Vazio

O sol nasceu
determinando
luz, brilho, calor
movimento, cor...
sua sina sem fim
regendo a vida.
Ele cumpre.
O vento joga
o vazio de lá
pra cá... e no
Intervalo, respiro
e acompanho o
movimento da dor
buscando um
ninho... ancorar!
E todo meu ser
se alvoroça
para cuidar,
fazer curativos,
aceitar a falta
manter os furos,
os espaços da falta,
para o sol entrar!
É primavera!
Não quero desistir
só cumprir.
E quero vibrar!

Estar junto

Estar perto, próximo, junto,
não significa estar partilhando
o mesmo espaço físico,
o mesmo momento.
O amor não tem fronteiras,
ele é redondo, inteiro, pleno,
onde estamos, ele está.
E, conosco, quem amamos!
Estar junto, de fato,
é privilégio, bom demais!
Mas quando não dá,
um vento, um movimento,
uma brisa, um gesto qualquer...
uma música , uma palavra,
um sonho... um comentário,
uma notícia, de repente, traz,
atravessando espaços,
obstáculos, barreiras,
continentes, oceanos,
decisões, realidades adversas,
a lembrança, a presença,
a voz, o riso, a fala, o abraço
de quem está distante!
E  aquilo que estabeleceu,
fundou, um dia: o sentimento,
a cumplicidade, o afeto,
os laços e a confiança
(não se sabe o porquê e este
é o mistério maravilhoso!),
se atualizam e
as almas se tocam
num reencontro bonito!
E toda dor fica suportável
e tudo que é bom,
fica melhor!

O tio

            O tio chegou, de repente, na tarde fria, com seu vozeirão, enquanto eu, o pai e a mãe conversávamos em torno do mate. Há muitos anos não o via.
            O nono e a nona tiveram 9 filhos, 5 mulheres e 4 homens. O tio era o único dos homens ainda vivo, 79 anos. Todas mulheres ainda vivas. Minha mãe, a mais nova de todos, 72. Sobreviventes de uma vida duríssima; trabalho pesado desde a infância. Conquistando espaço e vida digna com esforço; tudo sempre muito suado, medido, contado.
            A mãe conta que o tio era gêmeo com outro irmão que morreu logo ao nascer; num parto difícil, com condições e recursos precários. Os irmãos todos aprenderam e se iniciaram no trabalho junto com o nono, um italiano típico, que trabalhava na roça, produzindo o que a família precisava para sobreviver; mas que também tinha o talento de carpinteiro; construía casas de madeira para os homens de dinheiro da cidade, que depois as alugavam, faziam negócios com elas. Eu lembro do nono. Morreu quando eu entrava na adolescência. Era um homem grande, de riso frouxo; gargalhada gostosa e irreverente, alegre. Minha mãe diz que era muito bravo, mas eu nunca vi esta brabeza. Eu gostava de ir na casa dele e da nona e gostava mais dele do que dela; esta sim, bastante brava e seca no trato com a gente; mas era o jeito dela, de mulher judiada; sem mimos, sem vaidades, sem doçura e privilégios numa vida de só trabalhar, parir e mais trabalhar.
            O nono contava “causos” que eu adorava ouvir, sentada no chão ou numa cadeira perto dele. Eram histórias vividas e eu ouvia encantada. Contava e de repente dava uma gargalhada que fazia a gente estremecer! Contava e junto fazia o seu “paiero”: cortava o rolo de fumo, depois enrolava na palha e então fumava, soltando baforadas prazerosas no ar,  o cheiro forte enchendo o espaço e criando em torno de si, um clima mágico que alimentava a minha imaginação... ele parecia tão poderoso! E era  afetuoso, caloroso! Diferente do meu pai e do pai dele, meu outro avô, alemão, mais contidos. O nono comia polenta com leite; tomava chá de mate com leite. Nos seus bigodes grandes sempre ficavam gotas de leite. Ele segurava a caneca no ar, depois dos goles, sorrindo, saboreando, como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo! Gostava de vinho. Tinha um cabelo grande, grisalho e me parecia sempre despenteado. Muitas vezes cantava músicas italianas, tristes. Ele foi ficando doente, tinha uma ferida que foi crescendo no pé. Eu ouvia conversas que não entendia. Os tios levavam ele para lá e para cá, em curandeiros, médicos e não adiantava. Ele era diabético. Por vezes, eu o ouvia comentar sobre o comportamento dos jovens, netos, que já não respeitavam os pais; das moças que eram “atiradas”, não se davam ao respeito, não se comportavam direito... isto chateava alguns e muitos diziam que ele era chato, impliquento, velho. Eu não entendia o que se passava, não gostava disto. Eu gostava do nono. Depois que ele morreu, não tinha mais graça ir na casa deles.
            E agora, o tio, ali, igual ao nono! Só não tão grande como o nono. Mas o mesmo cabelo desgrenhado, grande, grisalho. O mesmo olhar e a mesma risada! As mãos grandes e calejadas contando sobre a vida dura. Também um contador de causos! Como  o nono! E contou de uma vez, quando nevou por aqui, em 1965 e eu estava na 1ª série... ele trabalhava num posto de gasolina e foi convidado para ir junto com um motorista  levar uma carga para uma cidade próxima. A estrada era de chão, a neve cobria tudo e eles tinham que ir bem devagar e trocando correntes que colocavam ao redor dos pneus, a cada 5 km; cuidando para não cair nos barrancos. O frio era tanto... ainda bem que tinham levado um litro de cachaça; isto ajudou a vencer o frio e o medo... E foi relembrando coisas do passado, junto com meu pai. E ria muito!  De repente falou do quanto gosta de ir aos bailes e dançar! Mas que não gosta destes bailes para a 3ª idade, à tarde. Gosta dos "bailes de verdade", à noite e de dançar a noite toda! Que por vezes, em casa, “pega a Maria” (esposa) e sai dançando pela casa! “Ele sempre foi um pé de valsa...” – disse minha mãe. E ele ficou corado! Cheio de vida, olhando faceiro para nós!
            E me falou do quanto tem viajado pelo mundo através da TV; nomeou cidades, países e o que aprendeu sobre eles... e falou do grande sonho: visitar a Terra Santa. Imediatamente o meu pai falou:
            -“ Mas isto não é para nós”...
            Por um instante o tio ficou calado, processando o balde de água fria. Então eu fui em socorro do sonho:
            - “Imagina, pai! Deixa o tio sonhar! E não é tão impossível assim... hoje existem tantas facilidades para quem quer viajar.”...
            Isto foi o suficiente para o tio se recompor e voltar a falar do sonho e de que ele vai tentar realizá-lo... Não sei se meu coração ficou grande ou ficou pequeno diante disto, mas bateu descompassado! Fui tocada nos meus sonhos! Tive impulso de abraçá-lo, mas me contive porque não construímos intimidade. As quedas, as perdas, as mortes, as dificuldades, as penações, a vida dura, o tempo, a idade não tiraram dele a alegria de viver, o desejo de sonhar e querer. Nem o brilho dos olhos! E completou: estou feliz com o que tenho: uma casinha, uma "Variant", os filhos, a Maria e a saúde! Naquele momento, ele e o nono fundiram-se na minha memória e no meu coração e eu entendi assim, o que ele quis dizer: minha vida é uma vida bem vivida. Tudo valeu a pena e ainda vale. Como diz São Paulo em uma de suas cartas: “combati o bom combate”. E ainda estou vivo, inteiro, desejante!

