Intenso

Vi tudo mais bonito
mais intenso
cheio de detalhes
e de significados.
Uma parte tua
estava muito perto
e vi contigo!
Por  isso.

Nada e tudo

O momento
sempre é singular
e aquilo que ocorre
é inusitado.
O que é nada
agora e para um, 
é tudo 
agora e para o outro.
Redescoberta.

Quando o arco-íris chegar

Numa doce, perfumada
e já distante primavera
a escrita nos aproximava.
Um dia chegou o inverno
congelando as palavras
e nos deixando inteira e
definitivamente
inalcançáveis.
O verão, sem a primavera,
também se foi e o coração
não aquece mais;
a ternura que circulava e
aquecia, perdeu o curso.
O outono permanece
revezando com o inverno
e no seu tempo
o sentir sem possibilidade
de expressão,  produz
fragilidades que não
frutificam e caem
num vazio
arrastadas pelo vento...
Um arco-íris!
Quando ele aparecer
é sinal de que 
a primavera pode voltar!

Além de mim

Um lamentar fundo
e silencioso...
na despedida do
tempo perdido
da espera
de um dia
de uma hora
de um instante
de mudança.
Afastar de vez
cortar os laços
desamarrar os nós
destruir as pontes
erguer os muros
favorecer a distância
calar de vez.
Acenar e dar
as costas para as
quimeras coloridas
que esperançaram os dias
quando não vivia
apenas cumpria...
E o amor?
Este sobrevive!
Vive além de mim,
além do sonho.

Amanhece

Amanhece...
Folhas brilhantes
flores perfumadas
saem da escuridão
da noite,
curiosas
elegantes
lindas e
cheias de mistério!
Nas suas
cores e roupagens
e se mostram
e se doam
cheias de expectativa!
Como se fosse a
primeira vez!

De tarde...

        Debaixo do “ficus” gigante, verdinho, magnífico; o mundo era todo uma tarde de primavera luminosa, azul, com bordas verdes. Perfumado e colorido de voos e gorjeios infantis. Feliz com a brisa de abraço macio e refrescante. 

Ipê


De repente, a dureza e rudeza do real, provocou e chamou os fantasmas da solitude, do medo e da impotência, enchendo de impossibilidade e pavor o presente. E apareceu um sopro de fragilidade: feito criança perdida no escuro da noite, escutando todos os ruídos possíveis e assustadores; visualizando todos os monstros; com as pernas travadas, a fala aprisionada. Um sopro que ocupou espaço imenso no imaginário. Mas as defesas se organizaram. E a imagem do ipê tomou conta. Lindo, amarelo, ao pé do morro; suave e entregue na solidão entre os tons de verdes exuberantes, os recortes e as pedras. Imponente e corajoso na sustentação e no enfrentamento de tudo ali, sozinho. Ao mesmo tempo, integrado no contexto. Lindo, amarelo! Cheio de luz, feito um sol! Cheio de vida, cheio de flor! Cheio amor! E assim, lá de longe, como o fotografaram meus olhos, o ipê amarelo, solidário, acolheu minha dor, aquietou meu temor.

Professor

         No início do ano tive a grata surpresa de encontrar  no blog e depois, no facebook, o meu professor de Literatura, lá do tempo da Faculdade de Letras, nos idos de 77, 78 e 79, no RS. Hoje, um escritor reconhecido e Pró-reitor de Cultura e Extensão numa importante universidade do país. Bonito ver e ter um professor que gosta de ser professor! Eu o julgava muito inteligente, desafiador e corajoso. E ele é. Já era um escritor na época e eu tinha orgulho de ser aluna dele. Suas aulas eram interessantíssimas; eu adorava! Adorava porque a matéria era apaixonante e porque ele cativava com sua fala expressiva, irreverente, singular; misturando humor, ironia, deboche, críticas vorazes e um vocabulário curioso! Usando, com maestria, tanto palavras comuns, quanto belas construções poéticas! Eu trabalhava de dia, estudava à noite; mas não sentia cansaço algum. Era um prazer ouvir. E a paixão que eu via nos olhos e na fala do professor pelas letras, palavras e escritos alimentou a paixão que eu já tinha pela leitura e pela escrita.  Eu tive professores muito bons! Agradeço. Homens e mulheres. E gosto tanto do meu ofício! Bastante, com certeza, por causa de cada um deles e também deste professor, que acompanho de longe. Hoje, no final da tarde, em reunião com meus alunos do 3º ano, atualizando a semana, o vivido no cotidiano; um deles falou  e depois todos foram dando exemplos, concordando e complementando, que “a gente gosta que depois que você dá bronca por algo que aconteceu e não foi legal, na turma, pede desculpas aqueles que não mereciam ouvir”.  Este foi um elogio que eu nunca tinha recebido nestes meus trinta e poucos anos de trabalho. E recebi muitos e adoráveis elogios, assim como críticas ásperas e duras! Tudo aproveitei (ainda bem!), amadureci e acredito que tenha me tornado um ser humano melhor do que teria sido se tivesse me envaidecido, ignorado ou escolhido outro ofício.  Na idade e na fase em que me encontro, nenhum elogio poderia ser mais bonito e mais significativo do que este, nesta véspera do Dia do Professor: ser uma professora respeitosa aos olhos dos meus alunos! O bonito nisto é que embora eu tenha recebido educação para respeitar o outro, foi  e é a lidança com os alunos (e filhos, claro!) que me oportuniza o aprendizado de fato e concreto. É com eles que aprendo (todos os dias) a conviver, aceitar, admirar e respeitar a diferença (não sem dificuldades, mas com desejo e abertura); as singularidades dos ritmos, das formas, dos jeitos, das falas, das respostas, da interpretação, elaboração e compreensão dos fatos; da expressão do pensamento e dos sentimentos. Neste exato momento avalio, com o coração tranqüilo, que dou tudo que tenho e posso dentro dos meus limites e possibilidades; mas que, com certeza, eu recebi e recebo muito, muito mais do que dou partilhando a vida com cada um e sou profundamente grata por este privilégio.

