Florescer

Por mais uma vez
o dia nasce
cheio de frescor
e curiosidade.
O sol brilha
seu curso belo
e  paciente.
Flores cintilam
cores e cheiros.
Abro meus olhos.
Vivo!
Atualizo meu tempo
meu lugar.
Sinto teu olhar
cúmplice,
cheio de admiração
e ternura.
Levanto e sigo.
O coração borbulha
desejos, inquietudes
poesia e horizontes.
Amo flor e ser.

Amor

Tão próximo
presente e íntimo
quanto distante,
inatingível
e inalcansável sol.
Aprecio este inverno! 
Hiberna, aquietado.
dormindo
apenas sonhando.
Não brilhe
não atualize
não respire
não se mova
não ressuscite!
Não precisa!
Já é tempo,
centro
vento
alento,
dentro!
Amor.

Trabalho




Há coisas bonitas e boas
que são bonitas e boas
só de longe.
De perto,
cheiram mal.
O distanciamento
redime, suaviza.
A aproximação
gera intimidade.
Na intimidade
tudo aparece.
Nada é perfeito...
Parece que só o ideal...
Ou a gente vive
sonhando
idealizando
metaforizando
fugindo
ou...
trabalha!
Amadurece.

Cedinho

De manhã cedinho
a cidade dorme.
Não na noite, na madrugada;
não no dia,
no sol, na labuta.
É de manhã cedinho
quando a pressa,
a ansiedade
os problemas
a impaciência
o mau humor
os inocentes
a ignorância
e toda “gente do mal”
vive uma trégua...
Ali acontece um hiato,
ainda!
Um olhar amoroso
uma suavidade
uma energia boa
envolve a cidade...
ainda!
É o abraço da aurora,
uma esperança teimosa!
De manhã cedinho
só a passarada
compondo
poetando!

Luano, o sabiá bebê



A história
(Maria Margot, 3 anos)

“Quando o Luano machucou a asa, a vovó salvou ele. Ela pegou o passarinho e levou o passarinho pra casa dela. Ela fez um “reikinho” nele e eles viveram felizes para sempre”!



A “versão estendida”
(vovó Maisa) 
            Lavava a calçada e, de repente,  ouvi o canto de um sabiá, muito próximo... Eu trabalhava e ele cantava. Era uma deliciosa parceria e não pude deixar de lembrar da famosa fábula e dos dias ensolarados de interação entre a cigarra e a formiga... Fiquei um longo tempo pensado naquela e nesta simbologia do momento; até que não resisti e procurei por ele. Não estava no telhado ou em cima de uma das árvores, como eu pensara no início. Estava dentro da sala e voava de um lado para o outro, como se procurasse uma saída. Não sabendo o que fazer, abri bem as janelas e a porta para facilitar seu encontro com a liberdade e fui concluir meu trabalho. Quando voltei, ele ainda se debatia. Então fiquei aflita e senti-me convocada a ajudar.
            Fiquei acompanhando seus movimentos de lá para cá até que, parecendo cansado, pousou em cima de uma mesa. Tive uma ideia!  Rapidamente joguei um paninho bem leve, feito rede, em cima dele; que ficou bem quietinho. Assim, pude pegá-lo. Coloquei-o em cima do peitoril da janela, estimulando o voo. E ele foi... mas não para o alto; foi para o chão! Para a morte! Sim, porque simplesmente “do nada”, surgiu um gato preto e o abocanhou; fitando-me, ao mesmo tempo com olhos desafiadores e vitoriosos.
            Entrei em pânico e gritei! O gato, surpreendentemente, assustou-se e largou a presa. Então, sem parar de gritar, corri estabanadamente,  de lá para cá, até conseguir sair do labirinto em que se transformara o longo corredor que me separava do quintal. Encontrei o sabiá imóvel, com os olhinhos abertos. Vivo! Quando andou, tive a impressão de que estava com algum problema ou dor em uma das asas; mas não tive certeza. Levei-o para dentro. Fechei todas as aberturas. O gato é ágil, silencioso, inteligente; ele ia voltar... já sentira o cheiro e o sabor da vítima. Acreditei que fosse mais possessivo do que medroso. Mas não voltou. Subestimei o gato; ele não era medroso;  era astuto e excelente jogador: sabia reconhecer o momento de recuar. Então eu acarinhei o sabiá e passei reiki por um bom tempo, desejando ardentemente que sobrevivesse; por ele e por mim, que sentia o peso enorme da culpa por ter interferido e o ofertado, sem querer, ao gato.
            Assim que, por dois dias, cuidamos do sabiá; oferecendo água, minhoquinhas e reiki, com muito zelo. Observando melhor, percebemos que era um filhote! Nossa netinha também envolveu-se nos cuidados e até batizou o sabiá: "é Luano, vovó"!!! Ele foi muito paparicado:  fotografado e até  ganhou um “retrato”, desenho da Maria Margot!
            Hoje, de manhãzinha, depois do “trato” e de um treino, ele voou.
            Vida longa, Luano!!!



