Lua enfeitada

     Imagem:  Elcio Limas
Lua
lua mãe
lua mulher
feminina, feiticeira
sutil, sedutora!
Enfeitada de estrelas
e de suavidades
deslizando, solitária
e enigmática,
pelo caminho da noite,
sorrindo uma felicidade
só sua!
Inebriada de amor
segredos e encantos
que  partilharia
com o sol,
só com ele...
se pudesse tocá-lo.










O ermitão e o sol

  Imagem: Elcio Limas
A madrugada se despede,
com preguiça,
do dia que 
acorda suavemente...
O ermitão
espia o sol
que vem chegando...
E seu olhar curioso
apaixonado, brilha!
Funda sintonia com o sol
sempre brilhante
sempre apaixonante!
Emoção e surpresa!
Cada dia de um jeito
de todos jeitos: belo!
O coração eleva
o olhar viaja
e o  ermitão voa
livre, pelo céu
vestido de cores!




O carinho do outro

De verdade
basta tão pouco
para o sol brilhar
dentro
aquecer  e
manter
a vida:
o carinho
do outro!

Cantante

Está ali, o amor,
cantante, sensível
e brilhante!
Livre,
pássaro frágil!
Interagindo com
perfumes e sabores,
criaturas, verdes,
flores!
Voa, voa!
No voo se expressa!
Aprende, troca,
feliz!
E terça, é dia
de Maria!

Singular

Gosto de ver a chuva mansa e substanciosa deslizando pelas folhas verdes que me cercam. Como tudo neste mundo de “meu Deus”, nada é igual! Cada coisa, cada um de um jeito. Cada jeito, uma surpresa! Cada surpresa, uma (re)descoberta! Tanta singularidade “toca” profundamente a alma! Produz silêncio reverencioso, sossego e compreensão crescente acerca do nosso também próprio, singular jeito de ver, agir, reagir  e amar.

Estava ali!

Não chegava com os dias
e nem com as noites
porque já estava ali!
A saudade  não deixava ver!
Quando deixei de esperar,
as nuvens se foram
o céu abriu
e eu vi!
Minha alegria
e inspiração
estava bem ali,
sutilmente
aconchegada
no meu coração!

Obrigada!

Obrigada!
Por tanto
e por tudo!
Acarinha
sossega,
liberta
apazigua,
dizer!

Inquieta, curiosa

Adolescente, gostava de sentar no alto da escada externa, apoiar-se na parede com o caderno na mão. Ali estava o sol que abraçava amoroso, gentil. Dali contemplava o céu, as nuvens passeadeiras, o movimento da brisa, as pessoas que passavam na rua, os verdes das árvores... e tudo falava, inspirava, mexia e sensibilizava... Sozinha observava o que se passava dentro... alternando tarefas escolares com registros de sonhos e “viagens”; observações do cotidiano e emoções, tão intensas,  belas e inusitadas quanto o calor do sol e os desenhos que as nuvens faziam no céu azul. O futuro estava longe e o espaço até ele ia sendo preenchido com estes desejos, sonhos, fantasias a respeito de como tudo seria... Agora, de repente (mas não foi assim “de repente”) está naquele futuro esperado e imaginado! E o calorzinho do sol, o movimento das folhas, as nuvens (ainda passeadeiras)  destacadas no céu azul, de hoje, recordam este tempo que passou e como foi que tudo se passou... Repentinamente, uma porção de folhas amareladas e em grupo, desprendem-se de uma árvore e suavemente, uma a uma, no seu tempo e ritmo, vão pousando no chão... Imediatamente associa as folhas que caem a tudo aquilo que não vingou, não aconteceu; morreu lentamente, envelhecendo; desgastado pelo tempo e pela espera inútil... Percebe, então, que isto produz, ainda, nostalgia intensa e que o luto não passou. Mas vai passar. Contudo, de outro lado, observa a nogueira, a ameixeira, o limoeiro, a laranjeira... lindos, fortes, vigorosos, cheios de frutos! Assim como outras plantas desenvolvendo, brotando, ali no quintal. No mesmo  processo de associação, estas, por sua vez, mostram tudo aquilo que aconteceu conforme o sonhado (nem sempre exatamente, por vezes de outro jeito e por vezes melhor e mais bonito!) e isto é bom! Maravilhoso! Maior! Que espaço este entre a adolescência e os cinqüenta e poucos! Cenário, roupagem, idade, experiências, corpo, “cabeça”, emoções, maturidade, energias diferentes  mas... alguns ingredientes mantidos, intactos, como a sede de encontrar palavras para expressar o que vê e experimenta! E, a mesma constatação de que, para algumas coisas não existem palavras. Então, quem sabe, estas coisas não devam ser traduzidas; porque não interessam a ninguém, exceto à sua alma; desde aquela época, inquieta, desassossegada e curiosa das sutilezas.

Em frente à janela...