Desculpas

A espera não tinha para onde ir 
a não ser diluir-se em si mesma. 
Antes,  desculpou-se. 
Por gostar, querer, lembrar, 
sonhar, escrever...
tanto amar. 

Enlaçamentos...


O despertador me chamou cedinho. Quando cheguei na rodoviária, eles já estavam lá, sentadinhos no meio fio. O ônibus adiantou-se hoje... Eu sabia que ele, meu pai, estava machucado, caiu fazendo arte, subindo num banquinho! Coisa que aos 79 anos não é aconselhável fazer. Mas um legítimo filho de Virgem faz o que quer e sempre tem razão, não é?! (não entendo nada de astrologia!) Meu coração estava apertado e sabia que o deles também. Mudanças sempre mexem muito, imagina nesta idade, deixando para trás toda uma vida, uma cidade, uma história, amigos, parentes, costumes, a casa, os móveis, relíquias e rotinas... Não lembrei de dar as boas vindas, preocupada em saber como estavam, se esperavam há muito tempo, ali, por mim (só quinze minutos! Mas sei que isto pode ser uma eternidade...); como tinha sido a viagem e, dar um abraço! “Pegaram” chuva a viagem toda, disseram e isto foi por quase doze horas, o tempo da viagem. Eu sentia um aperto cada vez maior na garganta e fazia muitas perguntas, querendo  encaminhar a conversa para horizontes mais azuis, leves; como se fosse como sempre: estavam chegando para uma visita. Mas não estavam. Ainda bem que quando chegamos em casa, meu filho abraçou-os alegremente e com a franqueza e espontaneidade que lhe é peculiar, disse: “bem-vindos e agora é para sempre”! (a palavra que eu não dissera!). Isto produziu um alívio! Precisávamos falar disto. Meus pais chegaram para morar comigo. A "mudança" vem depois. Assim que todos começamos uma vida nova! Tenho que ficar atenta para quando a saudade chegar nos olhos deles e providenciar, então, um passeio aos “pagos”, para rever a querência, a vida que ficou lá; no “torrão natal”; o solo gaúcho que amam tanto! Mas que não foi maior do que o desejo de estar perto de mim, neste período sensível da vida. Duas gerações, dois mundos bem diferentes enlaçando-se no meu, agora; de um lado meus pais chegando e de outro, um bebê, ainda gestando na barriga da minha filha. Eu estou palpitando!

Criança

Combina com alegria,
fazer uma folia!
Combina com história
imaginação,
fantasia!
E com jogo da memória!
Combina com bola,
boneca, corda
e cantoria!
Criança combina
com cor,
suor, flor
e um “tantão” de amor!
Combina  com
castelo na areia,
balanço alto,
plantar bananeira,
pés descalços
e banho
de mangueira!
Um mundo de encanto
curiosidade, magia;
para proteger e cuidar,
compreender,
todo, todo dia!

Amor

Tantas perguntas!
Tanta saudade!
Tantas palavras
e amor para expressar
esbarrando no infinito
devolvidas pelas
ondas revoltas e
diluindo-se na praia
ante o olhar surpreso
de gaivotas curiosas
e do dia cúmplice e azul.

