Convite

Convite irresistível!
Caminhos,
escadas,
horizontes que fascinam...
chamados que atraem,
seduzem!
Escolhas,
abertura
e mistério...
só incógnitas!
De que tamanho
é o meu desejo,
minha coragem,
liberdade de escolha,
instinto de preservação?

Poesia



Olha se não parece magia:
um som vira letra
e nasce a palavra!
Palavra com palavra
vira rima
e vira verso!
Um verso 
com outro verso
vira história
vira livro 
de poesia!
Poesia com melodia
vira canção;
que vira moda,
vira roda, brincadeira,
alegria;
vira releitura,
vira inspiração!
Que vira palavra,
que vira rima,
vira verso
e vira nova poesia...
Trabalho!!!! Sim!
Mas muito mais 
uma deliciosa diversão!

O motorista sumiu!

      

       - Lages! Quinze minutos! – gritou o motorista, impessoal; falando para todos e para ninguém.
        Era tempo, na madrugada quente, suficiente para fazer xixi, espichar as pernas... quem sabe tomar um café.
        Quinze, vinte, trinta, trinta e cinco minutos... – “Ué”! - O que estava acontecendo? Por que não seguiam viagem? Cadê o motorista? O ônibus já estava atrasado!
       Na plataforma da rodoviária, intenso movimento de funcionários da empresa, andando de lá para cá, celulares à mão. Uma explicação chegou para os atentos, os que estavam acordados:
        - Gente, não estamos encontrando o motorista! Mas já, já vamos resolver o problema! Está tudo bem! Fiquem tranqüilos!
        Era só o que faltava! O que teria acontecido com o motorista? Gente! Mas “o que que” era isto?!
        Ah! Título de filme! Claro! Um roteiro de aventura, tensão, adrenalina, terror! Que horror!!! Ah! Prato cheio pra  imaginação! Esta que não pode sentir cheiro de história ...
O que seria de todos e de cada um, ali, naquele ônibus, um universo atípico, parados no meio do caminho, assim, de repente? Um “stop” na história individual; nos roteiros já traçados?... Ninguém mais chegaria no horário previsto... e ainda chegariam?... Seria este o final da viagem para o ônibus “extra” e “pinga-pinga”, saído há oito horas atrás, de numa rodoviária do interior do RS, com destino a uma região turística, em outro estado? E agora? Como reagiram as singularidades dentro do ônibus “lotado”?
A moça, que no embarque não conseguia afastar-se dos abraços e dos beijos do companheiro... ia e voltava, semelhante ao movimento das ondas, que indo e vindo, quebram-se nos braços da areia? Perder-se-ia para sempre, entre as ondas avassaladoras do destino e nunca mais voltaria para os braços do seu amado?
E das duas vovós? Só podiam ser vovós! Uma bem gordinha e outra bem magrinha (ambas frágeis, mal conseguindo trocar os passos) que horas antes aguardavam, ansiosas, em frente à entrada do ônibus, enquanto alguns adultos e crianças (filhos e netos, certamente) conversavam e combinavam coisas com os funcionários da empresa que recebiam e acomodavam suas malas e sacolas no bagageiro... e, depois, numa grande roda, abraçaram as velhinhas e as encaminharam para dentro do ônibus... Ô disposição e faceirice das duas! Quanto esforço, investimento para assim, do nada, interromper esta viagem, visivelmente tão esperada?
E aquele jovem pai? Antes do ônibus partir segurava sua bebezinha no colo e a beijava docemente. Um curioso perguntou-lhe para onde ia e ele respondeu que não iria para lugar algum, só a esposa com a bebê. A esposa entrara no ônibus para organizar as coisas... – Olha, já está vindo... Ela veio, pegou a bebê e os três ficaram dançando num abraço até que a mãe entrou com a filha e o pai foi embora, rapidamente, limpando os olhos. Ficaria ele, para sempre, consumido de saudade das suas meninas?
E a mulher de uns quarenta e poucos anos, que entrara carregando um travesseiro e uma sacola; desmanchando-se em lágrimas e raiva, pois mordia os lábios e falava entre dentes com um homem que estava visivelmente incomodado, mas que a seguia, quieto, lançando olhares furtivos para os lados, averiguando se alguém estava olhando para eles, percebendo o que se passava... E de fato, alguém estava. Mas ela, “nem aí”. Teriam eles resolvido o impasse evidente antes desta guinada no meio do caminho?
Oh! E ali, na primeira fila, as duas gerações, uma adolescente e uma velhinha; roçando suas diferenças e distâncias? A adolescente, depois de conferir a poltrona, sentara-se ao lado da idosa e imediatamente colocara um fone de ouvidos, erguera as pernas e durante todo o percurso tentara escapar, seca e monossilábica, das tentativas, da velhinha insistente e curiosa, de entabular conversa. Acabaria assim, para ambas, a oportunidade de construir uma ponte?
Havia um jovem, sentado num dos bancos do corredor, que estivera visivelmente chateado e desconfortável até ali,  porque a cada curva, grossos pingos d’água, vindos da "janela" de emergência (ou será de ventilação?) no teto, caíam nas suas pernas. Ele não havia reclamado; aguentara firme até que a água, em algum quilômetro da estrada, esgotou, evaporou... mas seria justo a empresa não ficar sabendo disto? Ele não fazer uma reclamação, ao menos por escrito?
E aqueles homens, muito à vontade, lá no fundão do ônibus, que trocavam ideias sobre tipos de carro, direção hidráulica, peças de automóveis; como se estivessem sozinhos? Seus comentários ecoando em todos os lugares, fazendo coro com o choro de um bebê, falas ao celular, chamadas no “wats”, o ruído do motor e o barulho dos pneus trepidando nos buracos do asfalto!!!! Será que perderiam, para sempre a oportunidade de saber e aprender que poderiam ser mais discretos?
Ai... que pena daquela senhora que rezava! Olhos fechados, girava o rosário e movimentava imperceptivelmente os lábios ao ritmo das ave-marias e padre-nossos... ou seria de algum outro mantra? Orava por si ou pelos que ficaram? Ou pelos que encontraria pela frente, ao amanhecer? Ou seria pelos que estavam ali? Para que tivessem a chance de chegar e cumprir com o seu “destino”... Oh! Senhor! Guardai-nos  e protegei-nos  dos buracos! Das curvas! De uma distração eventual do motorista ou dos outros motoristas! Da neblina! De um temporal, de um assalto... Rezara por quase tudo e quase todos... menos para este inusitado!  O que pediria, ela, agora?
- Gente! Cadê o motorista?
Curiosos! Fantasiosos! Noveleiros! Detetives de plantão! Todos posicionados...
Teria o motorista perdido a hora? Mas então, por que não avisara e não atendia o telefone? Seria tudo um golpe para alguém assumir a direção do ônibus e seqüestrá-lo? Seria uma vingança de algum ex-funcionário? Ex- motorista? Alguém queria aquele ônibus para modificá-lo e começar seu próprio negócio? Ou para exigir um resgate? Seguiriam por estradas desconhecidas; seriam ameaçados? Ah! Mas não seria tão fácil, não! Os “passageiros, unidos, jamais seriam vencidos”! Lutariam! Juntos e organizados resolveriam o problema e o ônibus extra e “baleadinho” chegaria, afinal, ao seu destino! E todos: sãos e salvos para dar continuidade aos projetos,  histórias, sonhos !!! Nada de acabar tudo ali...Que história! Que história!
Puxa! Que bom... ou que pena! Tudo foi resolvido, mais ou menos, em uma hora; colocando um ponto final nas histórias paralelas, cheia de imaginações, riquezas, indignação, detalhes e “leituras de contexto” não comprovadas que estavam nascendo na cabeça e nos registros de alguns... algo interessante, a exemplo das crianças que não sabendo, ainda, ler,  leem as figuras; misturando memória, imaginação, experiência de mundo, sonhos, sentimentos...
É que o motorista de plantão chegara! Surpreso com esta chamada inesperada! Saudado com palmas e risos pelos colegas!!!! E com os suspiros de alívio dos passageiros... os que estavam acordados, claro! Porque por incrível que possa parecer, alguns nem ficaram sabendo do ocorrido! Bons de banco de ônibus: dormindo estavam, dormindo permaneceram e dormindo continuaram!
- Ufa! Vamos embora!
Mais algumas horas e o dia amanheceu. Com ele, o bom humor e o resumo do ocorrido, narrado, de algum lugar dentro ônibus, por uma voz, ao celular:
- "Já estamos chegando... é que lá pelas tantas, o motorista sumiu! Barbaridade! Puxa vida! Nunca tinha “me acontecido” uma coisa destas!!! Agora que passou a chateação, acho graça!!! Hahahahahah!!!! Hihihahahahihihihahaha!!!!! Conto os detalhes quando chegar...





