Não esperar

Não esperar.
Aprender a respirar;
aceitar
o dia e a noite
como chegam.
As cores
como combinam;
os ventos
como dançam;
a chuva como canta;
tua palavra
quando quer.
Guardar, proteger
uma só faísca
para que
se um dia chegar,
haja luz!
Calor!
A vida pulse e
retome seu curso.

Futuro do possível


Ah! Se o futuro do pretérito
não existisse...
Sol! Presente!
Alegria! Presente!
Cantoria! Presente!
Saudade! Passado!
Medo! Passado!
Culpa! Passado!
Tempo! Futuro!
Escrever! Futuro!
Pousar... Futuro!
Futuro do presente,
do possível.

Música...

Música...
a liberdade
da alma!
Seu voo
mais alto!
Intercecciona
aproxima
reconcilia
apazigua
eleva
e ainda, além,
muito além,
nas regiões
mais douradas
e sublimes
dos universos
exalta
o meu amor!

Um ninho

E hoje é domingo de Páscoa.
Cheiro de vó,
gosto de mãe,
sons da infância
mágicos e incompreensíveis.
Imagens doces do
“ ninho” cheio de palhas,
dos ovos cozidos, pintados,
da surpresa! Do inesperado!
Onde estaria escondido,
o “ninho”?
O que haveria dentro?
Esta era a magia:
o não saber,
o esperar,
o imaginar. O procurar.
Por isto gosto tanto da palavra “ninho”. É mais bonita do que “cesta”. Mais profunda. De maior significado. Cesta é depósito. Bonita, mas artificial, fria, a gente pode comprar, objeto. Ninho a gente faz; é lugar preparado de dentro pra fora com o conteúdo da gente, a cara da gente, a energia da gente. É lugar quentinho, amoroso, acolhedor. Um útero, um colo, um abraço. Pode ser uma casa, um lar. Um altar! Hoje crianças, adultos compram, recebem, escolhem "cestas" e o que vai no seu interior; mas é porque, tristemente, perdemos ou abandonamos muitas palavras e o seu significante. No fundo, se soubessem como expressar, pediriam um “ninho”, porque, salvo exceções, é sempre um ninho que a gente quer... um ninho! E tudo que ele pode representar para cada um, em qualquer momento da vida.  

Voo único


No alto,
a folha desprendeu-se
amarelinha que estava
e flutuou no espaço.
Único voo! Lindo!
O da despedida.
Pousou nos braços
da mãe terra
adormeceu feliz.
Missão cumprida.
Assim me sinto
sempre que
pouso no teu abraço.

Presente na Sexta-feira Santa

Algumas coisas a gente nunca esquece. E elas se atualizam num instante, quando algo, no presente, evoca. Hoje, passeando pela cidade com familiares, vimos o palco montado e grande movimentação nos jardins da paróquia central e nos aproximamos. Um grupo de jovens encenava a paixão de Cristo.  Quando o espetáculo acabou, os jovens sorridentes, abraçados, no palco, tiravam fotos. Acompanhei cada ato com grande emoção. Não só pelo conteúdo, mas muito mais pelas lembranças que tomaram meus pensamentos e sentimentos. O esmero e a alegria dos jovens no palco foi aos poucos se misturando com as lembranças do trabalho e do riso de outros jovens, num outro tempo, há mais de trinta anos atrás, numa mesma situação... No porão da paróquia, nós, um grupo de jovens de 14 a 17 anos, encontramos ali, por alguns anos,  um espaço para conversar,  expressar, exercitar e partilhar, buscas, sonhos, inquietudes, medos; misturando curiosidade, religiosidade, conhecimentos, críticas e questionamentos sobre a vida e, alimentando nossos ideais singulares. Era bom estar junto! Boa a sensação de pertencer a um grupo, construir e estreitar laços, partilhar emoções e descobertas; com certa liberdade para criar e expressar o nosso sentimento, nossa compreensão da religião, do mundo, das questões sociais naquele contexto. Eu me lembro com carinho e grande saudade das nossas conversas, das confidências; dos planos, dos momentos de reflexão, meditação; do lazer, dos conflitos, da confraternização com outros grupos e das “produções” teatrais, onde cada um tinha o seu papel: escrever, dirigir, atuar, cuidar do som, das luzes, do figurino, do cenário... fico feliz com estas lembranças e com esta história vivida! Uma parte boa da vida, que deixou marcas bonitas e amigos queridos que trago sempre bem guardados. E fico feliz quando vejo jovens juntos; produzindo coisas, aqui, ali e em outros lugares; cheios de vida, alegria, estudando, trabalhando, pensando, sonhando, criando, amando! Conforta, num momento em que também ouço e vejo muitos jovens juntos no ócio, na bebida, na droga, no desrespeito e banalização de tudo. Sem expectativa, sem sonhar, sem desejar algo diferente. Isto é doloroso.  

Páscoa

É tocante a história de Paulo de Tarso. Belíssimos alguns trechos das suas cartas pastorais; especialmente e, muito especialmente mesmo (!), a sua primeira carta aos coríntios onde fala que “Ainda que eu tivesse todo ouro do mundo, falasse todas as línguas, tivesse todo conhecimento.... se eu  não tivesse amor, nada adiantaria, nada seria...”.  O amor não é piegas. É belo e é sério. Quanto mais vivo e aprendo sobre o amor, mais me acordo que  pouco sei. Fácil, muito fácil falar, escrever, porque inflama,  porque ilumina, aquece, energiza, impulsiona, agiganta, fortalece, rompe barreiras e convenções e limites e nos toma! Enfrentamos o mundo! Por vezes cega... E também suaviza, silencia, hiberna  e, inquieta, desassossega... Num mesmo compasso, dentro da gente,  é forte e resistente como um leão que atacando ou defendendo, ruge e luta ardorosa e apaixonadamente  e, frágil, delicado como o voo de uma borboleta, que simplesmente vive, espalhando beleza, doçura sem medir; por vezes ingenuamente, sem cuidado... É uma teia que enreda e nos implica uns com os outros e aí se torna exigente.  De amadurecimento. Crescer dói. Mas se não experimentar isto, em todos estes matizes, não sei mesmo de que vale ou para que serve todo o resto. Desejo aos meus amigos, aos meus queridos, aqueles que admiro de perto e de longe, todos, uma Páscoa apaixonante! De repente a gente compreende esta “paixão de Cristo” que mergulhou por inteiro e "morreu" por amor e depois, "ressurgiu",  pelo mesmo amor!   

Mola mestra

     
O dia foi bom, foi bonito! Véspera do feriado da Páscoa.... Preparei uma pequena surpresa para os meus alunos, mas foram eles que me surpreenderam  com agrados e mensagens afetuosas! Tive uma porção de Cleópatras em sala de aula, lindas na singularidade e  na forma criativa que cada uma encontrou, com a mãe, é claro, para improvisar roupas, adereços, maquiagens características do Egito Antigo. Desenvolvemos um projeto sobre o Egito, por desejo deles. O desejo, com certeza, é a mola mestra! Os olhinhos brilham e não têm preguiça de pesquisar; de largar a brincadeira e trabalhar; querem aprender, se deleitam com isto que lhes interessa, cativa! Todo mundo tem curiosidade, gosta de saber, de aprender! Pena que na escola, muitas vezes, este desejo, esta curiosidade morre; justamente pela ação desastrosa que ocorre na condução do processo no lugar onde ele deveria ser mais privilegiado. O desinteresse, a banalização, a violência, o abandono, a mesmice, a sisudez, a repetição mecânica, a insatisfação,  impaciência, o não saber, a impotência, a acomodação, a resistência ao simples observar e pensar na possibilidade do diferente, do novo... que rondam, dormem, se alimentam e se reproduzem no nosso cotidiano e, no caso, em muitas escolas ou em todas as escolas, é assustador!  Porque matam o riso, a alegria, o desejo. E isto morrendo, o que resta? Bom, resta a esperança! E a Páscoa, próxima, não faz este chamamento para mudanças, passagens, vida nova?! É tempo, então. Tempo precioso de adoçar muito a vida, não com artificialidades, mas com bem querer e respeito. Todos merecem.

Liturgia


Encontrar
quem se ama
é ritual
de beleza,
descompasso,
inesperado
e magia
na liturgia
do cotidiano.

