A vida dos rios "por um fio"


   
    
O rio agoniza!
Dentro dele,
a vida engasga,
sufoca.
O rio sofre.
Se debate, agita,
não consegue
fugir, se proteger!
O rio sangra!
Atropelado, atropela;
se corta, se rasga
derruba e machuca.
Desesperado,
o rio não respira mais,
não aguenta mais e
se afoga na lama.
O rio morre.
No seu leito de morte
não está só.
Ao redor, desolação.
É mais um filho tombado,
ferido, que a
Mãe Terra
carrega em seus braços...
num silêncio desesperador...
É o silêncio gritante
de mãe que
não aguenta mais
a violação, as perdas,
a extinção, a humilhação,
a morte
dos seus queridos.
(Imagem da internet: rio Paraopeba, MG)

Além de mil


               
       
        - “Vovó, sei contar até mil”!
        - Ah! É?
        - “Sim! Quer ver? 1, 2, 3, 4, 5”...
        E seguiu contanto ... mexendo numa coisa ali, virando para cá, para lá; a todo momento conferindo se eu estava atenta à sua contagem.
        - ... “95, 96, 97, 98, 99, 100”!!!
        Parou. Nos olhamos. Ela fechou os olhos e buscou algo dentro de si... mas por pouco tempo. Então falou, muito tranquila:
        - “Acho que só sei contar até 100, vovó”!
        - Mas olha, querida... é bem fácil: só repetir os numerais ... Agora vem o 101, 102... – e continuei a contagem, imaginando que ela iria me seguir e ficar muito faceira com a descoberta! Já me preparava para a longa sequência numérica que viria, mas ela, no ato, interrompeu:
        - “Não, não, vovó! Não quero saber! Pra que eu tenho a escola? Já imaginou que chato eu chegar lá, já sabendo as coisas? Daí não vai ter graça! Deixa, deixa! Vou aprender lá! Vamos brincar de outra coisa, vovó! Vamos brincar de forca”?
              Bah!
        Um texto completo. Uma sequência além de mil! Nada a acrescentar. Muito a refletir sobre o universo adulto, as inquietudes, as certezas, a ansiedade em dar respostas, apontar caminhos, acelerar aprendizados, falar muito e escutar pouco. Depois disto coube, sim, um silêncio. Um majestoso silêncio... pleno de significados; de respeito e gratidão pela oportunidade de reaprender com uma criança: é o presente que importa; “não apresse o rio”!
                


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog