Aniversário do Blog: 12 anos!!!!!


 

Na minha “caixa de Pandora”

a esperança permanece!

2020 foi desafiador,

mistura de contraditórios,

extremos, polarizações,

perdas e reinvenções!

Perdi conhecidos

e alguns queridos.

Me assustei, isolei;

depois refleti, abri.

A pandemia arrasou

mas também provocou

e vamos, por isto,

reorganizando a vida;

creio que para melhor!

Acrescento, à esperança:

acolhimento, respeito,

partilha, estender a mão;

saúde e essencialidades

benéficas a todo coletivo.

E a escrita, a poesia

permeando, resgatando

e semeando, aqui e ali,

reencanto e alegria!

 

Entregue

 


Entregue!

Ao que vem

e ao que vai;

ao possível

e aos limites;

ao vento, o frio,

e à brisa, o calor.

Às perdas, à dor

e aos presentes,

dosagens de amor!

Ao congestionamento de palavras

e ao silêncio do sentimento.

Para ir, para ficar,

voltar e reinventar!

 

 

Dois lados

 


Por vezes escolho estar aqui

nesta lidança,

fazer e refazer sem fim

permeado pelas incógnitas,

inusitados, imprevistos;

entre temores, neblinas,

asperezas e “tiradas de tapete”...

Onde só o sonho fortalece

e então me reconstruo,

renasço incessantemente

neste exercício.

Por vezes escolho estar lá

onde o sol brilha,

cores encantam,

sons reverberam

em harmonia;

a quietude seduz.

Onde o justo

é o real;

o benquerer explícito,

incondicional.

Onde estar, fortalece.

Descobri que posso escolher

mesmo entre as adversidades;

são dois lados dentro de mim.

Conhecimento é liberdade.

 

Natal em quatro tempos

 


         1º tempo:

        Quando criança, o Natal era a festa que eu mais amava e esperava. Íamos todos para a casa dos avós paternos. Os tios vinham de Porto Alegre e isto era o máximo! Eu e meus irmãos ganhávamos roupas novas. Pelas 18 horas íamos para a casa dos meus avós e lá encontrávamos toda família paterna, de origem alemã: uma porção de tios, tias e primos! Entre tantos momentos especiais, havia um, muito sério e sublime, quando ouvíamos discos antigos dos avós, com  tradicionais canções de Natal, alemãs. Então, meu avô e minha avó começavam a cantar “O Tannenbaum...”, uma canção linda, em alemão e todos os filhos: meu pai e meus tios seguiam atrás, com as vozes trêmulas de emoção. Eu não compreendia o alemão, mas compreendia o sentimento e ficava ouvindo meu coração bater descompassado.  Quando acabava, meu tio Milton e minha tia Nilse, com suas vozes bonitas iniciavam  o canto “Noite Feliz”; eu ouvia, então, a voz do meu pai... e, todos podíamos juntar nossas vozes a deles, porque esta cantiga entoavam em português. Ainda hoje eu não tenho palavras para traduzir a emoção que eu sentia, naquela noite.

         2º tempo:

Os adultos foram envelhecendo e nós, as crianças, nos tornamos adolescentes e jovens. Os Natais continuaram acontecendo e reunindo a família na casa  do vô e da vó. Tínhamos ampliado nosso círculo social e  eu e os primos, agora, fazíamos parte do Grupo de Jovens e, depois do encontro na casa dos avós,  íamos todos para a Igreja, para a Missa do Galo. Antes da missa, sempre apresentávamos um teatro, que iniciava, invariavelmente às 23h30. Nós nos preparávamos durante meses para este evento, criando os textos, ensaiando; preparando cenários, luzes, etc. Era uma labuta sem fim e igualmente maravilhosa, à qual nos dedicávamos exaustivamente, cheios de ideais, querendo mostrar aos adultos da comunidade nossas reflexões, denunciar as hipocrisias, as desigualdades sociais e fazer um chamamento à fraternidade, ao respeito e ao amor à natureza, ao homem, à justiça. Queríamos atualizar e contextualizar o sentido do Natal, denunciar as mazelas, as injustiças  e também anunciar as BOAS  NOVAS, a possibilidade de um mundo melhor e mais feliz. Antes destas questões atualizadoras, recordávamos o fato histórico e mágico do nascimento do menino Jesus e geralmente eu representava a Maria. Eram momentos bonitos e profundos. Eu me colocava no lugar daquela mulher que enfrentou o preconceito porque ia ter um filho que não era do seu marido; que teve que fugir para proteger a vida e dar a luz a este filho nas condições mais adversas; que teve que aceitar as escolhas deste filho e assistir a toda uma série de perseguições e sofrimentos decorrentes desta escolha e que culminou com sua morte numa cruz... Eu me solidarizava com ela, descobrindo que as mulheres tinham que ser muito fortes para sobreviver e cumprir seu papel, independente de sua classe social  ou da humanidade/divindade dos seus filhos.

