175 - E depois .....

A chuva despeja
sem perguntar
o seu choro
seu lamento
seu conteúdo.
De onde vem
para onde vai
que importância tem?
Como tantas coisas
Impostas e expostas.
Um trovão, ao longe
um lamento,
um resmungo,
uma queixa....
tanto barulho,
tanto barulho
reclamação...
mais alguém
jogando fora
o que não suporta mais.
Um relâmpago
assusta
é um risco de fogo
cortando o céu.
Machuca
faz sangrar
onde coloca luz
mexe nas fragilidades,
cortante.
Palavras cortam
ausências cortam
indiferença corta.
Faz sangrar.
Verter. Inundar.
Lágrima. Chuva.
Água derramada
despejada
abundante
regando
fertilizando
uma surpresa.

174 - A velhinha, no mercado

            Ela conversava, argumentativa com um homem, que, com ela, escolhia batatas e tomates. Estava muito indignada e preocupada com a situação no Rio de Janeiro, com o aparato militar e policial subindo os morros, atrás dos bandidos e traficantes. Ela capturou o meu olhar de imediato! Era graciosa, cheia de rendinhas e enfeites e exalava afeto, cumplicidade com as coisas, olhar profundo. Eu escolhia vagens e beterrabas e viajei no sotaque e na conversa deles; imaginando que eram parentes, estrangeiros morando no Brasil; vindos pra cá, depois da guerra, em busca de uma possibilidade de vida melhor, de sossego e que esta situação de tensão e de violência, agora focada no Rio de Janeiro, estivesse, atualizando medos, vivências dolorosas... certamente, como diria meu pai, “imaginações nada comprováveis” (minhas!)! Então eles saíram do meu foco e eu me voltei ao que devia... Por pouco tempo, pois, de repente, a velhinha estava ao meu lado, escolhendo frutas. Nos olhamos e sorrimos uma pra outra, nos gostando à primeira vista! Ela falou que estava escolhendo frutas para sua gatinha! Imagina que a gatinha não comia ração antes de comer uma frutinha! E que a gatinha se chamava Michele! Homenagem à Michele Obama, pois admirava muito o casal norte americano! Trocamos impressões sobre vários assuntos circulando entre as cenouras, alfaces, cebolas, maçãs e laranjas. Ela comentou que a filha não gostava que ela falasse assim, com todo mundo; mas que ela gostava. Não gostava de  ficar séria, triste, isolada! Bom mesmo era encontrar as pessoas de sorriso aberto, olhar brilhante, expressão confiável e, conversar! Tantas coisas tínhamos em comum e nem ficamos sabendo o nome uma da outra! Mas eu gostei de pensar e imaginar que quando ficar (se ficar!) velhinha assim, serei bem parecidinha com ela! E, provavelmente, meus filhos terão a mesma preocupação comigo.

173 - Solidão

               O que é necessário é apenas o seguinte: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, é preciso conseguir isso...”. (Rainer Maria Rilke).
        Solidão é um produto que ninguém quer, nem de presente e muito menos buscar por ele, voluntariamente. O poeta Rilke parece constatar a mesma coisa, pois fala, na continuidade do seu pensamento, que muitas vezes as pessoas se sujeitam a uma relação qualquer, somente para fugir da solidão. Escreveu isto em 1903. Hoje, em 2010, ele manteria esta idéia? Com maior liberdade, direitos conquistados, quebras de tabus e preconceitos; além de avanços tecnológicos que nos permitem tanto, inclusive relações virtuais; a solidão ainda é presente? Sentimos mais, menos ou a mesma solidão que sentiu o homem primitivo e todos os que vieram depois dele, em todos os tempos, todas as eras? Poder haver algo mais bonito e vital do que estar em interação com o outro? Por outro lado, como é profundamente gratificante ficar por momentos a sós conosco mesmos... mas é isto a solidão? Ficar só? E estar com alguém é não estar só? Uma noite, nesta semana, durante a Noite do Soninho dos pequeninos, na escola, houve um momento ímpar, entre tantos, quando eu contemplava os olhinhos deles, que por sua vez, contemplavam, embevecidos, impressionados, as chamas da pequena fogueira (ao redor da qual estávamos), que se erguiam do quintal silencioso para o céu estrelado, faceiras, quentinhas, brilhantes e barulhentas! Os pequeninos não se mexiam, extasiados com a beleza do fogo, visto assim, num contexto diferente, de aventura, de descobertas fantásticas fora do ambiente familiar. Este olhar embevecido, encantado diante da descoberta das coisas do mundo é algo tocante demais para quem observa! Num outro momento sequencial, quando eu fazia compras num armazém chegou um homem que disse ser portador do vírus HIV e necessitar de R$ 8,00 para completar determinado valor e poder comprar algo que a filha pequena necessitava. A senhora que atendia no caixa fez uma interdição e ele teve que sair, muito bravo. Quando eu entrava no carro, encontrei-o novamente pedindo dinheiro a um casal, que foi bem agressivo com ele, ao que revidou com gestos grosseiros. Eu dei a ele uns trocos que tinha. De impulso, não pensei e, por isto, ouvi severas críticas dos familiares que me acompanhavam. Na sequência, ouvi uma melodia que mexeu e produziu um outro tipo de emoção, intensa, funda, forte, naquele momento: ...“Na escuridão o teu olhar me iluminava \ e minha estrela-guia era o teu riso \ coisas do passado são alegres \ quando lembram novamente \ as pessoas que se amam... \ em cada solidão vencida eu desejava \ o reencontro com teu corpo abrigo \ Ah! Minha adorada \ viajei tantos espaços \ prá você caber assim no meu abraço \ Te amo!’’... Com as palavras do poeta na cabeça refleti que eu não estava só com as crianças na escola, nem no armazém e nem ouvindo a melodia. Muitos compartilharam aqueles momentos comigo, viram e ouviram a mesma coisa. Mas com certeza, as impressões foram bem diferentes. Tenho pensado que a solidão é exatamente este estado que nos pega, num instante, quando nos descobrimos completamente sós na nossa existência, frente a um sentimento, a uma descoberta, a uma constatação, a uma demanda, a uma realidade.... que não há como dividir, não há como o outro saber ou compreender e, por vezes, não há palavras para expressar. É só meu; só eu sinto, percebo, reajo... assim, desta forma, nesta frequência e intensidade; só eu e ninguém mais. É o momento de ser e estar sozinho, se conhecer e reconhecer diferente, completamente único e desamparado. Os modelos, as respostas prontas, as receitas, as normas, os dogmas, os conselhos não se encaixam. Talvez, se respirar, não fugir e aprofundar no mergulho, de fato, neste desamparo do primeiro momento, possa , como os pequeninos, descobrir encantos nunca imaginados; descobrir que a solidão é companheira, compreender o que tantos, sábios, já compreenderam e o que o poeta diz, concluindo o pensamento inicial: “...apenas preste atenção no que surge a partir de dentro e eleve-o acima de tudo o que o senhor percebe em torno. Se um acontecimento mais íntimo é digno de todo o seu amor, é nesse acontecimento que o senhor deve trabalhar de algum modo, sem perder muito tempo nem muito esforço para esclarecer sua posição em relação aos outros homens. Quem é que lhe diz que o senhor tem uma posição?... se não há nenhuma comunhão entre os homens e o senhor, procure estar próximo das coisas que não o abandonarão; ainda lhe restam as noites e os ventos que passam pelas árvores e sobre muitas terras; entre as coisas e os animais, tudo ainda é pleno de acontecimentos em que se pode tomar parte... O senhor não percebe que tudo o que acontece é sempre de novo um começo?...”.











172 - Arco-íris

Como tesouros
nas extremidades
do mais belo arco-íris
assim alguns sonhos
perturbadores
fortes, grandes
brilhantes
teimam fugir
do imaginário.

