Guaranis (2)

     
    Ontem visitei novamente a aldeia Guarani, em Biguaçu, com duas turmas de alunos. Depois que estive lá, uma primeira vez, não consegui mais falar sobre os povos indígenas da mesma forma que antes e não sem ir até lá mostrar e atualizar. Impressionante como as crianças são sensíveis e mesmo os mais barulhentos e inquietos dos nossos, lá, se aquietam um pouco. É tudo muito diferente, mesmo sendo eles acostumados com a floresta e natureza ao redor da nossa escola. Na reserva indígena tudo é inusitado; as coisas acontecendo num outro ritmo, com outro olhar, outros valores e interferências. Quando chegamos na escola da reserva, crianças e adultos, ao redor de uma mesa,  faziam artesanato, objetos muito coloridos, bonitos. Centrados. Não abandonaram, curiosos, o que faziam, quando da nossa chegada. Ao contrário, prosseguiram no  seu fazer, tranqüilos. A caminhada pela trilha íngreme, mais tarde, dentro da floresta fechada, silenciosa e acolhedora foi uma aventura deliciosa, com direito a escorregadas, pontes de troncos e encontro com formigas, que nem inquietaram o guia, o único de chinelo!  Este guia, um índio que se prepara para tornar-se o pajé do grupo, orientou as nossas crianças a fazerem silêncio durante o percurso e surpreendentemente estiveram menos barulhentos! Eu escutava seus cochichos, comentários ali e lá... Dois manifestaram medo e precisaram da minha mão por algum tempo, depois caminharam seguros pela trilha.  Por duas vezes ouvi um exclamar: “nossa!, parece o paraíso! ...”. Era lindo mesmo! Crianças são maravilhosas! Elas se entregam para o momento; o percebem e  vivem com intensidade e espontaneidade desconcertante e contagiante!!! Os alunos da escola indígena nos surpreenderam com uma apresentação de cantigas doces que, desta vez sim, emudeceram nossos alunos. Uma língua diferente, arranjos diferentes, instrumentos musicais diferentes, contexto extremamente diferente; mas as almas sensíveis compreendem a linguagem musical e todos ficamos embevecidos, ouvindo... cada um, com certeza, tocado no seu conteúdo. Nossos alunos também cantaram! Fiquei orgulhosa deles, porque se portaram com tranqüilidade e respeito. E depois trocaram impressões! Os alunos indígenas queriam saber do que eles gostavam de brincar na escola. E descobriam que gostam das mesmas coisas: subir em árvore, jogar futebol e vôlei, queimada e brincar de pega-pega! Os nossos quiseram saber se os indígenas têm uniforme, como são as divisões de turmas, as salas de aula, o que eles estudam, o que queriam dizer as canções... e ficaram surpresos com as grandes diferenças! Algo que iremos tratar e aprofundar, com certeza, em muitas aulas e conversas no Quintal...  Coisa boa!  Bom viver! Bom aprender!  Reescrever a história passada. Escrever o presente. Um presente diferente. Quem sabe mais justo
      


 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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