Repetir

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A folha que cai,
não tem outra chance.
Cair é morrer.
Embora morrer
não signifique acabar,
mas continuar de outro jeito.
Não há escolha.
Levantar,
voltar para onde estava
ou livremente
escolher outro lugar
e seguir em frente
é privilégio!
Cair e levantar
pode ser sem conta
são muitas as chances,
mas cansa
quando não há mudança.
O que não aprendo?
O que não consigo ver
perceber, sentir
para deixar de repetir?

Olhar de infinitos

Quando teus olhos
abriram as portas
mergulhei neles
num  voo de imensuráveis
sensações
percepções
e palavras que em nada
correspondiam às
externadas;
misturando conhecido
e desconhecido;
proximidades tão fortes
e evidentes
quanto ilusórias,
sem sustentação
no real...
onde teriam se construído?
Mas estavam ali!
Quanto sol!
Quanta luz!
Quanto azul!
Quanta maciez!
Um estar em casa
inteira, aquecida,
feliz!

Combinado


     
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- Então tá, 
vamos combinar
que eu te gosto
e que tu me gostas...
- Combinado!
- Ai, que feliz!!!

Pisar em ovos

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Difícil.
Por vezes,
num movimento
delicado da "Roda",
não é concessão,
nem fraqueza e
menos ainda,
submissão!
É arte!
Mas não é dom.
É arte sutil,
forjada
em dura batalha
e parceria inédita
(o que me surpreende
e também aquieta)
entre o coração
e a razão (!)
em favor de
um agora
ou de um horizonte
que inspire 
e exale
paz.

Quebra-cabeça

O maior de todos que eu já vi, com mais de duas mil peças! Uma figura lindíssima para ser montada e todos aqueles pedacinhos parecidos... que exercício grande de centramento, reflexão, atenção, paciência e perseverança para encontrar, reconhecer os encaixes corretos, perfeitos... afinidades pela cor, outras pelas formas do desenho, outras pelos detalhes! E dedução e intuição. Partes, detalhes, foram, aos poucos sendo revelados... mas lá, num determinado espaço, faltou uma peça. Continuamos avançando em outros pontos e aqui e ali e lá foram aparecendo outros espaços vazios que produziam tensão, até mesmo angústia... mas nada de encontrar aqueles elos singulares. Um literal “quebra-cabeça” neste intento! De quando em quando, foi preciso parar, comer ou beber algo, descontrair, focar outra coisa, relaxar, para então retomar e prosseguir. Impossível desistir, no entanto!  Chegamos a uns 80% do trabalho realizado a dez mãos, até ali e, em dias diferentes. As peças que faltavam e que estavam sendo consideradas como perdidas, foram encontradas, uma, inclusive, embaixo do sofá! Um dia destes, as mesmas ou outras mãos, irão concluir a obra. Não dá para ter pressa; como já disse, é preciso calma, persistência e paciência. Naturalmente, enquanto procurava as peças adequadas a cada situação, percebi a grande semelhança com a vida: a mesma busca, no cotidiano, por respostas e atitudes que se encaixem e expliquem os enigmas, as incógnitas, os vazios e todos os demais ingredientes que compõem os quadros, as figuras, as fases, os momentos da vida... percebi o meu especial e particular quebra-cabeças interligado a tantos outros e a nós, todos, dentro de um imenso e fantástico e único quebra-cabeças, que não dá, de forma alguma, para decifrar sozinhos e, muito menos sem antes, encontrar as peças fundamentais do nosso quebra-cabeça pessoal... cada peça única e insubstituível; exigindo muita atenção; pois algumas são muito semelhantes e por vezes, afoitos e impulsivos nos enganamos, nos deixamos iludir pela aparência e pela alegria do encontro, mas o encaixe não é perfeito! E enquanto não encontramos a perfeita, a exata, o trabalho não anda, não flui;  tudo fica muito confuso; perde-se tempo, energia... mas que alegria quando percebemos o engano, tudo se encaixa novamente e esta conquista impulsiona, anima, fortalece e enriquece a continuidade da busca... lindo isto!!!!

Manhã


Aos meus olhos,
na manhã
recém nascida,
a água, na baía,
era um espelho brilhante
e trêmulo de vida,
refletindo vida!
O voo dolente das gaivotas;
o perfil dos barcos
coloridos e adormecidos,
sonhando com horizontes;
o cordão sincronizado
de andorinhas cantantes;
nuvens brancas contornando
o sossego matinal...
garças equilibristas
balançando o cume das árvores...
Somente o homem
com sua grosseria
para quebrar o encanto
da manhã; ou...
com sua ternura,
significar tanto
encantamento!

Descortinar



                                                                                     
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E  a neblina
“se derrete” para o sol...
descortinando os
corpos das árvores;
belos de tantos contornos
e silêncios...
e deste movimento sutil
de entrega ao vento
e ao tempo...
Me fala  disto que sinto
quando abro meus olhos,
sempre há mais
para descortinar
e para ver de outro jeito;
para alimentar
coração teimoso.


Sem nome

  
                                                                                                  Casa vazia,
portão trancado
cadeira desocupada,
folhas perambulando
acumuladas
na rua e na calçada.
Braços abandonados
de abraços abortados,
falas interrompidas
de nunca mais alimentadas.
Cumplicidade zerada
partilhas ali num canto
largadas... frio!
Silêncio de vocês...
ausências voluntárias
de mim, livres que são.
Buracos! Vazios de hoje,
cheios de ontem...
acarinhando
tristeza sem nome.

Recordação

Vento e melodias
remexem o tempo
e a memória,
evocam imagens
remotas,
antigas como o mar
os dias, o luar...
Um sentimento fundo,
nem todo claro
nem tudo definido...
Mas real,
intensa
recordação
de amor.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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