria das coisas.
Se não aprendemos enquanto criança, podemos aprender com uma criança!  Se a gente permite ou se permite falar menos e ouvir mais; reagir menos e observar mais; responder menos e perguntar mais e uma série de etc... aprendemos com as crianças o tempo todo! Com suas ações, falas e associações encantadoras, oportunizam reflexão, mudança, sensibilização, humanização, crescimento e muita, muita alegria!
É maravilhoso redescobrir\“reesperançar”\reencantar na interação com as crianças e com aqueles que, conosco, se permitem aprender com elas ou como elas!!! Com suas ações, falas e associações singelas, encantadoras, oportunizam reflexão, mudança, sensibilização, humanização, crescimento e muita, muita alegria!
2016! Eu me despeço e agradeço! Obrigada pelos laços de confiança que durante teu percurso pude estabelecer e aprofundar. Eles me fortaleceram, levantaram, acarinharam, vibraram dentro de mim; alimentaram e mantiveram a minha esperança!






Um conto de Natal

             

           O andar do velho era lento. Ele arrastava-se de norte a sul, de leste a oeste com dificuldade não só para caminhar; também para respirar. Estava abatido, fragilizado, mal cuidado. Mas via-se, olhando com atenção que não era tão velho assim. Havia outros muito mais velhos do que ele, com certeza. E seus traços eram bonitos. E seu corpo, grandão, denotava força, embora, no momento, inspirasse fragilidade.
        Eu o conhecia. Tinha respeito por ele; aprendera a amá-lo. Eram admiráveis e incontáveis os seus talentos! Criativo, acolhedor, generoso; gentil... Teve muitos filhos. Nem todos fiéis, nem todos agradecidos e nem todos de bom caráter. E todos estes, sem escrúpulos, o fizeram sofrer e penar, assim como aos outros irmãos; com traições, mentiras, torturas, exploração, roubos, hipocrisias, difamações, brigas, violência, falcatruas e tantos outros delitos.... 
        Ele estava cansado. Todos os dias, novas e mais desilusões, desgostos, denúncias, cobranças... uma tristeza foi tomando conta dele, um desânimo; não conseguia mais reagir, se reerguer; tanto que alguns descendentes, o pessoal da nova geração; já não sentia admiração e nem orgulho dele; não tinha interesse na sua história, seus costumes, tradições, ensinamentos.
        Numa manhã, ele agonizava entre anúncios e denúncias de golpes; balas perdidas, hipócritas de plantão e um sem número de marias-vão-com-as-outras; que o atacavam sem piedade... Era o fim.
        Mas não.. Era Natal! O riso e o olhar brilhante  de jovens, trazendo nas mãos as cores que ele mais amava; os pratos com os alimentos que ele mais gostava; faixas com a sabedoria que ele adquirira nas partilhas e misturas e, trazendo ainda, na palavra cantada, a história vivida feita de sangue, suor, trabalho, luta, resistência e amor e tantas cores; fez seu coração acelerar e, quando ele ouviu, em uníssono e verdadeiro:
        - Eu te amo, meu Brasil!
        .... ele se reergueu! Vestiu-se com suas cores, alimentou-se com seus valores! A força voltou a percorrer e palpitar suas veias, seus rios, suas florestas, o solo e o coração dos filhos mais queridos! A estrela brilhou! Era Natal! O gigante renasceu, feito um menino, que olha para o mundo com encantamento, esperança e alegria! Confiante no bem que cada um pode mobilizar dentro de si!
       É  Natal! Eu te amo, meu Brasil! Eu renasço contigo!



Domingo

Labaredas
se enlaçam
brincando entre as brasas.
Uma neblina antecipa a noite...
A chaleira chia sua quentura
e chama, fervorosamente!
A máquina de lavar
não conhece discrição
vai lavando roupa suja
sem medir o tom.
Longe, um comentarista
esmiúça uma partida de futebol,
não se sabe onde
e nem para que ouvinte.
Quem se importa?
O entardecer de domingo
pertence aos refugiados!
A estes desamparados
que chegam, ao entardecer,
de mãos vazias, 
expulsos do prazer esperado,
embutido nas promessas e deleites,
que horas que não passam,
fazem no cotidiano.
Lá se esvai mais um domingo
sem revelar seu segredo:
a que veio?
Ah! Talvez, domingos não sejam
para deleites ou descansos
mas para hiatos.
Quebras. Desmanches.
Morte da ilusão, da falácia,
do sonho, da fantasia, do ego..
È de chorar, no entardecer...
E ver que do choro, 
de pouquinho em pouquinho,
nasce a noite
e dela, a luz! E daí...
A esperança!
Linda!  Cheia de planos...
Vaidosa! Trazendo
belos trajes diferentes,
enfeitados de incógnitas 
e descompassos...
Um para cada dia,
menos para o domingo;
onde tudo deságua,
onde tudo se junta
tudo se acaba
tudo recomeça.
Um chá de anis,
por favor!
Eu e minha alma
precisamos deste carinho
e deste calor,
para tratar de recomeçar!