Atemporal

Incensos,
flores
e cores,
alquimia doce.
Acorda a memória
e a alma canta
o coração sossega
e a vida pulsa
inteira, forte e bela
naquilo que
permanece
na atemporalidade,
o amor.

Capitulina (3) - Invasão

            - Ah! Peguei vocês! Sabia que estavam escondidos em algum canto!
            A cara da tia era assustadora, na porta do roupeiro; olhando para eles com os olhos irados; a boca grande, vermelha, abrindo e fechando, pronunciando palavras e palavras  com grande rudeza. Capitulina mal compreendia algumas delas; sonolenta e assustada.
            - vocês dois... fazendo coisa errada e se escondendo depois? Não adianta se esconder! A mentira, a enganação têm pernas curtas!  Tua mãe não te ensinou, Capitulina? Eu falo isto pro teu primo todo dia!  Agora saiam de dentro deste guarda-roupa! Já!
- Capitulina! Psiu! Ei, Capitulina! Vem cá!
Era o primo chamando. Capitulina largou a boneca e foi ver o que o primo queria. Tinham acabado de almoçar na casa dos tios (estava de férias) e o primo estava convidando para uma “arte”. Os adultos, distraídos, tomavam café, preguiçosos e sonolentos, na varanda. A mesa ainda posta, esperando para ser recolhida; a garrafa de vinho, sedutora, lá... O primo, com todo cuidado; um olho na garrafa, outro no movimento na varanda, apanhou-a de cima da mesa e puxou Capitulina pela mão. Correram para o quarto da vó, que passava uns dias na casa de outra tia. O primo era muito corajoso, falante e sempre cheio de ideias! Com isto, preenchia e coloria seus dias com tantas coisas que ela nem dava conta de absorver no seu ritmo “sem sal” de viver. Capitulina gostava de estar com ele. Sentaram atrás de um biombo e rapidamente consumiram aquele resto de vinho da garrafa.  Era gostoso! Que idéia essa do primo...  mas será que a tia e o tio iriam gostar disto? O primo disse que eles nem iriam perceber. Capitulina sentiu um calorzinho gostoso nas bochechas e no corpo todo e tudo que o primo dizia era muito, mas muito engraçado. Começaram a rir sem motivo! De repente ouviram a tia chamando por eles. Ela estava sempre atrás deles. Ficaram assustados; o riso misturado com um nervoso e num ímpeto, entraram no roupeiro da vó. Era um roupeiro antigo, grande, com um cheirinho de naftalina. A voz da tia chamando por eles distanciou; respiraram aliviados; mas o primo achou que era melhor esperar mais um pouco  para sair. Ele conhecia a mãe. Sabia que ela iria perceber o que tinham feito e não ia ser nada bom para os dois. O calorzinho, efeito do vinho; mais o cheirinho da naftalina, a maciez das roupas, o escurinho  dentro do roupeiro, combinados, trouxe o sono e os dois, cada um pendendo para um lado,  cochilaram. Capitulina sonhava com a tia gritando, sacudindo seu corpo... demorou para perceber que isto estava acontecendo de fato.
Agora, passado o incidente, banho tomado, estava sentada no sofá das visitas. A tia olhava com  desconfiança para ela; deixando-a  muito envergonhada. Queria ir para casa. Será que a tia contaria para sua mãe. E o que a mãe diria... O primo parecia nem ligar. Empurrava o carrinho de madeira pra lá e pra cá, em cima da mesa de jantar. A tia rezava, de repente!
- Oh! Meu Deus, meu Deus!  O que fazer com estas crianças desobedientes? Olhai por elas, senhor! Tenha piedade delas, senhor! Onde já se viu... pegar  escondido o vinho, beber e ainda se esconder! Sabiam que Deus não gosta de criança mentirosa, desobediente? Vocês sabiam que Deus enxerga, vê tudo! Que ele está em toda parte, vê tudo, sabe tudo! Vocês estavam lá dentro do roupeiro, sem luz; mas ele estava vendo. Deus vê tudo. Nada escapa. E depois ele castiga. Ah! E como! Não queiram experimentar!
A tia levantou, lançando um último olhar condenatório aos dois. O primo saiu correndo, brincar na rua com os amigos que chamavam. Nem um pouco preocupado com o sermão da mãe. Capitulina voltou para as bonecas; mas não conseguia brincar. Estava com medo; olhando pra lá e pra cá, buscando os olhos de Deus. Em que lugar estariam escondidos, vigiando seus movimentos?

Sequências

Sequências de
asperezas e
cores desbotadas
alternaram-se
até chegar
outra vez
no riso mais  bonito
guardado  entre
cachoeiras faceiras,
de onde o amor
brota, emerge
e  feliz desliza
cheio de sol
cheio de azul!
Acarinha
distâncias
saudades
silêncios e
deságua
feliz,
no meu coração.



Agonia do morro...

Voltava, a pé, para casa. Oportunidade boa para observar o contexto; o que a  praticidade e a rapidez do carro impede.  Os loteamentos, os empreendimentos imobiliários são disputadíssimos nesta região, todos sabem, assim como os posicionamentos acerca disto. Acontece, também a ocupação clandestina de algumas áreas. Ao mesmo tempo em que são celebrados os novos lançamentos e vendas de imóveis cada vez mais sofisticados e que casas vão salpicando alguns morros sem o devido cuidado; vozes da comunidade se "alteiam" denunciando o desrespeito ao meio ambiente e as gravíssimas consequências.  Acompanho, preocupada e tensa. Esta região onde moro ainda é muito linda, exuberante! O asfalto e os prédios ganham espaço e o problema disto é que a natureza perde espaço e a nossa qualidade de vida também. Há uma busca em viver, construir nestes lugares, que são pequenos paraísos verdes e sossegados! As pessoas querem sair, fugir do barulho, dos engarrafamentos,  do cimento, da agitação. O que é bom, natural. Mas onde vão, levam tudo isto junto.  Parece que há um lado nosso, humano, que quer este conforto conquistado; mas outro, que se ressente com as conseqüências e, ao mesmo tempo que busca, foge e, neste movimento, age irrefletida e infantilmente... porque algumas coisas não combinam e não vão combinar nunca, nem interagir em paz e harmonia. Na caminhada, “dei de cara” com um dos morros aqui perto. E levei um susto! Passo por ele várias vezes durante a semana; mas há algum tempo acho que não olhava muito bem para ele... Está todo cortado, violado, exposto. Sangrando; sangue escorrendo, sangue coagulado, preto. Cheio de cicratizes. Gemendo. E ninguém escuta. Buracos na terra. Mutilação. Ninguém vê. Ninguém acarinha, "curativa". Eu não estava vendo! Bem ao meu lado, no meu campo de visão e audição. Não vi. Não fiz nada. É feio e triste. Muito feio e triste! Ao lado, pedaços da mata Atlântica, sobrevivendo; perdendo partes do corpo de pouco em pouco, atacada sorrateira e covardemente. Imagino o pavor deste pedaço sobrevivente! Algo mais ou menos semelhante ao pessoal, que a cada enchente, apavorado, observa o rio que sobe ameaçando sua casa, suas coisas, sua vida... com a diferença de que estas pessoas, advertidas com antecedência, podem optar em sair dali ou não e preservar a sua vida. Eu choro. Vendo a minha e nossa pequenez e ignorância  se agigantando e produzindo este tipo de coisa; que dificilmente tem volta... enquanto nossa grandeza, sensibilidade e inteligência humana, neste aspecto urgente (como em tantos outros), minimiza. E não  lavo as mãos culpando políticos e “poderosos”; porque isto tem sido sempre o mais fácil e confortável para muitos e nunca mudou o rumo de nada.  O que mudou a história, em todos os seus momentos, primeiro foi a consciência e decisão\ação pessoal; depois a coletiva. Muita coisa ainda não mudou talvez porque os indivíduos ainda não amadureceram; dependentes e passivos, ocupados com seu umbigo.

Circo

Estar embaixo de uma lona de circo é delicioso!  A criança da gente vem pra fora! Alegria e suspense! Magia! Aquela gente toda, com suas roupas e maquiagens  peculiares; os tambores e o picadeiro... maravilhoso! Onde pernas e braços, mãos e pés se esticam em performances sinuosas, bonitas; onde não há limite para experimentar e desenvolver habilidades inusitadas. O medo não existe! Tudo é possível. Quanto mais habilidades aparecem; mais claro fica o quanto desconhecemos sobre nós mesmos e nossa capacidade. A lona, o picadeiro, as roupagens, os aparatos todos produzem um clima, uma “aura” de mistério, de  enlevo, doçura e romantismo. Mas de verdade, tudo é muita precisão, objetividade. Um detalhe impreciso e... acabou-se! Hoje a escola foi ao circo. Que bom! Bom demais! Eu fiquei impressionada com os equilibristas. Especialmente com um que  equilibrava coisas com os pés... fantástico! Quanta técnica, quanto ensaio, força de vontade... os meus alunos ficaram impressionados com os motoqueiros dentro do globo da morte. Imagina que perigo!  Que adrenalina! Nossa!... A vida é muito rica.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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