Domingo...


Acordei com a sensação de que hoje era domingo de Páscoa. Cheiro de domingo de Páscoa, sol brilhante, um friozinho gostoso; um “quê”, no ar, expectativa, de algo bom por acontecer, surpresa...  características singulares de um domingo de Páscoa, para mim e, que hoje, de repente, aparecem...



Na quietude e beleza da manhã se espreguiçando por entre os morros verdes e o céu azul, eu olhei para trás e  vi, com clareza, o fio da vida, como foi tecido nas retas seguras, quando sabia o que queria e onde queria ir e nas curvas sinuosas, quando estava insegura, indecisa, amedrontada e os desafios eram urgentes e impulsivos. 


Vi os “nós” que fiz nas esquinas, nas paradas, nos obstáculos, nas encruzilhadas, nos oásis do caminho. Momentos, encontros importantes, decisivos ali vividos. E em cada um deles, brotos, plantas, flores de todos os tipos,  gestando. Nada em vão. De tudo, algo ficou e alimenta o que agora faz parte do que sou e do que me move. Se olhar bem, vejo que há erva daninha e venenosa, brotando em alguns “nós” desnecessários. Preciso paciência com estes; enquanto investigo como desamarrar. Enquanto não aprendo o jeito de chegar na raiz, de vez em quando volto e arranco uns e outros brotinhos, o que produz alívio! Mas olho pra tudo com ternura. 


Os “nós” que têm as flores e folhas mais bonitas, coloridas, viçosas e que se reproduzem com profusão, são aqueles que a memória atualiza com fidelidade no presente, sempre que preciso e, que foram gestados na entrega a um abraço, um acolhimento, uma escuta, uma confidência, um reconhecimento, um olhar cúmplice e amoroso, uma interação  funda com algo ou alguém (filhos, amigos, alunos, amor, poesia, música, planta, bichinho, lua...) uma compreensão... a maioria deles marcados por uma música, um perfume, uma palavra, uma imagem, um toque... uma sensação que ficou na pele.   A vida é  bonita, como sempre me diz um amigo e como diz o poeta na canção! É?!!!... Olhando, agora, para o dia fantasticamente luminoso, para o mar tranqüilo, verde, que brinca com os cristais de luz espalhados pelo sol; para as flores amarelas que acenam  sossego e alegria aqui e ali, no meio da floresta; para a estrada que se abre à frente, clara, convidativa, misteriosa; escutando o canto distinto do vento, das folhas que se roçam na dança que ele organiza e das aves que cantam de  “mil maneiras” seu momento sem pudor e interesse; eu penso, outra vez, que é uma pena que isto não nos baste! Nem ao menos como motivação, a um grande número! Pena que sejamos, por vezes, cegos e surdos de coração e inteligência; tateando e produzindo sons dissonantes por entre a miséria, ignorância, intolerância, covardia, medo, consumismo, mesmice, discriminação, arrogância e prepotência... Pena.  Podemos ir além, bem além dos nossos sonhos, ilusões, ideais e limitações? Ultrapassá-los e vê-los tornarem-se... cuidando de fato, das individualidades e do coletivo; em cooperação uns com os outros e com a mãe natureza?

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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