Afetos

    Um campo imenso, o dos afetos. Talvez uma floresta. Onde encontramos todo tipo de vegetação e espécies diferentes. Há fortes, imponentes, que se impõem, por vezes invadem. Os frágeis, delicados, que exigem atenção o tempo todo.  Os mais escondidos, reservados;  os que cuidamos mais, os que esquecemos e de repente, caem, secam... Os que dão frutos e nos alimentam com seu conteúdo. Os que florescem o tempo todo e nos emocionam, alegram, enfeitam o nosso dia. Os espinhentos, sempre na defensiva ou no ataque e os doces, com os braços sempre abertos para o abraço! Os que brotam espontaneamente, nativos, velhos conhecidos e não carecem de cuidados; pelo contrário, se mantém a qualquer preço e custo, inclusive na seca ou quando a gente quer arrancá-los por algum motivo... eles retornam, enraizados que estão, definitivamente. Os que nos esforçamos para cultivar, proteger, mas que não vingam de jeito nenhum... Os que nos emocionam com sua delicadeza. Os que se isolam, distanciam, mas mantém o laço e nos momentos de ventos fortes, nos tocam, solidários. Os que estão sempre perto. Os que constantemente nos sobressaltam com seus movimentos inesperados... O coração leva um tempo para reconhecer cada um. Viver em paz com cada um. 

Entranhas

Hoje, dentro da floresta
densa, misteriosa
pisando o chão fofo
de folhas e do tempo,
interagindo com
a presença forte e bela
da mãe natureza,
dos elementais e
dos seres mágicos
que habitam este contexto,
fiquei mexida e feliz!
Conversei com eles!
Meu coração estava ali
desmanchado, aberto, livre.
Eu comigo mesma,
adentrando minhas entranhas...
Nada mais desvelador
do que o silêncio,
a solidão preenchida
dentro de uma floresta.

Guaranis (2)

     
    Ontem visitei novamente a aldeia Guarani, em Biguaçu, com duas turmas de alunos. Depois que estive lá, uma primeira vez, não consegui mais falar sobre os povos indígenas da mesma forma que antes e não sem ir até lá mostrar e atualizar. Impressionante como as crianças são sensíveis e mesmo os mais barulhentos e inquietos dos nossos, lá, se aquietam um pouco. É tudo muito diferente, mesmo sendo eles acostumados com a floresta e natureza ao redor da nossa escola. Na reserva indígena tudo é inusitado; as coisas acontecendo num outro ritmo, com outro olhar, outros valores e interferências. Quando chegamos na escola da reserva, crianças e adultos, ao redor de uma mesa,  faziam artesanato, objetos muito coloridos, bonitos. Centrados. Não abandonaram, curiosos, o que faziam, quando da nossa chegada. Ao contrário, prosseguiram no  seu fazer, tranqüilos. A caminhada pela trilha íngreme, mais tarde, dentro da floresta fechada, silenciosa e acolhedora foi uma aventura deliciosa, com direito a escorregadas, pontes de troncos e encontro com formigas, que nem inquietaram o guia, o único de chinelo!  Este guia, um índio que se prepara para tornar-se o pajé do grupo, orientou as nossas crianças a fazerem silêncio durante o percurso e surpreendentemente estiveram menos barulhentos! Eu escutava seus cochichos, comentários ali e lá... Dois manifestaram medo e precisaram da minha mão por algum tempo, depois caminharam seguros pela trilha.  Por duas vezes ouvi um exclamar: “nossa!, parece o paraíso! ...”. Era lindo mesmo! Crianças são maravilhosas! Elas se entregam para o momento; o percebem e  vivem com intensidade e espontaneidade desconcertante e contagiante!!! Os alunos da escola indígena nos surpreenderam com uma apresentação de cantigas doces que, desta vez sim, emudeceram nossos alunos. Uma língua diferente, arranjos diferentes, instrumentos musicais diferentes, contexto extremamente diferente; mas as almas sensíveis compreendem a linguagem musical e todos ficamos embevecidos, ouvindo... cada um, com certeza, tocado no seu conteúdo. Nossos alunos também cantaram! Fiquei orgulhosa deles, porque se portaram com tranqüilidade e respeito. E depois trocaram impressões! Os alunos indígenas queriam saber do que eles gostavam de brincar na escola. E descobriam que gostam das mesmas coisas: subir em árvore, jogar futebol e vôlei, queimada e brincar de pega-pega! Os nossos quiseram saber se os indígenas têm uniforme, como são as divisões de turmas, as salas de aula, o que eles estudam, o que queriam dizer as canções... e ficaram surpresos com as grandes diferenças! Algo que iremos tratar e aprofundar, com certeza, em muitas aulas e conversas no Quintal...  Coisa boa!  Bom viver! Bom aprender!  Reescrever a história passada. Escrever o presente. Um presente diferente. Quem sabe mais justo
      