171 - Detalhes, logo de manhãzinha

  Bem pertinho, os papéis, as avaliações, os trabalhos a concluir, corrigir; planejamentos a fazer para a semana que inicia e para o final de ano letivo que se anuncia. Um pouquinho adiante, na varanda, já acima dos óculos, os gatinhos, esperando o café da manhã, pacienciosos, me observando enquanto ora se espreguiçam, ora se antenam ao menor ruído e movimento. É surpreendente como estão alertas o tempo todo! Um cheiro de jasmim chega até mim, numa rima espontânea e também me surpreendem, porque eu não os vi desabrochar; simplesmente já estão ali! Assim como as uvas, na parreira, cheias de grãos já bem gordinhos! Eu não os vi “nascerem”! Por isto admiro os gatinhos; não perdem um detalhe! Eu lamento ter perdido estes detalhes tão importantes. De repente quando a gente vê, já está ali; mas isto não foi uma magia, foi um processo. Mais adiante ainda, lá na rua, o catador de lixo reciclável passa e para na frente, na casa do vizinho e eles conversam algo que daqui não entendo, mas percebo o tom alegre, o bom humor e isto me alegra, me dá uma sensação de paz. As pessoas, na rua, ainda riem, ainda se encontram, ainda têm algo em comum, confiam e partilham. Escuto os pingos de chuva que deslizam do telhado e das plantas ao redor da casa, caindo de folha em folha até chegar no chão, embora a chuvinha mansa já tenha cessado. Os morros, à frente, ainda dormem, silenciosos, tudo muito quieto, respeitoso ao tempo de cada coisa, ao momento de cada coisa. Se a gente pudesse aprender isto... curtir estas delicias não somente observando, relatando; mas vivendo!



170 - Ali!

Sabe-se que é feliz
muito feliz

extremamente feliz
bem ali!
Estranhamente
ali, naquele
raro momento
quando depois de um
tempo aleatório, longo
ele se faz presente
e mesmo distante
está perto,
toca sua alma e
enche o coração dela
de alegria com seu
sorriso
carinho
energia!
Essa alegria ímpar
se multiplica dentro dela
e logo se reparte
em infinidades de coisas
que cria e faz
com muito amor
porque ele é
há muito e muito
e muito tempo seu
“muso” inspirador.

169 - Instante

                 O quintal estava vazio mas não silencioso. O movimento das crianças, suas vozes, risos, chamados, circulavam, vibravam por ali, à sombra da grande árvore, ao redor dos balanços e dos brinquedos. A memória do espaço os guardava. Um vento gentil, de pouco em pouco vinha e movimentava, “varria” folhas vivas que estavam pelo chão de areia... e cada movimento destes repercutia dentro de mim como se fosse uma passagem de tempo. Um tempo precioso, intenso e preenchido em todos os seus espaços. Este meu tempo de quintal, esta minha vida na escola e todos estes meus encontros com estas tantas e tantas vidas, nestes tantos e tantos anos... o tempo tornando a passar e repassar no movimento das folhas pelo chão, por vezes rapidamente, por vezes suavemente; como de fato tudo é... coisas difíceis e morosas; momentos mágicos, prazerosos e fugidios, rápidos ou... vice-versa! De repente, tudo ali, inteiro, presente, num único sopro de vento. A vida parecendo um instante à sombra de uma grande árvore.

168 - Tantas coisas

Sol promissor
vento geladinho
passarada elétrica
preocupações
prazos
decisões
saudade.



167 - Reticências...

Por um tempo longo
companheiras,
aliadas, cúmplices.
Nas mãos,
nos olhos,
nos gestos

e nas palavras.
Eu gostava tanto
das reticências!
Podia escolher a
felicidade que quisesse
elas abriam possibilidades
espichavam esperanças
alardeavam sonhos
propagavam ideais.
Não as alcancei mais

tão longe foram,
para além do possível.
E eu me perdi delas.
Agora eu encontro e
me forço aos
pontos finais.
Me arrisco a uma e
outra interrogação.
Mas queria mesmo
de fato e de verdade,
agora, um tempo para
me deliciar com
as exclamações!









166 - Intimidade

Aqui, só os grilos,
mantralizando
sem fim
testemunham
a luz prateada
e cálida da lua
infiltrando-se por
entre as árvores
silenciosas,
dormidas...
e, eu!
Talvez lá ou aí,
outros estejam
assim, emudecidos e
um pouco sem jeito
flagrando um
momento de magia
quando o luar
projetado sobre a mata
suavemente
desvela sua intimidade e,
a beleza incomparável
de cada planta aparece
nas sombras sutis...
Há um doce hiato.
Precisa haver
porque é belo demais!
Intimidade similar
só a sintonia de
mãos que se entrelaçam
olhos que se encontram
braços que se buscam
numa linguagem
sem palavras.

