Presente na Sexta-feira Santa

Algumas coisas a gente nunca esquece. E elas se atualizam num instante, quando algo, no presente, evoca. Hoje, passeando pela cidade com familiares, vimos o palco montado e grande movimentação nos jardins da paróquia central e nos aproximamos. Um grupo de jovens encenava a paixão de Cristo.  Quando o espetáculo acabou, os jovens sorridentes, abraçados, no palco, tiravam fotos. Acompanhei cada ato com grande emoção. Não só pelo conteúdo, mas muito mais pelas lembranças que tomaram meus pensamentos e sentimentos. O esmero e a alegria dos jovens no palco foi aos poucos se misturando com as lembranças do trabalho e do riso de outros jovens, num outro tempo, há mais de trinta anos atrás, numa mesma situação... No porão da paróquia, nós, um grupo de jovens de 14 a 17 anos, encontramos ali, por alguns anos,  um espaço para conversar,  expressar, exercitar e partilhar, buscas, sonhos, inquietudes, medos; misturando curiosidade, religiosidade, conhecimentos, críticas e questionamentos sobre a vida e, alimentando nossos ideais singulares. Era bom estar junto! Boa a sensação de pertencer a um grupo, construir e estreitar laços, partilhar emoções e descobertas; com certa liberdade para criar e expressar o nosso sentimento, nossa compreensão da religião, do mundo, das questões sociais naquele contexto. Eu me lembro com carinho e grande saudade das nossas conversas, das confidências; dos planos, dos momentos de reflexão, meditação; do lazer, dos conflitos, da confraternização com outros grupos e das “produções” teatrais, onde cada um tinha o seu papel: escrever, dirigir, atuar, cuidar do som, das luzes, do figurino, do cenário... fico feliz com estas lembranças e com esta história vivida! Uma parte boa da vida, que deixou marcas bonitas e amigos queridos que trago sempre bem guardados. E fico feliz quando vejo jovens juntos; produzindo coisas, aqui, ali e em outros lugares; cheios de vida, alegria, estudando, trabalhando, pensando, sonhando, criando, amando! Conforta, num momento em que também ouço e vejo muitos jovens juntos no ócio, na bebida, na droga, no desrespeito e banalização de tudo. Sem expectativa, sem sonhar, sem desejar algo diferente. Isto é doloroso.  

 

2 comentários:

Hildor disse...

Querida amiga!

Neste texto vc me fez retornar àquele tempo nosso. Não volta, mas se renova nas novas gerações...

Bjs

Hildor

Maisa Schmitz disse...

Com certeza Hildor! Não volta, mas está presente, misturado nisto que "a gente é hoje". A tua presença, nossas conversas e o teu amor à natureza, acredite, naquela época, foram decisivos à construção gradativa do meu olhar respeitoso e amoroso a todos os seres que nela habitam. Obrigada, querido!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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