Villa Doratta


É dourado de sol, o Villa!
Dourado de luz. Luz do sol! E é belo, é singelo, é confortável. Bom de ficar. Bom de morar. Das janelas e áreas livres, bom de contemplar os quadros ofertados pela generosa Natureza! Detalhes são seu tesouro, sua diferença.
Uma  brisa acaricia a gente... delícia! E balança os barcos, lá no mar, onde gaivotas equilibram tranqüilidade; galantes e altivas. E provoca as árvores, que respondem coreografias! E modula voos da passarada!
Um avião, no horizonte, puxa um cordão de sonhos; deixa um montão de saudades...
Pedras saídas das profundezas do mar, abraçadas e ancoradas entre arbustos, feito uma ilha, contemplam os últimos raios de sol que douram, entre tantas outras coisas, prédios, casas,  o Villa Doratta!
A noite já espia, atrás da cortina, palpitante! E o cenário vai mudando... Risos e cantorias cedem aos cochichos. Hora de recolher, aquietar. Quem fica, quem vai? E quem vai, vai pra lá ou pra cá? Há uma resistência, um atrapalho no ar...
Um barco retardatário chega no ancoradouro. Desliza suave e seguro. E o pescador, em pé, majestoso; remo feito lança; comanda movimentos e segredos, numa interação comovente e sagrada com o mar, as pedras, a quietude e a solidão. Ele puxa um outro barco. Um barco vazio, cheio de ausências, que depois de ancorado, fica ali, soluçando, baixinho, suas cores e saudades. Mais um  barco abandonado. Por quê?
O novo cenário já está pronto. A noite entra em cena, bela e sutil! Luzes brilham, unânimes, em todos os lados e direções e assim, o Villa continua dourado!
O tempo segue. Sábado vai virando domingo. Ausência aqui é presença lá. Tudo certo! Presos ao corpo, não podemos estar, ao mesmo tempo, em dois lugares. Mas, rápido, elástico e atemporal, o amor se reinventa e consola! E se aninha em metáforas brilhantes, dissolvendo distâncias e impossibilidades!
Volto para casa.
Até outro dia, Villa Doratta!
Floripa.

Voltar

Voltar
pode ser bom.
Olhar as mesmas coisas
com outro olhar,
renovado olhar!
Ver o que antes não via
e se encantar!
Ou reencantar
com o que antes havia
mas não percebia.
Voltar pode não ser bom.
Olhar mesmas e
agora velhas coisas,
mofadas, mal cheirosas,
pesadas... porque
os olhos não abriram
e as lembranças
engordaram de ranço
e excessos narcísicos.
Voltar é bom!
Quando o coração
está livre
e desliza, em paz,
no presente.

Lagartear

Lagartear...
Ah! Um solzinho!
Calorzinho gostoso...
E se tiver uma brisa
destas especiais
que vêm do mar
nas tardes preguiçosas
do verão...
Fechar os olhos...
relaxar, deleitar,
viajar...
adentrando horizontes,
investigando direções
nuvens e ares...
visitando guardados
e saudades!
Ah! Lagartear....
arte refinada!
“Expert”, nela? 
Só o lagarto!
E ela quer aprender:
curiosa Chanson,
gatinha manhosa!
Eu, “idem”!!!

No primeiro instante


No primeiro instante,
o coração fica apertado
se esconde atrás da porta,
rebelde.
E ali, sozinho,  se estica,
arregaça, rasga,
sem ninguém ver.
Óculos  embaçam
soluços se atropelam,
atordoam e calam.
O dia anoitece,
a noite  enlouquece
e vagueia entre as sombras
do nada, do vazio,
do sem sentido.
No primeiro instante
morre o riso
o som, a cor,
a razão e
morre o encanto.
No primeiro instante
tudo é desamparo
vira estilhaço, fragmento.
Inconsciência...
quando eles vão embora!
Os que eu amo!
Cada um leva um pedaço,
que não se desgruda...
enredando em saudade,
sanfonando minha alma...

Rezar e agradecer

Rezar,
agradecer!
Faz bem!
Impulso que vem
das entranhas;
no encontro
da singularidade absoluta
com o plural desconcertante:
eu, o outro, nós.
Alento!
Nesta intimidade  
brota o agradecimento,
o reconhecimento do outro
e a oração genuína!
Esta que cura,  conforta, encoraja
aproxima e organiza!
Assim, brincadeiras e
melodias infantis
num improviso,
de repente,
transformam-se em
pura, doce
e agradecida oração:
obrigada pelo papai,
obrigada pela mamãe!
Obrigada pela vovó;
obrigada pelo vovô!
Obrigada pelo biso
e obrigada pela bisa!
Obrigada pelos dindos”...
Eles me divertem
com muita paciência”!
Obrigada pelos frutos!




Ano Novo

Muita luz e muito brilho
brindes, gritos, palmas,
risos, abraços, música
e alguns exageros.
Eu vi.
Tentei mergulhar
no frenesi esperançoso
e quis acreditar
nas promessas e
na magia dos belos
desenhos de luzes
que se revezavam no céu.
Mas não deu.
Eu vi as máscaras.
Vi o real,
apesar do barulho e
das maquiagens.
Os olhos viam “beleza”
mas o coração sangrava.
Senti as ausências
lamentei desencontros
morri diante da impotência.
Eu quis silêncio!
Desejei ardentemente quietude
e pouca coisa.
Bem pouca. Silêncio.
Meus ouvidos então gritaram seu cansaço!
Meus olhos, o fastio da mesmice.
Minha fala, a ausência de palavras.
Meu corpo, o desrespeito aos meus limites.
Meu coração, o peso da repetição inútil.
Minha alma, a saudade de mim!
Desejei mais ardentemente o silêncio,
mergulhar  fundo e mais fundo
nesta morte benfazeja.
E fiquei no fim.
Estou no fim
escutando o vazio dos meus buracos.
Aquietada, dentro.
Cumprindo, ainda, fora.
Mas pouco. Não quero mais.
Mergulhada neste nada
sinto que algo se move
lentamente, sem pressa.
Intuitivamente sei o que é.
É minha fênix reagindo!
Essa força de amor
que não me abandona
porque é real.
É de amor que são feitas
as minhas entranhas
por isto, renasço!



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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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