Casamento

         Adoro! Neste final de semana participei de um, lindo, em Floripa! Conhecia os pais e poucas pessoas da família do noivo, mas não o conhecia; nem à noiva e sua família. Porém, para mim, há um sentimento que agrega as pessoas num casamento, que faz com que de certa forma e no final das contas, todos se reconheçam, estabelecendo um laço de intimidade: o desejo de felicidade! Este que todos temos e que nos alenta sempre que um casal se encontra, porque com eles a gente renova o sonho, atitudes, o olhar. Este casamento, em especial, me presenteou com algo diferente: o lado materno da noiva é de descendência grega e em muitos momentos, as tradições gregas apareceram. A cerimônia religiosa foi enriquecida com a presença de um sacerdote da igreja ortodoxa, ao lado do sacerdote católico; ambos, parentes dos noivos. Muito tocante, também por isto. Na festa, a alegria, descontração, a tradição de quebrar pratos e oferecer amêndoas aos convidados foi interessantíssima! Contatar com jeitos diferentes de celebrar a mesma coisa, me encanta profundamente! Fantástico descobrir diversas culturas e a forma como expressam os seus sentimentos e crenças em rituais ricos em simbologia transmitidos de geração em geração; muitas vezes de forma mecânica; mas em outros momentos, como este, em essência! Num resgate profundo... quando nos tocam, também na essência!  Porque essências se entendem! O fanatismo, o preconceito, o fechamento,  a intolerância são tão abomináveis! Isentos de bem, não permitem ver e descobrir a beleza, o valor, a riqueza de cada ser, cada manifestação... Eles limitam, “apequenam”, esvaziam  a prática destes “saberes”; ceifam sua vitalidade e a nossa expressividade. Rituais em favor, compromisso e louvor à vida fazem parte da nossa história, enquanto humanidade; são mágicos, belos e enchem os olhos e a alma da gente de alegria, sossego, bem estar e de ternura. Tão bom!  

Dia lindo

Dia lindo!
Floripa radiante...
onde é mar,
onde é céu?!
A vida continua
o tempo não para
e distrai nosso olhar
com tanta beleza.
Mas eu queria que ele parasse
que tivéssemos mais tempo
para processar a dor
o massacre
a violência.
Uma coisa já
vem em cima da outra,
mascarando,
encobrindo,
banalizando
coisificando...
e eu queria que víssemos mais!
Para não esquecer.
Para aprender a cuidar melhor
da vida que de fato importa
e não das superficialidades
entre nossos muros e alarmes.
Do fundo, junto com 
o pesar e o lamento, 
vem uma
vontade nervosa de rir.
Rir da nossa miserabilidade
esta que aparece nestes
atos de extrema violência
e\ ou impotência diante deles
quando nos mostramos tolos,
sem saber nada de nós mesmos,
frágeis e pândegos
atrás de um melhor papel
ou desempenho
neste maravilhoso cenário:
planeta Terra.

Resgate

Quando flutuo no vazio
do frio, do insípido,
dos desencontros internos
da impossibilidade externa
teus olhos
teu riso
tua palavra
me resgatam
dos pesadelos
e das sombras.

Luto

Meu coração está partido, como de tantos, sei, com isto que aconteceu numa escola do Rio de Janeiro, ontem. Invasão. Pânico. Medo. Terror. Morte de crianças, adolescentes. Banalização da vida. Na raiz. Injustiças são adubadas em todos os lugares e setores,  todos os dias. Há todo momento somos atualizados sobre os números, os fatos, os motivos. Apesar de muitas coisas retrógradas, da desvalorização, das crises, dos altos e baixos; na minha experiência, no meu acreditar, a escola ainda é (ou era) um lugar protegido, onde podemos sonhar com um mundo melhor; falar da liberdade com liberdade; denunciar, conversar e alertar sobre o preconceito, a intolerância, a discriminação; fomentar idéias, “saberes”, pensamentos;  ideais saudáveis para uma sociedade mais justa, um Brasil bom para todos os brasileiros; que acolhe e protege, incentiva, valora e promove seus filhos, especialmente  as crianças, os jovens, os desvalidos, os diferentes. Este massacre parece falar que não há mais lugar seguro! Muitas famílias já não são lugares seguros para crianças e jovens; igrejas que pregam a segregação e o fanatismo, também não. Escolas também não. Nestes trinta e poucos anos em escolas diferentes; estados e propostas diferentes, nem sempre vi coisas boas; mas o que me fez perseverar, acreditar e continuar com alegria, com desejo, foi a possibilidade de ter e manter este espaço do diálogo, da troca, da reflexão, da produção; das alternativas, da dinamicidade, da possibilidade repensar, possibilidade de mudança, de construção. De esperança. Eu vi isto acontecer, muitas, muitas e muitas vezes! O que me conquistou, me encantou definitivamente! Por isto, o massacre produziu em mim um susto diferente. Mexeu em algo fundo. Eu não quero perder minha esperança! Preciso dela para encarar os olhos dos meus alunos, todos os dias. Não quero perder o brilho dos olhos no exercício do trabalho porque sei que ele é importante para manter o brilho dos olhos nos meus alunos... Hoje está difícil. O coração sangra. Momento de grande luto. O que isto está nos falando, em profundidade?