Natal em três tempos

         Quando criança, o Natal era a festa que eu mais amava e esperava. Íamos todos para a casa dos avós paternos. Os tios vinham de Porto Alegre e isto era o máximo! Dava ao clima e ao ambiente um caráter de muita importância e para mim aqueles tios e primas mais distantes, que chegavam com sotaque e suas roupas diferentes e chiques da capital, uma vez por ano, era sinal de que o Natal tinha mesmo algo  especial porque em torno dele, toda família se reunia e todos pareciam felizes, alegres, ao menos naquele período! Havia muito riso, muita conversa; algo que me comovia intensamente. Tínhamos um ritual em casa, nesta época; todos, eu e meus irmãos ganhávamos roupas novas. A mãe se esmerava muito comigo; mandava costurar bonitas roupas e me levava, na tarde da véspera de Natal, dia 24 de dezembro,  no “instituto de beleza” e eu ganhava lindos cachinhos nos cabelos. Minha mãe me fazia sentir assim, naquele dia: especial e bonita, embora eu não me achasse assim nos demais dias do ano. Pelas 18 horas íamos para a casa dos meus avós e lá encontrávamos toda família paterna, de origem alemã: uma porção de tios, tias e primos! As meninas eram maioria e também éramos as mais velhas e comandávamos o espetáculo, as brincadeiras! Organizávamos “shows” de canto e dança que os adultos curtiam e incentivavam, assistindo enquanto comiam e bebiam seus aperitivos. Eu, particularmente me desafiava muito naquela noite, porque era muito tímida e envergonhada, mas preparava e ensaiava sempre uma ou duas canções para apresentar. Às vezes cantávamos sozinhas, outras vezes em grupo e aquilo se revestia de uma magia encantadora, porque nos sentíamos acolhidas, valoradas, apreciadas pelos familiares e isto, só mais tarde compreendi, foi uma base muito importante para que eu tivesse coragem e enfrentasse muitas coisas difíceis para mim, no decorrer da vida. Depois do “show”, vinha o momento sério e sublime, quando ouvíamos discos antigos dos avós com  tradicionais canções de Natal, alemãs. Então, meu avô e minha avó começavam a cantar “O Tannenbaum...”, uma canção linda, em alemão, e todos os filhos deles, meu pai e meus tios seguiam atrás, com as vozes trêmulas de emoção. Eu não compreendia o alemão, mas compreendia o sentimento e ficava ouvindo meu coração bater descompassado.  Quando acabava, meu tio Milton e minha tia Nilse, com suas vozes bonitas e trabalhadas iniciavam  o canto “Noite Feliz”; eu ouvia, então, a voz do meu pai... e, para mim este era o sinal de que  todos podíamos juntar nossas vozes a deles, porque esta cantiga entoavam em português. Ainda hoje eu não tenho palavras para traduzir a emoção que eu sentia e capturava naqueles momentos, naquela noite.
         Os adultos foram envelhecendo e nós, as crianças, nos tornamos adolescentes e jovens. Mas os Natais continuaram acontecendo e reunindo a família na casa  do vô e da vó. Como poderia haver Natal sem as cuquinhas de mel da vó , sem a vinda dos tios, os encontros barulhentos e as cantorias de sempre?! Como estávamos maiores, tínhamos ampliado nosso círculo social e  eu e os primos, agora, fazíamos parte do Grupo de Jovens e, a cada ano, depois do encontro na casa dos avós,  íamos todos para a Igreja, para a Missa do Galo. O Grupo de Jovens, antes da missa, sempre apresentava um teatro, que iniciava, invariavelmente às 23:30 hs. Nós nos preparávamos durante meses para este evento, criando os textos, ensaiando; preparando cenários, luzes, etc. Era uma labuta sem fim e igualmente maravilhosa, à qual nos dedicávamos exaustivamente, cheios de ideais, querendo mostrar aos adultos da comunidade nossas reflexões, denunciar as hipocrisias, as desigualdades sociais e fazer um chamamento à fraternidade, ao respeito e ao amor à natureza, ao homem, à justiça. Queríamos atualizar e contextualizar o sentido do Natal; tínhamos o apoio do padre e isto nos estimulava e nos tornava mais criativos e determinados. Um amigo, o autor principal dos textos e um dos “diretores” do “espetáculo”, escrevia os textos especialmente a cada um de nós, porque dizia que cada um tinha um jeito de dizer as coisas e ele gostava da forma como um e outro expressava determinadas questões. Assim, o Natal passou a ter uma importância maior, porque eu me sentia amadurecida e mais consciente; participante do mundo; deixando de lado a fé ingênua da criança e descobrindo meu lugar  no mundo; querendo denunciar as mazelas, as injustiças  e também anunciar as BOAS  NOVAS, a possibilidade de um mundo melhor e mais feliz.  Antes das questões atualizadoras, questionadoras dos nossos teatros natalinos, havia uma parte inicial onde sempre recordávamos o fato histórico e mágico do nascimento do menino Jesus em Belém e de sua vida entre os homens. Geralmente eu representava, nesta parte, Maria, a mãe do Salvador. Eram momentos bonitos e profundos demais aqueles de vivenciar o papel daquela mãe! Todas os Natais  da infância, os valores familiares, juntavam-se, agora,  ao novo olhar que eu tinha sobre o mundo, aos ideais mais caros que cultivava com meus amigos companheiros e eu me colocava no lugar daquela Maria, que enfrentou o preconceito porque ia ter um filho que não era do seu marido; que teve que fugir para proteger a vida e dar a luz a este filho nas condições mais adversas; que teve que aceitar as escolhas deste filho e assistir a toda uma série de perseguições e sofrimentos decorrentes desta escolha e que culminou com sua morte numa cruz... eu ainda não era mãe, mas como mulher, me solidarizava com ela, descobrindo que as mulheres tinham que ser muito fortes para sobreviver e cumprir seu papel, independente de sua classe social  ou da humanidade/divindade dos seus filhos. Por alguns anos, até mesmo depois de casada, permaneci no grupo e neste ritual de Natal: os encontros sublimes na casa dos avós e depois na  Missa do Galo.
            Em 1980, estava grávida do meu primeiro filho. Não sabia o sexo, esperava por um bebê saudável mas mesmo não querendo admitir, torcia por uma menina! Eu não tivera irmãs, só irmãos e ter uma filha era o meu  mais acalentado sonho. Eu tinha uma lista de nomes de meninas e quase nada de meninos. O médico falou que o bebê  nasceria até o dia 2 de dezembro. Próximo a esta data, eu entrei em licença, para ficar mais tranqüila em casa e esperar o meu bebê. O calor, em dezembro era intenso, os dias iam passando e nada do bebê nascer! E o sonho de que aquele Natal eu  passaria com um filho nos braços, estava se desvanecendo. O médico sinalizou que esperaria somente até o dia 27 de dezembro e se o bebê não nascesse, faria um parto induzido.
            Chegou a noite do dia 24 de dezembro e, como sempre, todos nos dirigimos à casa do vô e da vó, para a tradicional comemoração do Natal.  Agora haviam poucas crianças; os netos estavam crescidos, dois ou três já casados; mas nenhum bisneto. O meu bebê seria o primeiro bisneto e havia uma grande expectativa em torno disso e da demora para este nascimento. Os tios faziam muita gozação! Durante as cantorias e, no momento de maior emoção, quando cantávamos “Noite Feliz”,  eu pedi intensamente pela saúde do meu bebê. Me sentia um pouco cansada  e convidei meu marido para irmos embora; lamentando que neste ano não me sentia disposta a ir à Missa do Galo e também por não estar participando das atividades com o grupo de Jovens. Chegamos em casa e eu olhei para o pinheirinho todo enfeitado,  para alguns presentes embaixo do mesmo e senti uma tristeza porque o Natal chegara e o meu bebê não nascera, como o esperado... e foi neste momento que senti algo diferente! Corri ao banheiro e constatei que a bolsa havia rompido! Ficamos numa excitação intensa, eu e meu marido, correndo de um lado para o outro, arrumando as coisas, ligando para o médico, avisando os familiares... meus irmãos foram chegando e todo mundo queria ajudar! Foi uma madrugada longa! Estava difícil localizar o médico porque era uma noite de festa e ele comemorava com a família em algum lugar; meu marido estava muito nervoso e pedi para que esperasse com os outros e minha mãe passou o tempo comigo; ou pelo menos quase todo o tempo. Não lembro. Mas lembro que no hospital, esperando pelo médico e pelas contrações eu compreendi o que acontecia e como acontecia! Eu me dei conta do presente que recebia; quando em nenhum momento pensara que isto pudesse acontecer! Que a bolsa rompera quase que no mesmo momento em que eu, durante muitos anos entrava em cena, nos dias 24 de dezembro,  no altar, para representar um papel de mãe que dera a luz naquela noite mágica. Neste ano eu não estava representando, estava realmente vivendo! Minha filha nasceu às 7:35 horas do dia 25 de dezembro, Natal. Eu recebia a menina que tanto queria e ela escolhia o dia mais lindo e significativo, para mim, para vir ao mundo: o Natal. Foi o Natal mais lindo de todos!  Vivido no hospital, naquele encontro mais profundo que, nós mulheres temos com a nossa humanidade  e com a nossa feminilidade; algo que não se pode nomear, somente viver; quando se experimenta  todas as sensações; desde a mais completa solidão à mais sublime das interações com todas as criaturas do Universo. Ainda hoje isto me emociona demais, porque as coisas são atemporais dentro da gente! Naquele Natal de 1980, todos os Natais de minha vida se unificaram; a ingenuidade e o encantamento que eu sentia quando criança, com os ideais e os sonhos da adolescência e juventude e com esta realidade de ser mãe, de trazer ao mundo um novo ser! A  BOA NOVA  acontecia de fato e concretamente na minha vida! O desejo, o sonho e a esperança de lutar para construir um mundo melhor tornava-se mais claro, definido. Eu me tornava de fato uma mulher, me tornando mãe e, me tornando mãe, tinha a possibilidade de me tornar um ser humano potencialmente melhor.
            O Natal de 1980 foi o último que passamos com a família reunida na casa dos meus avós paternos; como sempre acontecera até então. Dez dias depois que minha filha nasceu, meu  avô querido faleceu. Depois de conhecer a bisneta ele falava para os amigos, com alegria:
            - Vocês não sabem o que me fizeram!
           - O que lhe fizeram, seu Otto?
            - Me fizeram bisavô!!!!
            Toda vez que o  Natal se aproxima, meu coração se enche de saudades, lembranças e esperança! E eu escuto a voz do meu avô e da minha avó cantando:  “O Tannenbaum...” e isto renova minha alegria e vontade de viver; porque o Natal evoca  e atualiza, dentro de mim, o que sou e no que  eu acredito.