         3º tempo:

        Em 1980, estava grávida do meu primeiro filho. Não sabia o sexo, esperava por um bebê saudável mas torcia, sim, por uma menina! Eu não tivera irmãs, só irmãos e ter uma filha era o meu  mais acalentado sonho. O calor, em dezembro era intenso, os dias iam passando e nada do bebê nascer! E o sonho de passar aquele Natal e com um filho nos braços, estava se desvanecendo. Chegou a noite do dia 24 de dezembro e nos dirigimos à casa do vô e da vó, para a tradicional comemoração do Natal.  Agora haviam poucas crianças, mas nenhum bisneto. O meu bebê seria o primeiro bisneto e havia uma grande expectativa em torno disso e da demora para este nascimento. Durante as cantorias e, no momento de maior emoção, quando cantávamos “Noite Feliz”,  eu pedi intensamente pela saúde do meu bebê. Me sentia um pouco cansada  e convidei meu marido para irmos embora. Não me sentia disposta a ir à Missa do Galo. Chegamos em casa e eu olhei para o pinheirinho todo enfeitado, senti uma tristeza porque o Natal chegara e o meu bebê não nascera... E foi neste momento, às 23h00, que senti algo diferente! A bolsa havia rompido! Foi uma correria até chegar ao hospital e a madrugada  foi longa... Estava difícil localizar o meu médico porque era uma noite de festa e ele comemorava com a família em algum lugar... Enquanto esperava e em meio às contrações, percebi o presente que recebia: naquela específica noite mágica, eu não estava representando uma mãe que dava à luz! Eu estava vivenciando algo real e maravilhoso: o nascimento do meu bebê! Minha filha, Lilian, nasceu às 7:35 horas do dia 25 de dezembro, Natal! Eu recebia a menina que tanto queria e ela escolhia o dia mais lindo e significativo, para mim, para vir ao mundo: o Natal. E foi o Natal mais lindo de todos!  Vivido no hospital. A  BOA NOVA  acontecia de fato e concretamente na minha vida! O desejo, o sonho e a esperança de lutar para construir um mundo melhor tornava-se mais claro, definido. Eu me tornava mãe e, me tornando mãe, tinha a possibilidade de me tornar um ser humano potencialmente melhor.

        O Natal de 1980 foi o último que passamos com a família reunida na casa dos meus avós paternos; como sempre acontecera até então. Dez dias depois que minha filha nasceu, meu  avô querido faleceu. Depois de conhecer a bisneta ele falava para os amigos, com alegria:

        - Vocês não sabem o que me fizeram!

           - O que lhe fizeram, seu Otto?

        - Me fizeram bisavô!!!!

        Toda vez que o  Natal se aproxima, meu coração se enche de saudades, lembranças e esperança! E eu escuto a voz do meu avô e da minha avó cantando:  “O Tannenbaum...” e isto renova minha alegria e vontade de viver; porque o Natal evoca  e atualiza, dentro de mim, o que sou, no que  eu acredito e a realização de um grande sonho!

         4º tempo

        Neste Natal de 2020, ano singularíssimo e por conta desta pandemia, cheio de demandas, muitas perdas, tristezas, exigências, mudanças de hábitos, de agendas, de planos, de rotas; de estabelecimento de novas rotinas e alternativas de vida e trabalho... neste ano, minha filha completou 40 anos! Aquela bebê, tornou-se uma mulher forte, trabalhadora, independente, generosa, provedora; profissional dedicada e mãe! E assim, por causa dela, eu sou, agora, a vovó, realizando um sonho mais recente. Agora, sou eu quem enfeita a casa para receber a família, no Natal, dando continuidade a este ritual mágico e maravilhoso!

Grata, minha filha, por tua vinda à vida! Te amo!

 

 

 

 

 

 

A beleza da planta murcha




 Manhãs ressurgem!

E todos os dias,

nestes dias que se sucedem;

rolando momentos conturbados

aqui, no planeta Terra.

As manhãs ressurgem

como se nada houvesse,

cheias de possibilidades,

ignorando limites e máscaras.

As manhãs ressurgem

saudáveis, inocentes e belas,

alheias ao vírus que entristece

e tomadas de beleza

e de poesia!