Sonhos


As tragédias, as perdas, a morte nos fazem experimentar vazio e incredulidade. Sempre nos apanham de surpresa. Sempre nos deixam sem fala... e com incontáveis questionamentos. Este ponto final que vemos sendo colocado, sem consentimento, no texto de vida das pessoas em geral e dos nossos queridos, é desconcertante! Expõe nosso limite e impotência. E fragilidade. A história não estava pronta! Mas acabou.
 O fim nos remete ao começo. A morte nos faz pensar na vida!
- O que fiz com a minha vida? Eu tinha um sonho? Sonhos? O que fiz com eles?
A morte não quer saber. Não lhe interessa em que parte estou da minha história... o que eu queria fazer depois que...  amanhã... no futuro... quando houver tempo...
Um dia destes, perto do meio dia, a galinha Brigite curtia seu momento de lazer. Fora do galinheiro, ela inspecionava os ambientes ao redor de casa; subia e descia as escadas e planejava entrar na cozinha quando eu a impedi. Maria Margot, observando, disse, calmamente:
        - Vovó, não fica brava com a Brigite! Acho que este era o sonho dela.
        - Qual sonho?  - pergunto, bem interessada.
        - Ora, de entrar na tua casa! Você não sabe que todo mundo tem um sonho, vovó?
        - Bem... acho que sim... você também tem um sonho? – investigo, mais do que interessada: curiosíssima!
        - Claro, né, vó...
        - E qual é o teu sonho, querida? – aprofundo, já com os olhos embaçados...
        - Ah! Vó... eu quero...
        E falou do seu sonho. Um belo e simples sonho de criança e de momento! Nisto, chegou o vovô. Sentamos à mesa para almoçar. Ela continuou:
        - Agora, gente, antes do almoço, cada um vai contar o seu sonho! Eu já contei o meu. Agora vamos em ordem: primeiro o vovô e depois você, vovó...
         Como ficam dois adultos travados, diante da espontaneidade e simplicidade de uma criança de quatro anos? Onde, rapidamente, buscar nossos sonhos? Onde encontrá-los, escondidos e abafados que estão por este cotidiano cheio de pressa, necessidades, demandas, asperezas, superficialidades, realidades dissonantes, confusas; mal estar, inseguranças, hipocrisias e desencontros? E desencantos?
        Lembrei da formatura do Leo, meu sobrinho, ocorrida há poucos dias... Lá, num dado momento, nos entremeios dos discursos, do fundo do salão surgiu um (personagem) velhinho “beeeeeem” velhinho, corcunda, caminhando com dificuldade; apoiando-se numa bengala. As luzes todas se voltaram para ele e o silêncio que acompanhou o seu caminhar até chegar na frente, onde estavam os formandos, foi fundo. Foi fantástico! A sua figura contrastava com o contexto, fortemente! Talvez, se eu desejasse, poderia ouvir a respiração ou a pulsação de cada um ali presente... mas eu não estava focada nisto e sim, naquela imagem belíssima e de opostos: os jovens e o velhinho. O velhinho não parecia ser um familiar de alguém ali presente. Estava com um propósito. Qual?
            Ah! Viera falar de sonhos! Simplesmente! De sonhos! De tê-los bem claro! De exaltá-los! De perseguí-los! De cultivá-los! De protegê-los! De não abandoná-los! E caso isto aconteça: de resgatá-los!
        O velhinho, diante da platéia, avaliava os sonhos que tivera na juventude e confessava que ainda tinha sonhos! E viera estimular o sonho dos jovens! O sonho, o combustível da vida! Em qualquer tempo, idade.
        Naquela noite de formatura, o velhinho deu uma sacudida na minha história, acordando um sonho. Ontem, a pequena, minha neta, convocou este sonho! Logo depois, o frei, num ritual de fé, refletindo sobre a tragédia ocorrida com o time da Chapecoense e acompanhantes, que voava atrás de um belo sonho; disse, entre tantas coisas bonitas sobre este mistério terrivelmente surpreendente envolvendo a vida e a morte: - “nós precisamos alimentar esperanças e sonhos”... 
        E o meu sonho, todo faceiro, brilhante, espiou atrás da emoção e do choro! Fortaleceu, de repente! E quer, agora, “pôr as manguinhas de fora”! Espaçoso e maroto, olha para meu coração, meus olhos brilhantes e dá umas piscadinhas, terrivelmente sedutor e urgente; cheio de vida:
- Abre um espaço, aí, pra mim! Agora!!!




Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog