Um conto de Natal

             

           O andar do velho era lento. Ele arrastava-se de norte a sul, de leste a oeste com dificuldade não só para caminhar; também para respirar. Estava abatido, fragilizado, mal cuidado. Mas via-se, olhando com atenção que não era tão velho assim. Havia outros muito mais velhos do que ele, com certeza. E seus traços eram bonitos. E seu corpo, grandão, denotava força, embora, no momento, inspirasse fragilidade.
        Eu o conhecia. Tinha respeito por ele; aprendera a amá-lo. Eram admiráveis e incontáveis os seus talentos! Criativo, acolhedor, generoso; gentil... Teve muitos filhos. Nem todos fiéis, nem todos agradecidos e nem todos de bom caráter. E todos estes, sem escrúpulos, o fizeram sofrer e penar, assim como aos outros irmãos; com traições, mentiras, torturas, exploração, roubos, hipocrisias, difamações, brigas, violência, falcatruas e tantos outros delitos.... 
        Ele estava cansado. Todos os dias, novas e mais desilusões, desgostos, denúncias, cobranças... uma tristeza foi tomando conta dele, um desânimo; não conseguia mais reagir, se reerguer; tanto que alguns descendentes, o pessoal da nova geração; já não sentia admiração e nem orgulho dele; não tinha interesse na sua história, seus costumes, tradições, ensinamentos.
        Numa manhã, ele agonizava entre anúncios e denúncias de golpes; balas perdidas, hipócritas de plantão e um sem número de marias-vão-com-as-outras; que o atacavam sem piedade... Era o fim.
        Mas não.. Era Natal! O riso e o olhar brilhante  de jovens, trazendo nas mãos as cores que ele mais amava; os pratos com os alimentos que ele mais gostava; faixas com a sabedoria que ele adquirira nas partilhas e misturas e, trazendo ainda, na palavra cantada, a história vivida feita de sangue, suor, trabalho, luta, resistência e amor e tantas cores; fez seu coração acelerar e, quando ele ouviu, em uníssono e verdadeiro:
        - Eu te amo, meu Brasil!
        .... ele se reergueu! Vestiu-se com suas cores, alimentou-se com seus valores! A força voltou a percorrer e palpitar suas veias, seus rios, suas florestas, o solo e o coração dos filhos mais queridos! A estrela brilhou! Era Natal! O gigante renasceu, feito um menino, que olha para o mundo com encantamento, esperança e alegria! Confiante no bem que cada um pode mobilizar dentro de si!
       É  Natal! Eu te amo, meu Brasil! Eu renasço contigo!



 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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