Em campanha escancarada

pela manutenção e retorno da alegria! 

Esta manhã, esta em especial,

ressurgiu com um presente:

um aluno poeta

lá na outra ponta,

entre o gel, a distância e a máscara:


Profe, eu cuido de uma hortelã pimenta...

Eu cuidava de um girassol

mas ele murchou.

Mas eu, profe,

como sou poeta e artista,

vejo a beleza da planta murcha!

Ela vai se tornar adubo

e fazer bem para a nossa terra”...


Chorei. Choro, agora, ainda!

De emoção funda,

agigantada, explosiva e

porque eu não pude abraçá-lo!

Menino poeta! 

Grata por ressurgir com a manhã!

Por ressurgir a poesia em mim

e trazer esta delicadeza

do olhar e avivar

esta compreensão singela,

simples e bela

do estar aqui.


O sumiço da Bombom

                                                 


A princesa Malei estava com um pouco de frio sem o seu vestidinho que secava ao sol.

Ainda bem que seu corpinho era de pano e conservava um pouco de calor.

Seus amigos e também as pessoas da casa, dormiam; era madrugada. Malei ansiava pelo nascer do sol; teriam uma importante missão a cumprir, ela e seus amigos.

Quando o sol nasceu, colocou sua coroa e foi procurar seu vestido. Já estava seco. Vestiu.

Seus amigos de prateleira, Bia e Teddy, acordaram.

A menina Maria também.

Depois de tomar o seu lelê, Maria juntou-se à Malei, Bia e Teddy e os quatro foram investigar o desaparecimento da Bombom.

Entraram no carro da mamãe e do papai. A mamãe prendeu a menina Maria com o cinto de segurança; acomodou a princesa Malei, Bia e Teddy ao seu lado e disse:

- Agora vamos para a casa da vovó! Comportem-se!

No banco de trás, os quatro companheiros trocaram um olhar de cumplicidade. A menina Maria gostava de passar o dia na casa da vovó! Lá tinha espaço para curiosar, tinha gatinhos, batata doce, lápis e papel para rabiscar e, o dindo! O dindo sempre tinha umas coisas interessantes para fazer! Sabia brincar. Gostava de brincar! E também de assistir filmes e contar histórias. Quem sabe ele teria uma pista para ajudá-los a encontrar a Bombom...

A vovó veio, faceira, pegar a menina Maria do colo da mamãe:

- Querida da vó! Tem uma surpresa lá em cima! – ela disse, com um sorriso misterioso.

Oba! Surpresa! A menina Maria sorriu e olhou para os seus amigos, ainda sentadinhos dentro do carro.

- A mamãe leva os seus amigos pra você, não se preocupe! - falou a mãe, entendendo o desejo da pequena e acomodando as duas bonecas e o boneco no colo.

Finalmente, no final das escadas, lá no alto, na porta da casa, a vovó chama:

- Vovô! Chegamos! Está pronto?

- Tudo pronto! – responde o vovô, lá de dentro.

Os olhos da menina Maria brilham de expectativa, contentamento.

- Mariazinha, fecha os olhos! – pede a vovó, olhar cúmplice.

A porta abre e o vovô está ali, escondendo algo. Ele fala:

- SURPRESA!

E a boneca Bombom aparece nas mãos do vovô!

- Bombom! – grita de felicidade a menina Maria, pedindo para ser colocada no chão. Abraça e abraça a sua boneca, sussurrando:

- Que saudade, filha!

- Pois é, você esqueceu sua Bombom aqui, no domingo! O vovô e a vovó cuidaram dela, com muito carinho, para você! – esclarece o vovô.

Missão cumprida! Fim do mistério. Bombom foi encontrada!

A menina Maria, feliz da vida, agarrada à sua Bombom, ao Teddy, Bia e à princesa Malei, vai fazer o que mais gosta: brincar!



Asfalto

Sob o asfalto,
a terra agoniza;
sem ar,
sem sol,
sem verdejar
sem frutificar.
Escuto seu lamento.
Agora escuto.
De repente, vejo
num curto e rasteiro
lampejo.
O asfalto
amordaçou
pedaços de vida.
A urgência de caminhos,
a rapidez,
a praticidade
e a comodidade
conquistadas,
sufocaram
ânsia de sentimentos,
liberdade de pensamentos
e carência de movimentos.
O asfalto
acinzentou caminhos,
avançou calçadas,
subiu morros,
interligou o mundo
e fabricou outros muros.
As distâncias, agora,
são outras.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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