165 - Apego (2)




O  apego me pega; dá um tempo e depois torna a me inquietar, produzir pensamentos, sentimentos fundos. Desapegar é vocabulário  só de quem é apegado como eu, que estou sempre  ensaiando o desapego, não por opção,  mas por não ter opção a não ser desapegar de tudo que amo. Bom se fosse apegada em coisas, porque daí, se perco uma, compro outra... Mas tudo que amo é vivo; singular e em algum momento se afasta ou vai embora! Vai por sua vontade e não pelo meu desejo; vai porque quer, vai porque precisa; vai porque não deseja ficar, tem outras opções; vai porque é livre, tem asas que eu reconheço e admiro e, adoro ver em movimento! Vai pela estrada, pela realidade que toma pé; pela música, pela escrita; pela noite, pelo sonho, pela mágoa, pelo silêncio, pela necessidade; às vezes escondido, às vezes sorrindo, depois de um abraço. Vai por sua alegria e felicidade num outro lugar. Porque sua história se escreve lá. Mas o apego só dói, já descobri, quando reprimo o sentimento, quando ele não é tornado claro, dito: quando não consigo dizer algo: “tchau”, “te amo”, “desculpa”, “não demora”, “que bom te ver”, “tinha tanta saudade”, “se cuida”, “conta comigo”, “obrigada”, “fiquei tão feliz em te ver, estar contigo”...ou mesmo  quando não  consigo atualizar uma dor, uma raiva,  uma mágoa ou dar um abraço! Quando a palavra é endereçada, sem censura ou pudor, o caminho fica limpo e os laços deslizam inteiros e fortes pelos caminhos, labirintos e distâncias, podendo retornar e tornar a sair  sem produzir buracos, estilhaços, feridas, algumas que demoram tanto para curar.  A palavra é um elo e o amor, um desencontro marcado.

164 - E a borboleta?



Tempo de lagarta:
absorver,
aceitar

sem medir.
Tempo de casulo:
esperar
sonhar
imaginar e
esperar!
Processar
aprender
e esperar...
Tanto tempo!
E o tempo
de borboleta?
Bater asas por aí
“espaçosa”
e atrevida
pegando
carona no vento
misturando
espaços
coloridos
saberes e
sentimentos?
Haverá tempo?






163 - Combinação

É perfeita!
Por isto
tão cantada:
céu e mar
mar e sol
sol e alegria
alegria e flor
flor e amor
amor e ninho
ninho e cumplicidade
cumplicidade e só.

162 - Espera

      A espera é um poço, um lugar maravilhoso!
    Fica numa relva verdinha, circundada por vegetação tranqüila e viçosa. E muitos pássaros ficam por ali, cantando gratuitamente, sem ter mais o que fazer na vida! O poço atrai e, mesmo antes de chegar nele, já se vai acalmando, relaxando. Aquele que tem sede olha confiante para o poço, depositando ali, suas esperanças. Acredita que a água virá, matando sua sede, seu penar, sua saudade. Acredita com toda sua alma! Pode sentir a água preciosa refrescando seu corpo; sentindo um prazer antecipado. Chega perto do poço e a alegria aumenta desmedidamente, o coração acelera. Vê o balde o joga para baixo, ansiosamente. A roldana desce, desce... o poço é muito fundo; parece não ter fim... assim é a espera: sem fim. Começa a puxar o balde e quando ele chega à borda... vazio. Não há nada. O poço está ali, mas o seu conteúdo é aquilo que não é. Ainda. E é esta esperança que mantém a espera. A espera é o poço. Sempre ali. Acolhedor, encantador e seco. Ainda. E por isto, a espera se renova e renova e renova...

161'- Maturidade

Vem com a idade,
será verdade?

Que é ser maduro?
É ser puro
duro ou
seguro?

Ser seguro é
estar
pronto
acabado
sério
aquietado?
Sem sonhos
conformado,
insípido
domesticado?

Ou falar tudo
que pensa
que sente
que deseja?

Ir atrás
ser irreverente
destemido
egoísta?
Ou desistir
ceder e
agüentar?

Inconseqüente?
Original?
Criativo?
Singular?

Maturidade
tem a ver com
liberdade?
Cada um
no seu momento
com sua verdade?

160 - Mundos e mundos!

       Mundos e mundos se tocando ou interceccionando o tempo todo... sob a luz do mesmo sol; sob a beleza e alegria do mesmo dia. O mundo daqueles que estão na praia, tomando cerveja, comendo camarão, batendo papo sem compromisso, se deleitando num domingo ou num feriado, com o calor; encontrando com o mundo daqueles que cozinham e servem o camarão e a cerveja de lá pra cá, atordoados e desconfortáveis com o calor. O mundo dos que vão para casa, tomam banho, comem, vão para frente da TV, ou ler, ou dormir, descansar; cruzando com o mundo daqueles que também vão para casa, onde o trabalho continua. O mundo dos que têm paciência e ternura e se entregam ao ritmo e ao tempo da vida, de cada coisa; com o mundo daqueles que são impacientes, resistem, não se permitem a entrega, conflituam e espinham. O mundo dos que conversam, balançam nas redes e partilham trabalho, silêncios e sonhos com o mundo dos que chegam fazendo alarde para não se ouvir, andam por caminhos paralelos e não aprenderam pequenas felicidades de todos os dias. O mundo dos que sonham com o mundo impossível se encontrando com o mundo dos que vivem o possível. Mundo daqueles que gostam de cuidar, se implicam, têm iniciativas, gostam mais de dar; com o mundo dos que gostam de ser cuidados; sabem receber; mesmo sem saber por que e são agradecidos. Mundo dos que olham, vêm e admiram com o mundo dos que olham, pouco vêm e ainda se ressentem. E muitos, muitos outros mundos... Tão bonito descobrí-los, percebê-los nas suas aparências e essências. Não invejar. Não fazer julgamentos. Conseguir olhar por suas janelas, admirar e ir embora. Não invadir. Respeitar. Cuidar cada um do seu. Melhorar, talvez. No que se acha que deve, pode, consegue.

159 - Clareza

De repente
como nunca,
fica evidente,
com a luz
do dia mais luminoso
e da verdade
mais dura:
a proximidade
e a distância
irremediável
entre
o céu e o mar
o sentimento e
a inspiração.

158 - "Sim, a mulher pode!"

    Eu gostei muito desta frase do discurso da presidente eleita e mais ainda da introdução: “Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!”. Porque não é algo que produza resultado ou efeito quando dito somente da boca pra fora. É preciso, sim, olhar nos olhos. Por ali passa a verdade. E há um momento na vida da gente em que é preciso que alguém nos diga, olhando nos nossos olhos, acreditando nisto: que podemos! Não importa o quanto de adversidades, de ilusão ou de loucura, isto que possamos um dia querer, apresente. Alguém precisa nos autorizar, num momento primordial. Depois, a gente segue, vai sozinha mesmo. A mulher é muito forte. Ela sabe que é forte para nutrir. Mas para saber que é forte para nutrir-se é outro aprendizado. Coisa que poucas, ainda, descobriram, conquistaram à custa de muita dor e foram cuidar de si. As coisas, no entanto, são mais abrangentes do que se possa imaginar... uma palavra, dita assim num momento tão particular e especial, aprofundada, nos leva a outros significados... E, sim, no final das contas todos nós podemos! Homens e mulheres. Podemos bem mais do que fazemos, somos e sabemos. Meu tio, homem simples, de poucos recursos, que tem o sonho de conhecer a “terra santa”, tem que desistir deste sonho porque é pobre e não pode? Um homem comum, sem cultura acadêmica não pode ser presidente? Mulheres, que por circunstâncias específicas são dependentes, têm que se sujeitar, prisioneiras de casas, regimes, filhos, maridos, preconceitos, ignorância, medo, religião, não podem mudar o seu destino? Com que direito ou procuração (de quem?) alguém se coloca neste lugar de dizer quem pode ou não pode isto ou aquilo nesta questão mais abrangente de realização pessoal? De repente... estou gostando cada vez mais desta idéia de termos uma mulher governando o país.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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