Além de mil


               
       
        - “Vovó, sei contar até mil”!
        - Ah! É?
        - “Sim! Quer ver? 1, 2, 3, 4, 5”...
        E seguiu contanto ... mexendo numa coisa ali, virando para cá, para lá; a todo momento conferindo se eu estava atenta à sua contagem.
        - ... “95, 96, 97, 98, 99, 100”!!!
        Parou. Nos olhamos. Ela fechou os olhos e buscou algo dentro de si... mas por pouco tempo. Então falou, muito tranquila:
        - “Acho que só sei contar até 100, vovó”!
        - Mas olha, querida... é bem fácil: só repetir os numerais ... Agora vem o 101, 102... – e continuei a contagem, imaginando que ela iria me seguir e ficar muito faceira com a descoberta! Já me preparava para a longa sequência numérica que viria, mas ela, no ato, interrompeu:
        - “Não, não, vovó! Não quero saber! Pra que eu tenho a escola? Já imaginou que chato eu chegar lá, já sabendo as coisas? Daí não vai ter graça! Deixa, deixa! Vou aprender lá! Vamos brincar de outra coisa, vovó! Vamos brincar de forca”?
              Bah!
        Um texto completo. Uma sequência além de mil! Nada a acrescentar. Muito a refletir sobre o universo adulto, as inquietudes, as certezas, a ansiedade em dar respostas, apontar caminhos, acelerar aprendizados, falar muito e escutar pouco. Depois disto coube, sim, um silêncio. Um majestoso silêncio... pleno de significados; de respeito e gratidão pela oportunidade de reaprender com uma criança: é o presente que importa; “não apresse o rio”!
                

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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