        





Pequenas coisas que fazem um dia de Natal feliz

O sol não veio, nem o calor. O dia acordou o Natal com uma chuvinha mansa e um friozinho inusitado. Bom ficar na janela, vendo a chuva  deslizar pelas superfícies, silenciosa e íntima. Nada de praia, nem de passeios nem de saídas, nem de visitas, encontros externos. Tudo dentro de casa. Gostoso. Uma introspecção forçada que aquietou o frenesi produzido pelas festas, brilhos, comilanças, trocas de presentes e, promoveu o encontro entre os da casa. Bom olhar para aquilo que se tem e ali ficar e aproveitar e bastar! Bom contemplar por mais tempo a bela orquídea que floresceu, presa à arvorezinha, junto à escada e que em outros momentos não recebe este olhar atento, porque passamos ali, subindo ou descendo com pressa... sempre há tanta coisa a fazer fora dos portões, nos dias úteis e de sol... Será um dia de chuva, um feriado, o Natal, um dia inútil, então? Que coisa fantástica e enigmática, a palavra! Bom ficar pertinho dos filhos, ter todos juntos, outra vez, como quando eram crianças... ouví-los conversando, rindo, companheiros e com eles, assistir um filme, todos juntinhos, uns no sofá, outros deitados no chão, enrolados numa mantinha e, nos entremeios um comentário, um abraço, um riso bobo... bom olhar para eles, adultos e os acréscimos bonitos que trouxeram: marido, namorada e um bebê sendo gestado! Apesar de todas as diferenças e singularidades, algo em comum, que aproxima, que toca, que gosta de estar junto! Bom ver os gatinhos buscando também ficar perto, olhar doce, tranqüilos e atentos... Bom  lembrar de Francisco de Assis, de repente e do quanto era amoroso, acolhedor, fomentador de encontros fraternos! Bom reler uma mensagem que chegou, de quem se gosta e se tem saudades! Bom sentir o coração sossegado e neste momento convivendo bem com as faltas, os vazios, a dor de algumas realidades. Bom estar perto da árvore de Natal, linda (!) e olhar para ela com os olhos brilhantes e surpresos das crianças, sem muitas palavras para nomear os sentimentos, mas percebendo a magia e a essência além dos enfeites e luzes. Bom  ver a noite, outra vez chegando, num ritmo compassado, sem alardes, saboreando a passagem e, ouvir a música do Roberto Carlos, cantando que nada é mais importante do que o amor; que toda forma de amor merece uma canção e que o amor é fonte inesgotável de inspiração! Pequenas coisas tão importantes, tão Natal!

Sim!


Do   mais  alto
e  do  mais  fundo...
Das  regiões
mais  amorosas,
o  espírito  natalino
com  roupagens
singulares,
até  mesmo  de 
Papai  Noel,
vem  e  invade
a  nossa  alma
e  nossa  vida
desejando
tudo  de  bom!
E  dizendo: sim!
Sim,  é  possível
conviver
respeitar
construir
partilhar,
viver  em  paz!

Aniversário do Blog!!!!


Aniversário!
Celebração,
festa interna
saborear os momentos
perceber as roupagens
da noite e do dia!
Ousar sentir
ousar traduzir
o que vai dentro
do pensamento
do sentimento...
me enche de alegria!

Extraordinário!

Adoro histórias. As que eu sonho, imagino e as que acontecem de fato. Há uma, bonita, que começou com um sonho e agora é realidade, mas não é uma história que terminou; ela apenas iniciou! E isto foi há alguns anos atrás, num sonho; como sempre foram as grandes coisas na minha vida. Sonhei com ela; minha neta. Isto confirmava a crença de que as coisas, antes de se materializarem neste plano físico, já existem nos outros... Naquele sonho começou a minha espera por ela e o desejo de encontrá-la foi crescendo devagarinho, uma espera recheada de esperança tranquila! Depois veio uma fotografia de revista, uma menininha ruiva, lindinha e, brincávamos: “é a Maria Margot, vovó !”... e a partir dali, passou a ter um nome. No dia das mães deste ano, ganhei um vale: “vale um neto até o final do ano”. Em setembro, a notícia oficial, confirmada pelo exame de sangue: eu seria, mesmo e de fato, vovó! Em novembro, soubemos que era uma menina! E hoje, o ultrassom  morfológico nos disse que está tudo bem com ela! Eu a vi! E me emocionei muito! É que quando a gente sonha, sempre fica uma grande possibilidade (quase 100%) de que tudo não vai passar disto: um sonho! Quando o sonho vira realidade, não num passe de mágica, mas uma realidade construída, a gente percebe, de forma palpável, a grandeza e o mistério da vida! Presente em todas as criaturas, no macro e no micro. Tão simples, tão belo, tão grande e tão misterioso! E acontecendo a todo instante! Ontem, vendo e ouvindo partes de um filme, enquanto concluía algumas avaliações, escutei algo que me capturou “Quantas pessoas fazem você sentir-se extraordinário?”... fiquei pensando nisto, profundamente. Aos poucos, comecei a “sentir uma resposta” e hoje pela manhã, vendo minha neta, lá dentro da barriga da minha filha, concluí (por agora!) que o “sentir-me extraordinária” não tem nada a ver com os julgamentos, elogios, atenção, valor, consideração, destaque, afeto, etc, que eventualmente eu receba do outro. Extraordinário é o que os outros produzem em mim; me oportunizam e estimulam sentir, pensar e fazer! Extraordinária eu me senti, naquele momento, vendo minha neta numa tela de TV! Extraordinária por viver, fazer parte disto! Por experimentar isto! 