Em frente à janela
há um espaço
um portal
que divide a vida
os papeis.
Ali, meu olhar
se agiganta
e por ali
meu coração
navega, voa,
caminha e desliza
inteiro, verdadeiro.
Tudo é conhecido
está no seu lugar
respirando suavemente.

Muitos beijinhos!!!

- “Sempre dei muitos beijinhos nela”... disse emocionada, minha colega, num momento durante o  velório de uma aluna, no final de semana.  Lembrei também dos abraços e das conversas com a pequena, que sempre foi muito amorosa com a gente... Pensei e senti com profunda intensidade que o que de fato embeleza e enche de leveza a gente e a vida, é o afeto compartilhado. É o que se leva e é o que fica ou, é o que se lamenta. O domingo foi melancólico, por isto. Por causa dos afetos truncados, dos afetos mal cuidados, dos afetos sem palavras e sem possibilidade de encontro. Vontade de passar muitas coisas a limpo; reescrever outras tantas e repetir e repetir e repetir uma infinidade de tantas outras, quando a vida manifestou-se em plenitude e beleza, porque houve encontro.

Capitulina (6) e o "caso da embreagem"

Congestionamento quilométrico e sinuoso ao cair da tarde. Em longas filas, o trânsito fluía lentamente. Prisioneiras do engarrafamento e escondidas da garoa fina e fria na tarde de outono com cara de inverno, as pessoas, dentro dos seus carros, ruminavam seus pesares, lastimavam a perda de tempo na véspera de feriado. Capitulina, no seu carro, ouvia música, escutava o som das buzinas expressando  as queixas, o inconformismo do outro e se perguntava o que tudo aquilo ali tinha a ver com ela, por que estava presa, naquela horrível fila. Acontecera um acidente feio, diziam, lá na frente... todos os dias e mais de um num mesmo dia, acidentes e mais acidentes! Desrespeito, banalização, impunidade; cansaço, perigo e tensão: ingredientes cotidianos no trânsito...  Queria estar em casa, lendo, dormindo... porque cedera ao convite da amiga para tomar um café colonial na beira da estrada, num dia chuvoso e véspera de feriado? Tanta coisa para fazer e agora ali, presa... e ainda os semáforos! - Puxa! Para que tantos! – ruminava. -“Vai ver” eles também eram responsáveis  pela lentidão do trânsito! - E, justamente numa parada num semáforo, o barulho  vindo  debaixo! Seguido  de um “solavanco” e do consequente "desligamento" do motor... – Meu Deus! Não faltava mais nada, a não ser o carro enguiçar agora! - Tentou religar o veículo e então percebeu que a embreagem não estava funcionando... Logo ouviu o “coro” das buzinas: o sinal abrira e ela estava parada, impedindo o deslocamento dos outros!  Abriu o vidro e fez sinal para que passassem pelo lado, dando a entender que estava com problemas. Alguns conseguiram passar, mas outros não, por causa das filas paralelas... O motorista que estava atrás, desceu e veio até ela e perguntou, bastante impaciente, o que estava acontecendo. Explicou que a embreagem não funcionava. Então, ele chamou outros motoristas e Capitulina teve seu carro empurrado até o acostamento da larga avenida. Os carros puderam seguir seu destino e Capitulina ficou ali, ruminando raiva e lágrimas. Lembrou do seguro. Ligou e depois de algumas horas de espera e de muito inconformismo, estava sendo rebocada para uma oficina “24 Horas”. Voltou de táxi para casa; ligou para amiga que a esperava no café colonial, se desculpando. Preparou um chá e sentou-se, exausta, chateada, profundamente irritada.  Embreagem quebrada. A palavra ficou martelando na cabeça. Embreagem... Na internet encontrou que “a finalidade principal da embreagem é possibilitar unir algo funcionando com algo parado e isso tem necessariamente de ser feito de maneira progressiva... “e suavemente”. O “algo funcionando” é obviamente o motor e o “algo parado” é a transmissão às rodas”... Capitulina sentiu uma quentura, lendo. Algo que veio do peito e se irradiou pelo corpo todo! Um lampejo de consciência! Se pôs a pensar, tentando recordar em que momento da vida perdeu a paciência, a tolerância, a suavidade... quando foi que tornou-se marionete dos acontecimentos; perdendo o controle dos pensamentos e sentimentos... quando foi que a secura instalou-se e junto com ela as queixas, as reclamatórias, o azedume, o pessimismo e a mesmice... deixando de observar, se perceber e de entrar nas situações e demandas com cuidado, com atenção; sem exageros e pré-concebidos, preconceitos; com calma? E, de repente ficou contente com as ideias e sentimentos que estavam brotando com estas reflexões! E, considerou que ainda bem que fora somente a embreagem do carro que quebrara definitivamente! 

Tango

O homem
a mulher
a música...
Corpo,
mãos
que se tocam
e se afastam
e outra vez se buscam!
Sincronia.
Movimentos
que se completam...
Um inspira
o outro expira!
Enlevo
atração
percepção
leitura do outro
comunhão.
Belo! 


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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