Domingo...


Acordei com a sensação de que hoje era domingo de Páscoa. Cheiro de domingo de Páscoa, sol brilhante, um friozinho gostoso; um “quê”, no ar, expectativa, de algo bom por acontecer, surpresa...  características singulares de um domingo de Páscoa, para mim e, que hoje, de repente, aparecem...



Na quietude e beleza da manhã se espreguiçando por entre os morros verdes e o céu azul, eu olhei para trás e  vi, com clareza, o fio da vida, como foi tecido nas retas seguras, quando sabia o que queria e onde queria ir e nas curvas sinuosas, quando estava insegura, indecisa, amedrontada e os desafios eram urgentes e impulsivos. 


Vi os “nós” que fiz nas esquinas, nas paradas, nos obstáculos, nas encruzilhadas, nos oásis do caminho. Momentos, encontros importantes, decisivos ali vividos. E em cada um deles, brotos, plantas, flores de todos os tipos,  gestando. Nada em vão. De tudo, algo ficou e alimenta o que agora faz parte do que sou e do que me move. Se olhar bem, vejo que há erva daninha e venenosa, brotando em alguns “nós” desnecessários. Preciso paciência com estes; enquanto investigo como desamarrar. Enquanto não aprendo o jeito de chegar na raiz, de vez em quando volto e arranco uns e outros brotinhos, o que produz alívio! Mas olho pra tudo com ternura. 


Os “nós” que têm as flores e folhas mais bonitas, coloridas, viçosas e que se reproduzem com profusão, são aqueles que a memória atualiza com fidelidade no presente, sempre que preciso e, que foram gestados na entrega a um abraço, um acolhimento, uma escuta, uma confidência, um reconhecimento, um olhar cúmplice e amoroso, uma interação  funda com algo ou alguém (filhos, amigos, alunos, amor, poesia, música, planta, bichinho, lua...) uma compreensão... a maioria deles marcados por uma música, um perfume, uma palavra, uma imagem, um toque... uma sensação que ficou na pele.   A vida é  bonita, como sempre me diz um amigo e como diz o poeta na canção! É?!!!... Olhando, agora, para o dia fantasticamente luminoso, para o mar tranqüilo, verde, que brinca com os cristais de luz espalhados pelo sol; para as flores amarelas que acenam  sossego e alegria aqui e ali, no meio da floresta; para a estrada que se abre à frente, clara, convidativa, misteriosa; escutando o canto distinto do vento, das folhas que se roçam na dança que ele organiza e das aves que cantam de  “mil maneiras” seu momento sem pudor e interesse; eu penso, outra vez, que é uma pena que isto não nos baste! Nem ao menos como motivação, a um grande número! Pena que sejamos, por vezes, cegos e surdos de coração e inteligência; tateando e produzindo sons dissonantes por entre a miséria, ignorância, intolerância, covardia, medo, consumismo, mesmice, discriminação, arrogância e prepotência... Pena.  Podemos ir além, bem além dos nossos sonhos, ilusões, ideais e limitações? Ultrapassá-los e vê-los tornarem-se... cuidando de fato, das individualidades e do coletivo; em cooperação uns com os outros e com a mãe natureza?

Crisântemos


            Sonhei que um homem aproximou-se e apresentou-se a mim; seu nome: Crisântemo. Ofereceu-me um feixe de crisântemos brancos. Acordei. Era meu aniversário e fiquei feliz! Receber flores é especial, no sonho ou no real; delicadeza sem fim; inunda o coração de ternura, tanta... tanta!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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