Ainda!!!!!

Os dias e as estações
se sucedem e
sementes germinam,
flores desabrocham,
bebês são gestados com amor!
O calor suaviza o frio,
a chuva refresca,
a melodia encanta,
a mão  se estende
acarinha e segura!
O abraço acolhe,
o sorriso cura,
o olhar captura,
o coração se emociona,
os olhos se surpreendem!
A palavra compromete,
o limite organiza,
a saudade motiva,
a poesia toca e
generosos  fazem valer a pena!
Há esperança!
O Natal, mais vivo do que nunca
palpita em toda possibilidade,
fomenta o Bem.
Então, tudo de bom
para você!
Todos os dias!
Hoje, amanhã, ano que  vem!!!
 
Obrigada por estar aí!
Abraço grande!
  

De como as coisas se tornam grandes...

     Quando fomos, de madrugadinha, para o teatro, para preparar a festa de final de ano, da escola, que aconteceria no “meio da manhã”, a topic estava toda arrumada,  cada coisa no seu devido lugar: fantasias dobradas nas caixas, “árvores de Natal” (interpretações singulares) enfeitadas e cuidadosamente ajeitadas para nada cair ou amassar; lembrancinhas e mensagens em arranjos caprichosos e extremamente encaixadas em suportes, para nada estragar e, mais  panos, tules, TNT, enfeites... Topic cheia! Tudo certinho, organizado, silencioso. E tenso. Em expectativa; naquele silêncio ansioso e barulhento, dentro (!). Quando voltamos, ao meio dia, tudo revolucionado! Topic cheia! Muitas coisas não voltaram, mas o volume era outro! A organização era outra! Tudo volumoso; sem que a gente pudesse dobrar e deixar do mesmo jeito que estavam durante a “ida”. Tudo acrescido de vida! De energia, de alegria! Ressignificados: todos os objetos! Pela presença, pelo uso, pelo contato com as pessoas: crianças, pais, familiares, amigos, professores... acrescidos de movimento, do riso, lágrimas, preocupação, relaxamento, alívio, canto, saudade, dever cumprido, crítica, gratidão, emoção, música, alegria, despedida, arte, sensibilidade, beleza, simplicidade, encontro, partilha, profundidade, singeleza, construção, afeto, muito afeto! O que sinaliza um quintal, no final do dia, cheio de brinquedos espalhados, areia revolvida, esteirinhas espalhadas?! Uma cama desarrumada, pela manhã?! Uma sala de aula com as carteiras espalhadas, lápis, borrachas, canetinhas, giz de cera, brinquedos, lancheiras,  mochilas, recortes, tesouras, colas, pincéis,  ali e, textos, mapas, dicionários, livros, jornais, revistas e gibis aqui; tabuadas, desenhos, numerais, aparelho de som lá... muita conversa e trocas e ajudas, acolá?! E uma casa onde os objetos teimam em sair e trocar de lugar; farelos e papéis aparecem “misteriosamente, aqui e ali?! Será tudo sinônimo de desordem, desorganização? Preguiça? Má vontade? Em alguns contextos, sim. Mas, em outros, é somente  sinal de que a vida passou por ali, pessoas sonharam,  se encontraram, interagiram entre si e com o espaço, os objetos e, que ali há tempo e lugar para exercitar e experienciar com paciência a liberdade, os erros e os acertos, a conversa, a alegria, o afeto, o amor. Isto é grande! Ocupa um espaço imenso dentro da gente e também fora. Alimenta. Que bom ver e viver isto! E ter os hiatos para degustar e descansar, já de olho no recomeçar, logo ali.

