Mais um ano letivo...

             Quando o ano letivo acaba supõe-se que o professor sinta um alívio. Uma parte, sim. Educar dá muito trabalho. Não basta mais somente ser um “bom” professor de português, matemática, CNS e outras disciplinas. Mais do que jamais foi, atualmente o professor; além desta competência (exigência cada vez maior) precisa de um outro conhecimento e preparo: o humano.  As demandas estão grandes e diferenciadas neste aspecto e numa sala de aula, as diferenças em contato, oportunizam grandes aprendizados, superações  fantásticas; mas em contrapartida, muitos e sérios conflitos e, algumas tragédias; como temos visto acontecer em todo planeta. Este preparo envolve algo que não se aprende em instituições de ensino: ou se tem naturalmente ou temos que buscar e cultivar, se nos falta  ou é limitado ou condicional: maturidade, paciência... muita (!), flexibilidade, acolhimento, escuta, ética, respeito e afeto. Além, claro, de acreditar no que se faz e na capacidade do sujeito (o aluno); o que significa: esperança! Professor desesperançado e preconceituoso não dá. Não dá mesmo! Todo mundo sabe enumerar as dificuldades da profissão e da educação, de modo geral, no nosso país e elas, por si só, produzem muita desesperança! A ponto de que mesmo que uma criança diga “quero ser professor (a) quando crescer”; ela própria, crescendo, dificilmente manterá a opção e os familiares também se encarregarão de tentar dissuadi-la. Conheço este lado injusto; sempre fui professora de quarenta horas e participei, ao longo dos anos de vários movimentos e muitas greves no RS, lutando por melhores condições de trabalho e de salário. Tivemos algumas conquistas e muitas perdas; mas valeu lutar, enfrentar, nos posicionar; marcar espaço. Porém, quero me deter, agora, no outro lado; o lado da paixão! Este que faz com que a gente, no final do ano letivo, já comece a pensar e planejar o outro! Este que faz com que o cansaço já vá se misturando com o desejo de fazer, produzir, criar, planejar e a gente sente o olho brilhar, a energia vibrar, a força  voltar! É o encantamento, a paixão, o amor pelo trabalho! Que não cessa! E se renova  a cada momento, quando se olha com o olhar novo, aberto, curioso, surpreso para o dia que reinicia e para as possibilidades que anuncia! Entro na sala de aula, todos os dias, assim como quando me preparo para dormir; com uma expectativa grande: o que vai acontecer? O que vou sonhar? Que surpresas interessantes  me aguardam? Por vezes perco a paciência e peco. Mas aprendi que limite é tão importante quanto o afeto; que posso ser firme sem ser grosseira e desrespeitosa; aprendi ouvir e comprovar que cada situação tem dois lados, de fato e, que é importante ouvir antes de julgar. Quando erro, me desculpo, retomo, sem problema; me esforço para ser e fazer diferente. Tenho grande receio de prejudicar, não cuidar bem, banalizar, minimizar, oprimir e impedir de alguma forma, o florescimento do sujeito. Aprendi que posso vencer as barreiras da antipatia,  da rejeição, da aversão que naturalmente aparecem, de quando em quando, na interação com o outro. Amor nem sempre é espontâneo e à primeira vista. Amor se constrói, sim! E aprendi a dar tanto valor a este amor construído... porque ele me fez crescer mais do que o outro! E na educação, especialmente de crianças e adolescentes, se não houver transferência de afeto, fica bem mais difícil a lidança, tanto para ensinar, quanto para conviver e colocar limites. Aprendi, também, que não sou super e que falho; porque tenho limites e que isto não é vergonhoso (precisei de muita “análise” para chegar a esta aceitação!). Mas que não preciso me acomodar diante destes limites. Posso vencer barreiras... ao menos tentar. Outras vêm, virão. Encerro este ano letivo ouvindo algumas coisas bastante significativas, confirmando o que meu coração sentiu neste e nestes anos todos de trabalho (mais de trinta): que valeu a pena! Nada foi em vão. No último texto, produzido na semana passada, meus alunos escreveram que fui “uma chata”. Isto, hoje é um elogio! Quando era “mais nova”, não interpretaria assim. Mas agora, sei que o exercício do papel de mãe e professora tem e precisa ter este lado chato, por causa dos limites, dos “nãos”, das cobranças e exigências, dos chamamentos à responsabilidade, aos valores, ao refletir, à seriedade em relação ao trabalho, vida, saúde, respeito, justiça; o outro...  Mas escreveram também que nossas aulas foram divertidas, coloridas! Que aprenderam muito! E que fui uma professora respeitosa, inteligente e bondosa! Lindinho demais! Sinceros. Assim como me sinto, agora, escrevendo! Tenho consciência de que ainda podia ter feito mais e melhor; mas que foi como foi possível; que todos demos o que tínhamos no nosso momento. O que vale mesmo, apesar de tudo e de todos, é o brilho no olho! O que está no meu e que, sei, está no deles também! É o brilho do encantamento pelo aprender, descobrir, criar, interagir e viver!  E eu sou agradecida, profundamente (!)  por aprender e reaprender com eles e por esta coreografia que vamos construindo, juntos, a cada dia e a cada ano, seguindo os ritmos  e o movimento da vida.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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