Construção


     

   Um dia distante, com mais árvores, menos asfalto e condomínios; um grupo de alunos, crianças de 4 e 5 anos, subia e explorava o morro, em frente à escola. No topo, depois de suada e aventureira caminhada, um menino contemplou longamente o horizonte, cheio de verdes e o vale, lá em baixo, com meia dúzia de casinhas... chamou o seu amigo e com seriedade, segredou:
- “Puxa, Marco Aurélio! Olha só... como o Brasil é grande!”
Num dia destes, bem atual; com muita floresta dizimada, passarada extraviada; estrada asfaltada, cheia de perigos e pardais robotizados; uma vovó atravessou a fronteira de um estado para o outro (SC\RS), por uns dias. A netinha, já no dia seguinte, ligou:
- “Vovó, por que você viajou? Quando você vai voltar?... Vovó, você pode voltar para o Brasil? Olha só... quando você quiser, você pode voltar para o Brasil, viu, vovó!!!!”
Eu adoro isto! Esta beleza! Este olhar profundo e encantado que se debruça sobre a vida, observa, investiga e vai organizando as informações, percepções, conceitos, valores... devagarinho e com uma espontaneidade e lógica comovente e desconcertante!

E eu me preocupo com isto! Com os modelos, os exemplos, as intervenções, a pressa, o desrespeito, a impaciência, a ignorância, o egoísmo e a arrogância adulta diante do tempo de construção dos pequenos e dos diferentes.






Não parecia...

Não parecia chuva,
a fina e transparente cortina
que descia sobre as coxilhas
entremeadas de soja,
capões,
gado
e quietude,
melancolia e saudade;
mas era.
Não parecia que os anos
haviam passado;
tanta vida e tanta morte
nos atravessado
e, que esta
de cabelos brancos
um dia, fora eu menina,
com uma porção de quimeras,
mas era.
Não parecia
ser verdade
que ele não estava mais ali,
varrendo a calçada;
fazendo um pacote;
limpando 
espigas de milho
com a paciência
e o capricho de Jó;
fazendo a gente rir
de tudo e de nada...
mas era.
Não parecia
que a vida,
apresentando-se
como um horizonte infinito
à nossa frente,
era tão cheia de curvas
e esquinas;
escorregadia
e fugaz;
provocadora,
e cheia de surpresas
inusitadas,
como uma manhã
de chuva solitária,
mas era...




Que dó!




Cortaram a árvore?
Por quê?
Ela estava doente?
Atrapalhando alguém?
Quem?
Prejudicando alguém?
Quem?
Cortaram!
Sem explicação,
justificativa, desculpas.
Era saudável,
era forte,
era linda
e acolhedora!
Era um colo!
Abrigo de passarinho,
poleiro de crianças
e de sua alegria!
Pouso de borboletas,
aracuãs e suas cantorias
todas as manhãs,
antes do sol nascer!
E lugar de trocas
conversas;
alimento de carinho,
entre criança,
adulto, velhinho:
gente,
ao entardecer!
Quem mandou cortar?
E por quê?
Cortaram a árvore errada,
será?
Ou será que foi pura maldade
de quem não sabe mais
sorrir, nem cantar?
Nem assistir o tempo passar,
simples e suavemente,
sem pesar?
Ou alguém sem paciência
para assistir ou suportar
o outro ser feliz?
Que dó!
As crianças 
encontrarão outra
árvore para abraçar;
os adultos, outro lugar
para partilhar;
é de sua natureza
buscar o encontro, trocar!
O pássaros e insetos,
descobrirão
outro lugar para pousar;
é de sua natureza
sobreviver!
O “dó” é para
quem não sabe respeitar,
nem amar,
nem aproveitar
os presentes e belezas
ao alcance do seu olhar!
Que dó deste mundo
sem árvores para escalar,
rua livre para brincar,
grama para pisar,
espaço para explorar,
“fazer de conta”,
imaginar!
Que dó!






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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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