Especial

Dia lindo
formoso
na essência!
De voar muito alto.
Há grande ternura
no toque do sol
que aparece e
desaparece
brincando de
esconder enquanto
a vida segue.
Há júbilo contido
na luz tímida do dia.
Quietude, discrição
beleza latente.
Dia especial.
De poucos.
De um só.
Especial.

Mais um ano letivo...

             Quando o ano letivo acaba supõe-se que o professor sinta um alívio. Uma parte, sim. Educar dá muito trabalho. Não basta mais somente ser um “bom” professor de português, matemática, CNS e outras disciplinas. Mais do que jamais foi, atualmente o professor; além desta competência (exigência cada vez maior) precisa de um outro conhecimento e preparo: o humano.  As demandas estão grandes e diferenciadas neste aspecto e numa sala de aula, as diferenças em contato, oportunizam grandes aprendizados, superações  fantásticas; mas em contrapartida, muitos e sérios conflitos e, algumas tragédias; como temos visto acontecer em todo planeta. Este preparo envolve algo que não se aprende em instituições de ensino: ou se tem naturalmente ou temos que buscar e cultivar, se nos falta  ou é limitado ou condicional: maturidade, paciência... muita (!), flexibilidade, acolhimento, escuta, ética, respeito e afeto. Além, claro, de acreditar no que se faz e na capacidade do sujeito (o aluno); o que significa: esperança! Professor desesperançado e preconceituoso não dá. Não dá mesmo! Todo mundo sabe enumerar as dificuldades da profissão e da educação, de modo geral, no nosso país e elas, por si só, produzem muita desesperança! A ponto de que mesmo que uma criança diga “quero ser professor (a) quando crescer”; ela própria, crescendo, dificilmente manterá a opção e os familiares também se encarregarão de tentar dissuadi-la. Conheço este lado injusto; sempre fui professora de quarenta horas e participei, ao longo dos anos de vários movimentos e muitas greves no RS, lutando por melhores condições de trabalho e de salário. Tivemos algumas conquistas e muitas perdas; mas valeu lutar, enfrentar, nos posicionar; marcar espaço. Porém, quero me deter, agora, no outro lado; o lado da paixão! Este que faz com que a gente, no final do ano letivo, já comece a pensar e planejar o outro! Este que faz com que o cansaço já vá se misturando com o desejo de fazer, produzir, criar, planejar e a gente sente o olho brilhar, a energia vibrar, a força  voltar! É o encantamento, a paixão, o amor pelo trabalho! Que não cessa! E se renova  a cada momento, quando se olha com o olhar novo, aberto, curioso, surpreso para o dia que reinicia e para as possibilidades que anuncia! Entro na sala de aula, todos os dias, assim como quando me preparo para dormir; com uma expectativa grande: o que vai acontecer? O que vou sonhar? Que surpresas interessantes  me aguardam? Por vezes perco a paciência e peco. Mas aprendi que limite é tão importante quanto o afeto; que posso ser firme sem ser grosseira e desrespeitosa; aprendi ouvir e comprovar que cada situação tem dois lados, de fato e, que é importante ouvir antes de julgar. Quando erro, me desculpo, retomo, sem problema; me esforço para ser e fazer diferente. Tenho grande receio de prejudicar, não cuidar bem, banalizar, minimizar, oprimir e impedir de alguma forma, o florescimento do sujeito. Aprendi que posso vencer as barreiras da antipatia,  da rejeição, da aversão que naturalmente aparecem, de quando em quando, na interação com o outro. Amor nem sempre é espontâneo e à primeira vista. Amor se constrói, sim! E aprendi a dar tanto valor a este amor construído... porque ele me fez crescer mais do que o outro! E na educação, especialmente de crianças e adolescentes, se não houver transferência de afeto, fica bem mais difícil a lidança, tanto para ensinar, quanto para conviver e colocar limites. Aprendi, também, que não sou super e que falho; porque tenho limites e que isto não é vergonhoso (precisei de muita “análise” para chegar a esta aceitação!). Mas que não preciso me acomodar diante destes limites. Posso vencer barreiras... ao menos tentar. Outras vêm, virão. Encerro este ano letivo ouvindo algumas coisas bastante significativas, confirmando o que meu coração sentiu neste e nestes anos todos de trabalho (mais de trinta): que valeu a pena! Nada foi em vão. No último texto, produzido na semana passada, meus alunos escreveram que fui “uma chata”. Isto, hoje é um elogio! Quando era “mais nova”, não interpretaria assim. Mas agora, sei que o exercício do papel de mãe e professora tem e precisa ter este lado chato, por causa dos limites, dos “nãos”, das cobranças e exigências, dos chamamentos à responsabilidade, aos valores, ao refletir, à seriedade em relação ao trabalho, vida, saúde, respeito, justiça; o outro...  Mas escreveram também que nossas aulas foram divertidas, coloridas! Que aprenderam muito! E que fui uma professora respeitosa, inteligente e bondosa! Lindinho demais! Sinceros. Assim como me sinto, agora, escrevendo! Tenho consciência de que ainda podia ter feito mais e melhor; mas que foi como foi possível; que todos demos o que tínhamos no nosso momento. O que vale mesmo, apesar de tudo e de todos, é o brilho no olho! O que está no meu e que, sei, está no deles também! É o brilho do encantamento pelo aprender, descobrir, criar, interagir e viver!  E eu sou agradecida, profundamente (!)  por aprender e reaprender com eles e por esta coreografia que vamos construindo, juntos, a cada dia e a cada ano, seguindo os ritmos  e o movimento da vida.

Noite

Os morros estão sonolentos,
abrindo e fechando os olhos
preguiçosamente...
a quietude é avassaladora!
Um cobertor de neblina
vai escorregando lentamente
morros abaixo,
encobrindo uma parte
cada vez maior
dos verdes ao redor...
É a noite que chega!
Ela encobre o dia
e descobre minha alma,
que emerge ansiosa
e,  liberta, viaja  pelos
aromas dos jasmins,
damas da noite, primaveras
e temperos do quintal;
pelos sons dos grilos e dos
quero-queros com seu
canto melancólico distante...
viaja pela saudade de mim
enamorada e inspirada,
buscando e juntando
meus significantes
aqui e ali... 
reconstituindo
e lembrando
a mulher que sou.




Palavras

       As palavras marcando a vida... quantos jeitos de expressar, falar uma coisa! Quanta palavra dita de mau jeito, sem cuidado, sem respeito com o outro, destruindo... por outro lado, quanta palavra dita, escrita com delicadeza, inteligência, justeza; curando, ressuscitando, desafiando, estimulando  reflexão, criação, novos caminhos, possibilidades...

Sol radiante

      Contou que de vez em quando ele chegava, assim de repente! Como uma noite de chuva mansa; como uma manhã de sol radiante e faceira! Como a lua cheia, numa noite estrelada, quieta e pulsante... chegava sem avisar, assim de repente! Com seu sorriso cachoeira, seu abraço forte, seu olhar fundo e carinhoso e mãos que tocavam sutil e suavemente. Ele confiava e falava, contava tantas e tantas coisas... da vida, dos planos, decisões, chateações... que ela acolhia como tesouros e sempre havia um momento em que imaginava que ele não falava de fato, o que seus olhos falavam quando olhavam bem dentro dos olhos dela. Uma vez, falou. Rindo, brincando, falou: “um dia vou te raptar”. Falou  sem saber que era isto mesmo que ela queria ouvir! Tudo ao redor ficou supérfluo, desimportante. Importantes foram os efeitos produzidos nela a partir deste significante poderoso e mágico! A vida ressignificou para sempre. Ele nem soube. Pássaro que era, voou longe, investigando e planando outros céus. Por vezes, em dias muito azuis, claros, de brisa suave, sabe que é dele o canto, o sopro suave, a energia, o calor que a envolve, aquece e renova sua alegria!  Belo presente, amor em quantia! "Muso", inspirador de todo dia!


Advento













Advento
lindo tempo!
Tão bom esperar
consciente da espera
curtindo a espera...
Um filho, uma neta!
Um abraço, alguém ausente
férias, um presente!
A lua cheia,  a chuva!
Uma festa,  um redentor
uma saída, outro caminho
de justiça, igualdade.
Um dia de felicidade
um encontro de amor!



Um tempo...

Um tempo
para ouvir os grilos
escutar a chuva!
Um tempo
por favor
para não endurecer!
Um tempo
para respirar
o aroma do jasmim,
à noitinha,
quando adormecem
os pássaros e
a noite se insinua
envolvente e apaixonada!
Um tempo
para acompanhar
o sol dourando os verdes!
Por favor!
Um tempo
para acostumar com
a realidade seca
e ver a beleza
que não vejo mais,
absorvida pela  
“oquidão” das rotinas
e demandas.
Um tempo para olhar,
cuidar, acarinhar
uma profunda saudade!
Tempo! Tempo!
Para deleitar com a brisa
que agita a cortina de “voil”
na varanda silenciosa,
no entardecer aquarelado...
Tempo!
Tempo para encontrar comigo.
Tenho saudade de mim
dos intervalos, sozinha,
com o que me alimenta
e inspira.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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